Como se constrói um país: diálogos interdisciplinares

Como se constrói um país: diálogos interdisciplinares Se a independência foi uma festa, a celebração conviveu com o medo a ferro e fogo e, se o futuro era incerto para os jovens de então, também o é para os jovens de hoje. Olhar criticamente para a história e para a sociedade é o melhor modo de aprender, transmitir e desenvolvê-las. Assim, no sentido de abordar a complexidade dos diferentes momentos - como o colonialismo, a Luta de Libertação, a Independência, a guerra civil, a difícil aprendizagem da democracia, a transmissão da história, patrimónios difíceis e reparações e a situação atual nas suas urgências - incitamos ao exercício de pensar em conjunto também sobre as promessas da Independência que não foram cumpridas.

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21.05.2025 | por Marta Lança e Leopoldina Fekayamãle

Projeto 1952 I Arquivo em Movimento: entre o bairro e o museu

Projeto 1952 I Arquivo em Movimento: entre o bairro e o museu Uma iniciativa artística e comunitária que propõe uma reflexão crítica sobre o passado colonial a partir do acervo e arquivo fotográfico das missões antropológicas portuguesas realizadas em África nas décadas de 1940 e 1950. Como olhar hoje para estas imagens produzidas num contexto de domínio colonial? Como revisitá-las de forma crítica, afetiva e sensível? Como transformá-las num gesto de escuta, reparação e futuro?

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20.05.2025 | por vários

“O Mário simboliza a pureza de um revolucionário”. Conversa com Justino Pinto de Andrade sobre Mário Pinto de Andrade, as suas memórias e a sua militância política (parte 3/3)

“O Mário simboliza a pureza de um revolucionário”. Conversa com Justino Pinto de Andrade sobre Mário Pinto de Andrade, as suas memórias e a sua militância política (parte 3/3) Eu só tenho dois namoros: o ensino e a política. E não há separação. Mesmo quando já não puder fazer política ativa, vou estar atento à política. Porque a política faz parte da nossa vida. As pessoas esquecem-se disso. Nós todos somos uma consequência da política. E se nós não estamos na política, estamos alheios, então não nos podemos queixar. Se nós não participarmos de forma séria, engajada… eu agora participei nesta campanha eleitoral, fiz aquilo que pouca gente faz, que é romper com a matriz.

Cara a cara

19.05.2025 | por Elisa Scaraggi

Do 'Hanami' de Denise Fernandes (e da papaeira queimada da minha vóvó Nica)

Do 'Hanami' de Denise Fernandes (e da papaeira queimada da minha vóvó Nica) Um desses filmes raros que não entram pelos olhos adentro, mas que antes se entranham pelos poros, que se pressentem nos silêncios herdados, que se adivinham nos gestos sussurrados, que sentimos pelas ausências angustiantes que vivenciámos na nossa própria experiência. Com o ritmo complacente de uma brisa seca que sobe a encosta do vulcão antes de tombar o sol e refrescar o planalto, esta obra-prima inaugural não oferece explicações –– oferece pertença.

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19.05.2025 | por P.J. Marcellino

Quantofrenia desmedida

Quantofrenia desmedida O colonialismo foi feito a medir. Colonialismo à medida. Cartografar, classificar, mensurar. Só se domina o que se conhece. Todavia, a medição não foi invenção do colonialismo. Sumérios, babilónios, egípcios, incas, astecas, todos mediram. Mediram o tempo, o mundo, agrimensuraram e codificaram ângulos, horas, minutos, semanas e calendários. Mediram triângulos ainda antes de Pitágoras ter começado a sonhar com eles. O projeto colonial apenas seguiu essa pulsão, colocando-a ao serviço da hierarquia. Medir para reinar. Exibir para confirmar o poder. Hoje, a obsessão continua, mas disfarçada de neutralidade tecnológica. Máquinas medem por nós, com a nossa permissão. Damos-lhes os nossos dados biométricos através de telemóveis, relógios, câmaras e microfones. A existência continua a ser traduzida em número.

