Independências africanas: processos, imaginários, conexões.

Independências africanas: processos, imaginários, conexões. O ano de 1975 no continente africano fica marcado pelas independências de Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Angola e Moçambique, depois que, dois anos antes, a Guiné-Bissau auto-proclamara a sua independência. Concluía-se um processo lento, complexo e multiforme de maturação de condições sociais, económicas e culturais, de formação de imaginários, de lutas e resistências onde se forjaria o início da concretização dos projectos nacionais. Necessariamente plural, na diversidade dos caminhos percorridos e nas circunstâncias concretas de cada país, esse movimento constitui uma etapa marcante do quadro amplo de lutas pela autodeterminação que marca toda a segunda metade do século XX e que tem no continente africano um dos seus principais cenários.

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29.11.2024 | por várias

Dêem-lhes armas que matam-se entre si

Dêem-lhes armas que matam-se entre si  É quase madrugada e Raquelina não chega, a preocupação no coração de sua mãe é ainda maior. Nas primeiras horas do dia, a senhora fez-se à rua e, no seu muro, uma imagem do filho Paito colada à de Raquelina com uma cruz desenhada na testa de ambos. Gritou e os vizinhos saíram para assistir. Todos os traumas voltaram. Pobre mãe, decidiu arrumar suas coisas e regressar a casa que lhe viu nascer, onde durante anos fugiu da guerra civil.

Mukanda

29.11.2024 | por Edna Matavel

25 balas por Moçambique

25 balas por Moçambique São estas balas cravadas no meu peito que levantam choros e dor. Desperta para a vida, desperta tu que ainda dormes, porque o momento de ressuscitar os Mondlane, Machel, Azagaia e tantos outros que aqui, nessa eterna espera, se encontram, chegou. 25 balas por Moçambique, carreguei esta dor, mas com satisfação de saber que a luta continua.

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28.11.2024 | por Edna Matavel

Mulheres que constroem a Consciência Negra

Mulheres que constroem a Consciência Negra Por séculos, pessoas negras – principalmente mulheres – foram descartadas pela história como os resíduos sólidos que recolhem para sobreviver. Parafraseando Angela Davis, numa sociedade racista, não basta não ser racista, é necessário ser antirracista. Ler mulheres negras é um ato de resistência e a melhor arma na construção de uma realidade mais justa: a consciência através da educação perpetuada pela voz de quem sabe o que precisa mudar.

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23.11.2024 | por Gabriella Florenzano

Da Cooperação Cultural ou da lógica europeia no financiamento às Artes

Da Cooperação Cultural ou da lógica europeia no financiamento às Artes   Após a independência, estabeleceu-se um outro tipo de relação, chamada de “cooperação” internacional, que pressupõe a relação entre dois ou mais países ou instituições, para reforçar os laços económicos e políticos e contribuir para o desenvolvimento de uma ou mais das partes envolvidas. Sendo que a Cooperação Internacional pode ser estabelecida entre quaisquer países (a União Europeia, por exemplo, não deixa de ser um formato macro de cooperação entre países), este artigo pretende ser uma pequena reflexão sobre a Cooperação entre Portugal e os países africanos onde também se fala português.

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22.11.2024 | por Maria Lima / Daniela Lima

"São os intelectuais que, no fundo, dirigem mesmo as revoluções mais populosas", conversa com Manuel Videira sobre Mário Pinto de Andrade, as suas memórias e a sua militância no MPLA

"São os intelectuais que, no fundo, dirigem mesmo as revoluções mais populosas", conversa com Manuel Videira sobre Mário Pinto de Andrade, as suas memórias e a sua militância no MPLA Manuel Videira foi um dos estudantes africanos que se encontravam em Portugal quando eclodiu a guerra em Angola. Seguindo os seus ideais anticolonialistas, fugiu para Paris em 1961, participando na chamada “fuga dos cem”. Pouco depois, fugiu também de Paris para se juntar às fileiras do MPLA em África, primeiro em Accra e depois em Léopoldville (atualmente Kinshasa). Foi um dos primeiros médicos a atuar no CVAAR (Corpo Voluntário Angolano de Assistência aos Refugiados) e, mais tarde, participou na guerrilha, tornando-se responsável pelo SAM (Serviços de Assistência Médica) da IV região político-militar do MPLA.

