Passados mais de 45 anos das independências das nações ocupadas por Portugal, o colonialismo continua vivo, sendo o racismo o seu maior legado.
O império acabou, o colonialismo foi derrotado. Contudo a narrativa construída nesse período continua patente na ideologia identitária nacional e influencia profundamente as relações entre os indivíduos, assim como a organização social.
Reconhecer as continuidades coloniais patentes na sociedade portuguesa é fundamental para desmontar a história única, a ficção contada e recontada sobre esse período da nossa história coletiva.
O racismo em Portugal é estrutural e institucional, privando dos seus direitos fundamentais as pessoas afrodescendentes e de outras comunidades racializadas.
Jogos Sem Fronteiras
15.01.2021 | por Beatriz Gomes Dias
O racismo entre as duas comunidades dividia, de cima a baixo, a sociedade luandense, do poder judicial ao comércio que se fazia no interior dos musseques. A retórica usada pelo procurador, ao tentar abanar os alicerces sociopolíticos dessa justiça racial e ao pôr a descoberto a hipocrisia, o subjetivismo e a parcialidade dos juízes, invocava três imagens sobre o mesmo espaço: o recorrente dualismo entre a cidade branca e a cidade negra; um roteiro da modernidade urbanística conspurcada pelo terrorismo e a geografia punitiva do império.
Cidade
04.01.2021 | por Bernardo Pinto da Cruz, Nuno Domingos, Diogo Ramada Curto, Juliana Bosslet, Marcelo Bittencourt e Pedro David Gomes
O racismo que justificou a escravidão de negros e índios, na mesma época em que a Europa saía da servidão e entrava no sistema liberal de pagamento do trabalho mediante salário, deixou marcas indeléveis no continente latino-americano. Entre essas marcas, destaca-se a colonialidade do saber, do poder e do ser. Ou seja, apesar de supostamente independentes, os países latino-americanos continuam subordinados a um modelo de poder que reproduz a hierarquia racial e econômica da época da colônia, que marginaliza os saberes locais e, finalmente, que cinde a identidade nacional, uma vez que ela é marcada por um imaginário colonizado pelo racismo europeu.
A ler
22.12.2020 | por Susana de Castro
O que verdadeiramente importa é como sair do beco da distração manipulatória que quer condenar os sujeitos racializados a permanecerem no lugar e com o peso da refutação/explicação de uma violência que se abate sobre si, perante a negação do racismo onde se encurralou a maioria da sociedade e das instituições. O que mais mobiliza os sujeitos racializados é a disputa pela conquista da sua capacidade em constituir-se numa instância de proposta política alternativa à ordem cultural racista vigente. Uma proposta de rutura com o status quo que tudo faz para manter o tabu sobre o racismo. Identificar, nomear e combater o racismo estrutural. É isto que irrita todos quantos não se conseguem desfiliar da herança ideológica colonial, racista machista e assassina.
Mukanda
20.12.2020 | por Mamadou Ba
Em 1907, as roças de São Tomé estavam no centro de uma rede que se estendia aos principais interesses industriais, financeiros e coloniais de Portugal e da Europa. São Tomé era, de facto, a “jóia do império”, moderna, rica, lucrativa. Importa, no entanto, não ignorar o passado de trabalho forçado, de violência e de racismo que criou essa “jóia” e lhe deu forma. Essa é a história que nunca deve ser esquecida.
Jogos Sem Fronteiras
15.12.2020 | por Marta Macedo
A estratégia pedagógica implementada para a construção do livro “Mano Preto, Mano Branco” vai de encontro a um tema central na formação cívica e da história de Portugal na sua relação de séculos com as colónias de Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, S. Tomé e Príncipe e Timor Leste. As fontes orais disponíveis no bairro cingiram-se a Angola e Moçambique.
Foi realizado por seis turmas do 9º ano da Escola Secundária João II de Setúbal e por três docentes de História, a partir de uma série de entrevistas com 50 pessoas que viveram nas colónias de Angola e Moçambique entre 1950 e 1974.
