"Merecemos colher os frutos do nosso trabalho." Rui Estrela

"Merecemos colher os frutos do nosso trabalho." Rui Estrela Um monumento dedicado a todas as pessoas que recusaram a escravatura e resistiram de várias formas: fugindo e recusando ser propriedade de alguém, resistindo pela manutenção da sua matriz cultural, mantendo-se vivos e apostando num futuro que só dava pistas de desgraça. Um monumento aos que nunca deixaram de acreditar que vão ser livres e que se revoltam quando a sua liberdade é ameaçada. Inspirar mudança, rebeldia perante a injustiça, defender a dignidade humana, de todos os humanos e seres vivos. Mais do que ter voz, é preciso ter organização, recursos, sentido de comunidade e poder.

Cidade

02.10.2025 | por Rui Estrela

Só existe comunidade quando os problemas básicos forem resolvidos. Ariana Furtado

Só existe comunidade quando os problemas básicos forem resolvidos. Ariana Furtado O Castelo tem características diferentes da Graça. É um bairro com uma população envelhecida. A rua da minha escola cada vez tem menos pessoas a morar e mais alojamento local. Estamos a deixar de ter vizinhos. É reconhecido à Escola o papel fundamental de manter vida de bairro no Castelo com a circulação das crianças e dos pais. A Graça é um bairro cheio de vida e de gente, mas com uma profunda desorganização a instalar-se. O comércio local começa a desaparecer. As pessoas vêm perdendo as suas casas e são afastadas do bairro onde nasceram e cresceram. Isso cria revolta. E as revoltas são terrenos férteis para a extrema direita.

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25.09.2025 | por Marta Lança e Ariana Furtado

A memória portuguesa é indissociável da presença negra. Paula Cardoso

A memória portuguesa é indissociável da presença negra. Paula Cardoso Mais e mais pessoas negras estão a projectar a voz no espaço público, em Lisboa e sobre a cidade. Observo-o nas diferentes manifestações que nos têm mobilizado; na diversidade de colectivos e produções negras; na programação de inúmeros espaços culturais; e até em iniciativas institucionais, por mais tímidas e inconsequentes que possam ser. A mudança que tem vindo a acontecer é reflexo de décadas de lutas negras que, nas gerações mais novas, já beneficiárias de mais e melhor acesso à Educação, se traduz muitas vezes numa maior consciência política, e num compromisso para a mudança. Assinalo o importante contributo não apenas do movimento associativo, mas também da academia – sobretudo a partir de pesquisas de investigadoras e investigadores negros –, consistentes na valorização e promoção das agendas negras. Com os nossos pensamentos e práticas, somamos e multiplicamos vozes.

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25.09.2025 | por Marta Lança e Paula Cardoso

A desigualdade está inscrita na paisagem. Victor Barros

A desigualdade está inscrita na paisagem. Victor Barros Quanto à presença negra no espaço público e ao modo como tem vindo a ganhar voz, Barros reconhece avanços, mas sublinha que isso acontece não porque haja políticas inclusivas, mas porque há luta. São os movimentos e as pessoas negras que têm forçado a abertura de espaço, exigindo representatividade e participação ativa. A cidade ainda não incorpora naturalmente essa presença, nem responde às suas demandas com a seriedade de uma cidadania verdadeiramente partilhada.

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23.09.2025 | por Marta Lança e Víctor de Barros

Penha de França, Bairro das Novas Nações, Olivais: toponímias coloniais em Lisboa

Penha de França, Bairro das Novas Nações, Olivais: toponímias coloniais em Lisboa Em Lisboa podemos identificar cerca de 250 arruamentos que, de uma forma ou doutra, possuem ressonâncias coloniais. Os nomes aí fixados, além de reflectirem as mudanças da cidade, constituem uma herança linguística, cultural e política da expansão europeia e, em particular, do colonialismo português. Esta articulação entre a toponímia lisboeta e a legitimação do Estado, cujo intuito era materializar e enraizar nas populações uma certa memória histórica (celebrando-a), está por muitos modos ligada à evolução dos acontecimentos políticos do país.

