O filme Segredos do Putumayo, do realizador brasileiro Aurélio Michiles, centra-se no universo do ciclo da borracha na Amazónia peruana do início do século XX, e pretende pôr em foco o sistema de mão-de-obra escrava indígena e o consequente genocídio dos povos originários provocados por este negócio. O relato da tragédia é conduzido por um cônsul britânico, o irlandês Roger Casement (1864-1916), que viajou pelas margens do rio Putumayo para investigar as denúncias contra a Peruvian Amazon Company (PAC), empresa dirigida pelo peruano Julio César Arana em associação com investidores britânicos.
19.06.2023 | por Anabela Roque
O cinema angolano e o realizador Zezé Gamboa foram homenageados no Festival Internacional de Cinema de Dakhla, que decorreu de 2 a 8 de junhom na cidade marroquina. Zézé Gamboa foi reconhecido na cerimónia do Festival pela “força visionária por detrás da câmara, um talento criativo que transcende fronteiras e remodela paisagens cinematográficas. Com as suas narrativas inspiradoras e filmes visualmente impressionantes, teve um impacto significativo sobre o mundo do cinema, nomeadamente no domínio do cinema africano”.
14.06.2023 | por vários
Com o intuito de evidenciar o caráter também epistolar e material destas fotografias, partilhamos, além de uma digitalização da imagem nelas contida, o outro lado destes objectos fotográficos e organizamo-los cronologicamente pela data de envio. Propomos assim um debruçar sobre a sucessão de imagens e palavras que José Joaquim Rubira remeteu, ao longo de quase três anos, aos seus pais, aos seus tios e primos, à sua esposa e à sua filha Clara, que tinha apenas 6 meses quando José partiu de Montemor-o-Novo. José Rubira aparece retratado em todas as imagens.
07.04.2023 | por Daniela Rodrigues
ML: A geração mais velha que, entretanto, conseguiu alguma ascensão social ainda terá presente essa memória da fome. Mas a Cesária também retribui com a partilha da comida. ASF: A Cesária usa a fama e o sucesso para quê? Para ter o que ela considera importante em termos materiais - ter uma casa e ter comida. E comida não só para ela, mas para todos ao seu redor. A Cesária tem esse sentido comunitário. A Cesária põe uma panela ao lume vinte e quatro horas por dia, tem três arcas frigoríficas. Sabia o que era a fome e tentava que à sua beira não existisse. Acho que isso mostra uma consciência social muito forte. A Cesária tinha a porta aberta para toda a gente e não fazia distinção mas, na verdade, preferia muito mais receber os marginalizados da sociedade do que a elite.
03.03.2023 | por Marta Lança
"NOSSA SENHORA DA LOJA DO CHINÊS", do realizador angolano Ery Claver, estreia em Portugal, na sala Fernando Lopes. Quando um comerciante chinês traz para um bairro de Luanda uma singular imagem de plástico sagrado de Nossa Senhora, uma mãe enlutada busca a paz, um barbeiro atento inicia um novo culto e um jovem desorientado busca vingança por seu amigo perdido. Este bizarro conto urbano revelará uma família e uma fachada de cidade cheia de ressentimento, ganância e tragédia.
23.02.2023 | por vários
Cerca de 40 mil pessoas deixaram de viver “no entre mundos”. Belo Monte deslocou-as, tornou-as “expatriados do seu próprio país no próprio país, submergiu-lhes as terras e as vidas. “Belo Monte é um mostruário de horrores. É também uma linha de montagem de conversão explícita de gente floresta em pobres”. Da fortuna da floresta passaram à pobreza das periferias da cidade de Altamira e de outras áreas urbanas, realojados em complexos habitacionais precários, sem árvores, sem rio. Tornaram-se o que não queriam ser, habitantes de lugares estranhos, forasteiros numa (des)organização social que os amputou.
