A etnografia e a etnologia desenvolveram-se a par dos museus desde o século XIX, o interesse pelo primitivo, os objetos, hábitos e culturas das sociedades rurais ou pré-industriais despoletou mecanismos de estudo, inventariação e musealização. Destes processos não esteve ausente a construção de identidades, coincidente com o período de afirmação dos Estados-nação, e, na Europa do Sul, a constituição de regime autoritários de feição nacionalista, no caso português verificou-se na apropriação do primitivo/ingénuo para uso de propaganda política (a invenção de um povo que “vivia habitualmente” / “política do espírito” de António Ferro).
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03.08.2024 | por Josina Almeida
Jogando com a dicotomia periferia/centro, dentro e fora, transversal às suas vidas e obras, os Unidigrazz interrompem a ideia da Linha de Sintra enquanto lugar cinzento contrapondo a esta ideia uma produção artística rica, viva, colorida.
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24.04.2024 | por Patrícia Azevedo da Silva
Estas imagens mimetizam a "negrita" da marca, à excepção de que Gisela e ROD nos olham de frente e não se mostram de perfil. Tornam-se, de repente, um objeto para os/as brancos/as observarem (Kilomba), mas agora causam desconforto, da mesma forma que ser servida uma chávena de café desta marca por uma mulher negra me causa mal estar. Numa loja de recuerdos de um museu fictício, onde nenhum dos objetos pode ser comprado, Gisela Casimiro e ROD nomeiam o seu trabalho Priceless, trocando a língua colonial pela língua imperial, a língua em que se faz comércio global e se tomam decisões políticas. Ambos se apropriam desta língua para dizerem, em última análise: "é assim que nos representam e não é esta a representação que queremos”.
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15.06.2023 | por Laura Falésia
Cada um de nós pensa na solidão de uma forma única. Formamos as nossas opiniões sobre o assunto através de experiências diferentes. Quão diferentes são as nossas experiências de solidão? Em que espaços e em que tempos, cada um de nós se sente sozinho? Como é que os nossos papéis sociais, laborais e familiares influenciam a nossa experiência da solidão? O que significa um momento de solidão para aquele que raramente a encontra? E o que fazemos com esses momentos quando eles se proporcionam? Será a solidão um luxo? Como é que imaginamos a solidão dos outros? Embora internamente a experiência possa ser muito diferente, há também a ideia muito contemporânea de uma solidão partilhada. Existe algum tipo de ligação entre pessoas que se sentem sozinhas? São diferenças que parecem ter sido ampliadas ao longo da pandemia, mas o que é a solidão historicamente? Quero um dia em que não se espere nada de mim pretende pensar o duplo potencial da solidão como força perturbadora e lugar de privilégio histórico.
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24.03.2023 | por Marta Rema
Passamos pelas obras de Ana Aragão, Carlos Bunga, Herberto Smith, G Fema, Kiluanji Kia Henda, Petra Preta, Tony Cassanelli (dos Aurora Negra), Wasted Rita, Xullaji, Julinho KSD e muitos outros artistas contemporâneos. Artistas estes que nos vão preenchendo o quotidiano com os seus projetos e formas de comunicar cultura. Que estudam e aperfeiçoam os seus trabalhos para que o público possa retirar destes a informação necessária por forma a promover e efetuar mudanças na sociedade. Indo assim ao encontro de uma das premissas do projeto, “(…) refletir sobre que cidade, espaços urbanos e instituições artísticas e culturais podem ser construídas (…). Porque afinal, podemos e devemos educar-nos de diversas maneiras.
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17.02.2023 | por Alícia Gaspar
No entanto, em sentido algo divergente, vários alunos e alunas proferiram frases como “Não me sinto português/portuguesa”, “Não me sinto europeia/europeu”. As experiências dos estudantes convocadas pelas obras de arte provocaram reflexões sobre até que ponto a Europa e o Portugal estão a conseguir reencontrar-se e reconstruir-se com e na multiplicidade de corpos e culturas, na pluralidade de línguas e sotaques, nos diversos trajectos e histórias que compõe qualquer mosaico diverso, e que existe em Portugal, não nos esqueçamos, desde tempos remotos. Estas partilhas na galeria do museu demonstram também como é necessária a existência de espaços para estas conversas e, sobretudo, uma resposta comprometida para o sentimento de exclusão, de não pertença à sociedade, de mágoa e revolta, da qual a escola muitas vezes se distancia.
