“Eu falo português, você fala brasileiro”: uma língua com múltiplas variedades, falada por milhões, ainda motiva discriminação

“Eu falo português, você fala brasileiro”: uma língua com múltiplas variedades, falada por milhões, ainda motiva discriminação   "O português é uma língua global, pertence a todos, sem hierarquias” – a docente da Universidade de Leeds e presidente da Associação de Professores e Investigadores de Língua Portuguesa no Reino Unido, Sofia Martinho, reage assim à ideia de superioridade linguística que diz que ainda persiste em Portugal. “Os meus alunos também são um bocadinho donos da língua.” Os estudantes de Sofia Martinho são uma pequena amostra do interesse internacional pela aprendizagem de português.

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18.07.2025 | por Alda Rocha

Descolonizar a descolonização - parte 3 - a língua pt 1

Descolonizar a descolonização - parte 3 - a língua pt 1 África não é um “mercado” não explorado, mas um “produto” exageradamente explorado. No plano cultural mais inócuo, ativistas ‘afro’-brasileiros também levam as suas lutas e os seus discursos para iluminar a nossa população obscurecida e acordá-la contra a opressão do homem branco, apesar de os nossos opressores diretos sejam tão africanos e tão pretos quanto nós, e acabamos colonizados por um discurso desconexo das nossas realidades.

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04.06.2025 | por Marinho de Pina

Entre o domínio e o confronto, a língua.

Entre o domínio e o confronto, a língua. O curso do Português é ousado, veio a galope com um povo que marchava no chão, longe do imperador, distante dos letrados eclesiásticos, matando a sede nas bocas alheias, resvalando-se no que encontrava pelo caminho. Tornou-se, assim, muitas coisas antes de decretar-se português para tornar-se ainda mais coisas ao despencar do cavalo e montar o atlântico. É a língua que rege a gramática, e não ao contrário. Os códigos que registem a história do som das palavras povo. O resto, é só domínio, domesticação e poder. E contra isso teremos sempre a invicta e irresistível língua errada do povo, língua certa do povo.

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10.05.2025 | por Manuella Bezerra de Melo

Capitanias Desnecessárias

Capitanias Desnecessárias Em Portugal, sabe-se tudo sobre o Brasil e no Brasil, fora a época das invasões, a sardinha, o bacalhau e os lindos azulejos, sabe-se quase nada de Portugal. Ah, tem o Cristiano Ronaldo, mas relativamente pouca gente dá grande importância. Se sairmos nas ruas de qualquer cidade de qualquer região do Brasil e perguntarmos se conhecem a Amália, por exemplo, quase ninguém vai conhecer – o que é uma grandíssima pena. E, por causa disto e da real discriminação que a população de imigrantes (e mesmo turistas) brasileiros sofre em Portugal, impulsionada pela crescente da extrema-direita que legitima tudo o que há de podre no comportamento humano, criou-se um movimento de reação através daquilo o que o brasileiro faz de melhor: a zoeira.

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22.04.2025 | por Gabriella Florenzano

Manual de L&CCV do 10.º ano: estamos a fugir dos caminhos

Manual de L&CCV do 10.º ano: estamos a fugir dos caminhos Um sistema de escrita é apenas uma ferramenta para grafar a língua — e não pode, por si só, “conter” as variedades linguísticas. Escrita não é língua. Se o objetivo é permitir grafar qualquer variedade, então essas variedades devem aparecer com as suas especificidades. Como as palavras apresentam formas distintas em cada variedade, não se pode adotar uma escrita uniforme — como a proposta pelas autoras — sem perdas significativas.

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21.04.2025 | por Eleutério Afonso

Moção aprovada pela reunião ordinária, de 5 de abril de 2025, da assembleia da delegação da associação da língua materna cabo-verdiana em portugal (dalmacv.pt)

Moção aprovada pela reunião ordinária, de 5 de abril de 2025, da assembleia da delegação da associação da língua materna cabo-verdiana em portugal (dalmacv.pt) A Comissão Científica da DALMACV-PT composta, in casu, por Ana Josefa Cardoso, Dulce Pereira, Alice Matos, Nélia Alexandre e Hans-Peter (Lonha) Heilmair informa que o processo de análise e reflexão sobre o "Manual de Língua e Cultura Cabo-Verdiana" se encontra em curso. Esta reflexão crítica de leitura do manual incide sobre três tópicos: i) Questões Linguísticas; ii. Questões Pedagógico-Didáticas e iii. Questões de Política de Língua.

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14.04.2025 | por vários e José Luís Hopffer Almada

Manual do 10.º ano de língua e cultura cabo-verdiana – nota de esclarecimento

Manual do 10.º ano de língua e cultura cabo-verdiana – nota de esclarecimento  Sentimo-nos no dever de esclarecer o grande público quanto a alguns dos princípios orientadores (socio)linguísticos, pedagógicos e didáticos, há muito atestados em literatura especializada e em contextos semelhantes à ecologia linguística cabo-verdiana, que fundamentam todas as opções adotadas na elaboração do Manual, inclusivamente a escolha de uma proposta de ortografia pandialetal para a voz das autoras.

