O ocidente é um hospício, um receptáculo consciente e premeditado da magia preta. Cada desaparecimento é um registro. Isso é ressureição. Insurreição. Espalhe a magia preta, mas espalhar ou dispersar não é admitir a informidade. O som posterior é mais do que uma ponte. Ele rompe a interpretação mesmo quando o trauma que registra desaparece. Amplificação de um semblante arrebatado, retrato acentuado. Não há necessidade de descartar o som que emerge da boca como uma marca de separação. Sempre foi o corpo inteiro que emitiu o som: instrumento e dedos reclinados.
A ler
04.10.2024 | por Allende Renck
Hoje o Rei não vai estar. Não foi requerido. Mais logo no Palácio Presidencial da Cidade do México, a tomada de posse de Claudia Sheinbaum como presidente do país latino-americano não vai ter na assistência o enjoado Felipe VI a olhar com nostalgia para os céus da antiga Nova Espanha. A recusa de Sheinbaum em convidar o monarca por uma “ofensa da Casa Real espanhola à soberania e ao povo do México” está a obrigar Espanha a confrontar-se com as suas próprias lutas internas.
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30.09.2024 | por Pedro Cardoso
A Espanha abre a boca para falar que, ao longo dos séculos, os dois países compartilharam uma herança comum e um relacionamento cultural e histórico que transcendem os episódios da colonização. Transcendem como? É muito conveniente para o país europeu (e para a Igreja Católica) a postura de bom gentio de outrora, quando governantes – desculpem o meu francês – abriam as pernas para os antigos colonizadores, perpetuando após a independência a mesma posição de vassalagem.
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27.09.2024 | por Gabriella Florenzano
Ruy Duarte de Carvalho colocou todas estas aptidões ao serviço da compreensão e defesa das comunidades pastoralistas nómadas do Sul de Angola. Nesta missão, não o movia nenhum tipo de nostalgia romântica pelo passado, mas antes o reconhecimento da perfeita adequação das práticas dos pastores ao seu meio ambiente semidesértico, bem como da fragilidade deste modo de vida perante o avanço da ocidentalização. Do seu ponto de vista periférico em Angola, Ruy Duarte de Carvalho compreendeu as profundas ligações entre colonialismo, modernização, nacionalismo, identidade, progresso, ecologia e tecnologia, bem como a lógica por detrás da difusão da ideologia do progresso.
Ruy Duarte de Carvalho
25.09.2024 | por Alexandra Santos
Hoje já não sei o que dessa recusa é consciente ou inconsciente. Sei é que as razões angolanas continuam a arrepiar-me e as razões portuguesas me deixam perfeitamente indiferente, desde que não impliquem as razões angolanas. Isto, para mim, é uma evidência. Não decorre de nenhuma elaboração mental, ou de uma qualquer afirmação de ordem política.
Ruy Duarte de Carvalho
24.09.2024 | por Maria João Seixas
Tudo o que se faz em teatro é fictício, e a ficção identifica-se com a artificialidade. O artificial hoje, na medida em que o teatro procura ter o seu mundo, já não cria aquela ilusão de uma mensagem homenageante, uma linguagem de favorecimento do poder ou do anti-poder.(...) Uma bela história sequencial apenas nos embala e, enquanto espectadores, deixamos de ser activos. Em geral, hoje os textos estão a fugir do processo de narratividade.
Cara a cara
24.09.2024 | por Marta Lança
Por Cláudia Simões, Bruno Candé, Daniel Rodrigues, Danijoy Pontes, Giovani Rodrigues, Mumia Abu Jamal e todas as pessoas que ainda hoje enfrentam a brutalidade dos poderes capitalista, fascista, xenófobo, patriarcal, racista, afrofóbico e neocolonial.
Pelo direito de existir, resistir, circular e habitar.
Pelo trabalho digno, sobretudo das mulheres que trabalham no setor das limpezas.
Mukanda
20.09.2024 | por vários
As canções originais que compõem o espetáculo são outro ponto forte do projeto. Cada uma delas nasce de um contexto específico, de observações do quotidiano e de reflexões sobre a vida. São músicas que dialogam diretamente com as questões de identidade e polinização cultural, criando uma ponte entre o passado e o presente. “Acreditamos que, por isso, conseguimos tocar o público e ligar-nos às nossas experiências comuns”, referem.
Palcos
17.09.2024 | por André Soares
No Manifesto apresentado no Festival de Cinema de Berlim, os líderes indígenas reclamavam: “Mais pajés, mais Céu, mais espíritos, mais floresta, mais vida. Menos ódio. Menos intolerância. Menos racismo.” E deixavam claro que “precisamos superar a impossibilidade de conviver em igualdade nas nossas diferenças, e passar a partilhar o mundo com outros seres vivos, outros viventes, viver e se olhar e se reconhecer no olhar do outro, com reciprocidade, com respeito aos humanos e respeito também aos não-humanos, uns ao lado dos outros, vivendo juntos em nossas diferenças”.
Afroscreen
17.09.2024 | por Anabela Roque
Então se nos perguntam porque escrevemos, respondemos, desde a nossa povoada e frutífera solidão: escrevemos para darmos um sentido ao fracasso, pois, conhecer o inferno, exige-nos que também o apontemos com sujo dedo indicador (de remexer nas escórias da vida), num idioma tão precário e duradouro como a poesia, que tresanda a sangue e horrores, e existe não para convencer, mas porque é da sua livre natureza existir.
