O Projecto Ágora no Cacém

O Projecto Ágora procura promover a consciencialização política, a participação no debate e a formação em cidadania. A primeira sessão terá lugar no espaço da Universidade Sénior Intergeracional de Agualva e Mira Sintra (Travessa da Capela, 2), às 19h30 de sexta-feira, 7 de Novembro de 2025. Contará com a presença especial da activista e poetisa Vânia Andrade.

Sexta-feira, 7 de Novembro às 19h30 Local: Espaço da Universidade Sénior Integeracional de Agualva e Mira Sintra (USIAMS) na Travessa da Capela, 2 2735-521 Agualva-Cacém

Nota: A sessão será gravada para fins de registo e divulgação do projeto. 

05.11.2025 | por martalanca | agora, Vânia Andrade.

Apresentação de "Virá que eu vi, Amazónia o cinema" e exibição de filmes, em Braga

Apresentação do livro, no dia 11 de novembro às 18h30 na Centésima Página, Braga, com a presença da autora, Anabela Roqueno âmbito de Braga 25, Capital Portuguesa da Cultura 2025. 

Projeção dos filmes: 

Ka’a zar ukyze wà - Os donos da floresta em perigo

Ano de Lançamento (Brasil): 2019 Realização: Flay Guajajara, Edivan dos Santos Guajajara e Erisvan Bone Guajajara. A Terra Indígena Araribóia (MA) é uma das mais ameaçadas da Amazónia. É o território do povo Guajajara e também de um grupo de indígenas, os Awá Guajá. O filme é um alerta e pedido de socorro dos Guajajara pela proteção das florestas e de seus parentes Awá Guajá, um dos últimos povos caçadores e coletores do mundo, cujo modo de vida depende essencialmente da floresta e, se a destruição continuar, está com os dias contados.  

Zo’é rekoha – Modo de vida zo’é

Realização: Lia Malcher. Narrado pelas vozes de Tokẽ, Se’y, Awapo’í e Supi, quatro lideranças do povo indígena Zo’é, o documentário “Zo’é rekoha – modo de vida zo’é” é a primeira produção do especial “Os povos se apresentam”, que traz conteúdos feitos em colaboração com pessoas e organizações indígenas para a Enciclopédia Povos Indígenas no Brasil [https://povosindigenas.org.br], do Instituto Socioambiental (ISA). Fruto de uma parceria com a Tekohara Organização Zo’é e com Instituto Iepé [https://institutoiepe.org.br], o vídeo abre uma nova janela de comunicação com o mundo zo’é, apresentando, em primeira pessoa, o território, os cantos, as festas, o artesanato, as roças e casas desse povo de língua tupi-guarani que vive no Norte do Pará.   

Primeiro livro da coleção Buala /Tigre de Papel

PREFÁCIO Ellen Lima Wassu IMAGEM  João Salaviza CAPA Ágata Ventura.
Virá que eu vi, a Amazónia no Cinema, de Anabela Roque 

“Procurei escrever sobre filmes cuja temática permitisse uma reflexão sobre a Amazónia e, entre estes, aqueles que dedicam especial atenção às cosmologias indígenas. O meu objetivo é evidenciar a diversidade de modos de fazer cinema na região, traduzidos em narrativas enraizadas nas realidades locais, capazes de resgatar ou expor fatos históricos, culturais e ambientais dos diferentes territórios do bioma.” Anabela Roque.

Ler a introdução do livro.

 

05.11.2025 | por martalanca | amazônia, Amazónia o cinema, Braga, Virá que eu vi

Mulheres na Luta Contra o Fascismo e o Colonialismo

Pela primeira vez em Portugal, o Congresso Mulheres na Luta contra o Fascismo e o Colonialismo juntou, em 2024, vozes fundamentais da memória histórica das mulheres que lutaram contra o fascismo em Portugal e contra o colonialismo nos países africanos de língua portugueses - académicas, militantes e activistas, testemunhas vivas da memória da luta das mulheres e das suas organizações que estiveram, e continuam a estar, na vanguarda do desenvolvimento, do pensar e transformar da(s) sua(s) sociedade(s).
Nos 50 anos do 25 de Abril e das independências das colónias portuguesas em África, as discussões agora publicadas neste livro demonstram a convergência entre a resistência antifascista em Portugal e os movimentos anticoloniais e pela independência em Africa. A literatura, as cartas clandestinas, a organização comunitária e militante, mas também dados concretos sobre a realidade da vida e do quotidiano das mulheres, emergem como ferramentas da sua resistência, revelando como as mulheres não só combateram a violência da colonização e do fascismo, mas estão também a construir novas identidades políticas e culturais.
Um projecto promissor de articulações na senda de Abril.

 

05.11.2025 | por martalanca | colonialismo

Biblioteca Negra

Lançamento Oficial: 7 de novembro às 19h | Casa do Comum Link: www.bibliotecanegra.pt II @biblioteca__negra

A Casa do Comum acolhe dia 7 de novembro o lançamento da Biblioteca Negra, uma nova plataforma online que se afirma como espaço de encontro entre literatura, diáspora e negritude. Concebida por Fábio Silva — realizador e doutorando em Estudos Artísticos —, a Biblioteca Negra nasce como um território vivo de partilha e criação, onde livros, autores e leitores se cruzam para ampliar o imaginário da presença negra.

Mais do que um repositório digital, a Biblioteca Negra propõe uma leitura da história através das vozes que a reescrevem, reunindo obras que exploram temas de negritude, identidade, colonialismo, memória e resistência. O projeto afirma-se como um gesto de visibilidade e valorização de narrativas afrodescendentes, assumindo a literatura como ferramenta de transformação social.

A festa de lançamento traduz esse espírito através da palavra, da música e do movimento. A noite começa com Poetry Slam, em que Poeta da Cidade convida Kenny Caetano para uma performance de palavra viva. Segue-se um círculo de conversa moderado por Fábio Silva, com as escritoras Maíra Zenun, Telma Tvon e Nuna, que partilham reflexões sobre o papel da escrita, da arte e do ativismo na criação de novos futuros. O encerramento será em tom de celebração, com atuações de Batida, André Cabral e Fábio Krayze (DJ Robe).

Com este lançamento, a Biblioteca Negra dá início a uma plataforma de reconhecimento e diálogo contínuo, dedicada a afirmar e valorizar a produção literária negra e afrodescendente.

Fábio SilvaFábio Silva

Sobre o Projeto

A Biblioteca Negra nasce como um espaço de celebração, memória e resistência.

Dedicada à literatura negra e afrodescendente, propõe-se a reunir, divulgar e valorizar obras, autores e autoras que exploram temas como identidade, colonialismo, diáspora, pertença, ancestralidade e liberdade.

O projeto conta com o apoio de Casas Parceiras — espaços comunitários, coletivos e culturais onde é possível doar, trocar ou aceder a livros, promovendo uma circulação viva entre leitores, territórios e histórias.

O seu propósito é dar visibilidade a vozes e obras historicamente silenciadas, criando um espaço de partilha, escuta e aprendizagem.
A Biblioteca Negra convida-nos a repensar o arquivo literário, tornando-o mais plural, inclusivo e representativo.

Biografia

Fábio Silva (Lisboa, 1992) fez mestrado em Cinema na Escola Superior de Teatro e Cinema. Em 2018 co-realiza o seu primeiro filme, o Hip to da Hop. Realiza as curta-metragens A Morte de Isaac e Fruto do Vosso Ventre, ambas selecionadas em vários festivais nacionais e internacionais. Atualmente trabalha na sua próxima longa documental intitulada de As Tuas Costas Ainda Ardem.

