Mais do que criar vídeo musicais, o kuduro visual seria o ousado ato de produzir imagens capazes de interferir com a história de arte. A história de arte que nunca nos foi contada, ou da qual fomos sistematicamente excluídos. Recorrendo à espontaneidade, ao improviso e à rebeldia do kuduro, o artista conquistaria assim o seu lugar ao sol, confrontando todo o sistema hierárquico e conservador da cena artística. Pois, a meu ver, a arte só cumpre o seu verdadeiro papel quando consegue criar rupturas.
Vou lá visitar
17.05.2024 | por Kiluanji Kia Henda
O luto pode ensinar-nos a viver em liberdade. Esta peça convida-nos a tomar a decisão.
Em doze inspirações, que poderiam ser atos poéticos, o público é convidado a respirar palavras e silêncios, espelhos e espaços, dor e busca, encontro e tempo. O espetáculo passa-se todo numa sala, a atriz parece-nos tão próxima que podia ser qualquer um que entra e fica na sala. Ao mesmo tempo, parece-nos tão distante que nos desperta a memória do que todos temos medo de viver. A ausência.
Palcos
16.05.2024 | por Joana Morais e Castro
Identificar um tema consensual para, em Angola, se debater o estado da liberdade de imprensa está muito longe de ser um desafio fácil de ultrapassar pela polarização existente, mas não deixa de ser uma orientação pertinente que podia conduzir-nos a uma outra reflexão sobre o país real nesta data em que existe uma predisposição maior para este tipo de levantamento. A título de sugestão, este consenso até poderia ser tentado no próprio parlamento com a realização de uma plenária anual consagrada exclusivamente ao estado da liberdade de imprensa no país tendo como referência um tópico mais específico.
A ler
14.05.2024 | por Reginaldo Silva
Estou muito contente pela opção que fiz porque ensino literatura, estudos literários e estudos pós-coloniais, que são áreas de grandes questionamentos. Eu não gosto do saber “congelado” ou do saber que não se discute. Não gosto de ideias dogmáticas. Gosto de discutir ideias, considero que existe sempre outra forma de ver o mundo, particularmente na área das humanidades e das ciências sociais, que não são ciências exatas.
Cara a cara
14.05.2024 | por Nélida Brito
No Haiti, as histórias folclóricas e a sabedoria popular passam de boca em boca. Ao final da tarde, quando o sol se acalma e as ruas se enchem de vizinhos, é hora do kont ou de jogar ao krik-krak. No país em convulsão, a tradição oral tão antiga como o mais antigo ancestral marca a pauta dos valores coletivos e da identidade.
A ler
13.05.2024 | por Pedro Cardoso
Com 46 anos, Toy Boy acompanhou as várias fases do país no pós-independência e iniciou atividade artística no pós-guerra civil. O seu trabalho é a expressão da vivência na cidade de Luanda, intrinsecamente ligado ao sofrimento e criatividade que se sente nas ruas. Sintonizado com os movimentos e núcleos artísticos da cidade (como o Elinga Teatro e o Fuckin’ Globo), Toy Boy conta-nos o seu percurso com a sinceridade e a sensibilidade que o caracterizam. Driblando as dificuldades no seu caminho e a exigência da sobrevivência, apropria-se de uma certa pop art, fazendo colagens ou ready-mades, instalações, potenciando materiais reciclados como a ferrugem, mas sobretudo dá corpo e voz às singularidades da vida urbana.
