Proposta de ante-projecto de revisão do artigo nono da constituição política da república de Cabo Verde

Proposta de ante-projecto de revisão do artigo nono da constituição política da república de Cabo Verde  Forjado na sociedade colonial-escravocrata como meio de comunicação entre os diferentes grupos étnicos negros escravizados trazidos cativos da costa africana vizinha para as ilhas e os seus senhores brancos chegados com as navegações marítimas europeias, o tráfico negreiro e o comércio triangular transatlântico, o crioulo cabo-verdiano emergiu, assim, como a expressão (linguística) mais eloquente e visível da cultura crioula surgida da interacção, do confronto e do diálogo civilizacionais entre dominados e dominadores, entre explorados e exploradores, no chão agreste das ilhas cabo-verdianas, encontradas desertas de populações autóctones e virgens dos pontos vista antropológico e sociológico.

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28.08.2025 | por José Luís Hopffer Almada

Kanimambo, de Ângela Ferreira

Kanimambo, de Ângela Ferreira "Refiro espaços urbanos menos impositivos do que as intervenções estéticas e formais que mais normalmente acontecem, onde os escultores são convidados a decorar os espaços. Sempre achei que era indecente forçar alguém que teria de passar por esse espaço todos os dias, porque lá mora, ou tem de apanhar um comboio ou um autocarro, ser forçado a experimentar uma opinião estética minha. Isso é perfeitamente normal e aceitável numa galeria de arte contemporânea, onde há um contrato, o visitante entra e sabe que vai ver arte contemporânea, enquanto na rua esse contrato não existe, tenho pudor disso."

Cidade

27.08.2025 | por Marta Lança

Centenário de António Jacinto para 50 anos de Independência de Angola

Centenário de António Jacinto para 50 anos de Independência de Angola   Outra faceta de António Jacinto — uma espécie de “conselheiro sentimental”, passe a expressão — é-nos dada pela sobrinha Maria Cecília, ao contar o caso da sua irmã Nica, apaixonadíssima por um colega de escola, «que não lhe deu bola nenhuma.» Desesperada, procura junto do tio amado, não só consolo, mas também a sugestão de um modo capaz de aliviar a dor do seu “mal de amor”. Conselho do sábio Jacinto: «— Nica, nunca se namora com ninguém da mesma escola, nem da mesma rua. Nunca se esqueçam disso.»

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26.08.2025 | por Zetho Cunha Gonçalves

Kabuverdi e so un (sima Sonsent e so bo)

 Kabuverdi e so un (sima Sonsent e so bo) Que se reerga a grande ilha do Porto Grande e Monte Cara pelo alento das suas valorosas gentes, com a solidariedade fraterna e firme dos cabo-verdianos de todas as ilhas e diásporas, contra projetos supremacistas malsãos engendrados por mãos estrangeiras, ainda acolitadas por serventuárias nacionais. Hoje mais do que nunca faz sentido o verso de «súplica« de Djoya «sonsent nxina-me oiá lus di sol». Que o sol do novo dia te seja de novo radioso, Sonsent.

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26.08.2025 | por José Luiz Tavares

POSFÁCIO: O Eco das Vozes: entre a memória e o porvir

POSFÁCIO: O Eco das Vozes: entre a memória e o porvir Mais do que um livro, esta antologia, construída à sombra de cinco décadas das Independências, é mais do que uma comemoração: é um gesto de escuta e de reinscrição. Entre as narrativas aqui reunidas, ecoa não apenas a memória das lutas e dos processos de libertação dos Cinco países africanos em pauta, mas sobretudo a densidade humana das suas heranças, contradições e promessas por cumprir: estas narrativas não narram apenas o que aconteceu, mas o que restou, o que persiste e o que se deseja. Assim, a literatura funciona, aqui pelo menos, como escuta do que falta. Porque estas são vozes que cancelam o silêncio histórico, que revisitam o trauma colonial e a utopia da libertação com a linguagem sensível da poiesis – trazendo algo do não-ser ao ser, dando origem a algo que antes não existia, presentificando ausências e desvelando invisibilidades.

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19.08.2025 | por Inocência Mata

PARECER do grupo de trabalho da Comissão Científica da Delegação da ALMA-CV em Portugal

PARECER do grupo de trabalho da Comissão Científica da Delegação da ALMA-CV em Portugal Com a introdução, no Manual, mesmo que a título experimental, de uma ‘norma’ de escrita nova, não se tem em conta todo o trabalho anteriormente desenvolvido na produção de normas ortográficas para a LCV, quer a nível científico, quer a nível oficial. Não sendo consensual, nem previamente testada noutros contextos, essa ‘norma’ tende a gerar resistência na comunidade linguística e na comunidade educativa, podendo assim pôr em causa o sucesso do ensino formal em língua materna.

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18.08.2025 | por vários

Ortografia do caboverdiano: ciência, identidade, e respeito pela diversidade

Ortografia do caboverdiano: ciência, identidade, e respeito pela diversidade A ciência linguística, em múltiplas vertentes – pela análise exaustiva de dados empíricos quanto às suas propriedades fonológicas e morfossintáticas, em articulação com a sociolinguística e a linguística histórica – conhece numerosos casos bem documentados de outros contextos que sistematicamente demonstram isto: nenhum sistema ortográfico é neutro. A escrita das línguas vem sempre associada a ideologias e disputas, refletindo relações de poder e visões muito distintas sobre o sentido coletivo. Ou seja, esta não é uma realidade exclusiva de Cabo Verde, é algo que acontece em processos semelhantes por todo o mundo.

