Caro amigo branco (da privilegiação)

Caro amigo branco (da privilegiação) Com frequência é ignorado que não és o culpado do estado das coisas, apenas um beneficiário, ativo ou passivo, de um sistema de enganos criados e estruturados para reduzir a cacos determinados fulanos quando não são brancos. E quando não fazes parte dos prejudicados, és um privilegiado. Quando não tens de lidar com uns quantos obstáculos só pelo facto de seres branco, é isso, bacano, que é chamado de privilégio branco.

17.11.2022 | por Marinho de Pina

Uma impressão da Documenta Fifteen

Uma impressão da Documenta Fifteen Sempre identificada com ousadias, ou, como se verifica na imprensa internacional, marcadas com “polémicas” e mesmo “escândalos”, o evento é entre os maiores e mais importantes no mundo da arte. Esta décima-quinta edição, recentemente realizada, não foi isenta de um “escândalo”: a unanimidade da imprensa alemã no seu julgamento de anti-semitismo.

02.11.2022 | por Cheong Kin Man

Reflexões sobre “A Utopia no Romance 'Biografia do Língua', de Mário Lúcio Sousa”, de João Paulo Tavares de Oliveira - parte II

Reflexões sobre “A Utopia no Romance 'Biografia do Língua', de Mário Lúcio Sousa”, de João Paulo Tavares de Oliveira - parte II No primeiro capítulo intitulado “A Literatura Cabo-Verdiana em Face das Outras Literaturas Africanas de Língua Portuguesa”, o autor intenta contextualizar, com sucesso, o surgimento da escrita de autoria caboverdiana e, em especial, da literatura de marca identitária caboverdiana no quadro mais vasto das escritas de autoria lusógrafa africana e das literaturas africanas de língua portuguesa.

01.11.2022 | por José Luís Hopffer Almada

Reflexões sobre “A Utopia no romance 'Biografia do Língua', de Mário Lúcio Sousa”, de João Paulo Tavares de Oliveira - parte I

Reflexões sobre “A Utopia no romance 'Biografia do Língua', de Mário Lúcio Sousa”, de João Paulo Tavares de Oliveira - parte I Referindo-se às diferentes vertentes da intervenção escrita dos claridosos, nomeadamente na poesia, na prosa de ficção, na crónica, na crítica literária, em entrevista, na reportagem e na prosa cientifica (em especial na linguística do idioma crioulo e na antropologia da mestiçagem cultural e biológica ocorrida nas ilhas), dizia Baltasar Lopes da Silva que, nas condições de Cabo Verde, os mesmos escritores claridosos eram, de algum modo, obrigados a ser policlínicos no exercício do seu ofício de letrados.

31.10.2022 | por José Luís Hopffer Almada

Vozes femininas e o livre imaginar

Vozes femininas e o livre imaginar Estarão as obras literárias de autoria afrodescendente criadas em Portugal a contribuir também para desafiar a identidade europeia, na sua complexidade e diversidade? Tendo presente a «ferida aberta» que o colonialismo continua a ser, mas não se limitando ao seu tratamento, que novas relegações sociais e invisibilidades político-culturais poderão estas vozes [contribuir para mostrar] apontar na paisagem europeia?

25.10.2022 | por Liz Almeida

Pandemia e arte: pensar (de novo) num “isolamento coletivo” - um diálogo com a artista de Berlim, Marta Stanisława Sala

Pandemia e arte: pensar (de novo) num “isolamento coletivo” - um diálogo com a artista de Berlim, Marta Stanisława Sala Disponibilizamos agora a versão portuguesa actualizada de um diálogo que fizemos há um ano com Sala por duas razões. Primeiramente, estamos a organizar a primeira exposição individual, em Novembro, em Berlim, da iniciativa cujos membros principais têm formado uma colectiva de artistas com a mesma denominação “Arbeitspause”. Em segundo lugar, com os tempos já frios e enfrentando os elevados preços de energia, ficamos a pensar, de novo, num isolamento possível, no contexto de uma Berlim que tem sido afectada pela invasão russa contra a Ucrânia.

18.10.2022 | por Cheong Kin Man

Fotografia contemporânea polaca na Alemanha

Fotografia contemporânea polaca na Alemanha A exposição, que visa dar voz a uma jovem geração de fotógrafxs da Polónia, inclui ainda o trabalho de Irena Kalicka, jovem artista crítica à tendência do seu país em virar para a extrema-direita. Tive a oportunidade de apresentar uma fotografia dela na revista “Fantasia Macau” no ano passado.