Cara a cara
12.05.2024 | por Marta Lança
E de repente eclodiu o 25 de Abril de 1974, considerado pelo Nhonhô numa entrevista à RTC (Radio-Televisão de Cabo Verde) sobre o seu percurso de vida como “uma autêntica revolução”. E de facto foi a festa infinita que começou com a caça aos informadores e agentes da PIDE/DGS na cidade da Praia, a queima das respectivas viaturas e/ou seu despenhamento no mar a partir do Cruzeiro do Platô, actos nos quais o Nhonhô e os seus amigos estudantes da Assomada residentes na cidade-capital da colónia/província ultramarina portuguesa participaram activamente e continuou com o lançamento de panfletos políticos na vila da Assomada dirigidos aos militares aquartelados no antigo edifício da SAGA e para o qual fui mobilizado pelo Betinho de Nho Bebeto-Alberto Lopes Barbosa, Júnior (sendo essa a primeira acção política, ademais clandestina, de toda a minha vida, depois muito marcada pela intervenção política e cívica, se bem que em larga medida fora do quadro político-partidário), e, logo depois, com a libertação dos presos políticos do Tarrafal, prosseguindo com os frequentes comícios, reuniões, sessões de esclarecimento e manifestações, os saraus culturais e as muitas e acaloradas discussões políticas, nas quais nós, adolescentes, também nos envolvíamos entusiástica e freneticamente.
A ler
10.05.2024 | por José Luís Hopffer Almada
como outros nacionalistas africanos / tais os muito seviciados os muito aliciados / cem presidiários políticos guineenses / como outros emboscados como outros /rebuscados como outros mortificados / patriotas negros mulatos e brancos / dilacerados em diferendos vários / tais os cento e seis prisioneiros / e condenados políticos angolanos
Mukanda
08.05.2024 | por José Luís Hopffer Almada
A premissa inicial para a construção de 'A Flor do Buriti' era refletir sobre a relação dos Krahô com a terra que habitam, num contexto que continua a ser colonialista, opressor e violento, mas esta foi expandida por um escrutínio da representação feminina na comunidade e nas formas de luta que se impunham pelo agravamento das ofensivas, nos anos em que o filme foi rodado: um período especialmente duro para os povos indígenas devido à pandemia de Covid-19 e ao governo de extrema-direita bolsonarista. Sob estas circunstâncias, a resistência teve que ser, necessariamente, reforçada.
Afroscreen
07.05.2024 | por Anabela Roque
Em entrevista ao BUALA, as curadoras Catarina Alfaro e Leonor de Oliveira falam da sua investigação em torno do trabalho desta artista portuguesa, cuja obra desafiou a época ditatorial em que viveu. O contexto pré e pós-Revolução dos Cravos, as questões políticas ou os direitos das mulheres são apenas algumas das temáticas que Paula Rego representou nas suas gravuras, pinturas e desenhos. A crítica à sociedade marca presença em todas, ainda que subtilmente.
Cara a cara
02.05.2024 | por Mariana Moniz
A questão das reparações é complexa. Longe de ser um mero tema mediático ou discurso político-académico, é (deveria ser), uma ação que envolve muita gente, lugares, contextos e temporalidades. Não pode ser uma agenda que “Portugal deve liderar”, como diz o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa. Existem várias dimensões sobretudo geopolíticas que exigem dos “danados” uma agência e protagonismo inegociáveis. Por outras palavras, é preciso poder. O poder de exigir e de obter. Fora disto estaremos apenas a "apelar, ingenuamente, ao coração dos opressores”. No início deste ano, realizou-se uma conferência no Porto sobre a questão das reparações. Do encontro, resultou um documento intitulado “Declaração do Porto: Reparar o Irreparável” com 20 propostas concretas que resumem reivindicações de longa data dos movimentos e pessoas negras em Portugal.
Mukanda
02.05.2024 | por Apolo de Carvalho
Jogando com a dicotomia periferia/centro, dentro e fora, transversal às suas vidas e obras, os Unidigrazz interrompem a ideia da Linha de Sintra enquanto lugar cinzento contrapondo a esta ideia uma produção artística rica, viva, colorida.
Vou lá visitar
24.04.2024 | por Patrícia Azevedo da Silva
A cinematografia moçambicana é hoje também marcada por preocupações ecológicas, que passam pela revalorização dos saberes ancestrais, pelo tratamento de questões identitárias (incluindo de género e raciais), e, muito fortemente, relativas às articulações entre as memórias pessoais e coletivas, tanto numa perspetiva de questionamento do que falhou na construção do país, como das possibilidades de esperança e de superação dos traumas provocados pelo colonialismo e pela guerra civil.