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17.08.2025 | por Fernanda Pratas

A anexação do Grão-Pará como colônia do Brasil

A anexação do Grão-Pará como colônia do Brasil A adesão à Independência, longe de significar a emancipação dos povos amazônidas, consolidou a subordinação da região ao centro-sul do Império. O Pará, antes colônia de Portugal, passou a ocupar uma posição periférica dentro do novo Brasil. As estruturas de dominação e exclusão social permaneceram. O poder continua, até hoje, concentrado nas mãos de uma elite política e econômica associada aos interesses do sudeste e das potências estrangeiras e o povo amazônida ainda é marginalizado nos processos decisórios do país.

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17.08.2025 | por Gabriella Florenzano

MDOC - O lugar de Melgaço no mundo

MDOC - O lugar de Melgaço no mundo Há, no entanto, um denominador comum: a necessidade de partir. Trata-se de uma região que viveu longos períodos de miséria, em que a vida era demasiado dura para ser sustentada, levando muitos a emigrar, sobretudo para França, de onde regressaram com condições melhores. Como se percebe nos testemunhos, a emigração não era uma simples aventura, mas uma inevitabilidade.

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14.08.2025 | por Manuel Halpern

Shakespeare é pop, entrevista a Marco Mendonça, a propósito de Reparations Baby

Shakespeare é pop, entrevista a Marco Mendonça, a propósito de Reparations Baby Sendo um game show, pareceu-me importante ter esse lado da cultura pop, porque estes programas, para além de serem uma coisa muito ligada à cultura geral, também estão ligados ao mundo pop, a nomes ou a conceitos comuns para o público generalista. Mas interessava-me igualmente explorar um lado mais intelectual, neste caso de uma das concorrentes, a Rosa, interpretada pela Vera Cruz, em que pudesse existir uma pequena provocação sobre a discussão dos clássicos entre as concorrentes, que são as três pessoas negras.

Cara a cara

13.08.2025 | por Sara Goulart Medeiros

País de porteiros

País de porteiros Não é nevoeiro, é o controlo doméstico de ver quem entra e quem sai, com quem anda e como está vestido, a que horas e com quem estava. Esse ressentimento, típico de quem está só a ver, cai, com a nortada, como uma névoa oleosa e entranha-se na estrutura cultural portuguesa. O funcionamento institucional português rege-se por leis de portaria: desde as instituições mais modernas, ao estilo de porteiro de bar ou discoteca, às mais tradicionais.

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04.08.2025 | por Joana Lamas

Na vertente sul do desejo

Na vertente sul do desejo O desejo é o que nos leva a produzir novas formas, a construir um mundo, a organizarmo-nos de maneiras singulares e inovadoras. Entre o que se espelha e o que se oculta, é a hipótese que sobra de nos libertarmos do pântano jurídico onde nos afogamos. Quando o outro aparece, surge sempre como alguém a ser lido, a descobrir, a tatear, como a figuração do desconhecido sobre a qual projecto as minhas fantasias. O desejo que deflagra num movimento inesperado, numa desigualdade oscilante, numa ondulação caprichosa, nunca será uma uniformização homogénea e igualitária. A igualdade confunde-se com impunidade na sociedade neoliberal, a impunidade é hierárquica. Na perversão capitalista, igualdade significa apenas privilégio.

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04.08.2025 | por Ricardo Norte

Ação "Salazar Caiu"

Ação "Salazar Caiu" É evidente que os regimes totalitários se baseiam na censura, estetizam os heróis e as narrativas metafísicas. O «Partido dos Mortos» realizou performances no forte de Santo António da Barra e na rua que ainda hoje se chama Doutor Oliveira Salazar. Curiosamente, 51 anos após a Revolução das Cravos, em Portugal, mais de 17 topónimos têm o nome de Salazar e mais de 700 têm nomes de figuras do regime do Estado Novo. O que fazer com essa memória política? É necessário demolir monumentos e renomear nomes geográficos? A questão é complexa, mas a situação atual exige claramente reflexão e comentários.

Mukanda

04.08.2025 | por Partido dos Mortos

Os Soulèvements de la terre e o livro "Premières secousses"

Os Soulèvements de la terre e o livro "Premières secousses" Se o surgimento do movimento dos Soulèvements de la terre foi a melhor notícia dos últimos anos no que diz respeito às lutas ecológicas e ambientais, a publicação do livro que aqui abordamos parece-nos um contributo essencial, com os recursos teóricos, táticos e estratégicos que nos apresenta, para as lutas ecológicas, agrícolas e sociais, transmitindo o gosto e a necessidade absoluta da ação direta coletiva.

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02.08.2025 | por várias

Tributo aos Ancestrais em Lagos

Tributo aos Ancestrais em Lagos Mais de cem pessoas reuniram-se em Lagos no dia 26 de julho, para recordar e homenagear os antepassados encontrados em Lagos, num programa que incluiu uma cerimónia de atribuição de nomes, uma procissão musical e uma homenagem aos antepassados. Com a Sociedade de Arqueólogos Africanistas, Tributo aos Ancestrais, Vicky Olze, Anson Street African Burial Ground, Grupo Firmeza Batucadeiras de Almancil e a National Geographic. A Câmara Municipal de Lagos, apesar de ter sido convidada, esteve ausente neste dia histórico.

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01.08.2025 | por vários