Queremos viver como cidadãos comuns do país. Farid Ahmed Patwary
Farid Ahmed Patwary tem 42 anos e vive há dez em Lisboa. É tradutor e jornalista e membro direção da Solim (Associação Solidariedade Imigrante). Vem do sul da Ásia, como muitos outros membros das comunidades de Bangladesh, Nepal, Índia ou Paquistão, e escolheu Lisboa pela sua reputação acolhedora, pela oferta de trabalho, e pela existência de redes sociais de apoio.
Farid Ahmed Patwary
Qual o seu percurso, circulação pela cidade? Que transportes usa?
A circulação pela cidade é feita principalmente de transportes públicos como metro, autocarro, comboios suburbanos e, quando possível, bicicletas partilhadas para deslocações curtas, já que o trânsito e o estacionamento, especialmente no centro, são problemáticos.
Os problemas mais gritantes de Lisboa?
A crise de habitação, os preços elevados de arrendamento, e a saturação dos transportes públicos.
E os pontos positivos da cidade.
Entre os pontos positivos, destaco a multiculturalidade crescente, o ambiente artístico, as oportunidades para pequenos negócios e o acesso a serviços públicos relativamente bons para quem consegue regularizar a situação.
O que mais dificulta a integração dos imigrantes sul-asiáticos?
A maioria dos imigrantes sul-asiáticos enfrentam barreiras linguísticas, e ausência de reconhecimento de qualificações. Têm dificuldade de acesso à habitação digna e a remuneração dos seus trabalhos é média baixa. Muitos estão em setores como restauração, comércio e transporte. O maior obstáculo à integração é, assim, a precariedade habitacional e a discriminação no mercado de aluguer.
Têm tido mais voz no espaço público em Lisboa, com maior organização e contestações?
Nos últimos anos, as comunidades do Sul da Ásia tornaram-se um grande foco de discussão sobre os imigrantes, à medida que as organizações políticas e de comunicação social locais se interessam cada vez mais por vários aspetos da política de imigração, da propaganda de extrema-direita nas redes sociais e assim por diante.
Que políticas públicas propõe para termos uma Lisboa mais representativa das sua demografia?
Proponho políticas de habitação acessível para migrantes e famílias de baixos rendimentos. É preciso garantir o acesso ao ensino da língua portuguesa, reconhecendo qualificações obtidas no estrangeiro. Apoiar o empreendedorismo migrante e à legalização documental célere. Gostávamos de ter mais participação direta nos órgãos consultivos municipais. É preciso haver programas de combate à discriminação e promoção da cultura de origem, incluindo festivais comunitários e espaços públicos voltados para integração. Enfim, queremos estar na mesma situação, a viver como cidadãos comuns do país.