Contactos

bibliotecanegra.oficial@gmail.com 

 

04.11.2025 | por martalanca | biblioteca negra, Fábio Silva

Recursões: uma cartografia de territórios inacabados, com curadoria de Kiluanji Kia Henda e Margarida Waco

No dia 15 de novembro, a partir das 17h, a Galeria Municipal do Porto (GMP) inaugura um novo ciclo de exposições com três propostas distintas. Em destaque estarão o trabalho da dupla Mariana Caló e Francisco Queimadela, uma exposição coletiva de Kiluanji Kia Henda com três artistas angolanos - Lilianne Kiame, Flávio Cardoso e Raul Jorge Gourgel -, e ainda uma mostra a dois tempos dedicada a Elvira Leite.

Com curadoria de João Laia, a exposição Estado de espírito constitui a mais ampla apresentação já dedicada a Mariana Caló e Francisco Queimadela. Com mais de 15 anos de trabalho, os artistas exploram o filme e o vídeo através de técnicas analógicas e digitais, integrando também fotografia, desenho e escultura. A exposição reúne uma vasta seleção de obras — algumas inéditas — que se articulam em torno da ideia de comunidade, entendida como diálogo entre cultura e natureza, e que aqui surge expressa em imagens de dinâmicas sociais ligadas a costumes, crenças, hábitos e ritos, evocando o trabalho no campo, a vida familiar, a oralidade e a espiritualidade ancestral. Estado de espírito pode ser visitada no piso 0 da Galeria Municipal.

No piso 1, ficará patente Recursões: uma cartografia de territórios inacabados, com curadoria de Kiluanji Kia Henda e Margarida Waco, com Flávio Cardoso, Lilianne Kiame, Raul Jorge Gourgel Centra-se no diálogo entre a obra de Kiluanji Kia Henda e três artistas angolanos — Flávio Cardoso, Lilianne Kiame e Raul JorgeGourgel — para refletir sobre as promessas, fracassos e ruínas da modernidade. A exposição é articulada pela ideia de recursão: um processo orgânico de retorno que compreende passadoe presente, marcado por movimentos recorrentes, inacabados e em constante mutação. Com fortes ligações ao território e à paisagem, as obras desenham ciclos de memória e especulação,propondo Angola como um arquivo vivo de imaginação coletiva.  Através de diferentes linguagens como a fotografia, a pintura, a instalação, o vídeo ou a performance, Recursões propõe um mapa que analisa o impacto atual das heranças coloniais. Superando narrativas históricas fixas, a exposição apresenta-se como uma bússola provisória que localiza um território de contornos instáveis a partir do qual novos horizontes podem emergir.

KKH, Rusty MirageKKH, Rusty MirageGourgel, An Ostrich Learns to Fly, 2023Gourgel, An Ostrich Learns to Fly, 2023

Já no piso -1, com curadoria de Matilde Seabra, a GMP apresenta Aprender a ensinar, ensinar a aprender com Elvira Leite. Revelando o universo singular desta artista, que também é figura incontornável na reinvenção do ensino das artes em Portugal, a exposição organiza-se em dois tempos: uma mostra de pinturas raramente vistas e uma recriação do seu atelier. O primeiro momento agrupa trabalhos de início de carreira em diálogo com uma seleção de obras recentes e inéditas, estabelecendo um diálogo entre figuração e abstração. O segundo momento transforma a galeria num espaço onde “se brinca” espacialmente com as geometrias, formas e desenhos dos seus livros-jogos, albergando também o seu arquivo, incluindo cartas, fotografias e objetos.

Com entrada gratuita, as exposições podem ser visitadas entre 15 de novembro e 15 de fevereiro, na Galeria Municipal do Porto, nos Jardins do Palácio de Cristal.

04.11.2025 | por martalanca | Galeria Municipal do Porto

Black Gaze – Mostra de Cinema Negro em Portugal

Ciclo de filmes / 08, 09, 15 e 16 nov

Esta mostra pretende dar a conhecer o Cinema Negro feito em Portugal nas últimas décadas e contribuir para o debate público em torno destes filmes e das muitas questões que suscitam.

Construídas em torno dos temas Entre-LugarMemória e AncestralidadeEcologia e FeminismoAntirracismo – Família e Rua, as sessões contam com a presença de cineastas para conversar com o público sobre as obras apresentadas. A seleção inclui obras de Denise Fernandes, Fábio Silva, Falcão Nhaga, Lolo Arziki, Melissa Rodrigues, Mónica de Miranda, Pocas Pascoal, Raquel Lima, Silas Tiny, Vanessa Fernandes e Welket Bungué.

O título deste ciclo, que tem curadoria de Kitty Furtado, parte da ideia de que to gaze não é o mesmo que olhar (to look), implica uma relação de poder assimétrico entre quem olha e quem é objeto desse olhar.

É possível adquirir um passe diário ou um passe geral, para além do bilhete individual de cada sessão.

Ler entrevista de Marta Lança a Kitty furtado.  VER PROGRAMA

Latitude Fénix (2024) © KUSSA productions / On Time Entertainment / Welket BunguéLatitude Fénix (2024) © KUSSA productions / On Time Entertainment / Welket Bungué

 


04.11.2025 | por martalanca | cinema negro, Kitty Furtado

Seminário “50 anos de independências. A descolonização portuguesa e os seus legados”

11/11/2025 14h00 • 18h00 Conferências e Cursos • Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril, CESOP Universidade Católica Portuguesa • Lisboa

O seminário «50 Anos de Independência. A Descolonização Portuguesa e os seus Legados» tem por objetivo aprofundar a reflexão em torno dos resultados da sondagem «50 Anos de Independências — A descolonização portuguesa e os seus legados», realizada pelo Centro de Estudos e Sondagens de Opinião (CESOP) da Universidade Católica Portuguesa, sob coordenação de João António e António Costa Pinto, em parceria com a Comissão Comemorativa 50 anos do 25 de Abril e a RTP. 

Com inquéritos conduzidos em Portugal, Angola e Cabo Verde, esta investigação inédita analisa como os cidadãos destes países percecionam hoje os processos de descolonização e os seus legados. 

O encontro reúne académicos e especialistas num espaço de reflexão plural sobre as memórias, significados e impactos duradouros da descolonização portuguesa, meio século após as independências. 

PROGRAMA:

14h00: Receção dos participantes 

14h30: Abertura institucional 

  • Representante da Reitoria (Universidade Católica Portuguesa) 
  • Comissária Executiva Maria Inácia Rezola
  • (Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril) 

14h45: Apresentação dos resultados  

  • António Costa Pinto (ICS-ULisboa; Universidade Lusófona) e João António (CESOP-UCP) 

15h30: Pausa para café  

16h00: Mesa-redonda 

  • Bernardo Pinto da Cruz (FCSH-NOVA)  
  • Edalina Sanches (ICS-ULisboa)  
  • Catarina Valdigem (FCH-UCP)  
  • Raul Tati (CIEP-UCP) 
  • Carlos Maurício (ISCTE-IUL) 

Moderação: António José Teixeira (RTP)  

18h00: Encerramento – Ricardo Reis (CESOP-UCP) 

03.11.2025 | por martalanca | seminário

Call Afro-Portugal

A Equipa Afro-Portugal convida a comunidade artística a submeter propostas para o programa de residências e exposição coletiva “O Nosso Lugar No Agora”, na Casa da Esquina.

Inspirada por James Baldwin — “The challenge is in the moment (…) the time is always now” — esta chamada reconhece o presente como espaço de ação, escuta e criação. A arte surge aqui como lugar de resistência, reimaginação e projeção de futuros.

Formulário Modalidade I. — Residências Artísticas https://forms.gle/XXF5cWrERAYcQX2n6

Formulário Modalidade II. — Exposição https://forms.gle/48DFggLGCGt5em3N9

Questões ou mais informações para info.afroportugal@gmail.com

Muito boa sorte a todes!