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28.12.2022 | por Joana Simões Piedade
Se outros sistemas económicos e sociais caíram no passado, porque é que o capitalismo não pode acabar, mais tarde ou mais cedo? Porque não levantar essas questões, geralmente declaradas como "impossíveis" de resolver? Por vezes, pensamos nas organizações económico-políticas das sociedades como estruturas imutáveis, as formações guerrilheiras não o fizeram, mesmo quando tudo podia parecer perdido. Sonhando e praticando sonhos, as utopias tornam-se realidade.
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23.11.2022 | por Francesco Biagi
Disponibilizamos agora a versão portuguesa actualizada de um diálogo que fizemos há um ano com Sala por duas razões. Primeiramente, estamos a organizar a primeira exposição individual, em Novembro, em Berlim, da iniciativa cujos membros principais têm formado uma colectiva de artistas com a mesma denominação “Arbeitspause”. Em segundo lugar, com os tempos já frios e enfrentando os elevados preços de energia, ficamos a pensar, de novo, num isolamento possível, no contexto de uma Berlim que tem sido afectada pela invasão russa contra a Ucrânia.
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18.10.2022 | por Cheong Kin Man
Este amplo programa insere-se nos debates atuais sobre memória colonial, o racismo, e coloca em destaque as vozes artísticas negras, africanas e afrodescendentes em Portugal, de várias gerações. Inclui performances, exposições, filmes, debates, literatura, música, workshops e ações socioeducativas, culminando na peça “Aurora Negra”.
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14.10.2022 | por vários
Talvez o conteúdo, essa lembrança que se quer resgatar, esteja espelhada no espaço físico da galeria, no intenso vermelho como o sangue marcado, infligido, por qualquer uma daquelas figuras vangloriadas nos seus respetivos monumentos. No entanto, pretende-se resgatar uma lembrança que não temos, uma memória que não fora ainda construída – tal como a dupla, remetida a um Silêncio Coletivo. É este o anúncio que se pretende comunicar - a descolonização iminente, urgente, denunciando-se a criminosa normalização das suas pontas soltas. Mateus Nunes, no texto de acompanhamento da exposição, expõe-nos a operação desse drama, aqui, pelos artistas, de forma pertinente: “Uma das formas mais eficazes e provocativas de declarar a obsolescência de ideias e imagens não é descartá-las, mas virá-las do avesso”.
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08.06.2022 | por Miguel Pinto
Aos intrusos visitantes é pedido atenção e tempo. Para ouvir a história. Para sentir a vida que nos atravessa mas também nos transcende. Para compreender o lugar mais certo das coisas, como o próprio Hugo Canoilas faz com os seus materiais, muitos deles recolhidos em praias, no campo ou no estaleiro abandonado da obra inacabada. Sofrem a intempérie e o abandono, até conseguirem dizer o lugar de habitação. Essa espera não garante a escolha certa mas cria o espaço de receção da obra de arte e inicia um processo regrado, contido, que estabeleceu o compromisso da não violência, do diálogo produtivo e da mobilização dos sentidos para paisagens mais invisíveis.
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25.05.2022 | por Carla Baptista
Já se escreveu que é a Bienal mais feminista de sempre, pela presença maioritária de artistas mulheres, mas sobretudo pelos temas convocados: fortalecer as contra narrativas ao discurso neocolonial (predatório, racista, discriminatório), intensificar as metodologias colaborativas e a exploração criativa das relações simbióticas e fazer da arte uma ferramenta de emancipação e um recurso central para pensar e agir no mundo.
Nada disto é radicalmente novo na história da Bienal que sempre se foi trilhando na abertura ao Outro (lado) das coisas e da própria cidade, mas talvez o caminho esteja mais sinalizado.
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24.05.2022 | por Carla Baptista
Em exibição no Museu de Arte Africana de Belgrado, a partir de 13 de Abril, e fruto de uma colaboração entre esta instituição e a Galeria de Arte THIS IS NOT A WHITE CUBE - constrói-se como exposição através da seleção cuidada de obras de artistas angolanos, representativas daquilo que é, num espectro alargado, a produção artística e a reflexão intelectual de uma geração icónica nascida após a independência de Angola, em 1975, sucedendo à afirmação dos movimentos independentistas, à Guerra Colonial Portuguesa e à deposição do regime ditatorial do Estado Novo, em Portugal.