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21.11.2024 | por Elisa Scaraggi

A Amazónia paga um preço imensurável pelo seu ouro. Parte II

A Amazónia paga um preço imensurável pelo seu ouro. Parte II Davi Kopenawa destaca, no documentário Escute: A Terra Foi Rasgada, a importância de continuar a denunciar e a construir alianças, não só com outros povos originários, mas também com parceiros não-indígenas, tanto no Brasil como fora: “Pessoal não fiquem tristes. Nós ainda estamos vivos. Não é hora de chorar. É hora de lutar. De continuar a viajar, denunciar. (…) Eu preciso do meu povo vivo e que permaneça no seu lugar. (…) Eu estou-me sentindo forte, porque nós estamos unidos. Estamos fazendo a aliança para ficar uma luta só. Sem luta, ninguém vai sobreviver”.

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20.11.2024 | por Anabela Roque

A transexualidade aos olhos da Genspect

A transexualidade aos olhos da Genspect Havia autocolantes a serem distribuídos gratuitamente com a inscrição: “No one is born in the wrong body” [Ninguém nasce no corpo errado, em tradução livre]. Havia livros, com o custo de 30 euros para cima, que indicavam ser a ajuda que os pais precisavam para “salvarem” os seus filhos da disforia de género. Havia panfletos de propaganda a igrejas que “providenciam um lugar seguro e passível de reflexão sobre o que significa ser gay, lésbica, bissexual e cristão, através de reuniões, rezas, retiros e conferências”.

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20.11.2024 | por Mariana Moniz

Na morte de Oswaldo Osório, um dos maiores mortos imortais da história da literatura caboverdiana e da lusografia

Na morte de Oswaldo Osório, um dos maiores mortos imortais da história da literatura caboverdiana e da lusografia Na prosa literária, foi autor de um romance intitulado As Ilhas do Meio do Mundo (2013), há muito aguardado com o título antecipado As Portas de Roterdão, para além de contos curtos de paixão amorosa intitulado Amores de Rua e da novela Nimores e Clara, muito inovadora do ponto de vista temático e do imaginário caboverdiano construtivista.

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17.11.2024 | por José Luís Hopffer Almada

Terão os direitos humanos um continente ou nacionalidade?

Terão os direitos humanos um continente ou nacionalidade? Seria o continente africano, e particularmente Moçambique, relegado a uma “periferia” da preocupação dos direitos humanos? Será que, inconscientemente, ainda carregamos o peso de um olhar colonial, em que África e as pessoas africanas são vistas como eternamente em crise, como se os problemas no continente fossem normais e, portanto, indignos de atenção urgente? O filósofo Frantz Fanon abordou a desumanização estrutural que condiciona as perceções dos povos africanos, e aqui vejo um eco dessa verdade: o sofrimento em Moçambique, no Congo, Sudão, Somália, entre outros países africanos, não parece evocar a mesma empatia global que crises em outros locais do mundo.

Mukanda

13.11.2024 | por Paula Machava

Prefácio - A impossibilidade da não-violência

Prefácio - A impossibilidade da não-violência Da vida quotidiana às relações internacionais, os exemplos poderiam multiplicar-se. A violência é parte fundamental da normalidade em que vivemos. Mas sobre a violência recai, frequentemente, um manto tão pesado de eufemismos e «explicações» que se torna difícil pensá-la, estabelecer os seus limites, até identificá-la. Iluminar um ponto em que se manifesta implica deixar muitas das suas manifestações na sombra. A sua invisibilidade é um produto da sua ubiquidade. A maioria dos episódios partilhados no parágrafo anterior – quando chegam às notícias – não convocam sequer a palavra «violência».

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11.11.2024 | por Diogo Duarte

A Amazónia paga um preço imensurável pelo seu ouro. Parte I

A Amazónia paga um preço imensurável pelo seu ouro. Parte I O filme de Bodanzky é o que mais expõe os conflitos sociais gerados pela atividade clandestina e ecoa a urgência do seu combate. O documentário revela como o garimpo afeta, de forma catastrófica, o meio ambiente e a saúde dos povos originários através da contaminação por mercúrio - metal usado ilegalmente pelos garimpeiros na extração do ouro.

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08.11.2024 | por Anabela Roque

Por ti, Portugal, eu juro!

