Grita Colômbia

Grita Colômbia A Colômbia está há 34 dias nas ruas, em protesto fogo-vivo contra um sistema político, económico e social decadente. A repressão das forças policiais matou até hoje 43 pessoas. Centenas desapareceram, milhares foram presas arbitrariamente. A luta contra a desigualdade e a pobreza continua, em estado de alerta. Operários, camponeses, indígenas, estudantes e uma classe média cada vez mais vulnerável gritam lado a lado. Dia após dia, a Colômbia exige um novo rumo.

31.05.2021 | por Pedro Cardoso

Fantasmas do Império

Fantasmas do Império Por uma simplicidade de categorização Fantasmas do Império é um filme pós-colonial mas ao testemunhar no presente o que foi um determinado passado e ao constatar que o presente está cheio desse passado, ele tem toda a força de um filme de luta anti-colonial, situado num mundo que nos é contemporâneo. Um mundo em que os vestígios do passado que permeiam o nosso presente sob a forma de fraturas, são objeto de um trabalho simbólico que começa a produzir novas formas híbridas e cosmopolitas de cultura próprias de um novo tempo pós-colonial, transnacional e pós-migratório.

30.05.2021 | por António Pinto Ribeiro e Margarida Calafate Ribeiro

De volta a Lisboa: celebrar Dylan, e os excrementos dos pássaros

De volta a Lisboa: celebrar Dylan, e os excrementos dos pássaros Escrevo para tentar explicar melhor os estados de transição entre as coisas, as pessoas, as canções, os desejos, e distraio-me lembrando-me só de gentilezas. Creio que na vida, a felicidade vai e vem. Engendramos verdades absolutas para nós porque achamos que podemos confiar de repente em alguém, para brincar com as possibilidades, despreocupadamente, até que de repente nos apercebemos da fragilidade das coisas. Afinal o meu país não é meu, afinal o som da minha voz não diz nada sobre mim.

28.05.2021 | por Rita Brás

O jardim da Praça do Império e os fiéis jardineiros do colonialismo

O jardim da Praça do Império e os fiéis jardineiros do colonialismo Para desgosto dos mestres-jardineiros da outrora capital do império, a “inconstância da alma indígena” foi e será a autodeterminação de quem se quer recusar a ser talhado pelo poder colonial-racista. Vale lembrar que os cravos de abril não teriam existido sem essa preciosa determinação.

22.05.2021 | por Bruno Sena Martins

Num Semba Poema, Num Semba Canção, Num Semba Ação: Escuta das Comunidades de Práticas do Semba enquanto Património Imaterial

Num Semba Poema, Num Semba Canção, Num Semba Ação: Escuta das Comunidades de Práticas do Semba enquanto Património Imaterial Angola entrou para a lista do Património Mundial da Humanidade em 2017, com a inscrição de Mbanza Congo, na Lista do Património Mundial da UNESCO como paisagem cultural pré-colonial. Esse momento marca a entrada de Angola na corrida patrimonial gerida de forma supranacional pela UNESCO. Em 2018, a Ministra da Cultura de Angola avançou com a vontade de começar o processo de patrimonialização do semba com ecos na imprensa angolana e para satisfação dos músicos e sembistas.

11.05.2021 | por André Castro Soares

Um ecrã em mil tons de branco

Um ecrã em mil tons de branco Discriminação é um sinónimo de violência. É uma violência de contornos específicos, focada na diferença entre um sujeito e o outro, e o espaço que fica reservado a cada um. Esta operação premeditada de diminuir alguém com base na sua pertença está presente em quase todos os recantos da sociedade portuguesa. Estas dinâmicas de opressão estão bem entrelaçadas na estrutura do sistema, mas é na comunicação que são validadas e disseminadas.

10.05.2021 | por Rute Correia

Como história de amor e piratas: os 50 anos de “As Veias Abertas da América Latina”

Como história de amor e piratas: os 50 anos de “As Veias Abertas da América Latina” Nos anos 70, o livro “As Veias Abertas da América Latina”, do uruguaio Eduardo Galeano, foi uma bofetada às ditaduras da Operação Condor. A obra esmiúça 400 anos de saqueio dos recursos da região, desde a conquista europeia até à segunda metade do século XX. Uma história de depredação para explicar o ciclo de pobreza e exclusão da América Latina.

