África não é um “mercado” não explorado, mas um “produto” exageradamente explorado. No plano cultural mais inócuo, ativistas ‘afro’-brasileiros também levam as suas lutas e os seus discursos para iluminar a nossa população obscurecida e acordá-la contra a opressão do homem branco, apesar de os nossos opressores diretos sejam tão africanos e tão pretos quanto nós, e acabamos colonizados por um discurso desconexo das nossas realidades.
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04.06.2025 | por Marinho de Pina
O curso do Português é ousado, veio a galope com um povo que marchava no chão, longe do imperador, distante dos letrados eclesiásticos, matando a sede nas bocas alheias, resvalando-se no que encontrava pelo caminho. Tornou-se, assim, muitas coisas antes de decretar-se português para tornar-se ainda mais coisas ao despencar do cavalo e montar o atlântico. É a língua que rege a gramática, e não ao contrário. Os códigos que registem a história do som das palavras povo. O resto, é só domínio, domesticação e poder. E contra isso teremos sempre a invicta e irresistível língua errada do povo, língua certa do povo.
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10.05.2025 | por Manuella Bezerra de Melo
Em Portugal, sabe-se tudo sobre o Brasil e no Brasil, fora a época das invasões, a sardinha, o bacalhau e os lindos azulejos, sabe-se quase nada de Portugal. Ah, tem o Cristiano Ronaldo, mas relativamente pouca gente dá grande importância. Se sairmos nas ruas de qualquer cidade de qualquer região do Brasil e perguntarmos se conhecem a Amália, por exemplo, quase ninguém vai conhecer – o que é uma grandíssima pena. E, por causa disto e da real discriminação que a população de imigrantes (e mesmo turistas) brasileiros sofre em Portugal, impulsionada pela crescente da extrema-direita que legitima tudo o que há de podre no comportamento humano, criou-se um movimento de reação através daquilo o que o brasileiro faz de melhor: a zoeira.
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22.04.2025 | por Gabriella Florenzano
Um sistema de escrita é apenas uma ferramenta para grafar a língua — e não pode, por si só, “conter” as variedades linguísticas. Escrita não é língua. Se o objetivo é permitir grafar qualquer variedade, então essas variedades devem aparecer com as suas especificidades. Como as palavras apresentam formas distintas em cada variedade, não se pode adotar uma escrita uniforme — como a proposta pelas autoras — sem perdas significativas.
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21.04.2025 | por Eleutério Afonso
A Comissão Científica da DALMACV-PT composta, in casu, por Ana Josefa Cardoso, Dulce Pereira, Alice Matos, Nélia Alexandre e Hans-Peter (Lonha) Heilmair informa que o processo de análise e reflexão sobre o "Manual de Língua e Cultura Cabo-Verdiana" se encontra em curso. Esta reflexão crítica de leitura do manual incide sobre três tópicos: i) Questões Linguísticas; ii. Questões Pedagógico-Didáticas e iii. Questões de Política de Língua.
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14.04.2025 | por vários e José Luís Hopffer Almada
Sentimo-nos no dever de esclarecer o grande público quanto a alguns dos princípios orientadores (socio)linguísticos, pedagógicos e didáticos, há muito atestados em literatura especializada e em contextos semelhantes à ecologia linguística cabo-verdiana, que fundamentam todas as opções adotadas na elaboração do Manual, inclusivamente a escolha de uma proposta de ortografia pandialetal para a voz das autoras.
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10.04.2025 | por vários
Essas ilhas cabo-verdianas dentro de uma metrópole ainda colonial reconfiguram uma autêntica zona libertada onde homens e mulheres de gerações diferentes não cessam de se afirmar a sua existência. Não será exagerado comparar uma horta urbana cabo-verdiana com um jardim crioulo na acepção glissantiana. Todos esses lugares de sementeira são insurgências silenciosas contra a plantação, contra a monocultura (linguística). A música é um dos maiores veículos de polinização deste territórios arquipelágicos que nos ligam.