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The Afro-Portugal Team invites the artistic community to submit proposals for the residency program and collective exhibition “O NOSSO LUGAR NO AGORA” at Casa da Esquina.

Inspired by James Baldwin — “The challenge is in the moment (…) the time is always now” — this call recognizes the present as a space for action, listening, and creation. Here, art emerges as a place of resistance, reimagination, and projection of futures.

OPEN CALL Modality I. — Artistic Residency https://forms.gle/XXF5cWrERAYcQX2n6

OPEN CALL Modality II. — Exhibition https://forms.gle/48DFggLGCGt5em3N9

The application form and rules are available at the link in the bio.For any questions or information e-mail info.afroportugal@gmail.com

Good luck to everyone!

Co-produção / Co-production TAGVA Escola da NoiteCasa da EsquinaFundação Calouste Gulbenkian

02.11.2025 | por martalanca | Afro-Portugal

Lançamento Imaginários da Guiné-Bissau – o espólio de Álvaro de Barros Geraldo (1955–1975)

31 de outubro | 17h00 no Museu Nacional de História Natural e da Ciência, Lisboa
No ano em que se assinalam os 50 anos das independências das antigas colónias portuguesas em África, é lançada a publicação Imaginários da Guiné-Bissau, uma obra que propõe uma leitura crítica de um espólio fotográfico inédito, produzido na Guiné-Bissau entre 1955 e 1975.
O fotógrafo português Álvaro de Barros Geraldo (1922–1993), radicado na Guiné-Bissau desde meados dos anos 1950, registou de perto as tensões, transformações e ambiguidades de um período marcado pela guerra colonial e pelas lutas de libertação.
Este livro, tal como a exposição homónima, constitui um contributo fundamental para a reflexão sobre os legados do colonialismo português, a construção de identidades nacionais e a persistência de estruturas coloniais no presente.
Com textos de Catarina Mateus, Pedro Aires Oliveira, Inês Vieira Gomes e Catarina Laranjeiro, e um encarte de Marta Pinto Machado, esta publicação reúne perspetivas históricas, visuais e críticas para a problematização dos legados do colonialismo português.

28.10.2025 | por martalanca | Álvaro de Barros Geraldo, arquivo

Foco de Artista – Mónica de Miranda

 Mónica de Miranda é uma artista visual, cineasta e investigadora portuguesa com raízes em Angola, cujo trabalho explora as relações entre arte, política, memória e identidade. A sua prática interdisciplinar abrange desenho, instalação, fotografia, cinema e som, navegando entre o documentário e a ficção. Focada na resistência, memória e ecologias de cuidado, a investigação de Mónica de Miranda dedica especial atenção às dinâmicas do colonialismo e das geografias pessoais. É formada em Artes Visuais pela Camberwell College of Arts e doutorada pela Middlesex University. O seu trabalho tem sido reconhecido através de várias nomeações, exposições e a participação em importantes bienais internacionais, tendo representado Portugal na Bienal de Veneza com o projeto Greenhouse. Mónica de Miranda é também cofundadora do Hangar, um centro de arte e pesquisa em Lisboa.

No âmbito da exposição da artista Profundidade de Campo, apresentada na Galeria Municipal do Porto e na Escola das Artes da Universidade Católica do Porto, o Batalha dedica-lhe um foco, que integra uma sessão de cinema, uma conversa e o lançamento de uma publicação sobre a exposição.


Sessão seguida de conversa com Mónica de Miranda e Cindy Sissokho (curadora).


24.10.2025 | por martalanca | Monica de Miranda

Cinema e memória das independências em debate na 3ª edição dos Encontros do Património Audiovisual

A cidade de Maputo acolhe, entre 27 e 31 de Outubro, a terceira edição dos Encontros do Património Audiovisual, iniciativa que promove a reflexão em torno da memória cinematográfica dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP).

Com o tema O Cinema e as Independências dos PALOP, o encontro propõe revisitar o ambiente pré e pós-independência através de exposições, mostras de cinema, visitas guiadas, lançamento de livros, debates e workshops com investigadores nacionais e estrangeiros.

O evento, organizado pela Associação dos Amigos do Museu do Cinema em Moçambique (AAMCM), decorre no Cine-Teatro Scala, no Centro Cultural Franco-Moçambicano e no Centro Cultural Português.

Entre os destaques da programação estão as apresentações de livros das investigadoras portuguesas Raquel Schefer, Maria do Carmo Piçarra e Rosa Cabecinhas, e da brasileira Michelle Sales, além de workshops orientados pela cineasta Mila Turajlić (Sérvia/França) e pela brasileira Rosana Miziara. Pesquisadores de Moçambique, Portugal, Brasil, Alemanha e Estados Unidos também participam com artigos e comunicações.

As mesas redondas, com figuras como o guineense Sana na N’Hada, o cabo-verdiano Leão Lopes e o angolano Ery Claver, abordam temas como O Papel do Audiovisual nas Independências dos PALOP; Acervos e Projectos de Digitalização, que discute o arquivo como produto político; e Modos de (Re)Ver Moçambique, Objeto Fílmico e Activismo Cultural, com investigadoras portuguesas.

Um dos debates mais aguardados é sobre O poder do cinema na propaganda política: uma análise de Kuxa Kanema e Noticieros, Moçambique e Cuba, que contará com especialistas de Cuba, França, Portugal e Brasil, além de testemunhos de cineastas e pesquisadores moçambicanos.

O ciclo de debates encerra com a mesa Cinema, História e Ensino, que reúne nomes como Michelle Sales (UNICAMP – Brasil), Paulo Cunha (UBI – Portugal) e Inês Godinho (Lusófona - Portugal).

Diana Manhiça, da AAMCM, explicou que os debates serão realizados em formato híbrido, presencial e online, pretendendo ser um espaço de intercâmbio de ideias e investigação em torno do património audiovisual, com especial atenção ao papel do cinema na construção da memória das independências africanas, frisou.

Um dos pratos fortes dos Encontros do Património Audiovisual é a exposição que revisita a história do cinema nacional, através de fotografias documentais e arquivos audiovisuais. Com a curadoria da AAMCM, a mostra estará patente no Cine-teatro Scala, e assinala os períodos e os marcos históricos do cinema feito em Moçambique, com destaque para o marco dos 40 anos do filme O Tempo dos Leopardos.

Além disso, em paralelo nos CCFM e Cine-Scala, existirá espaço para um ciclo de cinema, com exibição de filmes históricos escolhidos a dedo e arquivos da Cinemateca Portuguesa nunca antes projectados em Moçambique.

Os Encontros do Património Audiovisual, que já vão na terceira edição, surgiram em 2023 e assinalam anualmente o Dia Internacional do Património Audiovisual, contando habitualmente com apresentações de artigos académicos, conversas com cineastas, técnicos e artistas visuais que trabalham com arquivos, debates sobre temas relacionados com os Direitos de Autor e sessões de cinema.

Este ano, o evento é financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian e apoiado pelo Centro Cultural Franco-Moçambicano (CCFM), pela Embaixada de França, através do programa FEF Création Africa, e pelo Institut Français, através do programa AOCA, e conta com o apoio institucional do Instituto Nacional das Indústrias Culturais e Criativas de Moçambique.

Consulte o Programa aqui ou nas redes sociais.

21.10.2025 | por martalanca | cinema, independências, Moçambique

"Virá que eu vi, Amazónia no Cinema", de Anabela Roque

Primeiro livro da coleção Buala /Tigre de Papel

PREFÁCIO Ellen Lima Wassu IMAGEM João Salaviza CAPA Ágata Ventura.
Virá que eu vi, a Amazónia no Cinema, de Anabela Roque 

“Procurei escrever sobre filmes cuja temática permitisse uma reflexão sobre a Amazónia e, entre estes, aqueles que dedicam especial atenção às cosmologias indígenas. O meu objetivo é evidenciar a diversidade de modos de fazer cinema na região, traduzidos em narrativas enraizadas nas realidades locais, capazes de resgatar ou expor fatos históricos, culturais e ambientais dos diferentes territórios do bioma.” 

