E as mulheres foram fundamentais para desenhar novas formas de convivência e possibilidades de viver em sociedade, articulando formas de compreender as dinâmicas do escravismo. Aproveitando seu trânsito dentro das casas-grandes e senzalas, igrejas e ruas, para transmitir ideias revolucionárias para fora das estruturas pensantes escravocratas, elas foram fundamentais para a criação de planos de sobrevivência, rotas de fuga e a construção, por grupos de diferentes etnias, de espaços afastados das casas-grandes e senzalas: os terreiros e os quilombos, lugares que reelaboraram a força subjetiva africana de organização e de humanização desses indivíduos.
Mukanda
20.12.2020 | por Katiúscia Ribeiro
Fernando Ulrich é trisneto de João Henrique Ulrich (1815-1885), um homem que enriqueceu com o tráfico de pessoas negras escravizadas e que a partir daí construiu o vasto império empresarial da família. Nascido em Portugal, este homem sinistro enriqueceu na costa Angolana e no Rio de Janeiro com a venda clandestina de pessoas, quando já era proibida a entrada de novos escravizados no Brasil. De regresso a Portugal, passou a dominar diversas empresas, ligou-se à banca e foi deputado da monarquia.
A ler
12.11.2020 | por Pedro Varela
A opção por Portugal como país de emigração, resulta de inúmeros fatores, que vêm dos aspectos históricos da colonização, da proximidade da língua, e do reagrupamento familiar que o percurso das gerações tem provocado. A tudo isto se junta a necessidade de mão-de-obra ciclicamente sentida no país, e que vem colmatando recorrendo a este contingente, “mais ou menos voluntário”.
Cidade
10.08.2020 | por Elsa Fontes
O presente artigo dá conta de um roteiro sobre a presença negra em Setúbal, nos séculos XV a XVIII, concebido enquanto “aula-passeio”, espaço de educação não formal sobre o colonialismo português. Pretende-se suscitar o rompimento com a narrativa lusotropicalista, entender a escravatura como um sistema complexo e parte de conflitos geopolíticos globais e conduzir os participantes na “descoberta” de como os outros estão, afinal, em nós.
Cidade
10.03.2020 | por Ana Alcântara, Carlos Cruz e Cristina Roldão
Zenith assegurou que Fernando Pessoa «escreveu aquelas coisas citadas» e que isso «desqualifica o seu nome para ser associado a iniciativas da CPLP. O seu pensamento evoluiu, felizmente, e em 1935 não teria subscrito àquelas afirmações..., mas também não chegou a renunciá-las. Aliás, pode nem se ter recordado de as ter escrito. Escreveu-as, porém, e compreendo e concordo com a revolta das pessoas cuja dignidade feriu.»
A ler
18.02.2019 | por Eurídice Monteiro
A dívida impagável, enquanto imagem dialética, ajuda a ler o valor simultaneamente nas cenas econômica e ética, e como o capital é a mais recente configuração da matriz moderna de poder, contando com dispositivos de conhecimento (conceitos e categorias), uma gramática ética (princípios e procedimentos) e arquiteturas jurídico-econômicas (práticas e métodos), que derivam sua força de como a necessidade opera por meio de separabilidade, determinação e sequencialidade.
Mukanda
04.10.2018 | por Denise Ferreira da Silva
trata-se na verdade de uma peregrinação ao longo do rio Sado em demanda dos rastos de descendentes de escravos negros trazidos para esta zona, para o cultivo do arroz, no século XVIII, que se entrelaça com a vida de outros negros na Europa e da sua própria vida de mestiço, herdeiro de tantas cicatrizes, diásporas e cruzamentos, flagrados em histórias ocultas e silenciadas, em fragmentos dispersos, indícios, fantasmas.
A ler
15.09.2018 | por Margarida Calafate Ribeiro
Tomara que "O Canto do Ossobó" seja amplamente visto. Primeiro porque a história da escravatura praticada sob o império e colonialismo “à portuguesa” precisa de ser conhecida na sua complexidade, contrapondo a realidade dos factos ao persistente mito lusotropicalista dos brandos costumes. Depois, por ser a voz de um santomense que perscruta a dor de “homens e mulheres esgotados pelo peso do trabalho”.
Afroscreen
15.04.2018 | por Marta Lança
Assiste-se à afirmação social, cultural, política e mediática do associativismo afrodescendente em Portugal, em matérias que afetam as suas vidas e as suas expectativas sociais e nas mais diversificadas formas de luta: desde a valorização das suas características fenotípicas e da sua herança cultural africana com iniciativas diversas nas diferentes expressões culturais, à organização de abaixo-assinados, conferências e manifestações de pressão política para alteração de leis que condicionam a sua cidadania, como a Lei da Nacionalidade, ao debate académico sobre o racismo, a cidadania, feminismo negro e a identidade social.
A ler
31.12.2017 | por Joacine Katar Moreira
É possível pensar o passado fora da História. Fazemo-lo todos os dias. Já Hayden White o tinha dito. História e passado são coisas distintas. O passado é uma coisa e está-se nas tintas para os historiadores; a História é outra e não é indiferente ao que ofende o nosso sentido moral.
