A “aventura da sua vida”, descreve, num dos lugares mais macabros, perigosos e mortais para milhares de migrantes que tentam cruzar da Colômbia para o Panamá, no caminho para o norte rumo aos Estados Unidos. À margem da realidade alucinada do “Panama Jungle Tour” (assim se chama o “caminho pela selva mais infame da América do Sul em caminhos de contrabandistas”) vive-se uma das maiores crises humanitárias do mundo.
24.07.2023 | por Pedro Cardoso
Na segunda metade do século XIX, o francês Napoleão III impunha um império no México e oferecia-o a um arquiduque austríaco. Em 1864, chegava ao Porto de Veracruz Maximiliano de Habsburgo, imperador de fantasia de um México invadido por França, com um governo republicano em fuga e sabotado pela Igreja e conservadores. Três anos, durou o absurdo.
30.06.2023 | por Pedro Cardoso
Um grupo de mulheres indígenas bolivianas, as cholitas, desafia, há oito anos, as montanhas geladas do país. A persistente escalada entre pedras e glaciares levou-as já aos picos mais altos da América. A conquista das alturas converteu as “Cholitas Escaladoras” num símbolo potente de resistência cultural, de luta contra a discriminação e de denúncia da violência que as segrega e mata.
30.04.2023 | por Pedro Cardoso
Enquanto no imaginário coletivo, os países nórdicos remetem para ideias progressistas, politicamente corretas, símbolo da eficiência ambientalista e do respeito por direitos civis, uma sociedade que funciona (apesar dos altos índices de suicídio) em comparação com outras, a realidade parece não corresponder a esse imaginário. Fosen Vind é um complexo de seis parques eólicos onshore em Fosen, na região central da Noruega; o parque eólico de Roan foi o primeiro a ser concluído. Cinco dias após a sua inauguração, a 20 de agosto de 2016, duzentas pessoas se reuniram no estaleiros das obras para protestar contra o projeto. Norges NaturnForbund, uma das maiores organizações ambientais da Noruega com cerca de 24 mil membros, juntou-se aos representantes Sámi para criticar a escolha do local como um importante habitat de renas de grande importância para os pastores do sul de Sápmi, terras Sámi.
08.03.2023 | por Laura Burocco
Um carnaval fora de época celebra todos os anos a fundação da pequena cidade de Yanga, no estado mexicano de Veracruz. Nos primeiros dias de agosto, milhares de afromexicanos revivem o “príncipe africano” que, no século XVII, liderou uma revolta de escravos que obrigou a coroa espanhola a criar o “Primeiro Território Livre das Américas”: San Lorenzo de los Negros, nome antigo da quente Yanga.
28.02.2023 | por Pedro Cardoso
A 7 de dezembro do ano passado, o chamado autogolpe falhado do presidente peruano Pedro Castillo e a sua detenção desataram o caos no Peru. Dois meses depois, as manifestações dos apoiantes do antigo mandatário – indígenas, universitários e sindicatos – continuam a ser reprimidas com especial violência. Até hoje, as forças policiais peruanas mataram 54 manifestantes. Sem saída à vista, a poesia insurge-se.
28.01.2023 | por Pedro Cardoso
Em resposta e apoio a esta repressão e contestação popular, a União Europeia tem o dever de agir e apoiar os direitos das mulheres do Irão, em particular e, em geral, apoiar os cidadãos deste país do Médio Oriente. A União Europeia, um dos maiores blocos económicos mundiais e líder internacional na defesa dos Direitos Humanos e da Democracia, tem à sua disposição várias ferramentas que podem colocar em ação o quanto antes.
08.11.2022 | por Rui Martins
Desde 2019, a crise económica no Brasil atirou dezenas de milhares de pessoas para uma longa rota de migração em direção à fronteira entre o México e os Estados Unidos. Famílias inteiras juntam-se a centro-americanos, cubanos, haitianos, venezuelanos, africanos ou asiáticos num caminho perigoso. Sem retorno, este caminho, para os que o deserto lhes tira o alento.
26.10.2022 | por Pedro Cardoso
A única solução potencial para a Europa, onde os reformados excedem os trabalhadores, sendo duas vezes mais do que estes, e onde as mortes superam os nascimentos, será contar com um fluxo constante de imigrantes, com a maioria dos recém-chegados a serem oriundos do único continente que ainda apresenta um crescimento na população: África.
18.10.2022 | por Ednilson Leandro Pina Fernandes
A morte de Mahsa Amini, de 22 anos, sob custódia policial levou à eclosão de uma onda de protestos no Irão. A jovem foi detida pela chamada "polícia da moralidade" por causa da forma como usava o véu islâmico – segundo relatos, teria deixado alguns fios de cabelo visíveis sob o hijab. Segundo testemunhas, Mahsa foi agredida numa viatura. A polícia nega, e diz que ela morreu por causa de um problema cardíaco pré-existente.
O uso do véu tornou-se obrigatório no país após a Revolução Islâmica, em 1979, que transformou a vida dos iranianos – principalmente as mulheres, que viram os seus diretos serem bastantes restringidos.
12.10.2022 | por Haniya Ali
No verão de 1968, uma crise estudantil no México põe o governo de Gustavo Díaz Ordaz à beira de um ataque de nervos. O braço-de-ferro acaba de forma abrupta a 2 de outubro, com o massacre de um número indeterminado de manifestantes na Praça das Três Culturas, no bairro de Tlatelolco.