01.05.2021 | por Pedro Cardoso

Diário de um etnólogo guineense na Europa (dia 7)

Diário de um etnólogo guineense na Europa (dia 7) É assim, os tugas disseram que o 25 de Abril de 1974, foi o dia da Revolução d’Escravos, que os capitães do Abril foram tomar o poder lá na Grândola da Vila Morena, porque o povo ordena. Na verdade, o povo nada ordena, o povo é ordenado, porque os tugas não conseguem fazer nada por si mesmos, precisam sempre e têm mania de capitães, os quais adoram e até lhes fazem estátuas. Quando chegaram ao Brasil tinham um capitão, à Guiné, outro capitão, ao Moçambique, mais um capitão, e na Madeira é o Cristão Ronaldo o capitão.

26.04.2021 | por Marinho de Pina

Cultura e Educação em Cabo Verde

Cultura e Educação em Cabo Verde Cabo Verde é um arquipélago rico a nível cultural, mas subaproveitado a todos os outros níveis. Temos, ao longo do tempo, ficado órfãos dos grandes embaixadores da nossa cultura. Passo a citar alguns nomes: Ildo Lobo, Cesária Évora, Bana, Katchas, Codé di Dona, Nha Nacia Gomi, Bibinha Cabral, todos eles no panorama musical. Pouco ou quase nada sabemos sobre a forma como muitos deles sentiam, viviam, ou sobre o que os levou a enveredar pelo caminho da música e, sobretudo, quais as suas fontes de inspiração. Todas estas perguntas ficaram sem uma resposta.

12.04.2021 | por Ednilson Leandro Pina Fernandes

Incêndios e Vítimas: Uma primeira abordagem à Pós-Memória no Pós-Conflito Colombiano

Incêndios e Vítimas: Uma primeira abordagem à Pós-Memória no Pós-Conflito Colombiano Num recente texto de opinião, publicado em Outubro de 2020, Ricardo Silva Romero (Bogotá, 1975), um dos mais importantes escritores e colunistas da imprensa da Colômbia hoje, refletia sobre o lugar da sua geração na – infelizmente duradoura – história da violência colombiana.

10.04.2021 | por Felipe Cammaert

Ekwikwi V, Reino do Mbalundu… Porquê destituição do “Rei”?

Ekwikwi V, Reino do Mbalundu… Porquê destituição do “Rei”? O debate sobre a retradicionalização do poder das autoridades tradicionais endógenas angolanas torna-se cada vez mais estimulante a partir do caso da “realeza do Bailundo”, cujo apogeu anedótico da destituição do rei marca o início de 2021. Os acontecimentos de Ekwikwi V são uma oportunidade para aprofundar as reflexões já iniciadas, quer em fóruns oficiais, quer em ambientes académicos.

10.04.2021 | por Armindo Jaime Gomes

Portugal, raça e memória: uma conversa, um reconhecimento

Portugal, raça e memória: uma conversa, um reconhecimento Hoje, encontramo-nos ainda em pleno processo de aprendizagem. A invisibilidade pode omitir e silenciar, mas não pode extinguir. E sim, podemos “desaprender” o colonialismo; mas primeiro, para que assim seja, as suas marcas e efeitos terão de ser confrontados. A desmemória do colonialismo é uma doença política - uma doença para a qual ainda não foi encontrada a cura. Ao contrário das palavras proferidas pelo assassino de Bruno Candé, não existem mais senzalas às quais se possa regressar. Mas, alinhado com o tema que hoje nos trouxe aqui, “reckoning”, ou reconhecimento, para se desaprender o colonialismo, e para que nos descolonizemos a nós próprios, assim como ao mundo à nossa volta, o passado tem de ser confrontado.

05.04.2021 | por Patrícia Martins Marcos

O existencialismo com Jean-Paul Sartre

O existencialismo com Jean-Paul Sartre Em relação ao existencialismo, o francês achava que este não era mais do que uma tentativa de visualizar todas as consequências do comportamento humano a partir de um ateísmo cerrado e firme. Assim, partia do princípio da ação independente e auto-responsável do ser humano como um ser consciente, em que o resultado desse conjunto de ações e de vivências formariam aquilo que seria a sua verdadeira essência.

16.03.2021 | por Lucas Brandão

A poesia vanguardista de Paulo Leminski, um dos poetas mais importantes do Brasil

A poesia vanguardista de Paulo Leminski, um dos poetas mais importantes do Brasil Em 55 anos de vida, Paulo Leminski deixou um legado único e sui generis, que o posicionou como um dos poetas mais vanguardistas do Brasil, enquanto os cânones ainda eram muito respeitados. De poeta a tradutor, crítico literário e professor, a sua predileção pela cultura japonesa levou-o a ser um judoka e a apaixonar-se pelos haikais (a poesia curta japonesa composta somente por uma estrofe de três versos — o primeiro e o terceiro com cinco sílabas métricas e o segundo com sete —, que resulta da junção de “hai” — brincadeira — com “kai” — harmonia ou realização).