Jogos Sem Fronteiras
11.12.2020 | por Jaime Pinho e Vasco Caleira
A forma como as práticas artísticas estimulam aprendizagens informais entre os jovens da periferia de Lisboa é a principal preocupação deste artigo. A partir de três bairros “racializados” – Arrentela, Cova da Moura e Quinta do Mocho –, enquadramos algumas das mais inovadoras produções artístico-culturais para debater a escola, o racismo, as desigualdades e os engajamentos político-cidadão. Numa Afro-Lisboa que tarda em assumir a agência das populações afrodescendentes, arte e cultura se tornam instrumentos privilegiados para reconfigurar o papel da “raça” nas questões relacionadas à cidadania, marginalidade e educação no Portugal pós-colonial.
Cidade
10.12.2020 | por Otávio Raposo
Porquê "mecânica racista"?
A palavra "mecânica" refere-se em primeiro lugar ao carácter artificial do racismo, em oposição a uma ideia preconcebida que tomo o tempo necessário para desafiar no livro: a ideia de que o racismo se baseia basicamente no medo do outro ou do desconhecido, inerente à natureza humana. Mostro que esta ideia é absolutamente falsa, por um lado, e eticamente errada, por outro, na medida em que conduz à complacência com a violência racista: se deriva de uma inclinação natural, pode ser controlada, mas não pode ser erradicada, e não se deve ter pressa em exigir igualdade de tratamento. Em contraste com esta abordagem "naturalista", salientaria a dimensão cultural do racismo, a sua dimensão histórica, social e política...
Cara a cara
23.11.2020 | por Pierre Tevanian
"Tenho visto que racismo, homofobia, queerfobia e transfobia são coisas interligadas que existem em todas as sociedades, ao longo do tempo. Como sou tratada quando me desloco entre países, a linguagem desumanizante utilizada nas fronteiras e nos costumes, diz muito sobre a raça. No mundo em geral, só agora conhecemos o alcance da violência racial que tem vindo a acontecer, bem como as suas raízes e efeitos sistémicos. Só recentemente, enquanto sociedade mais alargada, nos foram fornecidos os instrumentos e a linguagem para apontar e abordar o racismo. Como disse anteriormente, a violência é mais antiga do que todos nós".
Cara a cara
19.11.2020 | por Osei Bonsu e Zanele Muholi
O que me chocou, no início da pandemia, foi o quanto o debate se focou na desresponsabilização do ser humano. Ali, no sudeste asiático, são sociedades totalitárias e conformistas, usam máscara de qualquer maneira. Esse discurso é de divisão e este paralelo entre a migração se deixar explicar como algo vindo de fora e o vírus como algo apenas biológico e não político. A divisão nasce da ilusão de que na Europa do norte fomos atingidos e, como tal, não só não reconhecemos a causa destes problemas como também caímos nos nossos nacionalismos para resolver este problema, não para o mundo mas para nós.
Jogos Sem Fronteiras
18.11.2020 | por Gisela Casimiro
Ora, nas obras artísticas da pós-memória ocorre um fenómeno semelhante no que diz respeito à distância temporal do artista relativamente ao passado traumático objecto de uma reapropriação. Quando, na sua obra, o artista da segunda geração (que normalmente possui um vínculo familiar com a história colonial europeia) recupera um legado distante, o que está a fazer é integrá-lo na sua vivência biográfica, na sua condição presente de herdeiro de um passado colonial. Isto é, o artista (venha ele do campo da literatura, das artes, do cinema ou da música) tem o valor de aproximar-se daquele Gigante Aparente, que ao longe parece tão desmesuradamente grande, mas que de perto apresenta umas dimensões naturais.
A ler
01.11.2020 | por Felipe Cammaert
As urgências desafiam o entendimento de uma conjuntura complexa, permeada por falsificações, manipulações em massa, culturas de ódio, intolerância, interesses geopolíticos, conexões entre grupos políticos e económicos de alcance transnacional: Trump, Cambridge Analytica, Steve Bannon, não são nomes alheios ao cenário brasileiro. Há quem considere nesse caldo um rol de cortinas de fumo que a todo momento roubam a atenção, a energia, a sensibilidade. Há quem argumente que esse fumo também mata: por homofobia, por racismo, por misoginia.