A ler
16.09.2024 | por José Luiz Tavares
A dialéctica partido/movimento de matriz cabraliana/cabralista e que propugna uma ampla e massiva base social de apoio aliada a critérios cada vez mais rigorosos, dos pontos de vista ético-moral e político-ideológico, para a selecção dos militantes entre os “melhores filhos do povo” para a edificação de um partido meritocrático verdadeiramente de vanguarda, parece ter influenciado, ainda que de forma involuntária e inconsciente, a dinâmica da construção do MpD como um amplo e emergente movimento (curiosa e consabidamente, póstumo à Abertura Política Democrática de 19 de Fevereiro de 1990) de estridente contestação do regime caboverdiano de partido único socializante, incensado por Carlos Veiga como o maior movimento popular até hoje surgido em Cabo Verde,
A ler
16.09.2024 | por José Luís Hopffer Almada
Muita gente se declarou de “alma lavada” com a agressão de Datena em Marçal. O discurso de ódio tem o poder de despertar o pior não só naqueles que corroboram com ele, mas também naqueles que discordam veementemente e que, de tão ultrajados, acabam por também cair na barbárie. Datena, mesmo se ainda não ostentasse cabelos brancos da experiência e quase meio século de carreira, jamais poderia ter agido através da violência. Para agravar, ainda publicou nota admitindo o erro porém dizendo não se arrepender. Se aqueles que se propõem a representar o povo não procederem através e não confiarem nas instituições de justiça, que futuro terá o país além do caos?
Cidade
16.09.2024 | por Gabriella Florenzano
É preciso voltar a olhar para o que está presente e ver os futuros que brotam, a abundância da qual pode provir o futuro. Para deixar em aberto as suas possibilidades, instalemo-nos no presente quotidiano, naquilo que está mais à mão de semear. Sejamos permeáveis ao que vive, quer viver e contraria a ausência de futuro. O que pode romper com o “realismo”, essa espessa cortina que oculta as possibilidades de futuro.
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14.09.2024 | por Liliana Coutinho
Todos nós éramos
todos nós fomos
espelhos quebrados
alquebrados reflexos falantes
das deambulações dos nossos parentes
embarcados dos nossos familiares
emigrados no vasto mundo
dos seus eventuais encontros
com o filho mais velho
do professor Juvenal Cabral
e da costureira Iva Évora
desde há muito banido
das menções expressas na roda
das pessoas comprometidas
com o bem da nação
valente e imortal
por isso tão somente
sussurrado na sua
omnipresente ausência
e cumplicemente apelidado
como Aquele Homem
ou melhor dito e falado
como o Homem Grande
Mukanda
12.09.2024 | por José Luís Hopffer Almada
A Conferência foi muito boa, vamos ver a prática. Foi também um grande triunfo para o nosso Partido, para o nosso povo e a luta. No final, falei em nome de todos os ML, e toda a gente gostou imenso do meu discurso. Depois te contarei. Tive contacto com vários chefes de Estado, inclusive com o Imperador. Vou seguir amanhã muito cedo via Roma, e irei certamente a Stockholm por um ou dois dias, a fim de arrumar o problema da ajuda. Conto estar em casa dentro de uma semana, passando por Dakar. Escreve-me, se puderes.
Mukanda
11.09.2024 | por Amílcar Cabral
Apelamos a todas as pessoas, coletivos e demais forças da sociedade portuguesa e comunidade internacional que se juntem a nós na exigência de revogação da sentença e de reparação da violência infligida pela polícia e pelo sistema judicial a Cláudia Simões. Neste momento, em que ela se prepara para recorrer da decisão, a solidariedade de todes é indispensável, com Cláudia Simões e com todas as vítimas de violência policial e do estado.
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05.09.2024 | por vários
Na verdade, não é a qualquer escritor que acontece, como a Uanhenga Xitu, a criação de um personagem literário que extrapola a própria literatura e o seu criador, como é o caso desse Mestre Tamoda, para tomar vida própria e se entranhar na carne e no quotidiano dos seus leitores como um muito velho e bom Amigo, sempre disponível e presente, sem jamais trair ou melindrar, enfim, um desses Amigos que a Vida tão poucos nos dá.
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04.09.2024 | por Zetho Cunha Gonçalves
Não podemos permitir que instrumentalizem a cidade de Guimarães e a tornem o centro do ódio para legitimar e normalizar ideologias racistas. Assim, as pessoas de Guimarães, assim como as associações e os coletivos de Guimarães e do país inteiro, estão unidas na realização da Marcha Guimarães pela Liberdade, para assinalar e celebrar a República e assegurar que, quer Guimarães, quer o resto do país não são racistas e não compactuam com a instigação ao ódio e à segregação social.
Mukanda
26.08.2024 | por vários
Todo este manancial de informações e interpretações desemboca num estuário instigante. A conclusão a que chega o autor, após as razões expostas ao largo do ensaio, é de que “a democracia ainda não conseguiu expurgar a sociedade portuguesa da estigmatização social de que os negros continuam a ser alvo”.
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26.08.2024 | por Márcio Catunda
Foi há quase três meses. A 10 de Junho, pela primeira vez na história, a justiça norte-americana condenou uma multinacional daquele país por violação de direitos humanos fora dos EUA. A sentença contra a Chiquita Brands confirmou a responsabilidade do gigante bananeiro pelo assassinato de oito camponeses colombianos por paramilitares, nos anos 90. A decisão do tribunal da Flórida abre agora passo à punição de multinacionais pelas décadas de abusos na América Latina. Pelo caminho, revive fantasmas de massacres antigos.
Jogos Sem Fronteiras
23.08.2024 | por Pedro Cardoso