03.10.2022 | por Pedro Cardoso
A conceção liberal de refugiado tem um efeito prático inegável: segrega. Deixa poucos direitos aos refugiados e nenhuns aos migrantes económicos. A criação destas categorias, baseadas, muitas vezes, em artificialismos, permitem, à partida, escolher as pessoas, aquelas que merecem, ou não, o nosso apoio. Que merecem, ou não, ser salvas. E, ao catalogá-las permanentemente, estamos a desprovê-las de capacidade reivindicativa, a inibir qualquer mobilização coletiva. A despojá-las do direito a ter direitos.
09.08.2022 | por Mariana Carneiro
O imaginário da invasão tem alimentado uma espécie de “psicose coletiva”, baseada no medo do outro, do desconhecido, na propalada ameaça permanente do terrorismo. E este espectro da invasão serve como justificação para a construção de muros e vedações que aumentam a brecha entre nós e os outros, que alimentam os nacionalismos excludentes e os discursos e práticas xenófobos e racistas tão acarinhados pelos movimentos de extrema-direita.
09.08.2022 | por Mariana Carneiro
O debate sobre as restituições em Portugal continua praticamente inexistente. Quase emergiu em 2020 quando a ex-deputada Joacine Katar Moreira submeteu uma Proposta de Alteração ao Orçamento do Estado de 2020 para a constituição de uma comissão de especialistas cuja tarefa seria listar os objetos roubados ou “adquiridos” em contexto colonial. Face a esta simples proposição – a de um comissão – logo uma série de argumentos escabrosos saltaram para as páginas dos jornais e inundaram redes sociais: “esse é um debate importado, que não faz sentido em Portugal”, “não há pedidos de restituição”, “e então e os objetos portugueses, como a xorca de Sintra, no British Museum?”. A discussão, no espaço público português, ficou por aqui, enquanto que em países como a Alemanha, a Bélgica e a França tem dado frutos, nomeadamente manifestada em devoluções concretas.
30.06.2022 | por Inês Beleza Barreiros e Ana Cristina Pereira (AKA Kitty Furtado)
Na semana passada, os Estados Unidos organizaram a 9ª Cimeira das Américas em Los Angeles, Califórnia. O encontro da Organização de Estados Americanos (OEA) foi parco em resultados e repleto em rebeldia. O encontro ficou marcado pela ausência do México, El Salvador, Guatemala, Honduras e Bolívia, em protesto pela recusa dos EUA em convidar Cuba, Venezuela e Nicarágua. Nunca mais uma América sem América, exigiram.
16.06.2022 | por Pedro Cardoso
Um refugiado costuma ser uma pessoa obrigada a procurar refúgio devido a algum acto cometido ou por tomar alguma opinião política. Bom, é verdade que tivemos que procurar refúgio; mas não cometemos nenhum acto e a maioria de nós nunca sonhou em ter qualquer opinião política radical. O sentido do termo “refugiado” mudou connosco. Agora “refugiados” são aqueles de nós que chegaram à infelicidade de chegar a um novo país sem meios e tiveram que ser ajudados por comités de refugiados.
15.06.2022 | por Hannah Arendt
Desde Junho de 2021, uma inusitada onda de alemães assentou-se no sul do Paraguai. São milhares de imigrantes. Fogem dos impostos, das vacinas anti-Covid e dos refugiados muçulmanos na Alemanha que, asseguram, são violentos e desvirtuaram a matriz germânica do país. A história mete ao barulho seitas religiosas, falcatruas, corrupção e uma extrema direita europeia com tentáculos no outro lado do oceano.
02.05.2022 | por Pedro Cardoso
Em tempos de guerra, o paraíso de Los Cabos, em Baixa Califórnia Sul, no México, está em voga entre os multimilionários russos. Os iates de luxo que flutuam nas marinas último modelo contrastam, porém, com os acampamentos improvisados de russos e ucranianos que esperam em Tijuana para entrar nos Estados Unidos. À medida que EUA e Rússia disputam uma vez mais a influência política na América Latina, a região olha, com espanto, para uma Europa frágil e assustada.
31.03.2022 | por Pedro Cardoso
No título, Paulo Tavares dá o tom de seu ensaio ao perguntar: “Lucio Costa era racista?” Em seguida, revê alguns de seus textos cruciais, demonstrando como a questão racial e o colonialismo embasam seu pensamento. Se em 1928, na entrevista que concedeu ao jornal O Paiz, Costa diz que “Tudo é função da raça. A raça sendo boa o governo é bom, será boa a arquitetura. Falem, discutam, gesticulem, o nosso problema básico é a imigração selecionada, o resto é secundário, virá por si”, em 1957, no Relatório do Plano Piloto de Brasília, ele afirma: “Trata-se de um ato deliberado de posse, de um gesto de sentido ainda desbravador, nos moldes da tradição colonial”.
23.02.2022 | por Roberto Conduru e Paulo Tavares
O crioulo como uma língua dinâmica foi acompanhando a evolução e desde sempre adotou vocabulários de outras línguas, fenómeno associado às nossas caraterísticas culturais: somos um povo “aberto” ao mundo e àquilo que ele tem para nos oferecer.
“Todas” as nossas manifestações culturais mais tradicionais são o culminar de uma mistura de povos que deram origem ao caboverdiano: a Tabanca, o Batuku, o Finaçon, o Funaná, a Morna, a Coladeira. A nossa forma vestir, a culinária, a pintura, a escultura, a tecelagem, a forma como os nossos escritores escrevem, a forma como nós pensamos e agimos. Cada uma destas manifestações culturais tem uma matriz influenciadora, toda a criação tem uma origem, uma influência. Esta influência está patente na cultura cabo-verdiana e é preciso protegê-la, cultivá-la e deixá-la fazer o seu caminho.
22.02.2022 | por Ednilson Leandro Pina Fernandes