nós-rio é o resultado dessa co-existência e dessa co-autoria, que se foi revelando nos mais diversos formatos. O impacto acabou por se reproduzir em praticamente todos os trabalhos. Multiplicar essas paisagens foi, também, um modo de nos tornarmos veículo do rio: mapeamos para conhecer e proteger, quer seja em pinturas, fotografias, filmes ou bordados.
02.10.2025 | por coletivo c.a.m.p.o s
Os 4 núcleos temáticos desvelam a geografia social de um território que a maioria dos fotógrafos desconhecia, embora alguns fossem já experientes e carregassem a bagagem de várias guerras e revoluções um pouco por todo o mundo. Descobriram em Portugal a alegria popular nas ruas de Lisboa, as reivindicações operárias na cintura industrial da capital, o Alentejo das revoltas contra os latifúndios e o Interior Norte empobrecido onde as crianças iam descalças para a escola, quando esta existia a quilómetros de distância, e em casa quase ninguém sabia ler.
02.10.2025 | por Carla Baptista
Sem louvar a burocracia, dir-se-ia que a sala de espera, esse estádio intermédio onde se arrastam os corpos e as identidades, tem também potencial para ser um espaço de criação, um lugar excecional de pensamento e questionamento, artístico e político. Nesse sentido, as artes visuais e performativas, a música e o cinema, com os seus comentários mordazes, mais ou menos explícitos, são essenciais para expor a realidade dos sem papéis, para documentar os indocumentados, e tomar consciência que estes corpos existem e exigem dignidade.
19.09.2025 | por Tiago Lança
A história de Adilson inscreve a de muitos "crioulos sem chão" que carregam Portugal às costas sem nunca poderem pertencer. «Eu não sou português, sou Portugal», a frase manifesto que valeu a Dino de Santiago vários comentários de haters e bots de extrema direita. O espetáculo rompe com o mito da integração: a realidade é feita de esperas, recusas e silêncios, mães que morrem no desgoto antes de verem resolvidos a cidadania. As personagens desfazem o mito da identidade ligada aos lugares concretos, somos feitos daquilo que trazemos, das curvas do bairro. Os nossos corpos são pátria. O que é que me espera do outro lado do mar?, A luta chama, será que eu vou? De que lado estou? E a pergunta meio ameaçadora: Quer ou não quer ser português? Lembrei-me da banda Miss Universo, que parecem responder a esta pergunta com outra mais interessante «explica lá outra vez o que é que ser português?»
14.09.2025 | por Marta Lança
A criação é fluída, assim como foi o processo. O que começou com uma residência artística a solo de Sergio García (a primeira de um artista estrangeiro no Estúdio-V), rapidamente evoluiu numa conexão criativa com Mac Verkron, com a intenção deliberada de refletir em conjunto a crueza e dureza estética de fogo, ar, madeira e de outros elementos naturais, cada um com um significado espiritual.
11.09.2025 | por Pedro Cardoso
Um trabalho sobre a vida da Mulher saharaui exilada há 50 anos no deserto mais inóspito do planeta. Cada peça apresenta uma imagem da realidade que as mães saharauis viveram durante um verão e um inverno, no deserto hamada. “Esta coleção conta uma história de resistência que perdura há mais de cinquenta anos, convidando o público a entender uma realidade frequentemente ignorada. É uma oportunidade única de aproximação à riqueza cultural e humana do povo saharaui, despertando empatia e reflexão através da arte.”, declara o artista plástico.
11.09.2025 | por Maria Frederica
O termo “laboratório” carrega aqui um duplo sentido. Por um lado, evoca a condição histórica de São Tomé e Príncipe como território-experiência: nas roças ensaiaram-se formas extremas de exploração agrícola, racial e social, espelhando no Atlântico o que já acontecia nas plantações americanas. Por outro lado, o laboratório afirma-se hoje como espaço de criação, de ensaio artístico e de produção crítica, onde a experiência coletiva se converte em imaginação partilhada. De entreposto de corpos arrancados às suas terras, as ilhas tornam-se entreposto cultural, lugar de circulação de ideias, linguagens e estéticas que devolvem ao mundo a sua própria imagem.
