Sempre estivemos aqui. Cristina Roldão

Sempre estivemos aqui. Cristina Roldão Podia-se reabilitar o edifício do Jardim das Conchas e fazer um lugar para debater a mulher negra em Lisboa, um arquivo que reunisse o máximo de documentação da Lisboa de 1500 até hoje. Mas também quem eram as mulheres da Casa dos Estudantes do Império, quem foram as mulheres que estavam nas escadas vendedoras, nas escadas do Hospital do Rossio (em 1707), a quem a guarda estava sempre a bater e a destruir o que elas traziam. Estas mulheres organizaram-se e fizeram uma petição sobre a violência policial, reivindicando o direito ao lugar de trabalho, com os argumentos que têm muitas ligações à atualidade, dizendo: nós sempre estivemos aqui, somos daqui!

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21.09.2025 | por Marta Lança

Sou mais uma que faz da luta a própria vida. Priscila Valadão

Sou mais uma que faz da luta a própria vida. Priscila Valadão A principal política pública no âmbito de Lisboa e nacional é a regularização de imigrantes. Sem a regularização dos imigrantes, sem uma AIMA funcional, sem uma polícia pidesca para imigrantes. Não quero sequer que exista. Então, extinção de uma polícia para imigrantes, regularização de todos os imigrantes que vivem em Portugal, melhores salários para todas as pessoas, uma fiscalização não do imigrante e do trabalhador, mas de quem contrata imigrantes e trabalhadores em geral, ou não contrata, só utiliza de mão de obra quase que escrava para manutenção dos seus próprios ganhos.

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21.09.2025 | por Marta Lança

Lisboa assenta em trabalho precário, mal pago e por turnos. António Tonga

Lisboa assenta em trabalho precário, mal pago e por turnos. António Tonga No aeroporto, local cada vez mais negro e imigrante e sempre periférico, não há estacionamento para os trabalhadores que têm de estar uma hora antes da hora de entrar no serviço para conseguirem estacionar nos Olivais ou no Prior Velho. Muitas vezes têm os seus veículos rebocados. A verdade é que o espetáculo de Lisboa funciona cada vez mais com base em trabalho precário, mal pago e por turnos, impondo um estilo de vida anti-social e cinzento a um número, cada vez maior, de pessoas e famílias, que são obrigados a começar as suas jornadas por volta das cinco da manhã, a partir da periferia rumo ao El Dorado.

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20.09.2025 | por Marta Lança e António Tonga

Verenilde Pereira, pioneira da literatura afro-indígena amazónica, revela os seus “indivíduos-personagens” ao mundo

Verenilde Pereira, pioneira da literatura afro-indígena amazónica, revela os seus “indivíduos-personagens” ao mundo Persiste a falta de reconhecimento da relevância das cosmologias dos povos originários como base estrutural da sua existência. Ao expor os absurdos dessa incompreensão, 'Um Rio Sem Fim' abre espaço para refletir sobre a violência e o aniquilamento de comunidades inteiras que este equívoco provocou, e continua a provocar. Sobre o livro, Verenilde Pereira refere com frequência: “Não há mais um leitor inocente diante dessa paisagem amazónica que venha a ler. A responsabilidade é sua: compreender ou não, ou descartar. Não há inocente diante da paisagem que os personagens oferecem. E essa paisagem eu conheço.”

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20.09.2025 | por Anabela Roque

O comboio lembra-nos que Lisboa não é nossa. Marinho de Pina

O comboio lembra-nos que Lisboa não é nossa. Marinho de Pina A presença africana parece só isso, presença. A diversidade só será real quando ocupar os espaços de decisão. Lisboa é segregada pelo dinheiro e pela cor da pele, com a polícia a encostar pessoas não brancas à parede. A base da segregação é social, dinheiro, dinheiro, dinheiro. Mas a mentalidade colonial controla a população negra, mantendo-a sempre longe das oportunidades. Acho que já estou a repetir-me. Enfim, com bairros racializados e com os pobres nas periferias, com os transportes condicionados e a pobreza institucionalizada, com os planos urbanos que separam mais do que unem e comercialização da escassez,

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19.09.2025 | por Marta Lança e Marinho de Pina

Queremos viver como cidadãos comuns do país. Farid Ahmed Patwary

Queremos viver como cidadãos comuns do país. Farid Ahmed Patwary A maioria dos imigrantes sul-asiáticos enfrentam barreiras linguísticas, e ausência de reconhecimento de qualificações. Têm dificuldade de acesso à habitação digna e os seus empregos têm com remuneração média baixa. Muitos estão em setores como restauração, comércio e transporte. O maior obstáculo à integração é, assim, a precariedade habitacional e a discriminação no mercado de aluguer.

