A história e protagonistas da música afro-portuguesa

A história e protagonistas da música afro-portuguesa A relevância da participação negra em Portugal nas mais diversas áreas – incluindo a música – remonta já a várias centenas de anos, mas raras vezes é articulada nas narrativas públicas dominantes. Não se trata, naturalmente, de os negros em Portugal não terem voz ou não se encontrarem presentes no quotidiano do país. Trata-se, isso sim, muitas vezes, de falarem sem serem considerados, de verem sem serem vistos, de cantarem sem serem escutados – pelo menos, fora de uma esfera cultural tendencialmente mais circunscrita.

Palcos

30.01.2021 | por Inês Nascimento Rodrigues

Patrice Lumumba, 60 Anos Depois

Patrice Lumumba, 60 Anos Depois No dia 30 de junho de 1960, na cerimónia de proclamação de independência do Congo, houve três discursos: do rei Baudouin da Bélgica, antiga potência colonizadora, do Presidente do Congo, Joseph Kasavubu, e de Patrice Lumumba, primeiro-ministro, este último, numa intervenção não prevista no protocolo inicial. Foi um discurso curto de cerca de doze minutos, escrito numa linguagem acessível e incisiva, performativa e visual, um discurso que, como defende o historiador Jean Omasombo Tshonda, “funda o Congo independente”. Os primeiros oito minutos são a mais clara definição do que é o colonialismo do ponto de vista de um continente, de um país, de uma comunidade, de uma pessoa.

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30.01.2021 | por Margarida Calafate Ribeiro

Resenha literária do livro "Metrónomo sem Função"

Resenha literária do livro "Metrónomo sem Função" O metrónomo sem função identifica o tempo indefinido, vago, indeterminado que está na base da narrativa. É a história de uma jovem de província e da fuga da província (para Lisboa e para Amesterdão); de quem decide sair dos limites provincianos de Coimbra nos anos 80-90, da fuga das tradições familiares e culturais conservadoras. É a história de uma jovem rebelde que encontra na música, na escrita e no cinema a sua fuga e sua paixão.

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27.01.2021 | por Luana Loria

Pelas águas sagradas que nos curam: uma conversa com Milena Manfredini

Pelas águas sagradas que nos curam: uma conversa com Milena Manfredini Conversei com a realizadora sobre a sua criação cotidiana com o audiovisual até à sua relação pessoal com os cultos de matriz africana. As narrativas que permeiam a vida de Milena partem da Baixada Fluminense do Rio de Janeiro e desembocam no atlântico, fazendo parte das grandes confluências que têm sido os cinemas negros contemporâneos.

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25.01.2021 | por Marco Aurélio Correa e Milena Manfredini

Logística

Logística As discussões sobre a chamada revolução logística iniciada em meados do século XX exploram as continuidades entre a história da logística como arte militar e a sua história mais recente, enquanto meio de administrar o movimento de pessoas e coisas orientado pelo critério da eficiência económica, nos transportes e na comunicação. Nesta medida, o estudo da logística é ensombrado pela tese da militarização da sociedade.

Jogos Sem Fronteiras

25.01.2021 | por Sandro Mezzadra e Brett Neilson

“O Teatro Viriato ainda é um oásis no país”

“O Teatro Viriato ainda é um oásis no país” Sento-me em qualquer sítio e toda a gente tem uma história com o Teatro Viriato. O Teatro é da cidade. E, ainda assim, sentimos que há novos públicos, há novas energias, novas possibilidades. É isto que um teatro deve ser. É uma casa onde nos encontramos todos, vindos de não sei de onde. Com coisas em comum para partilhar mas também com coisas que nunca tínhamos visto antes. Por vezes incómodas.

