A acção do livro é contemporânea ou quase, decorrendo durante o primeiro, e implora-se que último, mandato do Trump, enquanto presidente dos EUA. Em Money, no Mississipi começam a aparecer homens brancos linchados, acompanhados do cadáver de um homem negro, extremamente parecido com Emmett Till, que lhe segura os testículos arrancados. Não é apenas a extrema violência que marca os crimes. O homem negro, visível e comprovadamente morto, tende a desaparecer de uma cena do crime e a aparecer noutra.
A ler
12.01.2024 | por Pedro Goulão
Achille Mbembe discute a história e o horizonte da comunicação e identidade digital no continente africano com Bregtje van der Haak. Mbembe sugere que o que alguns consideram a explosão da Internet é, na verdade, apenas a continuação das antigas culturas na nova era do Afropolitanismo.
Cara a cara
04.11.2022 | por Bregtje van der Haak
A única solução potencial para a Europa, onde os reformados excedem os trabalhadores, sendo duas vezes mais do que estes, e onde as mortes superam os nascimentos, será contar com um fluxo constante de imigrantes, com a maioria dos recém-chegados a serem oriundos do único continente que ainda apresenta um crescimento na população: África.
Jogos Sem Fronteiras
18.10.2022 | por Ednilson Leandro Pina Fernandes
Depois de mais de um ano e meio de investigação artística, história oral, recolha pública de documentação, palestras e sobretudo as correspondências à distância entre as irmãs Sala em Berlim e Sniderman nos EUA, os três artistas plantaram, no dia 3 de Julho, um jovem salgueiro-chorão num espaço aberto do antigo Largo da Ester (que traduzi anteriormente como “Praça de Ester” em português) da cidade polaca de Chrzanów, situada a 21 quilómetros do antigo campo de concentração e de exterminação de Auschwitz.
A ler
23.09.2022 | por Cheong Kin Man
Salman Rushdie não inventou os versículos satânicos. O título da obra que maior alvoroço causou na história recente refere-se a um episódio problemático nas próprias fontes do islão. Na origem da controvérsia está uma passagem do Alcorão (o versículo 53:21,22), que em parte terá sido corrigida depois de o profeta Maomé ser tentado por Satanás, proferindo palavras que admitiam a existência de outras entidades divinas além de Alá.
A ler
18.08.2022 | por Diogo Vaz Pinto
Através desse cliché usado (ironicamente) por Pessoa, FJT levantava uma outra questão para a qual ainda não temos grandes respostas: como é possível que “África” seja uma presença tão negativa, ou aparentemente indelével, na obra do nosso maior modernista? Ou, não estaremos perante um problema da crítica literária oficial, que durante anos procedeu a um “branqueamento” da obra de Almada Negreiros? Que essa miopia ou parcialidade crítica existiu prova-o o estimulante ensaio de Pedro Serra, “Usos do 'Primitivo' Africano na cena de Orpheu. Uma incorporação de Fernando Pessoa”, cujo título ilustra uma abordagem quase inédita da obra pessoana. Movendo-nos noutras direções, e inspirado por este ensaio, talvez seja possível proceder a outras revisitações quer da obra de Pessoa quer da de outros poetas maiores da literatura portuguesa no sentido de aí rastrear a presença africana e estudar o seu papel (poético-linguístico, por ex.) no contexto das respetivas obras. Ainda não se estudou em profundidade a influência de “África” (Guiné e Cabo Verde) e de outros lugares multiculturais e poliglotas (como Londres) na obra de Maria Velho da Costa. Como ainda não se estudou suficientemente a “coisa africana” na obra de Herberto Helder, a “frase ocre africana”.
A ler
26.01.2022 | por Maria de Lurdes Sampaio
Os perus, pão de milho, abóboras, amoras e bolos são a cara feliz do dia de Ação de Graças. Nesta celebração fofa que Hollywood nos impinge, as famílias unem-se e abraçam-se; os bons cidadãos ajudam os pobrezinhos que não têm que comer; milhares desfilam pelas ruas das cidades. A festa celebra o amor ao próximo e prepara os estômagos e ânimos para o Black Friday na virada das 24 horas.
Oficialmente, a comezaina e arrebate de caridade têm origem lá no início da fundação dos EUA em terra indígena, quando o primeiro grupo de colonizadores europeus com intenções claras de assentar arraiais aportou às praias do que hoje é Massachusetts. Eram 102 e passaram para a História como os “pais peregrinos”. Era o ano de 1620.
Jogos Sem Fronteiras
01.12.2021 | por Pedro Cardoso
Nos EUA, o governo federal realiza as eleições para o Congresso pelo menos duas vezes, de dois em dois anos. Mas eleições locais e estaduais são por vezes vinculadas às eleições federais, mas não na maioria dos casos.
Os americanos elegem mais de meio milhão de representantes/deputados no total, desde o presidente até ao legista do condado. (É difícil comparar este número com outros países, que poderiam colocar mais assentos legislativos a voto, mas não, digamos, inspetor de minas ou engenheiro do condado). Um exemplo particularmente estranho num contexto global: “Nenhuma outra democracia no mundo utiliza as eleições para escolher juízes ou procuradores”, disse Richard Pildes, um perito eleitoral de Nova Iorque. Em vez disso, outros funcionários/deputados nomeiam normalmente os juízes e procuradores de um país.
Jogos Sem Fronteiras
21.11.2021 | por German Lopez
O fim do caminho. Cada vez mais angolanos chegam à fronteira do sul do México, vindos do Equador. Encontram um muro militar que não os deixa continuar. Alguns fintam as autoridades e conseguem chegar aos EUA e Canadá, onde se organizam para começar uma nova vida. Despedimo-nos de Ana e João. Reencontramo-nos com Luzia por quem a conheceu.