 Por ti, Portugal, eu juro! Este livro foca‐se num universo muito específico deste contexto: os comandos africanos da Guiné que integraram as três companhias criadas por António de Spínola em 1971, homens a quem o então governador da Guiné prometeu a futura liderança do território quando a guerrilha do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) dali saísse derrotada — presciência que, como hoje se sabe, nunca aconteceu.

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08.11.2024 | por Sofia da Palma Rodrigues

Libertar a Memória #2 cinema | debates | livros

Libertar a Memória #2 cinema | debates | livros Fazê-lo em Lagos tem especial relevância, uma vez que se assume como local emblemático na História da expansão portuguesa e também como o primeiro porto de desembarque europeu de pessoas escravizadas na costa ocidental africana. Na atualidade, a relevância da descoberta em 2009, de 158 ossadas de africanos escravizados, enterrados onde, dos séculos XV a fim XVI-inícios do XVII, havia uma lixeira urbana (no Valle da Gafaria), durante trabalhos arqueológicos preventivos da construção de um parque de estacionamento, veio confirmar as fontes documentais que referem que em Lagos aconteceu a grande primeira venda de pessoas escravizadas da Época Moderna.

Afroscreen

08.11.2024 | por Luísa Baptista

A vida é um mar de perguntas sem respostas” – Jessemusse Cacinda

A vida é um mar de perguntas sem respostas” – Jessemusse Cacinda Eu quis escrever justamente para não estar num só lado. A literatura não tem lado. A literatura é o respeito pela diversidade que faz o nosso país e o nosso continente. Este 'Kwashala Blues' é uma oportunidade para os moçambicanos conhecerem-se a si mesmos. Mas também para celebrar as dores e alegrias das pessoas deste país e deste continente.

Cara a cara

07.11.2024 | por Eduardo Quive

Trump again. ¿Y ahora?

Trump again. ¿Y ahora? São 5.30 da manhã, hora do centro do México. Abro os olhos e Trump já é presidente virtual. Os bad hombres estão de volta. Do lado de cá, para os trumpistas; ou além Rio Bravo, para os mexicanos.

Jogos Sem Fronteiras

07.11.2024 | por Pedro Cardoso

“me debrucei pra escrever algo pra minha avó, pro mundo não se esquecer de mim, como fez questão de esquecê-la.”

“me debrucei pra escrever algo pra minha avó, pro mundo não se esquecer de mim, como fez questão de esquecê-la.” uma ou três mulheres, porque esse texto fala sobre a quase impossibilidade de ser par, e três ou um, já nos coloca mais perto das que estão aqui, mas já se foram. eu queria que fossemos sete, mas sete talvez fosse pedir demais a vocês, então distribua no palco um ou três pedestais com microfones, um pra EU, um pra ELA outro para NÓS. texto escrito para atrizes, mas principalmente um teatro feito para poetas.

Palcos

06.11.2024 | por Luz Ribeiro

boa de panela e cabeça - a propósito da leitura que fiz de Lacuna, de Luz Ribeiro

boa de panela e cabeça - a propósito da leitura que fiz de Lacuna, de Luz Ribeiro Trata-se de um texto em fragmentos de que muito gosto - e reivindico aqui a possibilidade de gostar de um texto, gostar de algo, gostar de alguém, não o gosto do “bom gosto" ou do “mau gosto”, mas o gosto de me relacionar afectivamente com algo que admiro, com que sinto cumplicidade, que me interpela, me encanta, me estimula a reimaginar mundos e possibilidades do sensível, algo que abre o entendimento do mundo à sua complexidade. E que o faz de modo generoso e justo.

Mukanda

06.11.2024 | por Ana Bigotte Vieira

“Deviam fazer-lhe um monumento em Angola”, conversa com Bonga Kwenda sobre Mário Pinto de Andrade.

“Deviam fazer-lhe um monumento em Angola”, conversa com Bonga Kwenda sobre Mário Pinto de Andrade. Bonga é um músico angolano conhecido no mundo inteiro. Em 1966 fixou-se em Portugal para se dedicar ao atletismo, mas poucos anos depois fugiu do país para escapar ao controlo da polícia política. O seu primeiro disco, Angola 72, saído na Holanda e cantado inteiramente em kimbundu, serviu para dar impulso à luta anticolonial e é ainda hoje um marco da música angolana. Nesta conversa, Bonga fala da sua trajectóri

Cara a cara

06.11.2024 | por Elisa Scaraggi e projeto