Contai aos vossos filhos

Contai aos vossos filhos A fotografia e a guerra formam, na nossa época, uma parelha que tem muito que se lhe diga, mas não uma leitura única. Susan Sontag, uma escritora americana que descreveu, historiou, e tentou explicar a estranha coligação deste estranho casal (a fotografia e os sofrimentos da guerra) no seu livro “Ohando o sofrimento dos outros” (que diga-se de passagem, foi traduzido por mim) diz a certa altura: “As guerras são agora também imagens e sons de sala de estar. A informação sobre o que está a acontecer noutro sítio, a que se dá o nome de «notícias», sublinha o conflito e a violência – If it bleeds, it leads [«Se há baixas, há cachas»], reza a provecta divisa dos tabloides e dos programas noticiosos de 24 horas – que recebem em resposta compaixão, ou indignação, ou excitação, ou aprovação, à medida que cada notícia vai surgindo.”

Vou lá visitar

15.03.2024 | por José Lima

Apresentação do livro "Animismo e outros Ensaios", de Margarida Medeiros

Apresentação do livro "Animismo e outros Ensaios", de Margarida Medeiros O livro de Margarida Medeiros, ao propor o ensaio como método para uma ciência pública; ao forjar um léxico conceptual para análise do cinema e da fotografia, resgatando a arte como modo de conhecer (e não ilustração de teoria); e sobretudo ao defender implicitamente o animismo como ontologia reparadora, é um livro de uma actualidade pungente. É luto e é luta!

A ler

11.01.2024 | por Inês Beleza Barreiros

Lee-Ann Olwage: “Se procuramos melhorar, globalmente, a vida das pessoas com demência, então não podemos ignorar a parte que diz respeito às diferentes perceções culturais”

Lee-Ann Olwage: “Se procuramos melhorar, globalmente, a vida das pessoas com demência, então não podemos ignorar a parte que diz respeito às diferentes perceções culturais” Lee-Ann Olwage, que admite lutar contra os seus próprios problemas de saúde mental, tem também familiares que sofreram ou sofrem com Alzheimer. Por essa razão, afirma que, com o seu trabalho, pretende criar um espaço no qual as pessoas que fotografa possam desempenhar um papel ativo na criação das imagens e que, acima de tudo, as faça sentir como as verdadeiras “heroínas” das suas próprias histórias.

Cara a cara

13.12.2023 | por Mariana Moniz

Lisboa Mesma Outra Cidade

Lisboa Mesma Outra Cidade Duramente atingida pela austeridade, radicalmente transformada pelo turismo, subitamente suspensa pela crise sanitária, a cidade de Lisboa sofreu profundas transformações durante a última década. Fruto de políticas que popularizaram a sua imagem enquanto cidade cosmopolita e de lazer, a turistificação e financeirização do espaço público e privado transformaram as formas de ver e viver Lisboa.

Cidade

24.10.2023 | por Catarina Botelho e David-Alexandre Guéniot

Aerogramas de José Rubira: Guiné Bissau / Montemor-o-Novo 1971-1973

Aerogramas de José Rubira: Guiné Bissau / Montemor-o-Novo 1971-1973 Com o intuito de evidenciar o caráter também epistolar e material destas fotografias, partilhamos, além de uma digitalização da imagem nelas contida, o outro lado destes objectos fotográficos e organizamo-los cronologicamente pela data de envio. Propomos assim um debruçar sobre a sucessão de imagens e palavras que José Joaquim Rubira remeteu, ao longo de quase três anos, aos seus pais, aos seus tios e primos, à sua esposa e à sua filha Clara, que tinha apenas 6 meses quando José partiu de Montemor-o-Novo. José Rubira aparece retratado em todas as imagens.

Afroscreen

07.04.2023 | por Daniela Rodrigues

“Europa Oxalá”, tales of Europe

“Europa Oxalá”, tales of Europe Ao visitarmos a mostra coletiva Europa Oxalá ficamos, precisamente, com uma ideia mais vívida e premente sobre o poder criativo, as questões, preposições e desafios da contemporaneidade europeia. A noção de Europa afigura-se tanto mais coincidente com a sua realidade, como com os desejos e memórias diversas que a compõem. Na sala expositiva da Fundação Calouste Gulbenkian, percorremos as 60 obras em linguagens como pintura, desenho, escultura, filme, fotografia e instalação, de artistas cujos nomes não são uma mera lista mas fonte de conhecimento sobre identidades, descolonização, xenofobia, racismo, processos migratórios de pessoas, mundos e arte.

Vou lá visitar

27.12.2022 | por Marta Lança

“O impulso fotográfico”, (Des)arrumar o Arquivo Colonial

“O impulso fotográfico”, (Des)arrumar o Arquivo Colonial Nesta exposição, a expansão da fotografia associa-se à expansão científica colonial que vê na fotografia a tecnologia adequada para visualizar, medir, classificar e arquivar os seus objetos de estudo de modo potencialmente infinito, num contexto de progressivo extrativismo. Partindo desta obsessão pela medição e classificação, mostra-se os modos como os territórios e os corpos das pessoas colonizadas foram visualmente apropriados durante as missões científicas de geodesia, geografia e antropologia, no período 1890-1975, e como se difundiram as narrativas da ciência colonial.