Cara a cara

25.01.2021 | por Mariana Carneiro

“Dread inna Inglan”, notas sobre o episódio Lovers Rock

“Dread inna Inglan”, notas sobre o episódio Lovers Rock O Lover’s Rock contribuiu para mudar a percepção da música negra nos média britânicos. Apesar da sua origem transnacional, o Lover’s Rock é visto como um género distintamente britânico. De certa maneira, o Lover’s Rock foi o primeiro género musical pós-colonial a surgir no Reino Unido, ao qual se seguiram outros géneros internacionalmente conhecidos, como o Brit Funk, Acid House, Jungle, UK garage, Dubstep, Grime, ou o UK drill.

Afroscreen

21.01.2021 | por Marcos Cardão

A dignidade é uma substância tão real como a sua própria carne

A dignidade é uma substância tão real como a sua própria carne O trânsito entre duas temperaturas, dois movimentos musicais da atmosfera colados ao corpo. O frio recobre o calor, e o calor absorve o frio, como se fossem duas nuvens epidérmicas. É nesse diálogo, nesse duelo, que a casa se enche de significados imbatíveis. O lugar em que a temperatura somos nós, em que o frio se enche do calor da nossa paz, do nosso sono, da nossa tristeza, do cheiro da nossa fome. Lugar em que o calor desliza sobre os músculos arrefecidos, como uma melodia percorre o silêncio. O lugar a que todos deveriam ter direito no Inverno. Um lugar difícil de aquecer.

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19.01.2021 | por Brassalano Graça

O sal da História na memória da pele

O sal da História na memória da pele Não existe a Praia - Venho como um náufrago trago o sal da História na memória da pele, e espinhas nas pontas dos dedos, o mar não se repete, perscruto-o desde o útero, e escuto-o como o pulsar de um coração alteroso, germinado sob o pulmão de um céu forte, é nessa cintura do horizonte que fixei o tracejado do meu olhar sobre o Mundo, o Azul não é uma cor, é um filtro óptico para a absorção da atmosfera, e da poeira bacteriana nutriente dos ventos do Destino.

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19.01.2021 | por Brassalano Graça

Práticas de Alegoria Política

Práticas de Alegoria Política Que exemplos de solidariedade transnacional e de cruzamentos disciplinares podem inspirar a prática artística e curatorial contemporânea contra os ressurgimentos nacionalistas à escala global? Recordemos o impacto da Guernica (1937) de Picasso produzida durante a Guerra Civil Espanhola, um dos mais consagrados manifestos contra o fascismo e exemplo da “revolta da consciência e da arte face aos desastres que devastavam a Europa.” Guernica demonstra a importância da ação conjunta de atores estatais e não estatais no desarmamento da ideologia fascista. Que práticas de crítica e reflexão artística e que soluções locais e globais, podem as redes de arte contemporânea – artistas, curadores e instituições – promover para a desradicalização de extremistas e fomentar novas sensibilidades ancoradas na linguagem da igualdade e da não discriminação?

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16.01.2021 | por Sofia Lemos

Esta guerra não é tua (2)

Esta guerra não é tua (2) Os pormenores são repugnantes, mas não consigo deixar de sentir um júbilo secreto por ter deparado com mais uma história exemplar do colonialismo, no sentido mais lato da palavra «colonialismo». O colonialismo é fazermos a alguém aquilo que entendemos como «bem», mas que essa pessoa sente como «mal», para que essa pessoa nos possa servir melhor. Reformulo: o colonialismo é instrumentalizarmos o outro, fazendo-lhe bem somente na medida em que esse benefício nos possa beneficiar a nós. Resta dizer que o carácter exemplar de uma história escapa quase sempre ao seu narrador.

Mukanda

16.01.2021 | por Paulo Faria

A última lição de Eduardo Lourenço

A última lição de Eduardo Lourenço Eduardo Lourenço foi, sozinho, uma grande família intelectual: filósofo, professor, crítico literário, pensador, mitólogo, crítico de artes, de cinema, ensaísta, precursor da crítica pós-colonial e dos estudos culturais, escritor, homem de letras, só para fornecer uma lista funcional e sempre incompleta. Foi um triunfo não de disciplinas, mas de “indisciplina”, num mundo sempre mais virado para o elogio (preguiçoso) da “especialização”.