09.02.2023 | por Anabela Roque
A reunião de um grupo de realizadoras de gerações e regiões diversas, experiências profissionais e cinematografias diferenciadas é um dos pontos a destacar do livro de Lídia Mello, embora seja de assinalar a ausência de realizadoras negras e periféricas no recorte seletivo. Não se trata aqui de uma falha de critério por parte de Mello, mas sim de um indicador da desigualdade de oportunidades na sociedade brasileira, que atinge também a produção cinematográfica.
16.12.2022 | por Anabela Roque
A quarta edição do festival negro de cinema NICHO Novembro acontece na cidade de São Paulo de 4 a 13 de novembro de 2022. Este ano, o festival inclui como país convidado, Cabo Verde, com uma curadoria alargada intitulada Tela d’Pano Terra: Nova Onda Cabo Verde, de 7 a 20 de novembro, Dia Nacional da Consciência Negra. A curadoria do Tela d'Pano Terra vem demonstrar o potencial de um setor do audiovisual pujante, ambicioso e aspiracional, ainda emergente mas apostado na disseminação do cinema de Cabo Verde e no reconhecimento e amplificação da marca desse país-arquipélago que nutre relações estreitas com o Brasil. Vem também potenciar e evidenciar os significativos impactos sócio-económicos diretos e indiretos do setor – nomeadamente na diversificação da economia e na expansão da economia do conhecimento e da cultura.
05.11.2022 | por P.J. Marcellino
São conhecidos os prémios do 20º Doclisboa.
18.10.2022 | por vários
O cinema tem um papel político em Moçambique, mesmo que os nossos filmes não sejam políticos. Foi criado como um instrumento político, teve uma influência regional enorme: os nossos documentários tiveram influência na África do Sul pós-apartheid, no Zimbabué, na Namíbia, em Angola, em todos os países da região. Foi uma ideia genial e extraordinária da Frelimo pós-independência, que trouxe para cá [Jean-Luc] Godard, Jean Rouch, Ruy Guerra e dezenas de outros cineastas e gente do cinema: cubanos, italianos, ingleses, franceses.
11.10.2022 | por Lurdes Macedo
Um pai exigente e, tantas vezes, “chato” e uma filha pré-adolescente, numa fase ainda autocentrada, que se espicaçam permanentemente para ver qual deles é mais esperto e estão unidos por um amor incondicional. (...) Quantos fariam o mesmo? Quanto viraram costas a filhos que deixaram em África, fruto de relações (fossem amorosas ou violentas) com raparigas africanas, sem um remorso ou hesitação?
01.10.2022 | por Marta Lança
Desde o abalo provocado pelo Levante popular de junho de 2013, o Brasil vive uma crise política e social marcada por momentos históricos de grande complexidade, sobre os quais o cinema brasileiro tem elaborado diversas representações, especialmente na área do documentário, com um sentido de urgência próprio do trabalho jornalístico.
Partindo de um olhar arrojado, dezenas de títulos trabalham a subjetividade da trajetória brasileira em direção a uma situação cada vez mais análoga ao estado de exceção. No seu conjunto, constituem um dos momentos mais produtivos e marcantes do documentário político na história do cinema brasileiro; são um registo para a memória histórica e coletiva.
15.09.2022 | por Anabela Roque
No início da década de 1970, quando Jorge Bodanzky começou a filmar o real nos territórios amazónicos, o Regime Militar brasileiro (1964-1985) promovia um imaginário irreal sobre Amazónia, com o fim de desmatar a floresta, explorar as suas terras, integrá-las num projeto colonizador megalómano. Para chamar os colonos de todo o Brasil, as campanhas da ditadura vendiam a Amazónia como uma “terra sem homens para homens sem terra” ou como “um deserto verde”. Oficialmente, a “Revolução chegava à selva” mas, de facto, o que se implementava era uma sanha destruidora que não se deteve até aos dias de hoje.
Enquanto militares e empresários ampliavam fronteiras colonialistas, Bodanzky abria fronteiras através do cinema, com o registo da degradação social e ambiental em curso.