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19.09.2025 | por Marta Lança

Desmontando a montanha de mentiras do governo, construindo os pilares do futuro linguístico

Desmontando a montanha de mentiras do governo, construindo os pilares do futuro linguístico   A política governamental para a língua cabo-verdiana deverá ser incumbência de uma unidade de missão a funcionar junto do conselho de ministros, atuando também como provedoria da língua, seguindo e coordenando, com força legal, todos os desenvolvimentos nesta matéria até à oficialização plena. Ao mesmo tempo deverá ser implementada uma política de formação alargada em linguística e ensino, com incidência no estudo da língua cabo-verdiana e estudos comparados com outras línguas crioulas, através da concessão de bolsas pelo estado e pela Universidade de Cabo Verde, e o incentivo à criação de cursos de âmbito linguístico, nomeadamente crioulística, pelas universidades privadas.

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19.09.2025 | por José Luiz Tavares

Corpos migrantes à procura de definição, sobre "Dialecto" de Felipe Romero Beltrán

Corpos migrantes à procura de definição, sobre "Dialecto" de Felipe Romero Beltrán Sem louvar a burocracia, dir-se-ia que a sala de espera, esse estádio intermédio onde se arrastam os corpos e as identidades, tem também potencial para ser um espaço de criação, um lugar excecional de pensamento e questionamento, artístico e político. Nesse sentido, as artes visuais e performativas, a música e o cinema, com os seus comentários mordazes, mais ou menos explícitos, são essenciais para expor a realidade dos sem papéis, para documentar os indocumentados, e tomar consciência que estes corpos existem e exigem dignidade.

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19.09.2025 | por Tiago Lança

Da introdução tardia do ensino da língua materna no sistema educativo à elaboração de um manual e de uma prova de avaliação problemáticos. Introdução

Da introdução tardia do ensino da língua materna no sistema educativo à elaboração de um manual e de uma prova de avaliação problemáticos.  Introdução A implementação do programa para a oficialização da língua cabo-verdiana é, sem dúvida, um processo complexo, que não poderá ser desenvolvido em linha reta, mas é necessária, urgente e possível. Os objetivos poderão ser atingidos num horizonte temporal exequível, com uma definição de estratégias e metas e com o planeamento da provisão da assistência técnica e dos recursos humanos e financeiros necessários.

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19.09.2025 | por Maria Cândida Gonçalves

Lisboa mesma outra cidade (vol.2)

Lisboa mesma outra cidade (vol.2) Numa cidade cada vez mais imersa num imaginário de postais turísticos, ativos imobiliários e visões alienistas — onde o quotidiano de quem a habita tende a desaparecer -, Lisboa Mesma Outra Cidade propõe uma outra cartografia. Este segundo volume reúne sete ensaios fotográficos e três crónicas literárias que traçam um retrato fragmentário, íntimo e atento da cidade vivida por dentro. Mais do que definir o que Lisboa “é”, trata-se aqui de multiplicar as formas de ver, pensar e imaginar a cidade a partir de quem nela caminha, observa e habita.

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18.09.2025 | por David-Alexandre Guéniot e Catarina Botelho

Muitas pessoas negras só transitam, não usufruem da cidade. Aoaní

Muitas pessoas negras só transitam, não usufruem da cidade. Aoaní Lisboa é completamente segregada mas não se nota porque é um espaço onde transitam pessoas de vários lugares e backgrounds. Mas é isso, elas só transitam, não habitam, não vivem, não usufruem da cidade. Elas só trabalham, só servem. E as pessoas que habitavam a cidade têm sido empurradas para fora dela, embora precisem de voltar diariamente para a servir. E nesses lugares para onde são empurradas não há nada além da cama. Quando tentam voltar para usufruir da cidade, nos poucos tempos que vão tendo livres: não há transporte.

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18.09.2025 | por Marta Lança

Luandino, o eterno aprendiz

Luandino, o eterno aprendiz Paralelamente às suas primeiras estórias escritas e avulsamente publicadas, em finais da década de 1950, escreveu Luandino alguns poemas que circularam em jornais e revistas, tendo a poesia, no seu mais apurado grau de elaboração e factura, tomado e entranhado o rigor da prosa que foi escrevendo num crescendo de oficina lenta, implacável, furiosamente pessoal, encantatória. E que maravilhosa antologia poética se pode fazer com os «pontos luminosos» (Ezra Pound) da sua obra de ficção! Eis, entre tantos outros possíveis, um exemplo — obviamente não cooptado para este livro, mas aqui convocado pela sua fulgurante potenciação poética inequívoca:

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18.09.2025 | por Zetho Cunha Gonçalves

A propósito do Parecer sobre o Manual de Língua e Cultura Cabo-verdiana do 10º ano: NOTAS DE ESCLARECIMENTO

A propósito do Parecer sobre o Manual de Língua e Cultura Cabo-verdiana do 10º ano: NOTAS DE ESCLARECIMENTO Esse trabalho analítico mobilizou a diversidade de saberes e experiências dos membros do grupo de trabalho, em todas as áreas que interagem na conceção e na elaboração do Manual, enquanto instrumento de suporte do ensino e da aprendizagem da língua materna e da cultura cabo-verdiana. São saberes e especializações em Linguística, Sociolinguística, Crioulística, Língua Cabo-verdiana e Literatura Cabo-verdiana; em Didática das Línguas, Pedagogia e Desenvolvimento Curricular. São saberes e experiências na conceção e na implementação de projetos bilingues, dentro e fora de Cabo Verde; no exercício da docência de várias disciplinas e da própria língua cabo-verdiana, do ensino básico ao universitário, em Cabo Verde e em Portugal;