13.10.2022 | por Cheong Kin Man

Do artista enquanto ferramenta reacionária

Do artista enquanto ferramenta reacionária Eram significados semióticos que me alertavam que, em caso de ser inevitável isto de ser artista, seria preciso mudar, ser assimilada, enquadrada em um devir. A macaca já era fêmea, de território inóspito. Não seria permitido que fosse ainda incontornável, barulhenta. Era preciso adequar-se. Ser silenciosa, discreta, enigmática, misteriosa. E não, eu não era a Clarice Lispector.

06.10.2022 | por Manuella Bezerra de Melo

Nós, brasileiras e brasileiros residentes em Lisboa

Nós, brasileiras e brasileiros residentes em Lisboa A comunidade internacional está alerta e denuncia que Bolsonaro representa uma grave ameaça à Democracia para o Brasil e para o mundo. Hoje, este candidato reitera ataques ao Estado de Direito, incitando golpes e pondo em dúvida o sistema eleitoral brasileiro, comprovadamente seguro e confiável, referência internacional.

29.09.2022 | por Coletivo Andorinha

O Salgueiro da Ester

O Salgueiro da Ester Depois de mais de um ano e meio de investigação artística, história oral, recolha pública de documentação, palestras e sobretudo as correspondências à distância entre as irmãs Sala em Berlim e Sniderman nos EUA, os três artistas plantaram, no dia 3 de Julho, um jovem salgueiro-chorão num espaço aberto do antigo Largo da Ester (que traduzi anteriormente como “Praça de Ester” em português) da cidade polaca de Chrzanów, situada a 21 quilómetros do antigo campo de concentração e de exterminação de Auschwitz.

23.09.2022 | por Cheong Kin Man

Entraram vivos, saíram mortos: centenas exigem justiça para Daniel, Danijoy e Miguel

Entraram vivos, saíram mortos: centenas exigem justiça para Daniel, Danijoy e Miguel Centenas de pessoas manifestaram-se este sábado para exigir respostas sobre a morte de Daniel, Danijoy e Miguel, e para denunciar os permanentes atropelos aos direitos humanos nas prisões.

19.09.2022 | por Mariana Carneiro

Atores da educação musical: Etnografia nos programas socioculturais El Sistema, Neojiba, Orquestra Geração

Atores da educação musical: Etnografia nos programas socioculturais El Sistema, Neojiba, Orquestra Geração A jovem violetista revela a sua cultura na pergunta que me fez – para quê pensar no futuro? No entanto, ela está inscrita no núcleo e tem diariamente aulas de música. Será que os professores fazem um esforço para compreender quem são os seus alunos, as suas culturas, as suas histórias de vida, os seus percursos? Será que encontram técnicas de ensino que permitem aos alunos atingir resultados no quotidiano? Como preparar um futuro sem o enunciar, concentrando-se apenas na ação prática ahora? Qual a importância do objeto que é o instrumento musical para que haja uma vinculação ao núcleo? Surgem então as questões ligadas à música como instrumento de “transformação pessoal e social”, tal como o enuncia o El Sistema. A música parece ter uma função importante, mas qual? Como é que os professores ensinam? Para atingir que resultados? A música como instrumento (no presente) ou como objetivo a atingir (no futuro)?

16.09.2022 | por Alix Didier Sarrouy

“Sensibilité Extrême”: Imagens Estereoscópicas Recolhidas em Montemor-O-Novo

“Sensibilité Extrême”: Imagens Estereoscópicas Recolhidas em Montemor-O-Novo O visionamento deste tipo de imagens, então amplamente difundidas, preencheu o lazer quotidiano da burguesia oitocentista, instigou os seus impulsos colecionistas e constituiu a sua cultura visual. Ao analisar a construção histórica do observador, Jonathan Crary descreve-nos o surgimento de um novo tipo de indivíduo, fruto dos modos de circulação, consumo, produção e racionalização que emergiram no século XIX. Em Techniques of the Observer, Crary descreve como, desde 1840, e em particular desde o surgimento de uma série de dispositivos, entre os quais o estereoscópio, a experiência visual se passa a autonomizar do seu referente, podendo assim circular no fluxo dos meios de mobilidade e consumo do mundo capitalista e industrial que as imagens começam a integrar.

13.09.2022 | por Daniela Rodrigues

Se tocarem Cristina, que confusão vamos fazer!

Se tocarem Cristina, que confusão vamos fazer! Imediatamente pensei em toda a campanha da direita e da extrema direita nos países da América do Sul nestes últimos quatro anos. Nas mentiras, na vontade de romper com o consenso mínimo do diálogo democrático e lançar a sociedade civil numa guerra de todos/as contra todos/as. É o momento preciso para tomar consciência do papel histórico das forças democráticas; de opor-nos fortemente à naturalização da violência política na América do Sul.