09.09.2025 | por vários
Há, no entanto, um denominador comum: a necessidade de partir. Trata-se de uma região que viveu longos períodos de miséria, em que a vida era demasiado dura para ser sustentada, levando muitos a emigrar, sobretudo para França, de onde regressaram com condições melhores. Como se percebe nos testemunhos, a emigração não era uma simples aventura, mas uma inevitabilidade.
14.08.2025 | por Manuel Halpern
Mais de cem pessoas reuniram-se em Lagos no dia 26 de julho, para recordar e homenagear os antepassados encontrados em Lagos, num programa que incluiu uma cerimónia de atribuição de nomes, uma procissão musical e uma homenagem aos antepassados. Com a Sociedade de Arqueólogos Africanistas, Tributo aos Ancestrais, Vicky Olze, Anson Street African Burial Ground, Grupo Firmeza Batucadeiras de Almancil e a National Geographic. A Câmara Municipal de Lagos, apesar de ter sido convidada, esteve ausente neste dia histórico.
01.08.2025 | por vários
O programa musical é composto por 49 concertos de artistas de quatro continentes. Youssou N'Dour, Julieta Venegas, Rokia Traoré, 47Soul, Orchestra Baobab e The Mystery of the Bulgarian Voices são alguns dos nomes consagrados da música mundial com lugar marcado no FMM Sines 2025. Nação Zumbi, Lena d'Água, Ana Lua Caiano, Bonga, Capicua, Bia Ferreira e Roberto Chitsonzo, entre outros, garantem a representação dos países de língua portuguesa no alinhamento desta edição do festival.
18.07.2025 | por vários
O ciclo de conferências “Alterações Climáticas e o Papel das Ilhas” reune especialistas de diversas áreas para abordar os desafios e oportunidades das ilhas face às mudanças climáticas globais. Interdisciplinar, o evento contempla debates sobre políticas públicas, sustentabilidade ambiental, inovação tecnológica e resiliência climática, promovendo o diálogo entre ciência, cultura, sociedade civil e governos.
03.07.2025 | por CACAU
As demonstrações de apoio ao processo revolucionário burquinabê têm sido inundadas por afetos, demonstrações de fraternidade, e isto não pode ser visto como algo menor. O germe da revolução surge sempre no meio do povo. Sem o povo, não há revolução! Um provérbio burquinabê diz que, “quando os olhos se fecham, a cabeça tomba”. Para que a cabeça não caia, o povo não pode fechar os olhos à sua realidade material, relacional e afetiva. O povo africano unido, decidiu manter os olhos postos em Ibrahim Traoré, para que o imperialismo não o faça cair, para que ele não caia!
02.05.2025 | por Apolo de Carvalho
Catarina Simão desmonta o passado colonial e interroga o presente. Os materiais expostos são apresentados como vestígios de uma ideologia colonial que subsiste em tantas instituições portuguesas, geralmente de uma forma anacrónica. A presença de objetos africanos em depósitos museológicos, não raras vezes sem mediação crítica, é enfatizada na exposição, sendo talvez um dos aspetos mais contundentes do seu projeto. Questiona-se a própria noção de arquivo, como espaço de conhecimento, saber e devoção e repositório de memória. A exposição é composta por diferentes núcleos, onde o visitante é confrontado com a complexidade dos materiais e é convidado a pensar sobre os mecanismos de exotização e racismo.
25.04.2025 | por Inês Vieira Gomes
A Comissão Científica da DALMACV-PT composta, in casu, por Ana Josefa Cardoso, Dulce Pereira, Alice Matos, Nélia Alexandre e Hans-Peter (Lonha) Heilmair informa que o processo de análise e reflexão sobre o "Manual de Língua e Cultura Cabo-Verdiana" se encontra em curso. Esta reflexão crítica de leitura do manual incide sobre três tópicos: i) Questões Linguísticas; ii. Questões Pedagógico-Didáticas e iii. Questões de Política de Língua.