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10.04.2025 | por vários

Reparar na língua é fazer cumprir Abril

Reparar na língua é fazer cumprir Abril Essas ilhas cabo-verdianas dentro de uma metrópole ainda colonial reconfiguram uma autêntica zona libertada onde homens e mulheres de gerações diferentes não cessam de se afirmar a sua existência. Não será exagerado comparar uma horta urbana cabo-verdiana com um jardim crioulo na acepção glissantiana. Todos esses lugares de sementeira são insurgências silenciosas contra a plantação, contra a monocultura (linguística). A música é um dos maiores veículos de polinização deste territórios arquipelágicos que nos ligam.

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22.02.2025 | por Apolo de Carvalho

O Nkeklet e a Janela Mandinga

O Nkeklet e a Janela Mandinga as origens de findi kadera parecem ter sido semelhantes e não menos violentas, se atentarmos à descrição de uma prática estigmatizante mandinga referida em português em princípios do séc. XVI: “E se alguun acha outro homem com sua molher leua ho diante delrey, e elrey da huun cuytello ao acusador na mão com q ha de fender ao adultero ho coyro de tras des ho pescoço ata o cuu”. Isto é, em caso de adultério flagrante, o marido ofendido fazia-se acompanhar pelo autor da ofensa à presença do rei, pondo este na sua mão uma faca destinada a fender a pele do adúltero desde o pescoço até ao traseiro.

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03.12.2024 | por Teresa Montenegro

O estranho caso do escritor Germano Almeida [ou contra a pregação supremacista e o negacionismo glotocida]

O estranho caso do escritor Germano Almeida [ou contra a pregação supremacista e o negacionismo glotocida] Quem escreve em língua cabo-verdiana, por ponderada e consciente decisão cultural e identitária, por ser esse o meio através do qual melhor se sente, cria ou se exprime, ou ainda por qualquer secreta ou inconfessável tara, mesmo que só por simples briu di korpu o kabesa ka bale, e não por refúgio ou como muleta, por não dominar convenientemente outra língua, já chegou exatamente onde queria chegar.

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27.06.2024 | por José Luiz Tavares

Jogos de Palavras

Jogos de Palavras A língua é quase sempre o último reduto desses ódios recalcados. As palavras são de certo modo um espelho da sociedade e o racismo e a xenofobia são ainda hoje os herdeiros dessas palavras que ferem, que podem mesmo matar. E que sobrevivem até aos dias de hoje, mesmo quando há muito se esfumaram as razões históricas que lhes deram origem.

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20.11.2023 | por José Lima

Chiziane, Lisboa e Conversas!

Chiziane, Lisboa e Conversas! Terminada a pausa, regresso aos meus pais e à sua relação com a língua. Foi-lhes ensinado que não era civilizado falar em umbundo: “uma pessoa que estudou ou que é civilizada não pode mais falar essas nossas línguas, é preciso falar o português”, era essa a frase que o meu pai repetia quando me contava sobre as proibições do seu tempo. Tal como o meu pai e a minha mãe, os meus tios e tias, os seus amigos, e toda a sua geração nascida e criada antes das Independências, foram nalgum momento excluídos, humilhados e segregados quando não falavam o português do modo como lhes diziam que deveriam. Meu pai conta vários episódios de humilhação por causa disso. O que sucedeu na vida dessas pessoas após a Independência é que as feridas não foram saradas, os estragos causados pelo colonialismo não foram solucionados no 11 de novembro, e nós ainda temos conversas por ter e feridas por sarar.

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14.05.2023 | por Leopoldina Fekayamãle

Kuiam bastante!

Kuiam bastante! Cabo Verde e Guiné-Bissau já nem entram na categoria de rebeldes, são mesmo BANDIDOS! Esqueceram tudo e se entregaram de corpo e alma no kriolo! Conheci um assimilado que um dia me perguntou: mas kriolo não é português mal falado? Ai nha mãe!forti gana dal dôs bafatada… só pá dôdo… Não, kriolo não é português mal falado, kriolo é resistência, reinvenção, subversão e resiliência. Kriolo é a prova de que os antepassados estavam muito a frente mentalmente, apesar de todas as vozes que dizem o contrário.

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02.05.2023 | por Aoaní d'Alva

O bilinguismo oficial caboverdiano bilinguismo, diglossia e problemáticas relativas às políticas de (co-)oficialização da língua caboverdiana

O bilinguismo oficial caboverdiano  bilinguismo, diglossia e problemáticas relativas às políticas  de (co-)oficialização da língua caboverdiana Reitera-se pois, aqui e agora, o desiderato expresso no artigo "O Bilinguismo Literário Caboverdiano" no sentido de que a primeira tradução para a língua caboverdiana da Constituição da República, já lá vão quase seis anos, seja um auspicioso sinal de um futuro não muito longínquo em que a nossa língua materna terá inequivocamente assegurado o seu estatuto de língua plenamente oficial em paridade com o português, como, aliás, já tantas vezes referido, augura e preceitua de forma programática a Constituição da República, deste modo enterrando de vez os muitos malefícios da diglossia que tanto tem prejudicado ambas as línguas de Cabo Verde e a sua plena e descomplexada expansão nas áreas formais e informais de comunicação e, assim, contribuindo para a emergência e o reforço de um efectivo e produtivo bilinguismo nas ilhas e diásporas caboverdianas.

