As palavras do líder e porta-voz do povo indígena Yanomami, Davi Kopenawa Yanomami, são amazónicas; estão no livro A Queda do Céu, estão nos filmes em que participou, acompanham a exposição retrospetiva da fotógrafa Claudia Andujar, estão nos meios de comunicação social e nas redes sociais. São palavras que transmitem um conhecimento profundo dos mitos ancestrais e de como estes podem atuar na contemporaneidade; são advertências e denúncias, que se transformam em manifesto e, por vezes, em profecia. Kopenawa dirige-as ao povo da mercadoria, mas não são para trocar por estas, sugerem uma inversão de sentido no pensamento dos não-indígenas em direção à Natureza e à Amazónia, em particular.
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06.06.2022 | por Anabela Roque
A primeira longa-metragem de ficção da realizadora brasileira Maya Da-Rin, A Febre (2020), deixou uma sólida contribuição para o cinema brasileiro com um filme que traz o universo indígena para o centro da narrativa cinematográfica, resultado de um trabalho construído a partir de alianças entre indígenas e não-indígenas que cuidaram de forma empenhada e objetiva a representatividade de uma cosmovisão ancestral.
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19.05.2021 | por Anabela Roque
Os primeiros filmes brasileiros são realizados em 1897. Nove anos antes, o Brasil fora o último país ocidental a abolir a escravatura. Os portugueses começam o tráfego negreiro pouco após a descoberta e, durante 350 anos, deportam no mínimo 5 milhões de africanos, número que não inclui os desaparecidos no oceano. Soldados da conquista, mão-de-obra no campo e na cidade, empregados e artesãos, os africanos edificam o Brasil. Quando D. Pedro, herdeiro da coroa portuguesa e rei do Brasil, proclama a independência, em 1822, dois terços dos brasileiros são afro-descendentes, na sua maioria alforriados e livres. No entanto, durante décadas, o cinema oculta esse passado fundador, o cinema apaga a escravidão.
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30.04.2021 | por Ariel de Bigault
No cinema brasileiro, Karim Aïnouz (Fortaleza, Ceará) não trabalha exclusivamente com o universo feminino, mas quando o faz trata-o de um modo muito particular. Entre a ficção e o documentário, ou misturando as duas linguagens, o realizador, que também assina os guiões dos seus filmes, explora a identidade feminina a partir dos seus desejos e frustrações, das suas aspirações sociais e condição económica, do lugar que ocupa na família, no trabalho, etc. Constrói uma galeria de personagens femininas que atravessa os tempos, num contínuo de histórias de opressão, e atualização de resistências. São mulheres fortes, ativas frente a uma sociedade hipócrita.
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31.03.2021 | por Anabela Roque
É este gesto de experimentação a partir do tempo presente, que complexifica o debate em torno das imagens das “atualidades” dos irmãos Botelho. Mais do que ao cinema de arquivo, este debate diz respeito à própria natureza da imagem, e aos seus usos políticos. “Que escolhas e implicações estão em jogo nesse gesto?” pergunta-nos a professora Andréa, enquanto o ar condicionado pinga no meio da sala.
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04.02.2020 | por Rita Brás
Este artigo surge do interesse pelo contexto de produção do cinema brasileiro contemporâneo, caracterizado por um redimensionamento dos aspectos políticos de sua atuação a partir de uma breve digressão sobre o cinema da Retomada até o filme O som ao redor. Analisaremos também o filme Vazante cujo tema abordado está contido no interior de rearranjos culturais do cinema contemporâneo tornando-se um filme importante para compreensão do atual contexto cultural e político no Brasil.
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19.02.2019 | por Michelle Sales
Uma onda de cinema negro é a grande novidade na história recente do cinema brasileiro, acentuando com originalidade e com tensões uma característica que se fazia notar nos últimos trinta anos, uma cinematografia de muita diversidade temática, de estilos e até regional. Entretanto, apesar desta multiplicidade de narrativas, esse mercado audiovisual se recusava a incorporar uma maior participação de cineastas, elenco, e o protagonismo da parcela negra, maioria populacional do país.
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04.04.2018 | por Joel Zito Araújo
É um tipo recente, mas que veio para ficar. Trata-se do cidadão brasileiro de pele negra, que procura ressaltar seus traços culturais africanos (ou que acredita ser africano) nas roupas, penteados etc. Os exemplos mais evidentes encontram-se na música popular (os blocos afro do carnaval de Salvador, Gilberto Gil, Carlinhos Brown), já ironizados em programas humorísticos da televisão (Arnaud Rodrigues e Chico Anísio fazendo Baiano e os Novos Caetanos, ou as charges do programa Casseta e Planeta).
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20.03.2012 | por João Carlos Rodrigues
Tenho um projeto estético de criar cada vez mais histórias que estejam, de alguma forma, ligadas à história e à cultura afrodescendente. Acho que temos um universo rico, pouco trabalhado no cinema brasileiro. Considero que a cultura brasileira traz, dentro de si, especialmente no seu comportamento afetivo e sexual uma enorme herança africana e indígena. Ou se vive da influência ou se vive da recusa, mas consciente ou inconscientemente estamos sempre relacionados a essa herança. Trazer isso para os filmes é uma tarefa que considero fascinante.
Cara a cara
08.08.2011 | por Sumaya Machado Lima