Luandino Vieira é caso paradigmático do divórcio entre interesse do público e ensino da literatura. Conheci muito pouca gente que tivesse conseguido ler Luandino Vieira, tirando naturalmente os escritores que assumem terem sido influenciados por ele, como Albino Carlos, Ondjaki, ou o moçambicano Mia Couto.
26.02.2011 | por António Tomás
Não é necessário conhecer a infância musical de Paulo Flores, saber-lhe o currículo académico e existencial para sentir que a sua voz e a sua música têm memória. O que em termos artísticos em geral – e na música particularmente – é tão importante como saber ouvir os outros.
Só assim – nesta envolvente procura no que de melhor se faz “fora-de-portas” e na leitura atenta e crítica do passado-terá sido possível chegar, por exemplo, a Xê Povo- uma obra ímpar, fundamental.
22.02.2011 | por Jerónimo Belo
Enquanto os filósofos africanos gastam um energia louca e vão a correr atrás da sombra, Edouard Glissant afronta Hegel de forma oblíqua. A esta visão totalizante, pretensamente universal, Edouard Glissant opõe a Opacidade, o Diverso, o Rizoma e, sobretudo, a Relação. Esta recusa dos sistemas constituirá ao longo de toda a sua vida, a sua marca. Deste ponto de vista, o pensamento de Glissant, que é uma ode à fraternidade, corrobora, em alguns aspectos, os de Derrida e Levinas: dois pensamentos do Outro, mas também dois discursos da opacidade. Mas enquanto os filósofos profissionais propõem tratados, Glissant apresenta o fragmento, o estilhaço, o aforismo, subvertendo os géneros
21.02.2011 | por Boniface Mongo-Mboussa
Explosões dos sentidos, êxtase do verbo. Tais sensações encontram-se após a travessia instigante, surpreendente e prazerosa pelos cinquenta e três poemas do livro de poesia de Filinto Elísio, com o etílico e sugestivo nome Li Cores & Ad Vinhos. Este é o seu quinto título em poesia; constata-se, comparando ao anterior “Das Frutas Serenadas”, o aprofundamento metafórico e a semântica concupiscente das palavras buscando novos significados que vão além dos sentidos inertes impostos pelo discurso estabelecido.
21.02.2011 | por Ricardo Riso
Na sociedade Bijagó, a mulher tem poder para decidir como se faz a cerimónia, quais os rituais, para que fins e em que momento. É seguida por um grupo de mulheres que, durante um certo tempo, não se dedicam ao trabalho produtivo, ao qual estão tradicionalmente destinadas, mas a si próprias. Entre si discutem o que acharem conveniente, dentro de determinadas regras sociais que são impostas aos Bijagós, mas só entre si; e isso por vezes pode levar meses. O tempo, elas é que decidem.
19.02.2011 | por Paula Fortes
"Em ti há um marinheiro demandando uma ilha onde ninguém ainda esteve. Também em ti encontrarás o mapa, a bússola e o navio. Há coisas a que não deves atribuir nomes. A tua ilha não tem nome.”
18.02.2011 | por Ricardo Riso
Os berberes ou "imazighen" (que quer dizer homens livres na língua berbere: o Tamazight) têm vindo a empreender várias formas de luta no sentido de se afirmarem anti-arabização. O propósito fundamental das suas lutas nada tem a ver com religião ou política, trata-se antes de mais da preservação de uma identidade cultural, sobretudo linguística. E da sobrevivência de um povo.
17.02.2011 | por Rita Damásio
Foi quase por um acaso que Hermano Vianna participou numa festa funk no Rio de Janeiro. Não estava à procura de um objecto de estudo, queria apenas presenciar uma grande festa de que tinha ouvido falar na rádio. Impressionado com o que viu, escreveu um artigo para o Jornal do Brasil sobre a música negra internacional e a sua influência no Carnaval de Salvador e nos subúrbios cariocas.
Muito rapidamente, Vianna passou a fazer parte desse mundo dos bailes funk, transformando-se no seu principal tradutor para os jornalistas e curiosos que, vivendo na mesma cidade, sempre demonstram um enorme desconhecimento por tudo o que se passa nos subúrbios e nas favelas do Rio.
13.02.2011 | por Francisca Bagulho
Na literatura na Guiné-Bissau, os termos em crioulo são cada vez mais utilizados, existindo já obras de poesia exclusivas nesta língua. Alguns intelectuais guineenses têm vindo a assumir cada vez mais uma postura de contestação à nacionalização da língua portuguesa. A música popular desde cedo se manifestou em crioulo. Dinamizada primeiramente por José Carlos Schwarz, que teve a ousadia de cantar nesta língua durante a guerra de libertação, este movimento continuou a ter força com bandas como os SuperMamajombo ou TabancaJazz.