Virá que eu vi, Amazónia no Cinema centra-se na análise de filmes - documentários e ficções - realizados na última década, entre os quais se destacam A Queda do Céu (2024), de Gabriela Carneiro da Cunha e Eryk Rocha; A Última Floresta (2021), de Luiz Bolognesi; A Flor do Buriti (2024), de Renée Nader Messora e João Salaviza; O Avesso do Céu (2023), de Maurício Dias e Walter Riedweg; Segredos do Putumayo (2020), de Aurélio Michiles; Amazônia, a nova Minamata? (2022), de Jorge Bodanzky; À Margem do Ouro (2022) de Sandro Kakabadze; Escute: A Terra Foi Rasgada (2023), de Cassandra Mello e Fred Rahal; A Invenção do Outro (2022), de Bruno Jorge; Somos Guardiões (2023), de Chelsea Greene, Rob Grobman e Edivan Guajajara; O Território (2022) de Alex Pritz; Empate (2024), de Sérgio de Carvalho; Antônio & Piti (2019), de Vincent Carelli e Wewito Piyãko; Noites Alienígenas (2022), de Sérgio de Carvalho; Uýra - A Retomada da Floresta (2022), de Juliana Curi e A Febre (2020), de Maya Da-Rin; entre outros. 

O livro destaca também alguns clássicos do cinema brasileiro, entre os quais Iracema, Uma Transa Amazônica (1974), de Jorge Bodanzky e Orlando Senna; Terceiro Milênio (1980), de Jorge Bodanzky e Wolf Gauer e Corumbiara (2009), de Vincent Carelli. No total, o livro faz referência a mais de cinquenta filmes, na sua maioria produções brasileiras, que revelam a complexidade da Amazónia através de diferentes territórios e comunidades. 

LER A INTRODUÇÃO NO  BUALA.  À VENDA NAS LIVRARIAS E NA TIGRE DE PAPEL 

Lançamento 16 de outubro, às 18h na Livraria Tigre de Papel

com a presença da autora, apresentação da jornalista Cristina Serra (remoto) e participação do biólogo Fernando Ascensão, moderação de Marta Lança.

Conversa em torno da Amazónia, a partir do livro de Anabela Roque, que reúne reflexões sobre o Cinema Amazónico, fruto da colaboração entre cineastas e povos da floresta. Os filmes retratam devastação ambiental, deslocamentos e resistência social, colocando a Amazónia como tema central e urgente. O debate sublinha o papel do cinema como aliado nas lutas ambientais e culturais e a força dos povos da floresta como vozes ativas na defesa do planeta.

Anabela Roque - Realizadora, jornalista e investigadora de cinema brasileiro. Colabora com o portal Buala.org e a revista digital Amazônia Latitude Humanidades Ambientais. Formada em Realização Cinematográfica pela Academia Internacional de Cinema (Rio de Janeiro). Estreou-se em realização, em 2017, com a curta Piano Forte; em 2018 lançou Sempre Verei Cores no Seu Cinza. Viveu no Brasil, onde colaborou com produtoras independentes do Rio e de São Paulo.

Cristina Serra - Jornalista e escritora amazônida, nascida em Belém do Pará, é jornalista e escritora. Trabalhou nos principais veículos de imprensa do Brasil e foi correspondente nos Estados Unidos pela Rede Globo. Tem quatro livros publicados, dois deles dedicados a questões ambientais, autora do livro Tragédia em Mariana. 

Fernando Ascensão - Biólogo e investigador em ecologia da paisagem, especializado em road ecology (os impactos de estradas e infraestruturas lineares sobre a fauna) bem como na avaliação da fragmentação do habitat e conectividade ecológica. Trabalha com infraestruturas de energia (como linhas de transporte e parques solares) num estudo que procura quantificar os efeitos dessas infraestruturas sobre populações e ecossistemas da Amazónia. 

15.10.2025 | por martalanca | Virá que eu vi, Amazónia no Cinema

Exposição Contra-feitiço de Denilson Baniwa

com show-performance-ritual de Brisa Flow e apresentação do Alkantara Festival
Curadoria de Ritó Natálio / Terra Batida
22 de outubro de 2025 (quarta-feira), 18h Galerias Municipais de Lisboa - Galeria Quadrum
Ao projetar a frase “Aqui é terra indígena” nas fachadas de vertiginosos arranha-céus na cidade de São Paulo ou numa galeria de arte em Lisboa, Denilson Baniwa manifesta a força da arte indígena contemporânea e dos seus gestos de contra-feitiço, enviando e confrontando mensagens do passado colonial com a atualidade dos debates e do espaço público.

Naquela que é a sua primeira exposição individual em Lisboa, o artista originário do povo Baniwa, nascido no Alto Rio Negro (Amazonas, Brasil), apresenta uma retrospetiva inédita do seu trabalho, bem como um conjunto de novas obras produzidas na capital portuguesa. Com um vasto reconhecimento internacional, o seu trabalho multiplica linguagens e cruza a pintura, a performance, o desenho e a intervenção digital para tensionar e questionar as narrativas hegemónicas sobre território e identidade, posicionando o seu direito à resposta. 

Denilson Baniwa, Guerra dos Mundos, série Caçadores de Ficções Coloniais, 2021 Denilson BaniwaDenilson Baniwa, Guerra dos Mundos, série Caçadores de Ficções Coloniais, 2021 Denilson Baniwa

O convite à apresentação desta exposição foi lançado pela Terra Batida, plataforma que, ao longo dos últimos dois anos, se dedicou a pesquisar acervos de comunidades indígenas do Brasil mantidos em museus e arquivos históricos e etnográficos em Lisboa e Coimbra. Para isso, atribuiu bolsas de criação e nutriu colaborações com vozes centrais da arte e do pensamento indígena contemporâneos, tais como Brisa Flow, Ellen Pirá Wassu, Juão Nyn, Lilly Baniwa, Olinda Yawar Tupinambá e Ziel Karapotó, que visitaram presencialmente essas coleções.

Contra-feitiço de Denilson Baniwa inaugura um gesto de partilha pública de um trajeto longo de diálogos e reflexões críticas sobre as políticas institucionais de desaparecimento, conservação e memória que atravessam e conectam Brasil e Portugal. 

No dia 22 de outubro, a inauguração da exposição conta, ainda, com show-performance-ritual de Brisa Flow, cantora mapurbe marrona que mistura o rap com cantos ancestrais, jazz, eletrónico e neo/soul. Mc da cultura hip hop e filha de artesãos araucanos, pesquisa e defende a música indígena contemporânea como uma ferramenta de combate ao epistemicídio.
Nesse mesmo momento, terá também lugar a apresentação do programa do Alkantara Festival 2025, coprodutor e parceiro regular da plataforma Terra Batida — e que acolherá, nos dias 15 e 16 de novembro, um ciclo de performances em diálogo com a mostra na Galeria Quadrum. 
Uma exposição de Denilson Baniwa | Curadoria Ritó Natálio | Terra Batida | Em colaboração com Laila Algaves Nuñez e Rafaela Campos | Show-concerto-ritual (vernissage) de Brisa Flow | Programa de performances Nosso Wayuri (Alkantara Festival) com Ellen Pirá Wassu & Ritó Natálio, Juão Nyn, Lilly Baniwa, Olinda Yawar Tupinambá & Ziel Karapotó | Pesquisa curatorial (2024) Ellen Pirá Wassu e Ritó Natálio | Diálogos em residência António Gouveia, Associação Batoto Yetu Portugal, Carla Coimbra, ECO - Animais e Plantas em Produções Culturais sobre a Bacia Amazónica, Jamille Dias, Karen Shiratori, Neil Safier, Museu Nacional de Etnologia, Museu Nacional de História Natural e da Ciência, Museu da Ciência da Universidade de Coimbra, Arquivo Nacional da Torre do Tombo | Direção técnica Ricardo Pimentel | Desenho expositivo Ricardo Pimentel, Denilson Baniwa e Ritó Natálio | Captação de imagem Violena Ampudia | Imagens adicionais Olinda Yawar Tupinambá, Ziel Karapotó, Jamille Dias, Laila Algaves Nuñez, Ritó Natálio | Edição Ian Capillé | Apoio gráfico Nayara Siler | Produção executiva Associação Parasita | Coprodução e acolhimento Alkantara Festival, Galerias Municipais / EGEAC | Direção de produção Catalina Lescano / Associação Parasita | Apoio administrativo Helena Baronet / Associação Parasita | Apoio à exposição de Denilson Baniwa The PIPA Foundation | Parceria EDGES – Entangling Indigenous Knowledges in Universities | Agradecimentos Carla Coimbra, Jamille Dias, Lysandra Domingues, Marta Lourenço