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16.01.2021 | por Roberto Vecchi

Racismo institucional, legado do colonialismo

Racismo institucional, legado do colonialismo Passados mais de 45 anos das independências das nações ocupadas por Portugal, o colonialismo continua vivo, sendo o racismo o seu maior legado. O império acabou, o colonialismo foi derrotado. Contudo a narrativa construída nesse período continua patente na ideologia identitária nacional e influencia profundamente as relações entre os indivíduos, assim como a organização social. Reconhecer as continuidades coloniais patentes na sociedade portuguesa é fundamental para desmontar a história única, a ficção contada e recontada sobre esse período da nossa história coletiva. O racismo em Portugal é estrutural e institucional, privando dos seus direitos fundamentais as pessoas afrodescendentes e de outras comunidades racializadas.

Jogos Sem Fronteiras

15.01.2021 | por Beatriz Gomes Dias

Morreu Lumumba, para que África viva!

Morreu Lumumba, para que África viva! Também nas nossas terras, onde sofremos a miséria, a fome, a escravidão, as nossas riquezas são exploradas pelos colonialistas e pelos “trusts” imperialistas. Apesar da bárbara repressão colonialista, conseguimos formar o PARTIDO AFRICANO DA INDEPENDÊNCIA, que é o único partido que não faz distinção de raças, origens, etc. O PARTIDO AFRICANO DA INDEPENDÊNCIA procura a UNIDADE dos nossos povos para a LUTA contra o colonialismo e contra o imperialismo.

Mukanda

15.01.2021 | por Amílcar Cabral

Fado Tropical. O Luso-Tropicalismo na Cultura de Massas

Fado Tropical. O Luso-Tropicalismo na Cultura de Massas O luso-tropicalismo passaria a funcionar como a narrativa portuguesa do «excepcionalismo», uma narrativa mais ou menos padronizada e internacional, comum a todos os países europeus que tiveram possessões coloniais. Por mais que as histórias e mitologias nacionais digam o contrário, o processo de construção de identidades nacionais é um fenómeno internacional. A narrativa do «excepcionalismo português», ou o investimento na especificidade portuguesa, fez de porta-estandarte das ideias de miscigenação, fácil convivência dos portugueses com os outros povos e ausência de preconceito racista. Esta narrativa adaptou-se a uma forma de narrar a história e imaginar Portugal e os portugueses.

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12.01.2021 | por Marcos Cardão

"Explorar o outro continua a estar na base das nossas sociedades", entrevista ao escritor malgaxe Jean Luc Raharimanana

"Explorar o outro continua a estar na base das nossas sociedades", entrevista ao escritor malgaxe Jean Luc Raharimanana Existem leis, creio eu, relativas à violação das liberdades. As palavras alienantes podem influenciar as massas, mas estas palavras sempre existiram na história da humanidade. É o espírito crítico que eu penso ser urgente apoiar e desenvolver. Prefiro pensar em termos de possibilidades do que em termos de limitações. Como podemos fornecer a todos as ferramentas para criar uma palavra criativa, um movimento de tecelagem em vez de uma palavra destrutiva, um gesto para rasgar?

Cara a cara

11.01.2021 | por Alícia Gaspar e Jean Luc Raharimanana

Zezé Gamboa, um percurso no cinema

Zezé Gamboa, um percurso no cinema Zezé Gamboa fala calorosamente das coisas que gosta, episódios de outros festivais, rodagens e problemas que o métier do cinema envolve. As pessoas riem-se pelo empolgamento e exagero. Quer trabalhar em paralelo, os homens no mar e o desespero das famílias na terra.