Vou lá visitar

11.12.2022 | por vários

"Resistência Visual Generalizada”: algumas reflexões críticas para recordar o passado do século XX na luta contra o presente neo-liberal

"Resistência Visual Generalizada”: algumas reflexões críticas para recordar o passado do século XX na luta contra o presente neo-liberal Se outros sistemas económicos e sociais caíram no passado, porque é que o capitalismo não pode acabar, mais tarde ou mais cedo? Porque não levantar essas questões, geralmente declaradas como "impossíveis" de resolver? Por vezes, pensamos nas organizações económico-políticas das sociedades como estruturas imutáveis, as formações guerrilheiras não o fizeram, mesmo quando tudo podia parecer perdido. Sonhando e praticando sonhos, as utopias tornam-se realidade.

Vou lá visitar

23.11.2022 | por Francesco Biagi

Fotografia contemporânea polaca na Alemanha

Fotografia contemporânea polaca na Alemanha A exposição, que visa dar voz a uma jovem geração de fotógrafxs da Polónia, inclui ainda o trabalho de Irena Kalicka, jovem artista crítica à tendência do seu país em virar para a extrema-direita. Tive a oportunidade de apresentar uma fotografia dela na revista “Fantasia Macau” no ano passado.

A ler

13.10.2022 | por Cheong Kin Man

Matéria, Memória e Máquina: A Política e a Poética do Olhar em ‘Factory of Disposable Feelings’ de Edson Chagas

Matéria, Memória e Máquina: A Política e a Poética do Olhar em ‘Factory of Disposable Feelings’ de Edson Chagas Esta série dá continuidade às indagações que singularizam a obra de Chagas, nomeadamente a atenção às relações vivenciais e afetivas que os sujeitos estabelecem com objetos e espaços quotidianos, contrariando rápidos ritmos de consumo através de um olhar desacelerado que perscruta em proximidade matérias, formas e texturas descartadas. Contudo, a série marca simultaneamente uma espécie de viragem, na medida em que, ao contrário de séries anteriores realizadas em vários espaços públicos urbanos a Norte e a Sul, vagamente identificados (as ruas e praias de Luanda, Veneza, Londres e Newport, etc.), nesta série, pela primeira vez, o fotógrafo concentrou-se nos espaços interiores e exteriores de uma arquitetura específica.

Vou lá visitar

29.09.2022 | por Ana Balona de Oliveira

“Sensibilité Extrême”: Imagens Estereoscópicas Recolhidas em Montemor-O-Novo

“Sensibilité Extrême”: Imagens Estereoscópicas Recolhidas em Montemor-O-Novo O visionamento deste tipo de imagens, então amplamente difundidas, preencheu o lazer quotidiano da burguesia oitocentista, instigou os seus impulsos colecionistas e constituiu a sua cultura visual. Ao analisar a construção histórica do observador, Jonathan Crary descreve-nos o surgimento de um novo tipo de indivíduo, fruto dos modos de circulação, consumo, produção e racionalização que emergiram no século XIX. Em Techniques of the Observer, Crary descreve como, desde 1840, e em particular desde o surgimento de uma série de dispositivos, entre os quais o estereoscópio, a experiência visual se passa a autonomizar do seu referente, podendo assim circular no fluxo dos meios de mobilidade e consumo do mundo capitalista e industrial que as imagens começam a integrar.

A ler

13.09.2022 | por Daniela Rodrigues

Zoila

Zoila Zoila é uma animação, que mescla colagem, fotografia e vídeo, e se desloca entre a ficção e o documental. Inspirada na minha pesquisa sobre diásporas negras, focaliza os elementos da passagem da segunda para a terceira diáspora. A videasta senegalesa Zoila é o elo que religa Goli e Almerinda nos dois lados do Atlântico. O argumento ficcional remete ao conceito de “dupla consciência” elaborada por Willian Du Bois, em ”As almas do povo negro” e retomada por Paul Gilroy, em “Atlântico Negro”.

Afroscreen

10.06.2022 | por vários

"Transições" de Joca Faria, a fotografia como recurso estético e documental

"Transições" de Joca Faria, a fotografia como recurso estético e documental Tem-se dito que a beleza está nos olhos de quem vê. Usando essa premissa, Joca Faria cria e amplia beleza no que vê. De outro modo, o porto de Maputo seria tão-somente um lugar de desembarques, um lugar que está sempre por limpar e ancorado às máquinas. Mas não. É um lugar artístico em potência. Transições é ainda um projecto que incita a pensar a condição do estivador e de um porto que se desenvolve ao ritmo da cidade e de uma nação inteira.