Afroscreen
18.04.2024 | por Maria do Carmo Piçarra
“A morte na nossa casa é um espetáculo. Não se permite que a dor seja silenciosa. Deve ser acompanhada por um alvoroço de lágrimas, gritos, queixas, repreensões, imprecações contra Deus. Pessoas desesperadas rolam no chão. Outras ameaçam cometer um ato irreparável. Todas as pálpebras estão inchadas e vermelhas.” Tradução livre de Maryse Condé em “Victorie, Les Saveurs et les Mots”, 2006.
A ler
13.04.2024 | por Pedro Cardoso
Assim, por todo o Soweto, rugiu uma rebelião, durante a qual a juventude paralisou o regime, pagando um preço altíssimo por isso. Sabemos que após a repressão local, esta rebelião se espalhou para os principais centros urbanos do país, sendo que a polícia assassinou perto de 700 pessoas, maioritariamente estudantes, não poupando os seus familiares nem os seus vizinhos. Esta página de luta, é para muitos uma completa inversão no processo de luta contra o apartheid.
Mukanda
13.04.2024 | por António Tonga
Comecei por falar de questões de género, questões ligadas a mulheres, corpo da mulher, mas é praticamente impossível falar de tudo isso sem tocar na política ou na religião. Então acho que o meu caminho vai ser por essas duas esferas, temos muitas problemáticas para retratar aqui e precisamos de vozes que deem a cara por esses temas, como é que esses dois elementos (a política e a religião) põem o corpo da mulher num quadrado super delimitado e normalizado…
Cara a cara
12.04.2024 | por Marta Lança
Foi com a Revolução de 1975 que o Batuku, até então adormecido, renasceu no seio de ocasiões comemorativas como o casamento. E foi numa celebração matrimonial que, ainda criança, tive o meu primeiro contacto com a energia contagiante do Batuku, que é tradicionalmente cantado e dançado, durante toda a noite, pelas mulheres mais velhas, que celebram a união que se avizinha.
Palcos
11.04.2024 | por Nélida Brito
Antes do 25 de Abril fui processado como fundador, também, da Assírio e Alvim, pela edição do livro “Portugal sem Salazar” e, depois do 25 de abril, pela edição do livro “Massacres na Guerra Colonial Tete” num processo movido pelo Estado Maior General das Forças Armadas que chegou, depois, ao 5º Tribunal Militar Territorial de Lisboa e o acusador público, o militar que fazia esse papel, pediu que o processo fosse integrado na chamada Lei da Amnistia, a Amnistia dos crimes de abuso de liberdade de imprensa.
Cara a cara
09.04.2024 | por Mariana Ribeiro Mota
E de repente eclodiu o 25 de Abril de 1974, considerado pelo Nhonhô numa entrevista à RTC sobre o seu percurso de vida como “uma autêntica revolucão”. E de facto foi a festa infinita que começou com a caça aos informadores da PIDE/DGS na cidade da Praia e na qual o Nhonhô e os seus amigos estudantes da Assomada residentes na cidade-capital da colónia/província ultramarina portuguesa e, logo depois, com a libertação dos presos políticos do Tarrafal, prosseguindo com os frequentes comícios e sessões de esclarecimento, os saraus culturais e as muitas e acaloradas discussões políticas nas quais nós, adolescentes, também nos envolvíamos entusiástica e freneticamente.
A ler
08.04.2024 | por José Luís Hopffer Almada
As danças afro-brasileiras estão muito conectadas à religião. São danças de inspiração afro-religiosa, como a Dança dos Orixás, que são as divindades do Candomblé. Cada orixá está ligado a um elemento da natureza, como por exemplo a Iansã, que é a deusa das tempestades, dos raios e trovões. Ela é uma deusa muito forte, que lida com o fogo e é a única que lida com a morte, não tem medo da morte. No caso do Afoxé, ele é considerado candomblé de rua porque era o momento em que as pessoas do candomblé levavam o que acontecia no terreiro (lugar onde aconteciam as cerimônias) para a rua.
Palcos
08.04.2024 | por Nélida Brito