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18.05.2025 | por Marinho de Pina

Black & White. Poesia, anti-racismo e a Revolução Russa - parte 1

Black & White. Poesia, anti-racismo e a Revolução Russa - parte 1   O ângulo morto da negritude/branquitude enquanto binómio estrutural para se pensar a chamada «cultura ocidental» e a organização da vida social que impõe. Verdadeiramente, não é o problema da raça que se torna complexo. É antes – e, volte-se a sublinhar, por recurso a um dispositivo poético potentíssimo – o problema do trabalho que se complexifica. E complexificando-se o problema do trabalho, complexifica-se, para os revolucionários, o problema da revolução.

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13.05.2025 | por Fernando Ramalho

O impossível demora mais - PRÉ-PUBLICAÇÃO

O impossível demora mais - PRÉ-PUBLICAÇÃO Pensei neste livro como uma corda de funâmbulo que permite passar de um edifício para outro, entre tempos, espaços, vivências. As estadias de terreno são experiências nuas, que nos retiram do nosso mundo e nos levam para um outro. Implicam transições, com a lentidão adequada, que abrem para iluminações, ou para a obscuridade, saindo da meia-luz das nossas próprias vidas. Por vezes, provimos de mundos em que aparentemente muito é possível, mas pouco acontece, sobretudo além do previsto. Durante as estadias de campo que se distanciam do nosso local habitual, há um desprendimento de nós que nos torna mais aptas à experiência marcante, em que tropeçamos num real que nos era desconhecido ou invisível, numa revelação.

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12.05.2025 | por Paula Godinho

Entre o domínio e o confronto, a língua.

Entre o domínio e o confronto, a língua. O curso do Português é ousado, veio a galope com um povo que marchava no chão, longe do imperador, distante dos letrados eclesiásticos, matando a sede nas bocas alheias, resvalando-se no que encontrava pelo caminho. Tornou-se, assim, muitas coisas antes de decretar-se português para tornar-se ainda mais coisas ao despencar do cavalo e montar o atlântico. É a língua que rege a gramática, e não ao contrário. Os códigos que registem a história do som das palavras povo. O resto, é só domínio, domesticação e poder. E contra isso teremos sempre a invicta e irresistível língua errada do povo, língua certa do povo.

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10.05.2025 | por Manuella Bezerra de Melo

Liquid Worldings

Liquid Worldings Conversas em torno da matéria líquida, atentas às suas agências materiais, fluxos históricos e envolvimentos políticos. Estas conversas reflectem sobre como a arte, a literatura e as práticas de escuta situadas podem transformar modos de sentir, conhecer e relacionar-se com a água - reimaginando gestos de cuidado insurgente e de resistência. Entre os temas abordados estão a aquapoética feminista africana, o activismo e as poéticas hídricas na América Latina indígena, bem como a dimensão política das materialidades sonoras em contextos aquáticos.

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09.05.2025 | por Salomé Lopes Coelho

O aparato de Mónica de Miranda a partir do filme 'A Ilha'

O aparato de Mónica de Miranda a partir do filme 'A Ilha'   Nestes últimos, o jardim surge precisamente como essa construção colonial (na qual se inclui a estufa), que não deslocou apenas pessoas humanas, mas também plantas e o jardim crioulo aparece como espaço de resistência e criação das pessoas escravizadas e subalternizadas. Porém, na obra de Mónica de Miranda em geral, a memória é um veículo agenciador das presenças e não um dispositivo ao serviço da cristalização de identidades. Um movimento perpétuo que potencializa possibilidades de reescrever histórias e pensar futuros.