Vou lá visitar

06.02.2022 | por José dos Remédios

A Guerra Guardada: fotografia de soldados portugueses em Angola, Guiné-Bissau e Moçambique (1961-74)

A Guerra Guardada: fotografia de soldados portugueses em Angola, Guiné-Bissau e Moçambique (1961-74) Durante os anos da guerra, milhares de jovens recrutados para Angola, Guiné-Bissau e Moçambique tiraram fotografias daquilo que os rodeava: os camaradas, os quartéis, as paisagens, o quotidiano, as populações civis, o aparato militar. Estas imagens escaparam à censura do regime, e foram guardadas ou enviadas pelo correio como provas de vida à distância. Alguns destes homens construíram laboratórios improvisados, outros acederam a laboratórios oficiais. Vários frequentaram lojas de fotografia que floresceram com a procura gerada pela guerra, muitos compraram e trocaram imagens. Assim construíram os arquivos fotográficos de que agora mostramos partes.

Vou lá visitar

05.01.2022 | por Inês Ponte e Maria José Lobo Antunes

Livro: 'Oil Dorado'

Livro: 'Oil Dorado' Num regime de propriedade dominado por grandes latifúndios e num contexto sociodemográfico de abandono e de envelhecimento da população, as imagens recolhidas são expressivas de uma realidade mais profunda, enraizada na concentração do poder de decisão e no vazio sócio-ambiental criado pelo progressivo desvínculo da paisagem por parte daqueles que possuem um maior sentido de comunidade e de ligação à natureza envolvente.

Jogos Sem Fronteiras

16.11.2021 | por André Paxiuta

A memória na moldura

A memória na moldura Os álbuns que, apesar de nem sempre terem uma curadoria pensada, acabam também por refletir a natureza do colonialismo que coloca um forte investimento no nível afetivo. Naqueles álbuns, o racismo acaba por ser exposto com afeto, carinho, amor até. E parece ser tratado como um membro da família que não se quer esquecer, tal como uma “mulher da Guiné” na moldura.

A ler

02.11.2021 | por Carla Fernandes

O labor da memória como “intervenção radical” e “reparação”: entrevista com Marita Sturken

O labor da memória como “intervenção radical” e “reparação”: entrevista com Marita Sturken O campo dos estudos da memória é desafiado mais do que nunca pela crescente volatilidade dos debates sobre o que as nações lembram e, consequentemente, o que esquecem. Monumentos e memoriais estão a ser vandalizados, demolidos e oficialmente removidos. Estes já não podem mais ser simplesmente vistos como parte de uma paisagem histórica. Em grande medida, muito do que se passa hoje pode ser entendido como um combate pelas narrativas históricas dos monumentos e do seu poder, mas também se trata de tensões em torno de quem a nação lamenta e quem esta vê ou não vê como tendo uma "vida digna de luto" para usar o conceito de Judith Butler. Portanto, vejo o activismo da memória como um lugar chave para a produção de investigação sobre a memória.

Cara a cara

25.10.2021 | por Inês Beleza Barreiros

Álbuns de Guerra: instantâneos trocados a partir de uma criação

Álbuns de Guerra: instantâneos trocados a partir de uma criação O ponto de vista sobre a guerra não é portanto aqui o mais habitual – por ser o de mulheres do campo em Portugal, não protagonistas do palco da guerra. É o ponto de vista do impacto do acontecimento nas vidas (banais) daquelas que permaneceram em contextos rurais ou semi-urbanos em Portugal, e de como as suas vivências e sociabilidades (também) se constituíram pela guerra e pela influência, por vezes quase espectral, daqueles que para ela foram mobilizados: noivos, maridos, ou quase desconhecidos.

Vou lá visitar

31.08.2021 | por Ana Gandum

Augusta Conchiglia nos trilhos da Frente Leste, imagens (e sons) da Luta de Libertação em Angola

Augusta Conchiglia nos trilhos da Frente Leste, imagens (e sons) da Luta de Libertação em Angola A intuição e sensibilidade são evidentes – as imagens denotam a qualidade da relação com as pessoas fotografadas, e o empenho em relevar todos os aspectos da luta em curso. Não obstante a reportagem estar enquadrada pelo militantismo da autora, nela destacam-se os retratos e a fixação de situações, simples ou disruptivas, do quotidiano dos guerrilheiros e povo no contexto da luta. Os manuais de alfabetização, as armas de uns e outro (também para cultivar os campos); a manutenção das mesmas; o(s) seu(s) uso(s) e integração dos gestos – da sua importância – num movimento, colectivo, de uma comunidade em luta pela sobrevivência e libertação, mas em que, nem por isso, Conchiglia deixa de olhar para as pessoas na sua singularidade.

A ler

26.07.2021 | por Maria do Carmo Piçarra

TOCHAS, fotografias de Vasco Célio

 TOCHAS, fotografias de Vasco Célio Diz-se que há cerca de dois séculos os habitantes de São Brás de Alportel, perante a aproximação de uma frota invasora e do perigo do saque, da destruição e da morte, socorreram-se de um ardil: à noite, ao longo da costa de frente ao mar, de tochas acesas nas mãos e outras enfileiradas cravadas no chão, convenceram o inimigo de que eram muitos e preparados, levando-o a cancelar o desembarque e a seguir caminho.

Vou lá visitar

09.05.2021 | por Sara Goulart Medeiros e Vasco Célio