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22.02.2025 | por Apolo de Carvalho
as origens de findi kadera parecem ter sido semelhantes e não menos violentas, se atentarmos à descrição de uma prática estigmatizante mandinga referida em português em princípios do séc. XVI: “E se alguun acha outro homem com sua molher leua ho diante delrey, e elrey da huun cuytello ao acusador na mão com q ha de fender ao adultero ho coyro de tras des ho pescoço ata o cuu”. Isto é, em caso de adultério flagrante, o marido ofendido fazia-se acompanhar pelo autor da ofensa à presença do rei, pondo este na sua mão uma faca destinada a fender a pele do adúltero desde o pescoço até ao traseiro.
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03.12.2024 | por Teresa Montenegro
Quem escreve em língua cabo-verdiana, por ponderada e consciente decisão cultural e identitária, por ser esse o meio através do qual melhor se sente, cria ou se exprime, ou ainda por qualquer secreta ou inconfessável tara, mesmo que só por simples briu di korpu o kabesa ka bale, e não por refúgio ou como muleta, por não dominar convenientemente outra língua, já chegou exatamente onde queria chegar.
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27.06.2024 | por José Luiz Tavares
A língua é quase sempre o último reduto desses ódios recalcados. As palavras são de certo modo um espelho da sociedade e o racismo e a xenofobia são ainda hoje os herdeiros dessas palavras que ferem, que podem mesmo matar. E que sobrevivem até aos dias de hoje, mesmo quando há muito se esfumaram as razões históricas que lhes deram origem.
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20.11.2023 | por José Lima
Terminada a pausa, regresso aos meus pais e à sua relação com a língua. Foi-lhes ensinado que não era civilizado falar em umbundo: “uma pessoa que estudou ou que é civilizada não pode mais falar essas nossas línguas, é preciso falar o português”, era essa a frase que o meu pai repetia quando me contava sobre as proibições do seu tempo. Tal como o meu pai e a minha mãe, os meus tios e tias, os seus amigos, e toda a sua geração nascida e criada antes das Independências, foram nalgum momento excluídos, humilhados e segregados quando não falavam o português do modo como lhes diziam que deveriam. Meu pai conta vários episódios de humilhação por causa disso. O que sucedeu na vida dessas pessoas após a Independência é que as feridas não foram saradas, os estragos causados pelo colonialismo não foram solucionados no 11 de novembro, e nós ainda temos conversas por ter e feridas por sarar.
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14.05.2023 | por Leopoldina Fekayamãle
Cabo Verde e Guiné-Bissau já nem entram na categoria de rebeldes, são mesmo BANDIDOS! Esqueceram tudo e se entregaram de corpo e alma no kriolo! Conheci um assimilado que um dia me perguntou: mas kriolo não é português mal falado? Ai nha mãe!forti gana dal dôs bafatada… só pá dôdo… Não, kriolo não é português mal falado, kriolo é resistência, reinvenção, subversão e resiliência. Kriolo é a prova de que os antepassados estavam muito a frente mentalmente, apesar de todas as vozes que dizem o contrário.
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02.05.2023 | por Aoaní d'Alva
Reitera-se pois, aqui e agora, o desiderato expresso no artigo "O Bilinguismo Literário Caboverdiano" no sentido de que a primeira tradução para a língua caboverdiana da Constituição da República, já lá vão quase seis anos, seja um auspicioso sinal de um futuro não muito longínquo em que a nossa língua materna terá inequivocamente assegurado o seu estatuto de língua plenamente oficial em paridade com o português, como, aliás, já tantas vezes referido, augura e preceitua de forma programática a Constituição da República, deste modo enterrando de vez os muitos malefícios da diglossia que tanto tem prejudicado ambas as línguas de Cabo Verde e a sua plena e descomplexada expansão nas áreas formais e informais de comunicação e, assim, contribuindo para a emergência e o reforço de um efectivo e produtivo bilinguismo nas ilhas e diásporas caboverdianas.