10.10.2025 | por martalanca | Denilson Baniwa

RAMONERA, da poeta muxe' Elvis Guerra, Lançamento com a autora em Óbidos e Lisboa

 

  A Embaixada do México em Portugal, o Folio Mais e as edições Orfeu Negro convidam para o lançamento do livro RAMONERA, de Elvis Guerra, no dia 11 de Outubro, Sábado, às 11h30, na Tenda Vila Literária, em Óbidos. Em Lisboa, a autora apresenta a obra na Casa do Comum, no dia 12 de Outubro, Domingo, às 16h. Em Óbidos e em Lisboa, Elvis Guerra estará à conversa com André Tecedeiro, poeta e artista plástico, e autor do posfácio a esta edição.

Ramonera é a primeira obra poética no catálogo das edições Orfeu Negro, e a primeira edição bilingue publicada em Portugal na língua indígena zapoteca e em português. Traduzida a partir da versão de Elvis Guerra para espanhol por Margarida Amado Acosta, conta com um posfácio de André Tecedeiro e ilustração de capa da autoria de Amanda Baeza.

 

Elvis Guerra é uma das convidadas em destaque desta edição do FOLIO, no âmbito da programação FOLIO Mais, com curadoria de Candela Varas, marcando presença em dois outros momentos do festival. A autora integra ainda a programação do BoCA — Bienal de Artes Contemporâneas, no dia 15 de Outubro, e participa na Noite da Literatura Ibero-Americana, no dia 16 de Outubro.

Toda a programação:

FOLIO Mais x Orfeu Negro | Óbidos
Sábado, 11 Out, 11h30, Tenda Vila Literária
Lançamento do livro de poesia RAMONERA, com Elvis Guerra e André Tecedeiro

FOLIO Mais | Óbidos
Sábado, 11 Out, 21h30, Livraria Artes e Letras
Sessão de leitura «À Volta do Fogo», com Maria Fernanda Ampuero, Fernanda Garcia e Elvis Guerra

Domingo, 12 Out, 11h30, Escola de Hotelaria
Conversa «Ramoneras, Marronas Libres, Insubmissas», com Elvis Guerra, Brisa Flow e Luna Vitrolira e moderação: Lizett Aceves e João Innecco

CASA DO COMUM x Orfeu Negro | Lisboa
Domingo, 12 Out, 16h, Livraria da Casa do Comum
Apresentação do livro de poesia RAMONERA, com Elvis Guerra e André Tecedeiro

BoCA — Bienal de Artes Contemporâneas | Lisboa
Quarta-feira, 15 Out, 19h30, Espaço BoCA
Leitura performativa em língua zapoteca por Elvis Guerra

Noite da Literatura Ibero-Americana | Lisboa
Quinta-feira, 16 Out, 18h, Biblioteca da Imprensa Nacional — Casa da Moeda
«Direito ao Presente», encontro com jovens poetas da Ibero-América, com Elvis Guerra (México), Roberto Saraiva (Angola), Valeria Sandi (Bolívia), André Osório (Portugal)

 
 
 
Ler um excerto aqui.
RAMONERA
Elvis Guerra

Tradução do espanhol
Margarida Amado Acosta
Posfácio
André Tecedeiro
Revisão
Guilherme Pires
Ilustração de capa
Amanda Baeza

1.ª Edição
Outubro 2025
112 pp. | 12,3 x 18 cm | 13,50 €
EAN 9789892252312

Nas livrarias de todo o país

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© Amanda Baeza
Elvis Guerra é uma poeta muxe’ de Juchitán de Zaragoza, no México, e tradutora de língua zapoteca. Através da sua obra indígena e cuir, reflecte sobre a dissidência de género e a etnicidade, propondo uma crítica da exclusão e da violência exercida sobre os corpos que se reconhecem em identidades não-binárias. É autora das obras Muxitán (2022), Ramonera (2019, Orfeu Negro 2025) e Xtiidxa’ ni ze’/Declaración de ausencia (2018). Traduziu do zapoteco o livro Guidiladi Yaase’ / Piel oscura, cuentos eróticos al zapoteco (2017). Em 2015 recebeu o prémio Casa Creación Literaria en Lengua Zapoteca e foi beneficiária do Fondo Nacional para las Culturas y las Artes. Os seus poemas estão traduzidos para espanhol, português, inglês, ayöök e sueco.

09.10.2025 | por martalanca | Ramonera

Cidade da Praia vai acolher a 13.ª edição do Encontro de Escritores de Língua Portuguesa

A cidade da Praia, em Cabo Verde, será palco, de 16 a 18 de outubro, da 13.ª edição do Encontro de Escritores de Língua Portuguesa (EELP), que este ano se realiza sob o tema “Independência, Literatura, Inteligência Artificial”. O evento é organizado pela UCCLA em conjunto com a Câmara Municipal da Praia.

A abertura oficial contará com a intervenção do Presidente da República de Cabo Verde, José Maria Neves, e o encerramento do ministro da Cultura e das Indústrias Criativas, Augusto Veiga.

O encontro reunirá escritores, investigadores, editores, professores, críticos literários e leitores de vários países e regiões do espaço lusófono, promovendo o diálogo em torno do tema em análise. O programa coloca a Inteligência Artificial no centro das questões que hoje atravessam a criação literária e o futuro do livro. 

Nesta edição estará, também, em foco o V centenário do nascimento de Luís Vaz de Camões, num ano em que se assinala o cinquentenário das independências em vários países lusófonos. 

Escritores confirmados:

Angola: Israel Campos; 

Brasil: Ozias Filho; 

Cabo Verde: Adolfo Lopes, Arménio Vieira (texto), Dina Salústio, Germano Almeida, Hélio Varela (vídeo), Manuel Pereira Silva, Nardi Sousa, Paulo Veríssimo, Princezito e Sérgio Raimundo; 

Galiza: Teresa Moure Pereiro; 

Guiné-Bissau: Emílio Tavares Lima; 

Macau/China: Joaquim Ng Pereira;  

Moçambique: Sérgio Raimundo; 

Portugal: Hélia Correia, Isabel Castro Henriques (vídeo), João de Sousa (editora A Bela e o Monstro - edição comentada Os Lusíadas), Manuel Alegre (texto) e Ricardo Araújo Pereira;  

São Tomé e Príncipe: Alice Goretti Pina; 

Angola/Portugal: Cláudio Silva - Vencedor do Prémio de Revelação Literária.  