12.07.2022 | por Anabela Roque
Suzanne Daveau traça o esboço de uma mulher aventureira que atravessa o século xx, até aos dias de hoje, guiada pela paixão da investigação geográfica. O filme circula entre os inúmeros espaços-mundo percorridos pela geógrafa e os reservados espaços-casa que acolheram a sua vida privada.
“Não há ciência, nem progresso no conhecimento, sem amor, sem paixão, sem identificação, mesmo quando se trata de um tema aparentemente desprovido de vida, como a evolução de uma vertente ou a génese de um aguaceiro. Pode-se, talvez, aplicar rotineiramente uma técnica com pura objectividade, não se pode com certeza, descobrir algo de novo sem que o investigador se implique por completo no tema que tenta elucidar”.
01.07.2022 | por vários
Conhecida como música do gueto, um novo ritmo chamado "batida" (ou afro-house) tem marcado as pistas de dança em Portugal e no mundo. Os Djs da Quinta do Mocho foram precursores nessa nova estética cosmopolita, beneficiando-se do fenómeno da digitalização da música para reinterpretar estilos e fazerem-se visíveis. Este é o caso do Studio Bros, cuja sonoridade afrodiaspórica é capaz de pôr a dançar todos aqueles que vivem nas "margens" do planeta.
01.07.2022 | por Otávio Raposo
Zoila é uma animação, que mescla colagem, fotografia e vídeo, e se desloca entre a ficção e o documental. Inspirada na minha pesquisa sobre diásporas negras, focaliza os elementos da passagem da segunda para a terceira diáspora. A videasta senegalesa Zoila é o elo que religa Goli e Almerinda nos dois lados do Atlântico. O argumento ficcional remete ao conceito de “dupla consciência” elaborada por Willian Du Bois, em ”As almas do povo negro” e retomada por Paul Gilroy, em “Atlântico Negro”.
10.06.2022 | por vários
Embora invisível, há um “muro” a separar a Quinta do Mocho da cidade à sua volta. Empurrados para bairros precarizados e segregados, as populações imigrantes e/ou afrodescendentes são guetizadas por políticas públicas promotoras da marginalização social. É o que explica o Sr. Vítor sobre a construção da Quinta do Mocho: “já havia a ideia de se construir um gueto”.
07.06.2022 | por Otávio Raposo
As palavras do líder e porta-voz do povo indígena Yanomami, Davi Kopenawa Yanomami, são amazónicas; estão no livro A Queda do Céu, estão nos filmes em que participou, acompanham a exposição retrospetiva da fotógrafa Claudia Andujar, estão nos meios de comunicação social e nas redes sociais. São palavras que transmitem um conhecimento profundo dos mitos ancestrais e de como estes podem atuar na contemporaneidade; são advertências e denúncias, que se transformam em manifesto e, por vezes, em profecia. Kopenawa dirige-as ao povo da mercadoria, mas não são para trocar por estas, sugerem uma inversão de sentido no pensamento dos não-indígenas em direção à Natureza e à Amazónia, em particular.
06.06.2022 | por Anabela Roque
A história do Sr. Vítor encontra muitos paralelos com a de outros imigrantes, marcada pelo trabalho nas obras, as dificuldades em continuar os estudos e a habitação precária. A história da Quinta Mocho, onde vive o Sr. Vítor, tem muitas semelhanças com a de outros “bairros sociais” da periferia de Lisboa. O modelo de realojamento ali adotado não incorporou a opinião dos moradores e acabou por reproduzir as lógicas de silenciamento, imposição e exclusão entre aqueles que vivem em regime de subalternidade urbana.
18.05.2022 | por Otávio Raposo
Durante os tours de street art o enfoque nas obras artísticas vai para “segundo plano” diante da curiosidade dos turistas pelo quotidiano multicultural da Quinta do Mocho. Nesse processo, o guia Kally promove uma “curadoria informal”, articulando em suas falas representações alternativas sobre o bairro com elementos estéticos que não raramente dialogam com o sonho de uma sociedade mais justa.
12.05.2022 | por Otávio Raposo