O que se busca é uma consciência crítica das representações calcificadas ou ausentes dos arquivos, fomentando o debate sobre modos de reimaginação e abordagens éticas não só às imagens que se fazem imagem-arquivo mas também aos arquivos de imagens na sua materialidade.
18.09.2019 | por Maria do Carmo Piçarra
Se o Once Upon a Time... é mesmo o Make America Great Again do Tarantino, com os seus dois super-heróis ‘trumpistas’ avant la lettre, brancos, machistas e racistas quanto baste – ou que sobretudo apostam no regresso a ‘'tempos mais simples'’, então eles (o Rick e o Cliff) bem podiam ser o duplicado (ou o duplo) desse par de hillbillies sinistros que aparecem no final do Easy Rider a salvarem-nos dos hippies, dos motards e da contracultura como de outros tantos drogados, criminosos e psicopatas.
10.09.2019 | por Nuno Leão
De 24 a 27 de setembro, o Goethe-Institut de Lisboa promove, em parceria com a Culturgest, o ciclo de cinema e debates que aborda o confronto de vários artistas com a herança colonial dos países europeus através dos arquivos cinematográficos, no âmbito do projeto internacional "Tudo passa, exceto o passado".
06.09.2019 | por vários
Tornar as masculinidades negras como categoria nas teorias de gênero, não de forma isolada ou contrária à ascensão dos movimentos feministas negros ou LGBT, mas como mais uma particularidade do discurso que põe em causa o patriarcado branco. A hegemoneidade das masculinidades brancas são uma das principais facetas do conjunto de dominação, controle e repressão do aparato colonial que funda as sociedades ocidentais da contemporaneidade.
08.08.2019 | por Marco Aurélio Correa
"O modo como as personagens morrem tem muito a ver com a traição entre pessoas na vida real. A meu ver, a sociedade moçambicana tornou-se muito gananciosa. O tempo dos favores já se foi, em troca veio o tempo do refresco. A corrupção aumentou, a prostituição também. Hoje em dia vende-se crianças, albinos são cortados aos pedaços, assassinam-se indianos, rapta-se portugueses, ricos, pobres. Tudo em troca de dinheiro."
05.08.2019 | por Marta Lança
Sobre dois mais recentes filmes: "Eu Não Sou Pilatus" e "Intervenção Jah". A violência é um espinho, ela não escolhe a quem tocar mas também não é qualquer pessoa que se aproxima dela, tem que estar de alguma maneira convencida, se certo ou errado, isso não sei. Nos meus filmes, sobretudo de realidade social, tento não desvirtuar a violência daquilo que é a sua génese, a meu ver, o sentido de justiça.
26.07.2019 | por Marta Lança
Inserido no contexto atual em que vozes negras ou afrodescendentes reclamam um lugar de fala e o direito de autorrepresentar-se em Portugal, o filme O canto do Ossobó levanta uma série de questões de cunho político e social para a imagem. Tal reivindicação tem como lastro as lutas anti-coloniais, os escritos pós-coloniais no contexto anglo saxão, o “giro decolonial” na América Latina, e as novas formas de pensar e fazer cinema no Terceiro Mundo que emergiram em lugares tão distintos como Vietnã, Senegal e Brasil.
24.07.2019 | por Michelle Sales
O que resta do Hotel Império, além de uma alegoria asiática com referência a Portugal? Não só um aglomerado de ruínas de um edifício que evoca a memória de um esplendor antigo e agora desbotado, que sobrevive só residualmente, mais como imagem estética do que como um fato documentável e reconhecido.
06.07.2019 | por Roberto Vecchi
Uma das barreiras foi ter novamente o corpo negro no lugar do marginal, decidir construir a personagem Arriaga à volta da delinquência. Foi uma decisão difícil. Difícil por também eu ser Negro. Difícil por estar a entrar no campo do estereótipo. É difícil contornar a necessidade que tenho de escrever para atores negros e nesse caso trata-se de uma faca de dois gumes. Querer dar protagonismo a uma personagem que, do ponto de vista moral, vive na margem de decisões incautas.
15.05.2019 | por Yolanda Kiluanji
Os cinemas indígenas devem ser compreendidos como um capítulo a mais, um capítulo contemporâneo, no vasto e complexo território de relações com as imagens, com os espíritos, com as alteridades, presentes entre estes povos há tempos imemoriais. Regimes de visibilidade singulares que se relacionam às heterogeneidades nas formas de fazer, conceber e conferir uso às imagens. A Mostra Ameríndia: Percursos do Cinema Indígena no Brasil, realizada no Coleção Moderna do Museu Gulbenkian, traz um recorte de um múltiplo e diverso cinema, feito por realizadores indígenas, desconhecido ainda para tantos de nós.