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13.04.2022 | por vários
Numa altura em que quase que nos obrigam, como mulheres negras, a manifestar e a reclamar a nossa “Identidade”, como se tudo o que escrevemos, falamos, desenhamos, pintamos e fazemos tem de ser africano esbarro-me com a explosão de cores da expressão de Nalia Agostinho onde me revejo, apenas, como mulher. Também revejo um universo feminino de décadas com várias outras parceiras de caminhada nas lágrimas, gargalhadas, partilhas, conversas, dúvidas e certezas.
Ou apenas tentarmos abraçar um imbondeiro e simplesmente sentir-me nua e livre como as obras “Colibri” e “Corpos Insubmissos”.
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25.03.2022 | por Magda Burity da Silva
Durante os anos da guerra, milhares de jovens recrutados para Angola, Guiné-Bissau e Moçambique tiraram fotografias daquilo que os rodeava: os camaradas, os quartéis, as paisagens, o quotidiano, as populações civis, o aparato militar. Estas imagens escaparam à censura do regime, e foram guardadas ou enviadas pelo correio como provas de vida à distância.
Alguns destes homens construíram laboratórios improvisados, outros acederam a laboratórios oficiais. Vários frequentaram lojas de fotografia que floresceram com a procura gerada pela guerra, muitos compraram e trocaram imagens. Assim construíram os arquivos fotográficos de que agora mostramos partes.
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05.01.2022 | por Inês Ponte e Maria José Lobo Antunes
Este é um início, uma aproximação. Um arranque que abre vários caminhos para o Anozero’21-22. Aqui, são apresentadas algumas das bases que sustentam a proposta para a Bienal. Apresentadas, conversadas e discutidas, porque estes são alguns dos seus princípios-fundadores: a discussão, a abertura, a participação.
A Meia-Noite chega com uma exposição-conversa.
Palcos
09.11.2021 | por Elfi Turpin e Filipa Oliveira
Os álbuns que, apesar de nem sempre terem uma curadoria pensada, acabam também por refletir a natureza do colonialismo que coloca um forte investimento no nível afetivo. Naqueles álbuns, o racismo acaba por ser exposto com afeto, carinho, amor até. E parece ser tratado como um membro da família que não se quer esquecer, tal como uma “mulher da Guiné” na moldura.
A ler
02.11.2021 | por Carla Fernandes
A exposição Europa Oxalá é também o momento ideal para desconstruir o mito colonial e a melancolia pós-colonial designados como “arte africana”. Atribuída a toda a produção artística que tem origem no continente africano, a expressão tem sido utilizada para a diferenciar de uma forma grosseira de toda a arte incluída nos compêndios e nas narrativas da história universal da arte fundada na matriz ocidental. A arte dita africana era tida como uma arte sem autoria, desligada da diversidade dos seus contextos de produção, fossem eles um país do Norte de África, do Sul ou da costa leste ou oeste, fosse do século XIV ou do século XX.
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18.10.2021 | por António Pinto Ribeiro
A história de consumo do Outro, foi fulcral para garantir à igreja um plano estratégico de massacre da carne negra, uma carne amaldiçoada pelo olhar diabólico do mundo europeu com a marca de Caim que só seria expurgada através do trabalho servil, da entrega de si ao serviço do outro. Um corpo carne, um corpo máquina, um corpo deforme, um corpo de talho, pronto para um consumo voraz. Um corpo que serviu de suporte para manter toda a produção da sociedade europeia. Um corpo que ainda serve como cargueiro forte para elevar prédios, construir mansões ou servir de deleite sexual. Um corpo que é ainda é alvo, Um corpo sem política. Um não-corpo.
Mukanda
23.09.2021 | por Rodrigo Ribeiro Saturnino (ROD)
Em vez de entender um museu nacional como um repositório de objetos artísticos emblemáticos dos valores da elite ou então da sua fetishização de todos os que exclui e rejeita, os curadores aceitaram integralmente a sua responsabilidade educacional e o seu dever em contribuir para a vida cultural no presente. O que, mesmo assim, não evita de todo de nos deixar com a impressão que o fogo do Purgatório afinal ainda arde e muito há ainda a fazer para o extinguir.
A ler
15.08.2021 | por Paulo de Medeiros