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23.09.2025 | por João Pedro George

Problematizar a configuração da cidade que reproduz as práticas coloniais. Beatriz Gomes Dias

Problematizar a configuração da cidade que reproduz as práticas coloniais. Beatriz Gomes Dias Durante um longo período, estas pessoas viviam em bairros de autoconstrução, em tudo semelhante à organização da cidade colonial: por um lado a cidade do asfalto, urbanizada, por outro, a cidade dos musseques (periferia). Havia casos extremos como o da Guiné-Bissau, em que tocava um sino à porta de Bissau, na chapa de Bissau, para que os que eram considerados indígenas abandonassem a cidade construída. E se olharmos para Lisboa vemos o movimento pendular para a cidade, para o centro da cidade no início da manhã, do povo que vem construir e limpar a cidade, o mesmo povo que construiu a riqueza da cidade e que, durante a pandemia, não pode parar. A luta antirracista pretende problematizar esta configuração da cidade que reproduz as práticas coloniais.

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23.09.2025 | por Marta Lança

A comunidade não se entrega à segregação. Nélida Brito

A comunidade não se entrega à segregação. Nélida Brito A população negra é muitas vezes empurrada para a periferia, onde vivem em bairros afastados do centro, onde estão os principais polos de emprego e serviços. Este afastamento dos negros para a periferia resulta numa separação física entre grupos socioeconómicos, sendo que as classes médias e altas residem mais próximo do centro. Esta divisão física acaba por acentuar as diferenças económicas entre estes dois grupos, tornando ainda mais difícil para quem habita na periferia sair em busca de habitação em zonas melhores, devido às suas limitações financeiras.

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22.09.2025 | por Marta Lança

Celebração dos “nómadas digitais” e invisibilidade dos imigrantes. Lívia Apa

Celebração dos “nómadas digitais” e invisibilidade dos imigrantes. Lívia Apa Lívia denuncia o contraste brutal entre a celebração dos chamados “nómadas digitais” e a invisibilidade dos imigrantes que sustentam a cidade com seu trabalho precário. Lisboa, segundo ela, vive uma contradição gritante: valoriza o poder de compra enquanto ignora os direitos. É um apartheid velado que separa mundos que coexistem na mesma geografia, mas em realidades paralelas. Considera escandalosa a forma como os bairros de autoconstrução, colados ao conforto lisboeta, são ignorados por grande parte da população, um apagamento que revela o abismo entre classes e raças.

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22.09.2025 | por Marta Lança

Tensões e convivências entre imigrantes, expatriados e lisboetas

Tensões e convivências entre imigrantes, expatriados e lisboetas Falou-se das dificuldades que hoje em dia se sentem em viver plenamente a cidade, por causa da especulação imobiliária, da gentrificação, da turistificação, dos problemas de mobilidade e transportes e das profundas desigualdades. Tudo isto agravado quando se habita na periferia, ou se enfrentam questões que remetem para a xenofobia estrutural ou institucional, como os muitos obstáculos burocráticos exemplificam, algo que é vivido quotidianamente, essencialmente, mas não só, por muitos indo-asiáticos, brasileiros e comunidades racializadas.

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22.09.2025 | por Marta Lança e Vítor Belanciano

"Não são águas passadas", reflete sobre o apagamento histórico da escravidão

"Não são águas passadas", reflete sobre o apagamento histórico da escravidão Mais do que uma denúncia, o filme propõe uma reflexão: de que forma a sociedade atual pode se responsabilizar, se conscientizar e criar ferramentas para que os horrores da escravidão não sejam repetidos sob novas formas de violência. “Sempre fiquei impressionada com o fato de Portugal não assumir a triste responsabilidade que teve durante o que eles chamam de expansões marítimas — e nós, brasileiros, sabemos que se trata de colonização. O comércio de pessoas escravizadas é tratado como tabu, como se fosse apenas um ‘efeito colateral’ dessa expansão. Nem a sociedade nem os manuais escolares reconhecem essa tragédia histórica”, explica Viviane Rodrigues. “Espero que a reflexão passe pelo reconhecimento de que países colonizadores, em especial Portugal, tratem o tema com a devida importância. Que a educação das novas gerações reflita de forma diferente das anteriores e que possíveis reparações históricas sejam feitas.”