A ler
08.09.2020 | por vários
Não se pode dizer que TM seja uma desconhecida em Portugal. Mas será verdadeiramente conhecida? Sabemos que os seus textos, politicamente tão duros, são traduzidos sem que se estabeleça ligação com os debates actuais sobre o racismo e o sexismo ou com o mundo literário afrodescendente. Indicativo disso são as sinopses em que se assiste a um quase esvaziamento das relações de poder – de classe, raça e género – e do peso da história, numa terraplanagem que quase coloca a sua obra na categoria de romance “delicodoce”. Mas, então, quem são as leitoras e leitores dos seus livros?
A ler
05.08.2020 | por Cristina Roldão
Proponho uma análise fanoniana das relações dialéticas entre capitalismo, colonialismo e racismo, subjacentes à conjuntura política e sanitária brasileira. Em um primeiro momento, tomo a noção de violência colonial presente em 'Os Condenados da Terra', como referência para problematizar as respostas brasileiras à pandemia de Covid-19.
Cidade
10.07.2020 | por Deivison M. Faustino
Quando uma criança é chamada oussif (uma palavra considerada ofensiva para designar servo ou escravo), isso pode deixá-la magoada ao longo da vida: é claramente violência verbal, ou seja, toda uma linguagem edificada em torno de uma ideia de superioridade de uns sobre outros, e que constitui uma forma de bullying. Mesmo que essa criança seja o melhor aluno da turma e que venha a ser um adulto "bem-sucedido".
Afroscreen
09.07.2020 | por Luísa Fresta
Será que polícias, juízes e médicos discriminam quando tomam decisões em contextos críticos de vida ou de morte? A investigação conduzida dentro e fora de Portugal fornece pistas sobre a existência de discriminação em que negros e grupos de baixo estatuto são alvo de decisões mais desfavoráveis.
A ler
06.07.2020 | por Rui Costa Lopes
Esta carta de um pai para o filho, que cresceram, ainda assim, com referências diferentes (o filho teve a sorte de assistir a dois mandatos de um presidente negro, exemplo para a comunidade negra em termos de representatividade e ambição), transparece a continuidade do medo e da raiva. Alicerçam a ideia de comunidade imaginada, uma vez que o corpo negro deita por terra qualquer teoria ou história de superação e sucesso pessoal (estudos, dinheiro, estatuto), enquanto for marcado pela descriminação.
A ler
02.06.2020 | por Marta Lança
No seu vídeo para Apeshit, filmado no Louvre, a cena do joelho dobrado é recriada, com as letras de Jay-Z a recordar à NFL quem precisa de quem, outra fagulha para a discussão sobre quão apreciada é a cultura negra e o quanto ela rende, em detrimento de quem faz essa mesma cultura e dos seus lucros se vê privado. Numa outra cena, Beyoncé retira a bandana pejada de pérolas que lhe cobria o rosto.
Afroscreen
27.05.2020 | por Gisela Casimiro
Não podemos deixar que o atual momento sirva para causar um apagamento da nossa memória histórica. Se isso acontece, nem a situação atual estaremos aptos para compreender, e ainda menos o passado e o futuro. O direito à memória não pode ser alienável. A memória é intrínseca à nossa humanidade, é parte inerente à nossa própria existência. O colonialismo, desde sempre, tentou controlar e apagar a memória histórica dos povos colonizados. Lembrar Emmett Till, Pedro Gonzaga e Giovani Rodrigues é um ato de resistência!
A ler
08.05.2020 | por Alexssandro Robalo
Projeto piloto de educação antirracista que pretendeu promover, com os alunos, a reflexão crítica dos processos que conduziram e conduzem atualmente ao racismo interpessoal e institucional. Sem a preocupação com a formação dos mais novos não há preocupação com a sustentabilidade da cidade, logo do próprio Estado. O grupo alvo deste projeto é reflexo claro desta multiculturalidade.
A ler
17.02.2020 | por Ariana Furtado