Do 'Hanami' de Denise Fernandes (e da papaeira queimada da minha vóvó Nica)

Do 'Hanami' de Denise Fernandes (e da papaeira queimada da minha vóvó Nica) Um desses filmes raros que não entram pelos olhos adentro, mas que antes se entranham pelos poros, que se pressentem nos silêncios herdados, que se adivinham nos gestos sussurrados, que sentimos pelas ausências angustiantes que vivenciámos na nossa própria experiência. Com o ritmo complacente de uma brisa seca que sobe a encosta do vulcão antes de tombar o sol e refrescar o planalto, esta obra-prima inaugural não oferece explicações –– oferece pertença.

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19.05.2025 | por P.J. Marcellino

Entre Ilhas, Arquivos e Futuro: reflexão sobre o cinema caboverdiano contemporâneo

Entre Ilhas, Arquivos e Futuro: reflexão sobre o cinema caboverdiano contemporâneo O cinema africano, afrodiaspórico e caboverdiano serve também para disputar narrativas – não só sobre África e sobre os africanos, sobre os caboverdianos e sobre as nossas perspectivas plurais, mas também sobre o que é o cinema em si, quem tem o direito de o fazer, quem tem o direito de ver e de ser visto, de falar e de ser ouvido. É um trabalho lento, minucioso, mas necessário. É o trabalho de reinscrever no nosso imaginário coletivo as imagens que nos pertencem, e que, por sua vez, nos transformam. Neste contexto, o futuro do cinema nas ilhas será inevitavelmente arquipelágico, feito de imensas vozes dispersas, mas em constante diálogo entre si, com Cabo Verde e com o mundo, feito de memórias partilhadas, mas reinventadas, de recursos limitados mas de criatividade infinita.

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29.04.2025 | por P.J. Marcellino

Manual de L&CCV do 10.º ano: estamos a fugir dos caminhos

Manual de L&CCV do 10.º ano: estamos a fugir dos caminhos Um sistema de escrita é apenas uma ferramenta para grafar a língua — e não pode, por si só, “conter” as variedades linguísticas. Escrita não é língua. Se o objetivo é permitir grafar qualquer variedade, então essas variedades devem aparecer com as suas especificidades. Como as palavras apresentam formas distintas em cada variedade, não se pode adotar uma escrita uniforme — como a proposta pelas autoras — sem perdas significativas.

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21.04.2025 | por Eleutério Afonso

Moção aprovada pela reunião ordinária, de 5 de abril de 2025, da assembleia da delegação da associação da língua materna cabo-verdiana em portugal (dalmacv.pt)

Moção aprovada pela reunião ordinária, de 5 de abril de 2025, da assembleia da delegação da associação da língua materna cabo-verdiana em portugal (dalmacv.pt) A Comissão Científica da DALMACV-PT composta, in casu, por Ana Josefa Cardoso, Dulce Pereira, Alice Matos, Nélia Alexandre e Hans-Peter (Lonha) Heilmair informa que o processo de análise e reflexão sobre o "Manual de Língua e Cultura Cabo-Verdiana" se encontra em curso. Esta reflexão crítica de leitura do manual incide sobre três tópicos: i) Questões Linguísticas; ii. Questões Pedagógico-Didáticas e iii. Questões de Política de Língua.

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14.04.2025 | por vários e José Luís Hopffer Almada

Manual do 10.º ano de língua e cultura cabo-verdiana – nota de esclarecimento

Manual do 10.º ano de língua e cultura cabo-verdiana – nota de esclarecimento  Sentimo-nos no dever de esclarecer o grande público quanto a alguns dos princípios orientadores (socio)linguísticos, pedagógicos e didáticos, há muito atestados em literatura especializada e em contextos semelhantes à ecologia linguística cabo-verdiana, que fundamentam todas as opções adotadas na elaboração do Manual, inclusivamente a escolha de uma proposta de ortografia pandialetal para a voz das autoras.