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22.09.2025 | por Viviane Rodrigues

Sempre estivemos aqui. Cristina Roldão

Sempre estivemos aqui. Cristina Roldão Podia-se reabilitar o edifício do Jardim das Conchas e fazer um lugar para debater a mulher negra em Lisboa, um arquivo que reunisse o máximo de documentação da Lisboa de 1500 até hoje. Mas também quem eram as mulheres da Casa dos Estudantes do Império, quem foram as mulheres que estavam nas escadas vendedoras, nas escadas do Hospital do Rossio (em 1707), a quem a guarda estava sempre a bater e a destruir o que elas traziam. Estas mulheres organizaram-se e fizeram uma petição sobre a violência policial, reivindicando o direito ao lugar de trabalho, com os argumentos que têm muitas ligações à atualidade, dizendo: nós sempre estivemos aqui, somos daqui!

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21.09.2025 | por Marta Lança

Sou mais uma que faz da luta a própria vida. Priscila Valadão

Sou mais uma que faz da luta a própria vida. Priscila Valadão A principal política pública no âmbito de Lisboa e nacional é a regularização de imigrantes. Sem a regularização dos imigrantes, sem uma AIMA funcional, sem uma polícia pidesca para imigrantes. Não quero sequer que exista. Então, extinção de uma polícia para imigrantes, regularização de todos os imigrantes que vivem em Portugal, melhores salários para todas as pessoas, uma fiscalização não do imigrante e do trabalhador, mas de quem contrata imigrantes e trabalhadores em geral, ou não contrata, só utiliza de mão de obra quase que escrava para manutenção dos seus próprios ganhos.

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21.09.2025 | por Marta Lança

Lisboa assenta em trabalho precário, mal pago e por turnos. António Tonga

Lisboa assenta em trabalho precário, mal pago e por turnos. António Tonga No aeroporto, local cada vez mais negro e imigrante e sempre periférico, não há estacionamento para os trabalhadores que têm de estar uma hora antes da hora de entrar no serviço para conseguirem estacionar nos Olivais ou no Prior Velho. Muitas vezes têm os seus veículos rebocados. A verdade é que o espetáculo de Lisboa funciona cada vez mais com base em trabalho precário, mal pago e por turnos, impondo um estilo de vida anti-social e cinzento a um número, cada vez maior, de pessoas e famílias, que são obrigados a começar as suas jornadas por volta das cinco da manhã, a partir da periferia rumo ao El Dorado.

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20.09.2025 | por Marta Lança e António Tonga

O comboio lembra-nos que Lisboa não é nossa. Marinho de Pina

O comboio lembra-nos que Lisboa não é nossa. Marinho de Pina A presença africana parece só isso, presença. A diversidade só será real quando ocupar os espaços de decisão. Lisboa é segregada pelo dinheiro e pela cor da pele, com a polícia a encostar pessoas não brancas à parede. A base da segregação é social, dinheiro, dinheiro, dinheiro. Mas a mentalidade colonial controla a população negra, mantendo-a sempre longe das oportunidades. Acho que já estou a repetir-me. Enfim, com bairros racializados e com os pobres nas periferias, com os transportes condicionados e a pobreza institucionalizada, com os planos urbanos que separam mais do que unem e comercialização da escassez,

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19.09.2025 | por Marta Lança e Marinho de Pina

Queremos viver como cidadãos comuns do país. Farid Ahmed Patwary

Queremos viver como cidadãos comuns do país. Farid Ahmed Patwary A maioria dos imigrantes sul-asiáticos enfrentam barreiras linguísticas, e ausência de reconhecimento de qualificações. Têm dificuldade de acesso à habitação digna e os seus empregos têm com remuneração média baixa. Muitos estão em setores como restauração, comércio e transporte. O maior obstáculo à integração é, assim, a precariedade habitacional e a discriminação no mercado de aluguer.