Folheto da 13.ª edição do Encontro de Escritores de Língua Portuguesa - https://www.uccla.pt/sites/default/files/2025-10/XIII-EELP_Cabo-Verde_2025.pdf 

09.10.2025 | por martalanca | litratura

Juliet and Juliet MURMUR #2 - Isabel Cordovil

8 Out. / 15h - MACAM

Isabel Cordovil reflete sobre a personagem de Julieta de Shakespeare num gesto de emancipação e alteridade. A personagem de Julieta, protagonista da tragédia Romeu e Julieta de William Shakespeare, tornou-se ao longo dos séculos um ícone universal do amor romântico. No entanto, reduzir Julieta à imagem de uma jovem apaixonada e vítima do destino é limitar a sua complexidade. É a partir desta perspetiva que Isabel Cordovil (1994) apresenta Juliet and Juliet, uma instalação que recria a célebre varanda de Julieta, em Verona, Itália, duplicando-a e abrindo espaço para a possibilidade da existência de duas Julietas. Sem recontar a narrativa shakespeariana, Cordovil isola esta personagem, deslocando-a da sua história original e reinscrevendo-a num espaço especulativo. Nesta nova dimensão, deixa de ser objeto de fatalidade para se afirmar como sujeito de descoberta, emancipação e liberdade. A duplicação da varanda pode ser interpretada como a evocação de uma relação amorosa entre duas mulheres, mas também como metáfora de espelhamento: um desdobramento identitário no qual o sujeito se reconhece e se reinventa.

Com Juliet and Juliet, Isabel Cordovil convida a refletir sobre o amor, a alteridade e a possibilidade de habitar um espaço onde autenticidade e liberdade se sobrepõem às imposições sociais. Curadoria: Carolina Quintela

Inauguração: 10 Outubro 2025 – 18.30h | Grande Hall De 10 Outubro 2025 a 02 Março 2026 Com o apoio da Artworks.

Isabel Cordovil (Lisboa, 1994). O trabalho de Cordovil investiga a política de revisitar narrativas — seja no mito, no folclore, na religião, na literatura, nos sonhos ou em torno do inconsciente coletivo — e as novas navegações ou manipulações possíveis das mesmas. Aceitando a linguagem e os símbolos como o processo de construção de significados, a artista trabalha no sentido de alargar os seus espectros de agência. Apesar da sua ausência física, o corpo, na prática de Isabel Cordovil, funciona como um sujeito principal, como um mediador entre o eu e o mundo exterior, um dispositivo de medição, destinado a explorar temas relacionados com a identidade (de género), locais de discurso político, finitude e morte. Principalmente através da instalação e da escultura, o seu trabalho reflete uma linguagem poética de metáfora lúdica, uma liberdade e desobediência visual, enquanto procura novas formas de pertencer/ desafiar e celebrar a alteridade.

O projeto MURMUR integra-se no programa de exposições temporárias dedicado à apresentação de obras inéditas de artistas, portugueses e estrangeiros, concebidas especialmente para as paredes do Grande Hall da ala nova do Museu MACAM, e para uma intervenção única. Partindo da ideia de murmúrio, e como referência ao próprio espaço, o projeto MURMUR estabelece um diálogo entre cada artista, a arquitetura e o público. As duas paredes do Grande Hall deixam de ser apenas um suporte, tornando-se parte integrante do processo criativo

O MACAM reúne no mesmo espaço o Museu de Arte Contemporânea Armando Martins e um hotel de 5 estrelas – o primeiro do género em Portugal e na Europa. Inaugurado em 22 de março de 2025, ocupa o histórico Palácio Condes da Ribeira Grande, em Lisboa, entre Alcântara e Belém. Num espaço de 13.000 m², integra arte moderna e contemporânea, arquitetura, hotelaria, gastronomia e artes performativas. O museu apresenta a Coleção Armando Martins, com mais de 600 obras de artistas portugueses e internacionais, a par de uma programação dinâmica de exposições temporárias e instalações site-specific. Com um hotel de 64 quartos, restaurante, bar, jardim, auditório e uma capela convertida em bar com música ao vivo, o MACAM é um novo marco cultural e turístico da cidade dedicado a tornar a arte acessível a todos e a proporcionar uma experiência única aos visitantes. 

07.10.2025 | por martalanca | MACAM

Companhia de dança contemporânea de Angola

2ª TEMPORADA 2025 (DE 09 A 12 DE OUTUBRO DE 2025) 

A Companhia de Dança Contemporânea de Angola apresentará na Sky Gallery (Edifício Escom), entre os dias 09 e 12 de Outubro, a sua 2ª Temporada de espectáculos da peça O Vendedor de Inutilidades, o primeiro espectáculo de dança imersivo a ser produzido no país. 

Com a duração de uma hora, a peça que tem a assinatura de Andy Rodriguez, reflecte sobre um universo onde a tecnologia redefine a maneira como nos vemos e nos relacionamos, expondo um conjunto de personagens que oscilam entre o tangível e o efémero, entre o humano e o sintético. 

A peça, com direcção artística de Ana Clara Guerra Marques, é interpretada pelos bailarinos da CDC Angola Andy Rodriguez, António Sande, David Daniel, Gabriel Lopes, Jéssica Sanga, José Ndumbu, Marcos Silva e Samuel Curti. A videografia é de Alexis Anastasiou e a produção executiva de Jorge António. 

Andy Rodriguez que se estreia como coreógrafo coma peça “O Vendedor de Inutilidades”, é formado em dança pela Escola Nacional de Arte em Cuba, seu país natal, onde se iniciou como bailarino na Companhia Rosario Cárdenas. 

Esta temporada, sob o alto patrocínio do Banco BFA, tem também o apoio da Total Energies, da Sky Gallery e da Saudabel, além das parcerias com a Criacom e a Tipografia Corimba. 

Recordamos que esta companhia, à qual se deve a grande transformação do panorama da dança em Angola, foi fundada em 1991, é membro do Conselho Internacional da Dança da UNESCO, possui um historial de centenas de espectáculos apresentados em Angola e no exterior, sendo hoje a referência da dança cénica angolana no mundo. Em 2017 foi galardoada com o Prémio Nacional de Cultura e Artes. 

Com quase 34 anos de existência, esta companhia ocupa um lugar privilegiado na História de Angola, ao ter semeado o “novo” no vasto terreno da dança onde continua a desenvolver um trabalho artístico único e original. 

Após esta Temporada a CDC Angola segue para uma digressão internacional. 

(Fotografias de Rui Tavares)

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Fundada em 1991, pela coreógrafa Ana Clara Guerra Marques, a COMPANHIA DE DANÇA CONTEMPORÂNEA DE ANGOLA edificou, através de um percurso de inovação e singularidade, uma história exclusiva que faz dela um colectivo histórico e único, num contexto artístico que permanece frágil, conservador e fortemente cunhado pelas danças patrimoniais e recreativas urbanas e pela ausência de um movimento de criação de autor, no plano da dança. 

Provocando uma ruptura estética na cena da dança angolana e tornando-se, em 2009, uma companhia de Dança Inclusiva, a CDC Angola inaugurou o regime de Temporadas e criou uma linha de trabalho que, dispensando as narrativas de estruturação convencional, preferencia propostas que confrontem o público com as suas próprias histórias, aspectos do seu quotidiano, das suas realidades sociais, da sua condição de cidadãos de universos que se cruzam. Numa época em que as barreiras geográficas e culturais são superadas pelos recursos disponibilizados pelas novas tecnologias, estas, conjuntamente com outras linguagens, passaram a integrar o discurso artístico e estético da CDC Angola, onde o corpo e o movimento constituem o elemento catalisador. 