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07.03.2023 | por José Luís Hopffer Almada
Sucede que, desde a sua implantação, inflada dos seus fantasiosos pergaminhos de superioridade civilizacional, aceite pela grave alienação identitária ou simples inconsciência dos pais e encarregados de educação cabo-verdianos, a Escola Portuguesa da Praia decretou a proibição do uso, pelos alunos cabo-verdianos, da língua cabo-verdiana no estabelecimento, inclusive nos espaços e tempos de lazer. O facto, jurídico e diplomático, é que a Escola Portuguesa não goza de estatuto de extraterritorialidade, logo está sujeita às leis cabo-verdianas, mormente as emanadas da Carta Magna, a constituição da República de Cabo Verde, que no artigo 9, número 2, decreta, perentoriamente «todos os cidadãos nacionais têm o dever de conhecer as línguas oficiais e o direito de usá-las.» O seu atropelo e violação, reiterada, pública e assumidamente terá de levar, necessariamente, a uma tomada de posição, diplomática ou outra, por parte de um estado soberano digno desse nome.
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20.02.2023 | por José Luiz Tavares
Temos que limpar as impurezas linguísticas ou purificá-las de acordo com o nosso autoconhecimento e as nossas especificidades. É preciso banir frases racistas dos nossos livros tais como: “A descoberta do clarinete por Mozart foi uma contribuição maior do que toda a África nos deu até hoje”. Sim, isso é um processo lento que já devia ser sido feito há muito tempo. A libertação de toda essa maquinação que foi o colonialismo tem um custo. O mesmo, porém, é necessário e fundamental para a nossa reconstrução civilizacional.
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18.02.2023 | por Ednilson Leandro Pina Fernandes
São Tomé e Príncipe, diz Conceição Lima, vive numa tensão entre a impaciência e a paciência. Por um lado, há uma forte insatisfação com o estado de coisas: “temos uma curta esperança de vida e queremos assistir a mudança!” Por outro, quarenta e sete anos é “um lapso de história muito curto, quase insignificante no grande plano.” A solução passa por um equilíbrio entre os dois: “é preciso cultivar a paciência para remendar e semear, mas nunca permitindo que se esvaia a tão importante impaciência.” Parece que estamos perante uma identidade formada a partir e contra um trauma histórico, que teima em resistir, contra todas as probabilidades. A poetisa responde com um poema: Um pássaro ferido./ Um pássaro ainda ferido / e teimoso.
Cara a cara
12.07.2022 | por João Moreira da Silva
O livro "Estamos Aqui | Twina Vava | Nous Voici" é uma viagem pela cosmogonia kongo e o mote para o regresso da escritora Branca Clara das Neves ao "Mar de Letras".
Mukanda
08.07.2021 | por Branca Clara das Neves
A Angola que eu deixei em 1992 não tem rigorosamente nada a ver com a Angola actual, e acho bem que as coisas mudem. Não tenho saudades nenhumas do tempo colonial, que era um tempo de injustiça, mesmo eu que ia à escola e à universidade, e estava do lado privilegiado, sei muito bem que é um sistema para esquecer (ou para lembrar....). Como também está resolvido sem nostalgia esses tempos de envolvimento quase amoroso: a Independência, o nascer um país, criarmos os filhos, uma avalanche de coisas que nos estavam a acontecer e nós tínhamos 20 anos.
Cara a cara
24.06.2019 | por Marta Lança
Este texto restitui e põe em causa uma certa relação que o locutor africano francófono tem face à língua francesa. Procura «humanizar» o francês, fazê-lo descer do pedestal em que tem sido colocado para o trazer às suas justas proporções. Sobrevalorizado sob certos céus africanos, o francês possui, efetivamente, todas as características de um mito poderoso: constitui um sinal exterior de saber, confere prestígio e abre as portas do poder. Por essa razão, é necessário desmistificá-lo para pôr a nu o «veneno mortal» que encerra.
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15.12.2014 | por Khadim Ndiaye
Este livro é um conjunto de crónicas publicadas entre 2000 e 2009 na imprensa portuguesa e moçambicana (Jornal de Letras, Savana, África Lusófona e Angolé), cujo fio condutor é a ironia do processo de escrita. Repositório humorado das reflexões do autor-cronista sobre a actualidade, Manual para Incendiários e Outras Crónicas prima pelo olhar mordaz e apaixonado sobre a literatura, a identidade moçambicana, a aculturação e a intromissão ocidental. Crónicas desenvoltas que abarcam a Europa, África e as suas gentes, são uma visão destes dois mundos aliada a um vívido humor.
Mukanda
02.10.2012 | por Luís Carlos Patraquim