ARQUIVO BUALA: vários narradores de uma história interminável - 26/8 a 13/9 Espelho d'Agua

As galerias do BUALA vêm disseminando visões criativas sobre um mundo de urgências diversas. Funcionam como mostra dinâmica de artistas e de fenómenos culturais em diálogo com os temas do site. Cada galeria propõe um mostra sobre determinado autor, e é acompanhada por um texto reflexivo, seja ensaio, entrevista ou manifesto. Tansferir estas imagens do virtual para a projeção em televisores de estúdio antigos, reativa o arquivo e constrói uma sequência que acolhe as propostas das galerias, mudando a nossa percpção, presa a uma cadência que junta vários narradores e tempos, contando uma interminável história de lutas, elos, afectos, fricções, retrospectivas e futuros.

Entre as exposições do portal, o recorte ARQUIVO BUALA é esse lugar polifónico (tal como o site), tão documental como imaginário, do particular para o mundo. Linguagens e técnicas convivem. Pintura. Figuras paródicas do caboverdiano Tchalé Figueira. Sketches do santomense René Tavares, pesquisa e ponto de partida para os seus trabalhos pictóricos. A cidade-fantasma habitada por Ihosvanny. A obra de Carlos Correia, “protagonista de numerosos paradoxos e suspensões”, escreve Marta Rema. O traço delicado e microscópio da artista chilena Andrea Paz. A colagem de Djaimília Pereira de Almeida, no exercício de simultâneo alheamento e de liberdade que é cortar e recortar.

Fotografia. Jordi Burch viaja pela África do Sul mostrando retratos de boers pobres. Mourad Charrach estabelece laços entre a sua educação ocidental e origem africana muçulmana. Ismail Aydin desvela a diversidade da região curda. Ficamos a conhecer a ação implicada na luta LGBTI nos retratos imponentes de Zanele Muholi e de Andrew Esiebo (entrevistado por Candela Varas e Francisca Bagulho). O sul-africano John Liebenberg, recentemente falecido, comenta fotografias aquando da cobertura da guerra civil em Angola, assim como Albano Costa Pereira revê o seu álbum da guerra colonial no mesmo país, com olhos de 2019. Mauro Pinto regista portos de convergência, salientando as relações culturais da África Austral com o resto do mundo. A série “Urban Voids”, de Délio Jasse, desconcerta os conceitos de alteridade e identidade. As performances fotográficas de Lubanzadyo Mpemba (com texto de raquellima) e Rui Sérgio Afonso narram, no primeiro, a cidade (de São Paulo) como espaço e o mundo como corpo e, no segundo, a relação esquizofrénica com o dinheiro em Angola. Inês Gonçalves inscreve potência de corpos jovens e do antigo mercado Roque Santeiro em Luanda. Nuno Awouters faz uma reportagem íntima sobre imigrantes vivendo em Lisboa, momentos fugitivos de uma casa em Alcântara. As fotografias noturnas de Maíra Zenum inscrevem as existências em luta nas esquinas e paredes da periferia de Lisboa. A série History is not absent-minded, do nigeriano Uche James-Iroha, destaca os valores culturais dos africanos enquanto lidam com “as consequências da colonização e enfrentam a gentrificação social”, escreve Inês Valle.

A artista Lana Almeida propõe a visualização de uma utopia contemporânea, a partir do conceito de Zomia. Marta Lança fotografou a “Tragédia do Marquês de Mântua”, por um grupo de Tchiloli em São Tomé, pensando na figura do público que observa e participa no terreiro. O curador Hugo Dinis organizou a exposição virtual “Negócio forçado: um roteiro em expansão de uma história interminável pelo império português”, onde vários artistas de língua portuguesa lidam com os estilhaços do colonialismo.

Admiramos as figuras antropomórficas, eróticas e sofridas da escultora Reinata Sadimba. Vários elementos para pensar o trauma do império e um provocador manifesto da artista Patrícia Lino. As memórias representadas por stickers e pinturas nos muros das ruas de Luanda e Salvador, de Silvana Rezende. Espreite-se ainda as aguarelas e pormenores da exposição organizada pelo BUALA em 2015 com o espólio do escritor, antropólogo e cineasta Ruy Duarte de Carvalho, “Sob uma delicada zona de compromisso” e da exposição “Traffic Jam” de Pascal Marthine Thayo (acompanhada por uma entrevista imaginária de Simon Njami). As Galerias BUALA transitam para este ARQUIVO, mesclando o labor de muitos e celebrando os 10 dez anos de um portal de todos.

A exposição ARQUIVO BUALA, integrada naprogramação VENTO SUL e no projeto BUALA, CULTURA CONTEMPORÂNEA E FRICÇÕESDESCOLONIAIS, apresenta algumas das Galerias doBUALA agora num espaço expositivo não virtual. Apoio DGARTES.

EXPOSIÇÃO 26.08 – 13.09.20 11H – 23H ESpelho d’Agua

CONVERSA 13.09 | 16H – 17H ENTRE ARTISTAS E CURADORES

ARQUIVO BUALA Dois televisores, onde são apresentadas, em loop, diversas imagens de artistas que participaram nas Galeiras BUALA entre 2010 a 2020.

 

por Marta Lança
Vou lá visitar | 24 Agosto 2020 | Albano Costa Pereira, Andrea Paz, Andrew Esiebo, artistas, Carlos Correia, Délio Jasse, Djaimilia Pereira de Almeida, Galeria, Ihosvanny, Ismail Aydin, John Liebenberg, jordi burch, Lana Almeida, Lubanzadyo Mpemba, Maíra Zenun, Marta Lança, Mauro Pinto, Mourad Charrach, Nuno Awouters, Pascale Marthine Tayou, Patrícia Lino, Reinata Sadimba, René Tavares, Rui Sérgio Afonso, Ruy Duarte de Carvalho, Silvana Rezende, Tchalé Figueira, Uche James-Uroha e Inês Gonçalves., vento sul, Zanele Muholi