Jogos Sem Fronteiras
25.06.2021 | por Pedro Cardoso
O choque gerado pelo crime hediondo não se ficou a dever, todavia, à morte de um rapazinho negro no Mississípi, acontecimento não tão raro assim, nem sequer à comoção suscitada pelo desfecho judicial deste caso, expectável por aquelas bandas, sobretudo naquela época. O que mais emocionou a América foi, isso sim, o facto de não ter podido evitar confrontar-se com uma visão arrepiante e brutal, a visão do cadáver de uma criança, horrivelmente desfigurado, exposto perante todos.
A ler
16.06.2021 | por António Araújo
Não se pode dizer que TM seja uma desconhecida em Portugal. Mas será verdadeiramente conhecida? Sabemos que os seus textos, politicamente tão duros, são traduzidos sem que se estabeleça ligação com os debates actuais sobre o racismo e o sexismo ou com o mundo literário afrodescendente. Indicativo disso são as sinopses em que se assiste a um quase esvaziamento das relações de poder – de classe, raça e género – e do peso da história, numa terraplanagem que quase coloca a sua obra na categoria de romance “delicodoce”. Mas, então, quem são as leitoras e leitores dos seus livros?
A ler
05.08.2020 | por Cristina Roldão
Será que polícias, juízes e médicos discriminam quando tomam decisões em contextos críticos de vida ou de morte? A investigação conduzida dentro e fora de Portugal fornece pistas sobre a existência de discriminação em que negros e grupos de baixo estatuto são alvo de decisões mais desfavoráveis.
A ler
06.07.2020 | por Rui Costa Lopes
Estes rasgos de continuidade sabem muito bem. É que a Nova Ordem Mundial confunde Ordem com Regime e de ordem não percebem nada, a ordem é difícil como tudo, por isso é que aparecem regimes que fazem passar formatação por ordem em desespero tentam impor aquilo que existe e só com muita gentileza atinge ordem.
Corpo
14.06.2020 | por Adin Manuel
Esta carta de um pai para o filho, que cresceram, ainda assim, com referências diferentes (o filho teve a sorte de assistir a dois mandatos de um presidente negro, exemplo para a comunidade negra em termos de representatividade e ambição), transparece a continuidade do medo e da raiva. Alicerçam a ideia de comunidade imaginada, uma vez que o corpo negro deita por terra qualquer teoria ou história de superação e sucesso pessoal (estudos, dinheiro, estatuto), enquanto for marcado pela descriminação.
A ler
02.06.2020 | por Marta Lança
Somos suscetíveis à obscuridade. Não apesar, ou por causa da tecnologia moderna. Mas porque "o que é a história senão uma fábula na qual concordamos?" (Napoleão, talvez). Nossas ‘postagens’, ‘partilhas’ e hashtags se dissiparão no vazio digital quando começarmos a nos enxergar como geração que experienciou um excesso de visibilidade individual, se empolgou e esbaldou. E o ‘esbaldar’ é indiferente à mudança, assim como a mídia social é indiferente à justiça social. Hoje em dia, parece que atribuir natureza revolucionária à tecnologia é depreciar nosso potencial revolucionário como seres sociais, com todas as suas complexidades.
A ler
24.05.2020 | por Mirna Wabi-Sabi
Não podemos deixar que o atual momento sirva para causar um apagamento da nossa memória histórica. Se isso acontece, nem a situação atual estaremos aptos para compreender, e ainda menos o passado e o futuro. O direito à memória não pode ser alienável. A memória é intrínseca à nossa humanidade, é parte inerente à nossa própria existência. O colonialismo, desde sempre, tentou controlar e apagar a memória histórica dos povos colonizados. Lembrar Emmett Till, Pedro Gonzaga e Giovani Rodrigues é um ato de resistência!
A ler
08.05.2020 | por Alexssandro Robalo
Nas águas quentes das Venezuela, lançaram âncora navios de guerra norte-americanos. Prontos para desmantelar a rota de cocaína que sai deste país para os EUA, via ilhas caribenhas. Os piratas ou cowboys do século XXI, como lhes chamou Nicolás Maduro, cercam de mansinho o regime venezuelano. Distraído, confinado e monotemático, o mundo quase nem deu por isso.
Mukanda
11.04.2020 | por Pedro Cardoso
Por terra ou por mar, os angolanos Luzia, Ana e João chegaram ao Panamá. Avançam agora a pé pelo “Tampão do Darién”, selva perigosa e mortífera, a caminho dos Estados Unidos e Canadá. Os corpos de africanos que não aguentaram a viagem afundam-se nos pântanos. Os ladrões, narcotraficantes e violadores escondem-se na vegetação impenetrável. Neste “inferno na terra”, Luzia esperou a morte.
Jogos Sem Fronteiras
26.02.2020 | por Pedro Cardoso
Na linha da fronteira, a terra tem a mesma cor, os rios correm na mesma direção. Ainda que não pareça. Entre o México e os Estados Unidos, a frontera-border é um livro surpreendente de histórias. Mais que os mortos do Rio Bravo, as crianças migrantes enjauladas ou a cidade-pecado de Tijuana. Muito mais. Um anedotário mexicano que, com galhofa e bazófia, resiste ao avançar da sombra.
Jogos Sem Fronteiras
07.02.2020 | por Pedro Cardoso
A suprema fantasia seria pensar, ingenuamente, que o reconhecimento do sangue negro na base de nações-imperiais e pós-imperiais pudesse cumprir-se deixando no mesmo lugar as pedras que sustentam e adornam a ideia de nação.
A ler
18.01.2020 | por Bruno Sena Martins