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10.04.2025 | por vários

A Tanga Rota da Pandialetalidade [ou os propósitos supremacistas/bairristas de dona Dominika e suas nacionais e desalmadas ajudantas, ora erigidos como vera língua do povo das ilhas]

A Tanga Rota da Pandialetalidade [ou os propósitos supremacistas/bairristas de dona Dominika e suas nacionais e desalmadas ajudantas, ora erigidos como   vera língua do povo das ilhas]   O processo de normalização linguística, como as senhoras dotóras sabem bem melhor do que eu, simples poeta que sou, deve ter um carácter prospetivo de resposta ao conflito linguístico, e na sua dinâmica não deve contribuir para o acirramento do conflito, como ora fazem as mentes proponentes, as autoras materiais, as consultoras cientificadas e revisoras do manual, benza-as deus, com a sua tentativa pouco encapotada de golpe.

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11.03.2025 | por José Luiz Tavares

Considerações gerais sobre o bilinguismo literário e o bilinguismo oficial caboverdianos, com especial enfoque na aberração linguística constante do manual de língua e cultura caboverdianas

Considerações gerais sobre o bilinguismo literário e o bilinguismo oficial caboverdianos, com especial enfoque na  aberração linguística constante do manual de língua e cultura caboverdianas é uma infeliz tentativa de imposição de um crioulo sumamente artificioso com recurso a regras gramaticais originárias predominantemente das variantes de barlavento da língua caboverdiana, precisamente naqueles pontos que foram considerados pelo grande filólogo caboverdiano Baltasar Lopes da Silva como as suas insuficiências intrínsecas, isto é, a sua incompletude vocálica...

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02.03.2025 | por José Luís Hopffer Almada

Quatro notas sobre a atual conjuntura sociopolítica em Cabo Verde

Quatro notas sobre a atual conjuntura sociopolítica em Cabo Verde Sendo certo que a democracia continua a ser o regime político que os cabo-verdianos mais acreditam, também é uma evidência que aumentou para quase 30% a abertura da população a uma provável intervenção militar em caso de abuso de poder da classe política. Penso que tal indicador deve ser lido com preocupação e não descredibilizada por parte de pessoas que só podem ser vistos como estando a habitar numa bolha partidária ou mesmo elitista.

Cidade

23.02.2025 | por Redy Wilson Lima

Carlos Veiga, a figura histórica e humana de Amílcar Cabral e o significado político e simbólico da independência política de Cabo Verde

Carlos Veiga, a figura histórica e humana de Amílcar Cabral e o significado político e simbólico da independência política de Cabo Verde Todas as correntes e sensibilidades político-ideológicas, salvo quiçá a nacionalista moderada representada por Manuel (Lela) Rodrigues, parecem ter esquecido e ignorado (e/ou, talvez, até ter desconhecido) completamente o plano constante do Memorando do PAIGC apresentado ao Governo português, em Dezembro de 1960, e que, afinal, se aplicou em vários casos similares ao da ambiência democrática existente em Cabo Verde do período imediatamente posterior ao 25 de Abril de 1974 até aos inícios do mês de Dezembro de 1974. Perderam sobremaneira Cabo Verde e o povo caboverdiano, sobretudo em ganhos históricos de execução política de experiências em democracia pluralista. Não por causa de Amílcar Cabral, mas apesar de Amílcar Cabral e do seu plano de transição plenamente democrática para a nossa independência política, de matriz indubitavelmente democrático-liberal, hoje tão justamente incensada e festejada!

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02.02.2025 | por José Luís Hopffer Almada

Epítome para as revisitações dos tempos da provação e da disseminação continental e diaspórica da pátria africana do meio do mar

Epítome para as revisitações dos tempos da provação e da disseminação continental e diaspórica da pátria africana do meio do mar moribundo mundo imperial português do seu privilegiado estatuto da sua subversiva condição de suboficiais e de estudantes ilhéus da Casa dos Estudantes do Império para a sua futura transmutação em responsáveis e dirigentes políticos em comandantes da luta armada de libertação bi-nacional dos povos irmanados da Guiné e de Cabo Verde

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20.01.2025 | por José Luís Hopffer Almada

O período da transição política de Cabo Verde para a sua independência política e soberania nacional e internacional