16.03.2021 | por Lucas Brandão

O processo de dez pessoas acusadas de apoio ao MPLA, em março de 1971

O processo de dez pessoas acusadas de apoio ao MPLA, em março de 1971 Há 50 anos, 30 de Março de 1971, os três juízes do Tribunal Plenário de Lisboa - Fernando António Morgado Florindo, Bernardino Rodrigues de Sousa e João de Sá Alves Cortês - ditavam a sentença de um processo de dez pessoas acusadas de apoio ao MPLA, Movimento Popular de Libertação de Angola. A presença entre os arguidos do Presidente de Honra do MPLA, Padre Joaquim Pinto de Andrade – antigo chanceler da arquidiocese de Luanda e, à data da prisão, a frequentar a Faculdade de Direito de Lisboa – garante a curiosidade internacional e há na sala delegados da Amnistia Internacional, Associação Internacional dos Juristas Democratas, Liga Belga dos Direitos do Homem, Federação Internacional dos Direitos do Homem e Associação Internacional dos Cristãos Solidários.

13.03.2021 | por Diana Andringa

Jornal 'O Negro' - edição comemorativa do 110º aniversário

Jornal 'O Negro' - edição comemorativa do 110º aniversário O Negro ergueu-se contra «iniquidades, opressões e tiranias», exigiu da 1ª República o fim da desigualdade racial, reivindicou uma África que fosse «propriedade social dos africanos» e não retalhada pelas nações e pessoas que a conquistaram, roubaram e escravizaram.

09.03.2021 | por Cristina Roldão, Pedro Varela e Falas Afrikanas

Os rituais públicos no império português

Os rituais públicos no império português Rituais públicos como casamentos, aniversários e funerais de reis e da família real, celebrações religiosas, procissões, embaixadas, entradas solenes, entre outros, tiveram um papel fundamental na construção do governo do império português nos séculos XVI-XVIII. Mas por vezes foram também espaços de negociações, tensões e conflitos.

03.03.2021 | por Sara Ceia e Joana Fraga

"Pode a subalterna tomar a palavra?" — Prefácio

"Pode a subalterna tomar a palavra?" — Prefácio O conceito de subalterno/subalterna desempenha uma função estratégica na argumentação de Spivak, neste e nou­tros textos. Trata-se de um conceito originado na reflexão de Antonio Gramsci sobre «a questão do Sul» e que, no contexto indiano, foi adoptado pelo Subaltern Studies Group, de ins­piração marxista, a que Spivak esteve associada, mas do qual viria a demarcar-se. Entre outros aspectos desta demarcação, a crítica desconstrutivista à noção de sujeito desempenhou um papel fundamental: o subalterno/a subalterna definem-se, não enquanto classe, no sentido marxista convencional, mas sim pela posição não-hegemónica que ocupam no seio das relações de poder.

01.03.2021 | por António Sousa Ribeiro e Gayatri Chakravorty Spivak

O Kit de Sobrevivência do Descobridor Português no Mundo Anticolonial

O Kit de Sobrevivência do Descobridor Português no Mundo Anticolonial A COLÓNIA é a versão colonial portuguesa do Monopólio. Capaz de destruir as melhores amizades e ser efetivamente a origem de brigas acesas entre os participantes, a COLÓNIA continua a ser jogada por milhões de pessoas em Portugal e outros lugares. O objetivo do jogo consiste em reconstruir o império geográfico, religioso e espiritual português e evitar a perda dos territórios. Ao contrário do Monopólio, não há perdedores. A COLÓNIA é um jogo de vencedores. A duração do jogo depende inteiramente do grau da dedicação dos participantes.

28.02.2021 | por Patrícia Lino

Nii Ayikwei Parkes, o renascimento da literatura Ganesa

Nii Ayikwei Parkes, o renascimento da literatura Ganesa A literatura do Gana nunca foi uma referência no continente. A sua pequena produção foi sempre considerada pequena quando comparada com as cenas frutíferas dos seus países vizinhos. Estar situado entre o Togo e a Costa do Marfim e demasiado perto do gigante Nigéria não ajudou ao desenvolvimento da literatura ganesa. Demasiado talento à volta e muito pouco interesse entre a sua população, que dificilmente pode aceder a livros publicados, não por falta de meios, mas devido à ausência dos mesmos. Em suma, até há cinco anos, a cena literária do Gana era pouco mais do que um terreno baldio. Mas o Gana está, finalmente, a despertar da letargia cultural que o assola desde o final dos anos 80, e a literatura não é excepção.

25.02.2021 | por Javier Mantecón