A utilização da dança como meio de intervenção social, expondo o Homem enquanto cidadão do mundo e protagonista da cena social angolana, é a marca desta companhia, como revelado nas peças Mea Culpa (1992); Imagem & Movimento (1993), Palmas, por Favor! (1994); Neste País… (1995), Agora não dá! ‘Tou a Bumbar… (1998), Os Quadros do Verso Vetusto (1999), O Homem que chorava sumo de tomates (2011), Solos para um Dó Maior (2014), Ceci n’est pas une porte (2016), O monstro está em cena (2018), Isto é uma mulher? (2022), Onde o vento não sopra (2024) e, agora, O Vendedor de Inutilidades (2025). 

Por outro lado, com Corpusnágua (1992); Solidão (1992); 1 Morto & os Vivos (1992), 5 Estátuas para Masongi (1993) Introversão versus Extroversão (1995) ou Ogros… da Oratura… e do Fantástico (2008), e com a intenção de deslocar a dança para fora dos palcos interiores dos teatros, a CDC Angola introduz o público a diferentes formas e conceitos de espectáculo. 

No âmbito da pesquisa e experimentação, propõe a revitalização e a releitura da cultura de raiz tradicional com obras criadas a partir de estudos de investigação efectuados em várias regiões de Angola; A Propósito de Lweji (1991), Uma frase qualquer… e outras (frases) (1997), Peças para uma sombra iniciada e outros rituais mais ou menos (2009), Paisagens Propícias (2012), Mpemba Nyi Mukundu (2014) e (Des)construção (2017), são alguns dos exemplos. 

Divulgar, surpreender, ensinar, provocar e contribuir para a educação estética do público, trazendo-o à apreciação das artes são os grandes objectivos desta companhia angolana, para o que complementa a sua acção artística com a realização de workshops, seminários, palestras, encontros, aulas abertas e outros programas de educação e divulgação da dança. 

Hoje, perto de completar 34 anos de existência e ainda pouco compreendida no seu país, a CDC Angola procura a internacionalização como forma de validação do seu trabalho no exterior de Angola onde é reconhecido. 

Para além das apresentações no país, a Companhia de Dança Contemporânea de Angola partilhou já os seus espectáculos com 17 países e 39 cidades, em África, América, Europa e Ásia, onde foi vivamente aplaudida. 

05.10.2025 | por martalanca | Companhia de dança contemporânea de Angola

Afrikanizm Art

A Afrikanizm Art, plataforma global dedicada à promoção e celebração de arte contemporânea africana e afrodescendente, fundada pelo luso-angolano João Boavida, acaba de formalizar parcerias estratégicas com galerias internacionais de referência, presentes nos Estados Unidos da América, França, Itália, Portugal, Polónia, Gana e China. Com estas parcerias, a plataforma conecta artistas, galerias, colecionadores e entusiastas de arte em todo o mundo, reforçando a sua presença e influência no mercado global de arte.

“Estas parcerias representam um passo estratégico para a Afrikanizm e para todo o ecossistema de Black Art. Mais do que expandir a nossa presença global, estamos a criar oportunidades concretas para que artistas, galerias e colecionadores se conectem num ambiente de confiança, visibilidade e impacto. Acreditamos que a arte africana, afro-americana e afro-brasileira merece ocupar um lugar central no mercado global, e estas colaborações são fundamentais para profissionalizar, valorizar e amplificar as vozes dos criadores. Ao unirmos esforços com galerias de referência, estamos a fortalecer um movimento que transforma narrativas, gera valor económico real e promove um mercado de arte mais inclusivo e sustentável”, afirma João Boavida, CEO da Afrikanizm Art.

As galerias parceiras incluem: Alessandro Berni Gallery (Nova Iorque, EUA), Gallery Soview (Acra, Gana), Lis10 Gallery (Paris, França; Hong Kong, China; Arezzo, Itália), The EAAE Gallery (Estetino, Polónia), This is Not a White Cube (Lisboa, Portugal; Paris, França).

Numa primeira fase, as parcerias compreendem um maior foco no aumento da capacidade de venda das galerias, permitindo-lhes comercializar obras através da plataforma online da Afrikanizm e participar em exposições promovidas pela plataforma. Em fases subsequentes, estas colaborações permitirão ainda potenciar artistas que integram a Afrikanizm e viabilizar a criação de obras conjuntas com as galerias, fortalecendo o desenvolvimento artístico e o alcance global das criações.

Com estas parcerias, a Afrikanizm consolida o seu papel como hub global, reunindo todo o ecossistema de Black Art e oferecendo oportunidades únicas de conexão e visibilidade, graças a uma rede integrada em que artistas, galerias e colecionadores podem interagir, crescer e redefinir os padrões de valorização da arte africana e afrodescendente em todo o mundo.

Ao adquirir obras através desta plataforma, os colecionadores e entusiastas de arte contribuem para um impacto social e económico positivo, apoiando simultaneamente artistas e galerias, graças a um modelo sustentável e inovador.

“Na Afrikanizm orgulhamo-nos de representar mais de 200 artistas em 18 países africanos, com centenas de obras catalogadas, e de realizar uma curadoria de excelência, valorizando a diversidade de talentos contemporâneos e assegurando que cada artista e cada obra refletem profissionalismo, dedicação e qualidade artística. São números que refletem apenas o início de um movimento maior: posicionar a arte africana e afrodescendente como uma força líder no mercado global”, realça João Boavida. 

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30.09.2025 | por martalanca | Afrikanizm Art

Aprender a Sonhar | Manifesto afro-indígena chega aos cinemas nesta quinta (2/10)

“Aprender a Sonhar” (2025), novo filme do cineasta baiano Vítor Rocha, revela a difícil e transformadora trajetória de jovens de diferentes comunidades e territórios periféricos para ingressar e se formar no Ensino Superior.

O longa-metragem estreia nesta quinta, dia 2 de outubro, em cinemas de todo o Brasil. Filmado entre 2016 e 2022, poucos anos após a instituição da Lei de Cotas (12.711/2012), “Aprender a Sonhar” acompanha a luta dos personagens pelo ingresso na Universidade e escancara as mazelas do racismo, mas também as conquistas, que os estudantes vivenciam para exercer o direito reparatório de acesso à Educação.

“Aprender a Sonhar” ganha pré-estreia comentada e gratuita no dia 1º de outubro, quarta, às 19h, em São Paulo (SP), no Teatro da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) (Av. Dr. Arnaldo, 455 - Pacaembu). A projeção será seguida de debate com o diretor Vítor Rocha e as personagens do filme Tamiwere Pataxó, bacharel em Direito, e Nadjane Cristina, assistente social e militante do movimento por moradia.

As praças de exibição poderão ser conferidas no Instagram @abarafilmes.

​'Aprender a Sonhar' chega aos cinemas no dia 2 de outubro​'Aprender a Sonhar' chega aos cinemas no dia 2 de outubro

Longe de se encerrar em relatos individuais, o filme, ao passo que intercala a aparição das histórias de cada estudante, ganha um ritmo revelador da conexão entre todos eles: os protagonistas são portadores de saberes ancestrais que durante séculos foram impedidos de participar dos centros oficiais de produção e disseminação de conhecimento.

O documentário mostra como a quilombola Marina Barbosa conseguiu se formar em medicina na UFBA, assim como a trajetória de conquista da casa própria e do diploma da ex-moradora de ocupação, Nadjane Cristina. Também conta como se deu a transformação de Ana Paula Rosário, que cumpriu medidas socioeducativas e hoje é pesquisadora de sociologia, além das vivências de Taquari e Tamiwere Pataxó, que se formam em Direito sem ter que abrir mão de seus territórios, culturas e tradições.

A narrativa acompanha o cotidiano e os momentos marcantes dos personagens na busca pela sobrevivência e pelo direito de ocupar espaços convencionais da formação superior sem terem que abrir mão de seus territórios, culturas e tradições. Diferente da série televisiva homônima, “Aprender a Sonhar”, também realizada por Vítor Rocha, o capítulo para a tela grande traz diferentes personagens e situações para as salas de exibição.