28.03.2019 | por Daniel Ribeiro Duarte e Júnia Torres
O desempenho dos protagonistas do filme e a extrema fragilidade de laços sociais faz o espectador mergulhar numa intensidade de cenas portadoras de mágoas, incompreensões e revoltas internas sobre os problemas enfrentados pelas sociedades ditas modernas e globais, que colocam tatuagens em grupos sociais e povos face à pobreza e corrupção do serviço público desumanizante para quem não tem capacidade de montar um sistema alternativo - mesmo que marginal - que possa garantir segurança e possibilidade de continuar a viver com dignidade.
23.03.2019 | por Miguel de Barros
O eixo à volta do qual gravita toda a narrativa do documentário é o extraordinário conjunto escultórico “A Sagrada Casa dos Madjaha”, obra de Malangatana votada à degradação e ao esquecimento num subúrbio de Maputo. A partir deste exemplo particular, revisita-se vida e obra do criador moçambicano de modo a fundamentar a necessidade de preservar não só o conjunto escultórico, como a sua memória e o seu legado.
22.03.2019 | por Lurdes Macedo
Nós, os humanos, aquilo a que chamamos Humanidade, “quando não estamos ocupados em predar uns aos outros, estamos a predar o planeta”. Então que Humanidade é essa? “Será que essa ideia não está na base de muitas escolhas erradas? Por exemplo, a de que os homens brancos tinham o direito de sair colonizando, de trazer os obscurecidos para uma luz incrível, que é o buraco que agora estamos fazendo?” Como se existisse um jeito certo, “uma verdade de estar aqui na terra”, um modo civilizador. “Hoje podemos pôr em questão essa Humanidade.” Questionar a “disposição para a servidão voluntária”, o domínio das corporações, as estruturas que tentam substituir “os estados-nação falidos”. “As corporações conseguiram comprar uma narrativa de que não tem mais História.”
17.03.2019 | por Alexandra Lucas Coelho
A Mostra Ameríndia integra uma multiplicidade de experiências que nos retiram dos lugares convencionais de olhar e entender o cinema. Nestes filmes, os coletivos indígenas atuam em diferentes níveis. São cineastas no sentido ocidental, apontam a câmera para a sociedade colonial, para o quotidiano da sua aldeia, para os seus rituais, ou ainda para os avanços do agronegócio. Também colaboram com não-indígenas na produção e realização dos seus filmes.
09.03.2019 | por vários
Isabelle Kouraogo trata o tema do abandono paterno com segurança e respeito, acrescentando detalhes invulgares e inesperados a uma narrativa que é a realidade de muitos milhares de crianças. Os dois atores representam com eficácia e sobriedade as respetivas personagens e espelham bem todas as vivências e desejos que os habitam.
05.03.2019 | por Luísa Fresta
Este artigo surge do interesse pelo contexto de produção do cinema brasileiro contemporâneo, caracterizado por um redimensionamento dos aspectos políticos de sua atuação a partir de uma breve digressão sobre o cinema da Retomada até o filme O som ao redor. Analisaremos também o filme Vazante cujo tema abordado está contido no interior de rearranjos culturais do cinema contemporâneo tornando-se um filme importante para compreensão do atual contexto cultural e político no Brasil.
19.02.2019 | por Michelle Sales
No limite, talvez um homem deva prescindir da sua própria existência para dar lugar a uma nova vida, e é essa uma das linhas mestras da história de Ahmed Zeda. Há uma mensagem que cada espectador desvendará segundo os seus próprios referentes. O cineasta é sobretudo o projetor que ilumina a cena, como um sol potente que afasta as nuvens mais carregadas.
18.02.2019 | por Luísa Fresta
O filme de Nebyinga Kafando traz a lume a questão: quais os desafios para os mais jovens e para a sociedade em geral no que diz respeito ao acompanhamento dos mais velhos nos dias de hoje e num futuro próximo, nomeadamente em África, quando a doença bate à porta e o idoso, já algo afastado do convívio da família nuclear, se torna ainda mais excluído por via da invalidez?
06.02.2019 | por Luísa Fresta
Mekas nos deixa em um momento sombrio, quando todas as forças parecem querer apartar os laços que unem uma mão à outra e autoridades celebram o exílio dos que ousam sonhar outros mundos. Que ele e seus filmes permaneçam como as “coroas da vida” de que falou quando escreveu sobre Richter; pontes sinalizando que, mesmo em tempos graves, é possível seguir adiante para (como diz o título de um de seus filmes) “ocasionalmente encontrar lampejos de beleza”.
28.01.2019 | por Patrícia Mourão
A propósito da estreia em Portugal da adaptação cinematográfica de 'Mais Um Dia de Vida', um percurso pelos lugares e personagens do livro clássico do jornalista polaco Ryszard Kapuscinski, que descreve Angola em 1975, o fim do colonialismo, o nascimento de um novo país e o início de uma guerra civil.
28.01.2019 | por Susana Moreira Marques