Cara a cara

05.01.2021 | por Marta Lança

Titica

Titica Chegou, acabada de acordar, de saia comprida às riscas e sapato brilhante, alta e altiva. O seu enorme riso interior provocou uma empatia imediata, a ousadia da artista Titica é desarmante. Afectuosa no trato, prefere não falar muito da sua sexualidade, explicando, de forma assertiva e cansada de ter de se justificar, que é “mulher e ponto”. E uma mulher com convicção. A cantora, que diz preferir o carinho do público ao cachet, ganhou o prémio de Melhor Artista de Kuduro em 2011 e sente-se “reconhecida”. Explica que, na sua vida de artista, “tudo acontece de uma forma natural”. Acrescenta porém que, apesar da sua energia tudo fazer acontecer, no palco, Titica encarna “outra pessoa”.

Cara a cara

05.01.2021 | por Marta Lança

(Des)controlo em Luanda: urbanismo, polícia e lazer nos musseques do Império

(Des)controlo em Luanda:  urbanismo, polícia e lazer nos musseques do Império O racismo entre as duas comunidades dividia, de cima a baixo, a sociedade luandense, do poder judicial ao comércio que se fazia no interior dos musseques. A retórica usada pelo procurador, ao tentar abanar os alicerces sociopolíticos dessa justiça racial e ao pôr a descoberto a hipocrisia, o subjetivismo e a parcialidade dos juízes, invocava três imagens sobre o mesmo espaço: o recorrente dualismo entre a cidade branca e a cidade negra; um roteiro da modernidade urbanística conspurcada pelo terrorismo e a geografia punitiva do império.

Cidade

04.01.2021 | por Bernardo Pinto da Cruz, Nuno Domingos, Diogo Ramada Curto, Juliana Bosslet, Marcelo Bittencourt e Pedro David Gomes

Ler Noémia de Sousa hoje

Ler Noémia de Sousa hoje No seu poema “Moças das Docas”, Noémia de Sousa lança o seu olhar sobre as mulheres moçambicanas, em particular as que trabalham nas docas nos negócios do prazer, i.e., as prostitutas. Todavia, essa centragem é também sobre a sua própria condição de mulher, dado que a poeta se inclui na categoria das fugitivas do poema. Com efeito, Noémia abre o poema da seguinte maneira “Somos fugitivas de todos os bairros de zinco e caniço/Fugitivas das Munuanas e dos Xipamanines”, o que nos oferece duas pistas de leitura. A primeira é que Noémia se inclui nas mulheres de que o poema fala e se solidariza com as mulheres nele contidas. A segunda é que estas mulheres são provenientes de bairros de lata onde a pobreza grassa. Arrastadas pelas suas próprias circunstâncias de vida (são pobres e estão desesperadas), são forçadas a prostituir-se.

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04.01.2021 | por Ana Sofia Souto

África: negligência e demolição

África: negligência e demolição Nas últimas décadas, o conflito na África subsariana não só devastou as aldeias e criou campos de refugiados em lugares dispersos, como também transformou as cidades e vilas onde agricultores aterrorizados procuravam segurança e oportunidade. Apesar dos subúrbios desordenados – fruto de um crescimento urbano não planeado – não escaparem à visão dos gabinetes das autoridades do Estado e das instituições de apoio internacional, estas organizações não têm abordado a relação entre conflito e urbanização. Tal negligência compromete a reconstrução pós-conflito, desperdiça oportunidades para o desenvolvimento e arrisca-se a quebrar uma paz muito débil.

Cidade

02.01.2021 | por Simone Haysom

Arqueologias da Hospitalidade | Entrevista a Yannis Hamilakis

Arqueologias da Hospitalidade | Entrevista a Yannis Hamilakis Tem a ver com a história colonial da Europa como um todo: Vejo este fenómeno de migração do Sul global para o Norte global como a fase mais recente da longa história do capitalismo racializado e do colonialismo. Muitas destas pessoas que estão a tentar atravessar vêm de países anteriormente colonizados pela Europa. Sabemos que a longa história de colonização tem um impacto no presente em termos de desigualdade estrutural, pobreza, despossessão e guerra. Ao mesmo tempo, assistimos à incapacidade da Europa em se reconciliar com a sua própria história.

Cara a cara

02.01.2021 | por Alícia Gaspar e Yannis Hamilakis