Para seu diretor, o filme é mais do que um registro cinematográfico, é um manifesto afro-indígena: uma vocalização dos corpos políticos que foram sistematicamente silenciados na fundação e perpetuação do Estado brasileiro.

“A política de cotas permitiu que 50% dos estudantes das universidades sejam, atualmente, negros e, também, indígenas, e fez com que nossas cosmovisões passassem a disputar o conhecimento acadêmico, contribuindo com o desenvolvimento dos saberes institucionais”, explica o diretor e roteirista Vítor Rocha. “Conclamamos professoras e professores, estudantes, sindicatos, associações, centros acadêmicos, grupos de pesquisa e instituições contracoloniais e antirracistas e público geral a se aquilombarem nas sessões do filme para conseguirmos ocupar as salas de cinema e mostrarmos que a produção independente e afrocentrada tem sua força”, convida o realizador.

Distribuição baiana

A distribuição é feita pela Abará Filmes e a produção pela Caranguejeira Filmes – produtoras baianas  lideradas por Vítor Rocha. “Aprender a Sonhar” é o quarto de cinco longas distribuídos pela Abará Filmes,  incluindo “1798 Revolta dos Búzios”, de Antonio Olavo, “Revoada”, de José Umberto Dias, “Brazyl, uma Ópera Tragicrônica”, de José Walter Lima, e “Minha Cuba, Minha Máxima Cuba”, de Júlio Góes. A distribuição é financiada pela Lei Paulo Gustavo Bahia, da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia e do Ministério da Cultura (MinC), e a produção tem financiamento do MinC e da Ancine/BRDE/FSA, Governo Federal.

A Abará também distribui duas temporadas da série de mesmo nome, exibidas nas TVs Públicas do Brasil, entre elas TV Brasil, TV Cultura, TVE-BA, além de canais fechados e plataformas de streaming.

Brasil | Ano 2025 | Longa-Metragem | Documentário | 79’ | Português, Patxohã

Direção e Roteiro: Vítor Rocha

Elenco: Taquary, Tamiwere e Povo Pataxó da Reserva da Jaqueira | Marina Barbosa e Quilombo Quenta Sol | Nadjane Cristina e Ocupação Quilombo Paraíso | Ana Paula e família Rosário

Distribuição: Abará Filmes

Produção: Caranguejeira Filmes

30.09.2025 | por martalanca | Brasil, cotas

A África que vem, Afrotopia Felwine Sarr

A globalização da informação e das comunicações pôs-nos em contacto permanente com lugares do mundo onde talvez nunca coloquemos os pés, deu-nos a oportunidade de aprender coisas sobre comunidades de que nunca tínhamos ouvido falar, deixou-nos conhecer, mesmo que superficialmente, realidades que não faziam parte do nosso pensamento. Claro, podemos discutir se todo este conhecimento e toda esta comunicação atingem níveis de profundidade relevantes, mas é inegável que chegamos, com a nossa curiosidade e sem necessidade de viagens físicas, a sítios que até há umas décadas teríamos desculpa para ignorar. E apesar disso, continuamos a falar do continente africano como se de uma realidade homogénea e geograficamente pequena se tratasse. Ainda escutamos pessoas dizerem “eu estive em África e gostei muito daquela luz…”, ou lemos referências ao “desenvolvimento dos países africanos” e parece que, da Argélia à África do Sul, estamos perante um pedaço de terra passível de ser abarcado numa pequena viagem e de ser social, cultural e economicamente descrito com duas ou três frases esclarecedoras.

Ler Afrotopia, o ensaio do senegalês Felwine Sarr agora traduzido em Portugal (a publicação original é de 2016), leva-nos ao confronto com esses discursos redutores, mas sobretudo abre o horizonte para modos mais produtivos – e justos, diga-se – de abordar essa imensa geografia. Cruzando economia e política, urbanismo e criação artística, produção agrícola e industrial e comércio, pensamento e propostas de acção, o autor discute o modo como parte considerável do mundo olha para África, uma mistura de cobiça pelos recursos e paternalismo perante os problemas identificados (sempre vistos de fora e de cima), tudo sempre banhado nessa ideia de uma subalternidade que se terá instituído com o colonialismo, mas que se apresenta como condição natural.

Para além desses lugares-comuns que abundam nos discursos mais escutados sobre África, há um outro que, não se escutando literalmente, permeia todos eles: a ideia de que há um problema africano e que esse problema será resolvido, um dia e de modo cabal, por algum habitante esclarecido do hemisfério norte, que colocará o continente africano no rumo certo. Como diz Sfarr no fim do livro, «África não tem de se pôr a par de ninguém. Deve deixar de correr pelos trilhos que lhe são indicados, seguindo antes pelo caminho que ela escolher para si.» Deveria parecer óbvio, mas séculos de discursos, análises e dominações mostram o contrário, e se este é um livro que se insere claramente num debate amplo a decorrer no próprio continente africano, a sua leitura assume contornos igualmente urgentes fora dele, nos muitos outros lugares onde continuamos a receber ideias feitas sobre esta geografia sem qualquer discussão que as coloque em causa.

O que Sarr propõe neste livro é uma reflexão ampla que cruza diferentes abordagens, temas e modos críticos de pensar um espaço tão imenso e complexo. E enquanto apresenta outros debates em curso e exemplifica modos de pensar e agir que estão a acontecer agora em diferentes países, movimentos, associações e outros grupos mais ou menos informais espalhados por diferentes territórios africanos (e também pela diáspora, em tantos pontos do mundo), vai desenhando os contornos de uma utopia que não se baseie na circulação de produtos e nas rotas económicas, mas antes assuma os processos culturais como base, incluindo nestes processos a própria reflexão sobre o presente, o passado e um devir que estará nas mãos de quem a ele se dedicar.

Contrariando a ideia dual que continua a dominar o pensamento sobre África a partir do exterior, que oscila entre um apocalipse de fome, doenças e destruição e uma alvorada mística em que os primórdios da humanidade regressam numa qualquer espiritualidade de Arca de Noé, salvando o destino torpe de um planeta inteiro, Sarr reclama um outro modo de pensar no futuro: «O Afrotopos é aquele lugar outro de África cuja vinda há que apressar porque realiza as suas potencialidades felizes. (…) A Afrotopia é uma utopia activa que se propõe encontrar na realidade africana os vastos espaços do possível e fecundá-los. O desafio consiste assim em articular um pensamento que incida sobre o destino do continente africano, examinando o político, o económico, o social, o simbólico, a criatividade artística, mas também identificando os locais onde se enunciam novas práticas e novos discursos e onde se elabora essa África que vem.»

Do lado de fora do continente africano, é um privilégio acompanhar estas propostas e descobrir os debates e as práticas que vão acontecendo em torno delas. Testemunhamos, de certo modo, um presente que pode ser modificador e do qual não deixamos de fazer parte – o mundo é um só, já o sabemos, e as nossas interligações são infinitas. E enquanto confrontamos velhas ideias, há tanto gastas, mas ainda assim inconscientemente presentes, sobre África, vamos encontrando matéria para nos pensarmos noutros territórios, exemplos que podem ser orientadores, outros que rejeitaremos, outros ainda que parecem poder ser adaptados. Dialogamos, também, à distância, sobretudo quando aceitamos que não pode continuar a haver sobranceria no lugar de onde observamos e de onde queremos pronunciar-nos. E não é porque um suposto politicamente correcto nos diz que não pode, é porque esse lugar sobranceiro não nos permite aprender, duvidar ou dialogar e seria um desperdício mergulhar nesta Afrotopia sem essas capacidades activas.


Sara Figueiredo Costa na Blimunda, 31 Outubro 2022.

29.09.2025 | por martalanca | Afrotopia, Felwine Sarr