O período da transição política de Cabo Verde para a sua independência política e soberania nacional e internacional sses acontecimentos demonstraram-se como sumamente necessários para uma catarse psicológico-cultural de amplas repercussões identitárias e político-ideológicas e, assim, para a total ruptura com o assimilacionismo colonial e a tutela assistencial portuguesa, considerada até aí, tanto em franjas extensas das camadas mais humildes e vulneráveis das populações, como também por importantes sectores das elites letradas, burocrático-administrativas, comerciais e fundiárias do povo das ilhas, como indispensável, senão insubstituível, para a viabilização da emigração caboverdiana para Portugal,

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22.12.2024 | por José Luís Hopffer Almada

Cais-do-Sodré

Cais-do-Sodré Tinha ido na tarde calorenta entregar um volume de As Farpas emprestado pelo pai e encontrara-o sentado num banco, à porta de casa, com um manduco a escavar e a fazer riscos no chão. Mirrado, possivelmente devido à muita nhongra e fominha, possuía contudo um falar alterado. Assarapantava quem nunca o tivesse ouvido. As palavras enrolavam-se-lhe na boca como cascalhos arrastados até à praia por ondas bravias. Saíam, ao cabo, soltas, desconsertadas, e sempre intencionais. Falava assim por ser maçónico, dizia-se. Era da maçonaria, confirmava o povo, fazia artes como as feiticeiras.

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16.12.2024 | por Orlanda Amarílis

Na morte de Oswaldo Osório, um dos maiores mortos imortais da história da literatura caboverdiana e da lusografia

Na morte de Oswaldo Osório, um dos maiores mortos imortais da história da literatura caboverdiana e da lusografia Na prosa literária, foi autor de um romance intitulado As Ilhas do Meio do Mundo (2013), há muito aguardado com o título antecipado As Portas de Roterdão, para além de contos curtos de paixão amorosa intitulado Amores de Rua e da novela Nimores e Clara, muito inovadora do ponto de vista temático e do imaginário caboverdiano construtivista.

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17.11.2024 | por José Luís Hopffer Almada

“Até que tudo caiu no esquecimento”. Falar de Luís Romano à mesa.

“Até que tudo caiu no esquecimento”. Falar de Luís Romano à mesa. A nossa identidade é, toda ela, traçada com o passado. Seria então muito imprudente retirar ou apagar um momento histórico dessa mesma matriz genética, como as nossas fomes cíclicas e as murmuradas histórias de canibalismo, as ideologias e divisões feudais ainda muito presentes em Cabo Verde, Amílcar Cabral e toda a história da luta pela independência, a nossa condição africana, as atrocidades feitas a nós próprios, ou aos nossos irmãos africanos, ou qualquer outro elemento que possa ter contribuído de alguma forma para aquilo que somos hoje.

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29.10.2024 | por Nuno Miranda

Algumas notas políticas e históricas avulsas,

Algumas notas políticas e históricas avulsas, A dialéctica partido/movimento de matriz cabraliana/cabralista e que propugna uma ampla e massiva base social de apoio aliada a critérios cada vez mais rigorosos, dos pontos de vista ético-moral e político-ideológico, para a selecção dos militantes entre os “melhores filhos do povo” para a edificação de um partido meritocrático verdadeiramente de vanguarda, parece ter influenciado, ainda que de forma involuntária e inconsciente, a dinâmica da construção do MpD como um amplo e emergente movimento (curiosa e consabidamente, póstumo à Abertura Política Democrática de 19 de Fevereiro de 1990) de estridente contestação do regime caboverdiano de partido único socializante, incensado por Carlos Veiga como o maior movimento popular até hoje surgido em Cabo Verde,

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16.09.2024 | por José Luís Hopffer Almada

Declinações da saudade das mulheres das ilhas e diásporas (poema de Nzé de Sant'y Ago)

Declinações da saudade das mulheres das ilhas e diásporas (poema de Nzé de Sant'y Ago) E tragam também as outras estações e temporadas todas transaccionadas pelas mulheres das ilhas na quotidiana demanda dos horizontes submersos na metade sonegada dos céus