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19.09.2025 | por Marta Lança

Lisboa mesma outra cidade (vol.2)

Lisboa mesma outra cidade (vol.2) Numa cidade cada vez mais imersa num imaginário de postais turísticos, ativos imobiliários e visões alienistas — onde o quotidiano de quem a habita tende a desaparecer -, Lisboa Mesma Outra Cidade propõe uma outra cartografia. Este segundo volume reúne sete ensaios fotográficos e três crónicas literárias que traçam um retrato fragmentário, íntimo e atento da cidade vivida por dentro. Mais do que definir o que Lisboa “é”, trata-se aqui de multiplicar as formas de ver, pensar e imaginar a cidade a partir de quem nela caminha, observa e habita.

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18.09.2025 | por David-Alexandre Guéniot e Catarina Botelho

Muitas pessoas negras só transitam, não usufruem da cidade. Aoaní

Muitas pessoas negras só transitam, não usufruem da cidade. Aoaní Lisboa é completamente segregada mas não se nota porque é um espaço onde transitam pessoas de vários lugares e backgrounds. Mas é isso, elas só transitam, não habitam, não vivem, não usufruem da cidade. Elas só trabalham, só servem. E as pessoas que habitavam a cidade têm sido empurradas para fora dela, embora precisem de voltar diariamente para a servir. E nesses lugares para onde são empurradas não há nada além da cama. Quando tentam voltar para usufruir da cidade, nos poucos tempos que vão tendo livres: não há transporte.

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18.09.2025 | por Marta Lança

Muitos entraves burocráticos que consomem nosso tempo e energia. Brunno Constante

Muitos entraves burocráticos que consomem nosso tempo e energia. Brunno Constante Embora haja numericamente muitos brasileiros em Portugal, nossa representatividade e influência em espaços públicos de discussão e decisão ainda não correspondem ao nosso volume populacional. Isso se deve, em grande parte, aos entraves burocráticos que consomem nosso tempo e energia, e também à desinformação. Muitas vezes, não sabemos como ou onde buscar orientação para participar mais ativamente da vida cívica, o que acaba silenciando nossa voz coletiva e limitando nossa capacidade de advocacy e de reivindicação de direitos.

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17.09.2025 | por Marta Lança

Há preconceito nos serviços públicos e nas escolas. Gizane Campos

Há preconceito nos serviços públicos e nas escolas. Gizane Campos Portugal é um país de imigrantes, com uma história de idas e vindas, mas sei que há muitos casos de preconceito contra imigrantes de várias nacionalidades, potencializados por discursos de extrema-direita que os culpabilizam. Vejo pessoas vivendo em sistema rotativoss s em apartamentos (enquanto uns dormem de dia, outros trabalham à noite e vice-versa). Há preconceito nos serviços públicos e nas escolas. Não é algo exclusivo de Portugal, mas infelizmente faz parte do dia a dia em Lisboa.

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17.09.2025 | por Marta Lança

A relação com a comunidade africana é, acima de tudo, a periferia. Sinho

A relação com a comunidade africana é, acima de tudo, a periferia. Sinho Esses movimentos servem para: Informar as pessoas sobre os seus direitos e deveres; Incentivar a participação comunitária em temas como habitação, violência policial, racismo e exclusão; Pressionar o Estado a implementar políticas públicas reparadoras; Trazer essas discussões para o centro do debate político e social. Mais do que protestar, estes coletivos estão a construir consciência cidadã, mostrando que temos direito a uma cidade justa, e que também temos poder para transformar essa realidade.

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15.09.2025 | por Marta Lança