14.04.2025 | por vários e José Luís Hopffer Almada
O governo angolano entende que apesar deste tipo de disseminação não ser um acontecimento recente, com a existência da Internet tudo se tornou mais rápido e eficaz, sendo insuficientes as “ferramentas tradicionais do direito” tendo em vista o seu combate.
Neste contexto considera-se urgente “a necessidade de se adaptar uma abordagem legal suficientemente abrangente e integrada das informações falsas ocorridas na internet”.
13.04.2025 | por Reginaldo Silva
Essa sabedoria só resultava dentro dela, mas como nenhum deles sabia sequer que estava em uma caixa, nem que havia algo fora da caixa, e menos ainda nomear todas as coisas e cores estranhas que existiam e que, agora, a menina, que fora burra quase toda a vida, conhecera justamente por causa da sua desobediência. Na triste história da menina burra, a história não acaba assim tão triste, e a menina não acaba assim tão burra. Ela aprendeu a aprender, aprendeu que era a escuridão da caixa a impedia de enxergar conhecimentos e sabedorias, e finalmente foi aos registos e mudou seu nome para "a menina cujo cérebro só aprendia na luz".
11.04.2025 | por Manuella Bezerra de Melo
Sentimo-nos no dever de esclarecer o grande público quanto a alguns dos princípios orientadores (socio)linguísticos, pedagógicos e didáticos, há muito atestados em literatura especializada e em contextos semelhantes à ecologia linguística cabo-verdiana, que fundamentam todas as opções adotadas na elaboração do Manual, inclusivamente a escolha de uma proposta de ortografia pandialetal para a voz das autoras.
10.04.2025 | por vários
Nos meus 12 anos, limitava-me a vê-los e a ouvi-los falar, sem dizer nada. Escutava e assimilava, como se estivesse sentado em frente de uma televisão, olhando as notícias através da neblina do fumo do tabaco. Observado em silêncio, aquele ambiente de decadência, ruína e letargo convertia-se num espectáculo irresistível e aguçava o meu apetite intelectual. Havia algo, ali, que me repelia profundamente, mas que, ao mesmo tempo, me atraía poderosamente. Aquelas personalidades, regadas com álcool, sarcasmo e uma enorme capacidade de mentirem a si próprias, eram atormentadas e autodestrutivas, arrogantes e sedutoras, viscerais e sofisticadas, vulcânicas e complexas. Estavam na Europa, mas com a cabeça totalmente no outro hemisfério do planeta, incapazes de cortar o cordão umbilical com as ex-colónias.
08.04.2025 | por João Pedro George
A canção de protesto é marca profunda na América Latina. Lá no Sul, na Argentina, a música voltou às ruas para denunciar a destruição do Estado de bem-estar e a repressão de grupos vulneráveis ou de qualquer um que grita alto nas ruas contra o governo de Milei. A memória do cancioneiro latino-americano das ditaduras-Condor atualiza-se – não é mais só trova, virou rap, hip-hop reggaeton, pop, trap. Som vivo contra esta regressão que tenta, como antes, impor silêncios profundos.
02.04.2025 | por Pedro Cardoso
Kaydara é o título de uma história didáctica que faz parte do ensino tradicional do povo fula da região da curva do rio Níger.
É habitual o mestre contar a história em serões, perante um público de jovens e idosos. Na maior parte das vezes, conta apenas fragmentos; chega ao círculo dos aldeões, senta-se, conta a história, pára e só retoma o seu relato três meses mais tarde. Porém, por vezes, conta-a de uma só vez durante “as longas noites da estação fria”, enquanto um guitarrista o acompanha. Ou pode começar subitamente a desenvolver um dos símbolos, por ocasião de um acontecimento que tenha analogias com esse mesmo símbolo.
30.03.2025 | por Amadou Hampâté Bâ