13.02.2011 | por
Amador, o líder da grande revolta de escravos de 1595, é uma figura emblemática da história de São Tomé e Príncipe. ste artigo aborda as fontes primárias e a literatura secundária sobre Amador e a sua insurreição que, em termos da dimensão, duração e impacto, foi uma das maiores revoltas de escravos de toda a história atlântica. Em seguida, discute um conhecido mito colonial, segundo o qual Amador teria sido rei dos angolares.
08.02.2011 | por Gerhard Seibert
sinto-a chegar – a saudade de estar perdido sem saber de que lado veio a brisa, feita segredo, dizer-me que o fim do dia está perto
ainda há luz de brilho para olhar a tarde deitada sobre o rio, o seu corpo extenso a praticar pássaros feridos entre as barcas, travessias de gente triste que faz da vida ponte e pressa para o lado desconhecido da chegada inadiável – voz colectiva de um rumor à espera dos olhos da multidão que se agita, se agride mas já não olha este rio também meu,
o seu nome é tejo – e há mil sotaques no corpo do seu dizer
07.02.2011 | por Ondjaki
Salvo para os economistas e outros tecnocratas obnubilados pelas taxas de crescimento do PIB, a situação do povo senegalês em particular, e dos povos africanos em geral persiste dramática. Essa situação não se explica por um fanatismo qualquer ou por uma desorganização “natural’ dos povos desse continente, mas antes por uma longa tradição de pilhagem, de exploração e de opressão no quadro do sistema capitalista.
24.01.2011 | por Adama Soumare
É inegável que existe em Lisboa uma aproximação natural dos falantes da língua portuguesa, que não portugueses, mesmo quando não partilham a mesma raça e cultura. As diferenças nacionais diluem-se em virtude da discriminação a que todos estão submetidos. E faz todo o sentido pensar nesta diluição como necessidade de resistência à discriminação, no sentido em que a metrópole torna homogéneos todos os ex-colonizados, arrumando-os nas categorias de “pretos”, “negros”, “imigrantes”.
21.01.2011 | por António Tomás
O livro revela a embriaguez de Luanda no final do colonialismo, como símbolo da decadência de um sistema que nem consegue ver a mudança a acontecer: “surda à guerra, bate pé ao destino, diverte-se como se a festa ainda não tivesse acabado”. Depois a relação destas pessoas com a metrópole, onde todos contam que se sentiram estrangeiros: “isto era um atraso, no Fundão, só por a minha mulher fumar, trataram-na como se fosse uma vadia.”
18.01.2011 | por Marta Lança
A Educação Multicultural e Intercultural surgiu no século XX como resposta a problemas históricos vividos pelas sociedades. Ao longo das últimas décadas procurou-se o reconhecimento das especificidades culturais em cada nível social para promover a igualdade de oportunidades, o respeito mútuo e a integração de todas as pessoas como cidadãos. No entanto, tende muitas vezes a dar ênfase a várias categorias identitárias, usando-as para distinguir os alunos e cidadãos.
17.01.2011 | por Maria Prata
A voz vai mudando do outro lado do telefone – escritores, cantores, Lisboa, Rio de Janeiro – mas mantém-se o tom: ninguém sabe dizer o que é, ao certo, a lusofonia, se existe, e ainda que exista, talvez não baste. É preciso discutir, discordar, estrebuchar, concordar, amar perdidamente, ficar insatisfeito, porque bom, bom, era a utopia, aquela dos tempos de “descobrir” o mundo. Como se o mundo não existisse antes de nós o dizermos – em português.
07.01.2011 | por Susana Moreira Marques
As oportunidades criadas pelo contexto histórico de libertação que África vivia reforçavam a crença na possibilidade de uma nova arte africana, resultado de métodos de ensino inovadores e assente numa força criativa original.
06.01.2011 | por Alda Costa
O olhar de Pancho via o que muitos não viam, nas viagens que fazia a várias zonas de Moçambique por causa do trabalho, por onde passava diariamente, nas exposições que aconteciam...
06.01.2011 | por Alda Costa
Quanto do que hoje é brasileiro foi português antigo que Portugal perdeu? Como o cardápio em Portugal encolheu, certamente por falta de apetite! E eles continuam a vir, dietistas, higienistas, fiscais-de-contas, reduzindo a língua a um quartinho, e de colarinho: não respire, não respire.
Avé a poesia, cheia de fome.
03.01.2011 | por Alexandra Lucas Coelho
A retórica tradicional da lusofonia tem persistido, não raras vezes, numa espécie de nostalgia do império, subvalorizando a diversidade cultural que cinco séculos de aventuras associaram à experiência de todos os cidadãos que pensam, sentem e falam em língua portuguesa. Será, por isso, importante - e talvez também urgente – que todo um conjunto de políticos, intelectuais e académicos, que têm trazido à luz numerosas pistas sobre a complexa construção da identidade lusófona, reflicta sobre o contributo que o ciberespaço oferece à reconfiguração de uma lusofonia mais englobante e mais plural.
02.01.2011 | por Lurdes Macedo