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07.03.2023 | por José Luís Hopffer Almada

Uma selvajaria civilizacional [o caso da Escola Portuguesa da Praia]

Uma selvajaria civilizacional [o caso da Escola Portuguesa da Praia] Sucede que, desde a sua implantação, inflada dos seus fantasiosos pergaminhos de superioridade civilizacional, aceite pela grave alienação identitária ou simples inconsciência dos pais e encarregados de educação cabo-verdianos, a Escola Portuguesa da Praia decretou a proibição do uso, pelos alunos cabo-verdianos, da língua cabo-verdiana no estabelecimento, inclusive nos espaços e tempos de lazer. O facto, jurídico e diplomático, é que a Escola Portuguesa não goza de estatuto de extraterritorialidade, logo está sujeita às leis cabo-verdianas, mormente as emanadas da Carta Magna, a constituição da República de Cabo Verde, que no artigo 9, número 2, decreta, perentoriamente «todos os cidadãos nacionais têm o dever de conhecer as línguas oficiais e o direito de usá-las.» O seu atropelo e violação, reiterada, pública e assumidamente terá de levar, necessariamente, a uma tomada de posição, diplomática ou outra, por parte de um estado soberano digno desse nome.

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20.02.2023 | por José Luiz Tavares

Repensar o sistema educacional para uma maior consciencialização

Repensar o sistema educacional para uma maior consciencialização Temos que limpar as impurezas linguísticas ou purificá-las de acordo com o nosso autoconhecimento e as nossas especificidades. É preciso banir frases racistas dos nossos livros tais como: “A descoberta do clarinete por Mozart foi uma contribuição maior do que toda a África nos deu até hoje”. Sim, isso é um processo lento que já devia ser sido feito há muito tempo. A libertação de toda essa maquinação que foi o colonialismo tem um custo. O mesmo, porém, é necessário e fundamental para a nossa reconstrução civilizacional.

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18.02.2023 | por Ednilson Leandro Pina Fernandes

“A amnésia histórica é um dos mais sérios problemas de São Tomé e Princípe” – conversa com Conceição Lima.

“A amnésia histórica é um dos mais sérios problemas de São Tomé e Princípe” – conversa com Conceição Lima. São Tomé e Príncipe, diz Conceição Lima, vive numa tensão entre a impaciência e a paciência. Por um lado, há uma forte insatisfação com o estado de coisas: “temos uma curta esperança de vida e queremos assistir a mudança!” Por outro, quarenta e sete anos é “um lapso de história muito curto, quase insignificante no grande plano.” A solução passa por um equilíbrio entre os dois: “é preciso cultivar a paciência para remendar e semear, mas nunca permitindo que se esvaia a tão importante impaciência.” Parece que estamos perante uma identidade formada a partir e contra um trauma histórico, que teima em resistir, contra todas as probabilidades. A poetisa responde com um poema: Um pássaro ferido./ Um pássaro ainda ferido / e teimoso.

Cara a cara

12.07.2022 | por João Moreira da Silva

"Estamos Aqui | Twina Vava | Nous Voici"

"Estamos Aqui | Twina Vava | Nous Voici" O livro "Estamos Aqui | Twina Vava | Nous Voici" é uma viagem pela cosmogonia kongo e o mote para o regresso da escritora Branca Clara das Neves ao "Mar de Letras".

Mukanda

08.07.2021 | por Branca Clara das Neves

"Não posso escorregar na emoção fácil, que a saudade e a distância criam", entrevista a Ana Paula Tavares

"Não posso escorregar na emoção fácil, que a saudade e a distância criam", entrevista a Ana Paula Tavares A Angola que eu deixei em 1992 não tem rigorosamente nada a ver com a Angola actual, e acho bem que as coisas mudem. Não tenho saudades nenhumas do tempo colonial, que era um tempo de injustiça, mesmo eu que ia à escola e à universidade, e estava do lado privilegiado, sei muito bem que é um sistema para esquecer (ou para lembrar....). Como também está resolvido sem nostalgia esses tempos de envolvimento quase amoroso: a Independência, o nascer um país, criarmos os filhos, uma avalanche de coisas que nos estavam a acontecer e nós tínhamos 20 anos.

Cara a cara

24.06.2019 | por Marta Lança

O francês, a francofonia e nós

O francês, a francofonia e nós Este texto restitui e põe em causa uma certa relação que o locutor africano francófono tem face à língua francesa. Procura «humanizar» o francês, fazê-lo descer do pedestal em que tem sido colocado para o trazer às suas justas proporções. Sobrevalorizado sob certos céus africanos, o francês possui, efetivamente, todas as características de um mito poderoso: constitui um sinal exterior de saber, confere prestígio e abre as portas do poder. Por essa razão, é necessário desmistificá-lo para pôr a nu o «veneno mortal» que encerra.

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15.12.2014 | por Khadim Ndiaye