07.09.2022 | por Menara Guizardi

Quando os diabos dançam

Quando os diabos dançam Num momento indeterminado na costa do Pacífico da Nova Espanha, atual México, escravos africanos disfarçaram-se de diabos e desfilaram pelas ruas de pequenos povoados. Pediam aos deuses ancestrais a liberdade. Com máscaras de seres do inframundo e à cadência de harmónicas e puítas reinventadas, criaram a Dança dos Diabos. O ritual é uma das expressões máximas dos afromexicanos, minoria invisibilizada durante séculos e que só em 2019 foi oficialmente reconhecida com povo originário.

02.09.2022 | por Pedro Cardoso

“The Satanic Verses”. O livro que obrigou o mundo a distinguir a realidade da ficção

“The Satanic Verses”. O livro que obrigou o mundo a distinguir a realidade da ficção Salman Rushdie não inventou os versículos satânicos. O título da obra que maior alvoroço causou na história recente refere-se a um episódio problemático nas próprias fontes do islão. Na origem da controvérsia está uma passagem do Alcorão (o versículo 53:21,22), que em parte terá sido corrigida depois de o profeta Maomé ser tentado por Satanás, proferindo palavras que admitiam a existência de outras entidades divinas além de Alá.

18.08.2022 | por Diogo Vaz Pinto

Espanha Negra | Viagem à negritude no espaço-tempo

Espanha Negra | Viagem à negritude no espaço-tempo "Black Spain" -EN- é uma investigação colectiva e situada, proposta pelo LAB da Rádio África, num momento de despertar da negritude espanhola em que prevalece a necessidade de incorporar novas histórias e discursos na esfera pública. O título "España Negra" (Espanha Negra) é uma provocação que toma como referência o livro "España Pagana" (Pagain Spain) que o escritor afro-americano Richard Wright publicou após as suas visitas a Espanha nos anos 50. Um texto controverso pelo qual é acusado de desenhar uma Espanha cheia de estereótipos, e que o New York Times chamou de "provocador e perturbador". Partindo da ideia dos estereótipos e da ignorância como elemento para configurar imaginários sociais, EN pretende traçar o rizoma da negritude em Espanha, questionando e fracturando o imaginário do sujeito negro que foi criado durante séculos. Um imaginário perturbador e provocador que causou uma verdadeira consternação em muitas vidas, e que permaneceu inquestionável, ou que foi escondido ou apagado.

15.08.2022 | por Tânia Adam

Em Kassel

Em Kassel Como propaganda, a Justiça Popular não é complexa. À direita estão os simples cidadãos, aldeões e trabalhadores: vítimas do regime. À esquerda estão os autores dos crimes e os seus cúmplices internacionais. Os representantes dos serviços de inteligência estrangeiros - a ASIO australiana, MI5, a CIA - são representados como cães, porcos, esqueletos e ratos. Existe mesmo uma figura com o rótulo "007". Uma coluna armada marcha sobre uma pilha de crânios, uma vala comum. Entre os perpetradores encontra-se um soldado com cara de porco, usando uma Estrela de David e um capacete com "Mossad" escrito. Ao fundo, um homem com cachos laterais, nariz torto, olhos ensanguentados e dentes de vampiro. Veste um fato, fuma charuto e o chapéu tem as iniciais "SS": um judeu ortodoxo, representado como um banqueiro rico, em julgamento por crimes de guerra - na Alemanha, em 2022.

10.08.2022 | por Eyal Weizman

Pré-publicação | Afrotopia

Pré-publicação | Afrotopia O Afrotopos é aquele lugar outro de África cuja vinda há que apressar porque realiza as suas potencialidades felizes. Fundar uma utopia não é de todo deixar‑se levar por um doce sonho, antes pensar espaços de realidade produzidos pelo pensamento e pela acção; é localizar os seus signos e as suas origens no tempo presente, com o intuito de os nutrir. A Afrotopia é uma utopia activa que se propõe encontrar na realidade africana os vastos espaços do possível e fecundá‑los.

28.07.2022 | por Felwine Sarr

Ñucanchick allpa: Mamã Dulu, terra e educação

Ñucanchick allpa: Mamã Dulu, terra e educação Os indígenas do Equador voltaram a tomar as ruas de Quito. Foi em finais de junho. Nesta nova onda de protestos, reiteraram uma herança de décadas que faz deles um grupo decisivo na política equatoriana. Na génese desta força, uma mão cheia de líderes indígenas que, no início do século XX, enfrentaram o poder por terra e educação. Dolores Cacuango, um desses furacões rebeldes, ainda hoje é timão orientador.

28.07.2022 | por Pedro Cardoso