Mukanda
01.12.2017 | por Elísio Macamo
Tudo isso junto é presente e futuro, é dignificação dos retirados da história, é tributo aos netos dos escravizados, é política aqui e agora, relevante para todos os que vivem juntos, de todas as cores e tons. Dará força a quem está vivo hoje, sobretudo aos que diariamente são alvo de indignidades, discriminação.
A ler
19.11.2017 | por Alexandra Lucas Coelho
O “eurocentrismo” entra na equação quando os europeus nas suas práticas e nas suas proclamações entram sistematicamente em contradição com estes valores por si próprios declarados. Ou por outra, “eurocentrismo” não é impôr um padrão europeu como medida de tudo, mas sim não ter vergonha de violar o que se declara como sendo sua própria cultura quando convém.
Mukanda
05.05.2017 | por Elísio Macamo
A desmemorização é um processo muito mais subtil do que o revisionismo histórico. Não adultera os factos, mas o quadro em que os interpretamos. Aqui, é como se a escravização massiva e multissecular fosse apenas um detalhe da história económica portuguesa: os escravos metidos no mesmo saco das especiarias e do ouro — nada que tivesse, portanto, a menor relevância para a memória colectiva dos portugueses e para a compreensão do que possa significar a lusofonia que tanto apregoamos e tentamos hoje em dia pôr a render como um capital simbólico que nos deixe bem nuns tantos cantos do mundo.
A ler
24.04.2017 | por André Barata
Porque este não-reconhecimento tem constituído a pedra angular da política da memória preconizada pelo poder político em Portugal desde essas datas, a omissão presidencial nada trouxe de novo. No entanto, ela foi acompanhada de declarações que, marcadas por uma inquietante imprecisão histórica, fizeram ecoar uma narrativa de pioneirismo humanista português cujo paternalismo implícito foi liminarmente rejeitado por portugueses e africanos quando, em 1974-75, optaram por solidarizar-se na defesa do princípio da autodeterminação dos povos e no repúdio do colonialismo.
Mukanda
19.04.2017 | por vários
Grande não seria Portugal romper o ufanismo? De que adianta suturar, unir e rir, se por baixo a coisa continuar preta? Enquanto alguém quiser o pastiche de uma nau ou um museu para “celebrar os Descobrimentos” não teremos avançado. Portugal continuará a repetir os velhos mitos que o confortam e adiam, ora desconfiado, ora ufano, nunca mudando o ponto de vista. Não se trata de celebrar ou largar o passado, mas de o encarar a partir do que investigadores têm feito e, espera-se, continuarão a fazer (...). Incorporar esse refazer da história nas escolas, na política, na diplomacia, sem saudade e sem lamento, seria a coragem que ainda não houve.
Mukanda
13.03.2016 | por Alexandra Lucas Coelho
Conscientes ou não da sua condição de “escravos”, relacionavam-se entre si como membros da mesma comunidade. Fossem essas relações de entreajuda, dependência ou poder; fossem violentas ou pacíficas; fossem práticas voluntárias ou involuntárias, existiam e tinham lugar dentro de uma prisão colectiva. Dado que não se estava perante a terra prometida, a possibilidade desse mito ser alcançado só podia ter lugar fora dessa jaula; um pouco como o escravo de outrora só poderia alcançar a verdadeira terra de origem deslocando-se para fora da comunidade em que estava enjaulado.
Vou lá visitar
15.04.2015 | por Ana Rita Canhão
Artista luso-angolano reencenou figura histórica portuguesa para falar de racismo. uma imagem de Lisboa que quase nunca vemos: a visão de uma cidade que nunca foi só branca e que foi sempre um lugar onde se reflectia quer a beleza quer o grotesco da vida das colónias.
Vou lá visitar
10.03.2015 | por Susana Moreira Marques
História é um fio inquebrantável, governador, e por isso acho importante falar de rebeliões escravas. E repressão por parte das polícias. Outra rebelião importante a ser lembrada, e que também possui ligações com o Cabula, é a Rebelião Malê, cuja repressão foi uma das maiores já perpetradas pelo governo brasileiro, mas cuja repercussão, hoje sabemos, foi de suma importância para começar a se pensar sobre o fim da escravidão no Brasil. Imagine-se, governador, vivendo naquela época e sendo responsável pela segurança pública da capital baiana onde já vivia, talvez, o maior número de negros da América Latina.
Mukanda
28.02.2015 | por Ana Maria Gonçalves
A escravatura tem acompanhado a história da humanidade desde os primórdios, se aceitarmos como verdade testemunhos da Ilíada de Homero ou a própria Bíblia. A escravatura indígena é inegável. Basta lembrar os relatos do trabalho escravo colonial. A escravatura acompanha-nos há demasiado tempo, foi absorvida pelo nosso código genético imaginário e moral.
Corpo
20.01.2015 | por Filipa Alvim
A escravatura é – e talvez venha a ser sempre – um problema contemporâneo. Não se trata apenas de observar que continuam a existir no mundo modelos de exploração semelhantes ao da escravatura e que continua a haver tráfico de seres humanos. (...) “Uma boa divulgação da história da escravatura – e da sua violência e crueldade – poderá despertar a atenção de determinados sectores da sociedade para fenómenos contemporâneos de racismo e de xenofobia, de forma a promover a coesão social e as relações inter-raciais”, resume Vladmiro Fortuna
A ler
07.01.2015 | por Susana Moreira Marques