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09.05.2025 | por Ana Cristina Pereira (AKA Kitty Furtado)

Burkina Faso: 2025 não é 1987! Quando o mundo africano se ergue contra o imperialismo para defender a sua integridade

Burkina Faso: 2025 não é 1987! Quando o mundo africano se ergue contra o imperialismo para defender a sua integridade As demonstrações de apoio ao processo revolucionário burquinabê têm sido inundadas por afetos, demonstrações de fraternidade, e isto não pode ser visto como algo menor. O germe da revolução surge sempre no meio do povo. Sem o povo, não há revolução! Um provérbio burquinabê diz que, “quando os olhos se fecham, a cabeça tomba”. Para que a cabeça não caia, o povo não pode fechar os olhos à sua realidade material, relacional e afetiva. O povo africano unido, decidiu manter os olhos postos em Ibrahim Traoré, para que o imperialismo não o faça cair, para que ele não caia!

Vou lá visitar

02.05.2025 | por Apolo de Carvalho

Que Mulher é essa?

Que Mulher é essa? A música d'A Garota Não traz questionamentos sobre padrões de beleza que são impostos às mulheres, de formas conscientes e inconscientes, que no fim do dia nos adoecem; porque essa música significa, para mim, um manifesto ousado que se propõe a contestar modelos estéticos sob os quais vivemos socialmente; e porque essa música reflete muito do que me inquieta atualmente em relação à forma como lidamos com a nossa própria imagem e das outras pessoas.

Palcos

30.04.2025 | por Leopoldina Fekayamãle

Peabiru, o Caminho da Terra sem Mal

Peabiru, o Caminho da Terra sem Mal Uma rede de trilhos cruza desde tempos imemoriais planícies, selvas e montanhas na América do Sul. Vão do Brasil ao Chile, passam pelo Paraguai, Bolívia e Peru, unem Atlântico e Pacífico. Pelos Caminhos do Peabiru formaram-se territórios e impérios, veneraram-se estrelas e deuses, viajaram mercadores. Engolida pela colonização, a rota ancestral é agora recuperada por historiadores e arqueólogos, impulsionados por um turismo que ameaça a sacralidade do espaço.

Jogos Sem Fronteiras

30.04.2025 | por Pedro Cardoso

Coágulos da mulher que não queria ser

Coágulos da mulher que não queria ser Uma vida sangrando e chorando. Uma vida desfazendo o corpo para entender o corpo, para receber o corpo. Isto é configurado de muitas maneiras. Uma mulher desconectada com sua mulher perde os cabelos, perde escamas, vira boto. E boto é bicho homem, ainda que seja peixe, e ainda que seja fêmea. Uma coisa, meus senhores e senhoras, é uma coisa. A outra é boto, e boto é boto, mulher é mulher, uma escorregadia e o outro não. E chega uma hora que você já fez tanto de conta que é boto que acredita que é boto, fala feito boto, canta feito boto, ama um boto como se amam os botos. Mas o sangue vem e te lembra que você é mulher.

Corpo

30.04.2025 | por Manuella Bezerra de Melo

Por um jardim sem impérios. Reflexões sobre memórias difíceis e passados disputados

Por um jardim sem impérios. Reflexões sobre memórias difíceis e passados disputados Este artigo interroga a necessidade e a urgência de reagir aos atos de perpetuação colonial envolvidos nas dimensões patrimoniais, memorialistas e monumentais das narrativas históricas em espaço público. Essas dimensões, plasmadas em inaugurações celebratórias do espírito de aventura da expansão marítima, em retóricas nacionalistas acríticas e em afirmações de uma certa (“Nova”) portugalidade, de algum modo revelam o que a Revolução dos Cravos não conseguiu apagar. Serão os brasões em pedra de calçada portuguesa do Jardim do Império restos nostálgicos coloniais ou perene processo de colonialidade que nunca se dissipou? A disputa pelas narrativas nos espaços públicos servirá para pensar “qual revolução?” cinquenta anos depois?

Cidade

30.04.2025 | por Izabela Tamaso e Paulo Raposo

Memória, diáspora e identidade: para uma espécie de in-betweenness na obra poética do tempo suspenso (1998) de Maria Alexandre Dáskalos

Memória, diáspora e identidade: para uma espécie de in-betweenness na obra poética do tempo suspenso (1998) de Maria Alexandre Dáskalos Uma leitura da obra Do Tempo Suspenso (1998) de Maria Alexandre Dáskalos a partir da perspetiva teórica do in-betweenness (Bhabha, 1994), com o objetivo de decifrar a construção dinâmica de uma determinada identidade africana na poesia, sempre enquadrada pelo contexto pós-colonial, pós-guerra e de diáspora, que não se pode desligar da posição peculiar do sujeito poético entre diferentes lugares de memória (Assmann, 2008), divergentes paisagens de humanidade e variadas terras geoculturais.