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09.08.2024 | por José Luís Hopffer Almada

Djam Neguin lança o seu EP Autofagias, a música do cuidado

Djam Neguin lança o seu EP Autofagias, a música do cuidado Djam Neguin tem investido na criação de imaginários afrofuturistas, onde a africanidade é vista em suas potências futurísticas. Com Ka Bu Skeci Tradison iniciou uma fase de contribuição para imaginários afrocentrados, celebrando corpos e identidades diversas. "Incorporar perspectivas queer amplia a representatividade e subverte narrativas tradicionais, moldando percepções e atitudes", explica o artista que trabalhou sonoridades do continente africano como afrobeat, afropop e amapiano. Autofagias emerge como um manifesto de transformação pessoal e coletiva, celebrando a diversidade e a inovação. Basta para isso colocar os auriculares e deixar-se guiar pelo canto de esperança que surgiu de um tempo de grande aflição.

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20.07.2024 | por André Soares

E de repente eclodiu a revolução do 25 de Abril de 1974 e deu-se a libertação dos presos políticos do Tarrafal e tudo o mais que viria depois!...*

 E de repente eclodiu a revolução do 25 de Abril de 1974 e deu-se a libertação dos presos políticos do Tarrafal e tudo o mais que viria depois!...* E de repente eclodiu o 25 de Abril de 1974, considerado pelo Nhonhô numa entrevista à RTC (Radio-Televisão de Cabo Verde) sobre o seu percurso de vida como “uma autêntica revolução”. E de facto foi a festa infinita que começou com a caça aos informadores e agentes da PIDE/DGS na cidade da Praia, a queima das respectivas viaturas e/ou seu despenhamento no mar a partir do Cruzeiro do Platô, actos nos quais o Nhonhô e os seus amigos estudantes da Assomada residentes na cidade-capital da colónia/província ultramarina portuguesa participaram activamente e continuou com o lançamento de panfletos políticos na vila da Assomada dirigidos aos militares aquartelados no antigo edifício da SAGA e para o qual fui mobilizado pelo Betinho de Nho Bebeto-Alberto Lopes Barbosa, Júnior (sendo essa a primeira acção política, ademais clandestina, de toda a minha vida, depois muito marcada pela intervenção política e cívica, se bem que em larga medida fora do quadro político-partidário), e, logo depois, com a libertação dos presos políticos do Tarrafal, prosseguindo com os frequentes comícios, reuniões, sessões de esclarecimento e manifestações, os saraus culturais e as muitas e acaloradas discussões políticas, nas quais nós, adolescentes, também nos envolvíamos entusiástica e freneticamente.

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10.05.2024 | por José Luís Hopffer Almada

Batuku cabo-verdiano, musica di terra

Batuku cabo-verdiano, musica di terra Foi com a Revolução de 1975 que o Batuku, até então adormecido, renasceu no seio de ocasiões comemorativas como o casamento. E foi numa celebração matrimonial que, ainda criança, tive o meu primeiro contacto com a energia contagiante do Batuku, que é tradicionalmente cantado e dançado, durante toda a noite, pelas mulheres mais velhas, que celebram a união que se avizinha.

Palcos

11.04.2024 | por Nélida Brito

O meu irmão Nhonhô, por Tuna Furtado Lopes*

O meu irmão Nhonhô, por Tuna Furtado Lopes* E de repente eclodiu o 25 de Abril de 1974, considerado pelo Nhonhô numa entrevista à RTC sobre o seu percurso de vida como “uma autêntica revolucão”. E de facto foi a festa infinita que começou com a caça aos informadores da PIDE/DGS na cidade da Praia e na qual o Nhonhô e os seus amigos estudantes da Assomada residentes na cidade-capital da colónia/província ultramarina portuguesa e, logo depois, com a libertação dos presos políticos do Tarrafal, prosseguindo com os frequentes comícios e sessões de esclarecimento, os saraus culturais e as muitas e acaloradas discussões políticas nas quais nós, adolescentes, também nos envolvíamos entusiástica e freneticamente.

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08.04.2024 | por José Luís Hopffer Almada