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18.09.2025 | por várias

Muitos entraves burocráticos que consomem nosso tempo e energia. Brunno Constante

Muitos entraves burocráticos que consomem nosso tempo e energia. Brunno Constante Embora haja numericamente muitos brasileiros em Portugal, nossa representatividade e influência em espaços públicos de discussão e decisão ainda não correspondem ao nosso volume populacional. Isso se deve, em grande parte, aos entraves burocráticos que consomem nosso tempo e energia, e também à desinformação. Muitas vezes, não sabemos como ou onde buscar orientação para participar mais ativamente da vida cívica, o que acaba silenciando nossa voz coletiva e limitando nossa capacidade de advocacy e de reivindicação de direitos.

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17.09.2025 | por Marta Lança

Há preconceito nos serviços públicos e nas escolas. Gizane Campos

Há preconceito nos serviços públicos e nas escolas. Gizane Campos Portugal é um país de imigrantes, com uma história de idas e vindas, mas sei que há muitos casos de preconceito contra imigrantes de várias nacionalidades, potencializados por discursos de extrema-direita que os culpabilizam. Vejo pessoas vivendo em sistema rotativoss s em apartamentos (enquanto uns dormem de dia, outros trabalham à noite e vice-versa). Há preconceito nos serviços públicos e nas escolas. Não é algo exclusivo de Portugal, mas infelizmente faz parte do dia a dia em Lisboa.

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17.09.2025 | por Marta Lança

A relação com a comunidade africana é, acima de tudo, a periferia. Sinho

A relação com a comunidade africana é, acima de tudo, a periferia. Sinho Esses movimentos servem para: Informar as pessoas sobre os seus direitos e deveres; Incentivar a participação comunitária em temas como habitação, violência policial, racismo e exclusão; Pressionar o Estado a implementar políticas públicas reparadoras; Trazer essas discussões para o centro do debate político e social. Mais do que protestar, estes coletivos estão a construir consciência cidadã, mostrando que temos direito a uma cidade justa, e que também temos poder para transformar essa realidade.

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15.09.2025 | por Marta Lança

Explica lá outra vez o que é que ser português?, ópera de Dino D'Santiago

Explica lá outra vez o que é que ser português?, ópera de Dino D'Santiago A história de Adilson inscreve a de muitos "crioulos sem chão" que carregam Portugal às costas sem nunca poderem pertencer. «Eu não sou português, sou Portugal», a frase manifesto que valeu a Dino de Santiago vários comentários de haters e bots de extrema direita. O espetáculo rompe com o mito da integração: a realidade é feita de esperas, recusas e silêncios, mães que morrem no desgoto antes de verem resolvidos a cidadania. As personagens desfazem o mito da identidade ligada aos lugares concretos, somos feitos daquilo que trazemos, das curvas do bairro. Os nossos corpos são pátria. O que é que me espera do outro lado do mar?, A luta chama, será que eu vou? De que lado estou? E a pergunta meio ameaçadora: Quer ou não quer ser português? Lembrei-me da banda Miss Universo, que parecem responder a esta pergunta com outra mais interessante «explica lá outra vez o que é que ser português?»

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14.09.2025 | por Marta Lança

Os Soulèvements de la terre e o livro "Primeiros Abalos"

Os Soulèvements de la terre e o livro "Primeiros Abalos" Se o surgimento do movimento dos Soulèvements de la terre foi a melhor notícia dos últimos anos no que diz respeito às lutas ecológicas e ambientais, a publicação do livro que aqui abordamos parece-nos um contributo essencial, com os recursos teóricos, táticos e estratégicos que nos apresenta, para as lutas ecológicas, agrícolas e sociais, transmitindo o gosto e a necessidade absoluta da ação direta coletiva.

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12.09.2025 | por várias

Angola e México, deuses de barro

Angola e México, deuses de barro A criação é fluída, assim como foi o processo. O que começou com uma residência artística a solo de Sergio García (a primeira de um artista estrangeiro no Estúdio-V), rapidamente evoluiu numa conexão criativa com Mac Verkron, com a intenção deliberada de refletir em conjunto a crueza e dureza estética de fogo, ar, madeira e de outros elementos naturais, cada um com um significado espiritual.

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11.09.2025 | por Pedro Cardoso

TEMPO ZERO

TEMPO ZERO Um trabalho sobre a vida da Mulher saharaui exilada há 50 anos no deserto mais inóspito do planeta. Cada peça apresenta uma imagem da realidade que as mães saharauis viveram durante um verão e um inverno, no deserto hamada. “Esta coleção conta uma história de resistência que perdura há mais de cinquenta anos, convidando o público a entender uma realidade frequentemente ignorada. É uma oportunidade única de aproximação à riqueza cultural e humana do povo saharaui, despertando empatia e reflexão através da arte.”, declara o artista plástico.

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11.09.2025 | por Maria Frederica