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30.04.2025 | por Peilin Yu

Entre Ilhas, Arquivos e Futuro: reflexão sobre o cinema caboverdiano contemporâneo

Entre Ilhas, Arquivos e Futuro: reflexão sobre o cinema caboverdiano contemporâneo O cinema africano, afrodiaspórico e caboverdiano serve também para disputar narrativas – não só sobre África e sobre os africanos, sobre os caboverdianos e sobre as nossas perspectivas plurais, mas também sobre o que é o cinema em si, quem tem o direito de o fazer, quem tem o direito de ver e de ser visto, de falar e de ser ouvido. É um trabalho lento, minucioso, mas necessário. É o trabalho de reinscrever no nosso imaginário coletivo as imagens que nos pertencem, e que, por sua vez, nos transformam. Neste contexto, o futuro do cinema nas ilhas será inevitavelmente arquipelágico, feito de imensas vozes dispersas, mas em constante diálogo entre si, com Cabo Verde e com o mundo, feito de memórias partilhadas, mas reinventadas, de recursos limitados mas de criatividade infinita.

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29.04.2025 | por P.J. Marcellino

“Não visitem a sala colonial”, ou como confrontar o passado e os legados coloniais

“Não visitem a sala colonial”, ou como confrontar o passado e os legados coloniais Catarina Simão desmonta o passado colonial e interroga o presente. Os materiais expostos são apresentados como vestígios de uma ideologia colonial que subsiste em tantas instituições portuguesas, geralmente de uma forma anacrónica. A presença de objetos africanos em depósitos museológicos, não raras vezes sem mediação crítica, é enfatizada na exposição, sendo talvez um dos aspetos mais contundentes do seu projeto. Questiona-se a própria noção de arquivo, como espaço de conhecimento, saber e devoção e repositório de memória. A exposição é composta por diferentes núcleos, onde o visitante é confrontado com a complexidade dos materiais e é convidado a pensar sobre os mecanismos de exotização e racismo.

Vou lá visitar

25.04.2025 | por Inês Vieira Gomes

Capitanias Desnecessárias

Capitanias Desnecessárias Em Portugal, sabe-se tudo sobre o Brasil e no Brasil, fora a época das invasões, a sardinha, o bacalhau e os lindos azulejos, sabe-se quase nada de Portugal. Ah, tem o Cristiano Ronaldo, mas relativamente pouca gente dá grande importância. Se sairmos nas ruas de qualquer cidade de qualquer região do Brasil e perguntarmos se conhecem a Amália, por exemplo, quase ninguém vai conhecer – o que é uma grandíssima pena. E, por causa disto e da real discriminação que a população de imigrantes (e mesmo turistas) brasileiros sofre em Portugal, impulsionada pela crescente da extrema-direita que legitima tudo o que há de podre no comportamento humano, criou-se um movimento de reação através daquilo o que o brasileiro faz de melhor: a zoeira.

Mukanda

22.04.2025 | por Gabriella Florenzano

Manual de L&CCV do 10.º ano: estamos a fugir dos caminhos

Manual de L&CCV do 10.º ano: estamos a fugir dos caminhos Um sistema de escrita é apenas uma ferramenta para grafar a língua — e não pode, por si só, “conter” as variedades linguísticas. Escrita não é língua. Se o objetivo é permitir grafar qualquer variedade, então essas variedades devem aparecer com as suas especificidades. Como as palavras apresentam formas distintas em cada variedade, não se pode adotar uma escrita uniforme — como a proposta pelas autoras — sem perdas significativas.

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21.04.2025 | por Eleutério Afonso