Congoleses e congolesas,

Congoleses e congolesas, (No acto de proclamação da independência do Congo, não foi dada a palavra a Patrice Lumumba. Mas ele levantou-se e falou, dirigindo-se ao seu povo, não tratando o rei da Bélgica por «majestade» mas por «Sire»)

26.05.2012 | por Patrice Émery Lumumba

Translucidez

Translucidez Há uma guerra não declarada entre os habitantes do bairro residencial e os que vivem nos blocos de habitação social. É uma guerra silenciosa, mas, como em todas as guerras, assenta num ódio que não conhece excepções.

16.05.2012 | por Ana Cássia Rebelo

Breves considerações acerca da performance de géneros musicais, literários e coreográficos cabo-verdianos

Breves considerações acerca da performance de géneros musicais, literários e coreográficos cabo-verdianos O conceito de identidade, tem uma operacionalidade escassa, quase nula, e o seu uso implica o permanente confronto com a inevitabilidade da sua indefinição, mas é irrefutável de que quando o estudamos ou abordamos no campo da actividade humana ou cultural (e a música ou expressão musical nessa cultura) ele se torna dado adquirido.

16.05.2012 | por Soraia Simões de Andrade

A poesia é para comer - Iguarias para o corpo e para o espírito

A poesia é para comer - Iguarias para o corpo e para o espírito Há muito tempo que versos e petiscos se cozinhavam na minha mente, em lume brando, como convém a uma receita que se quer apurada, insinuando no meu espírito aromas irresistíveis de cozinha de infância. Nasci numa família em que a gastronomia foi sempre – ao longo de gerações – um culto e um prazer, com honras de biblioteca e pesando, até, na escolha de itinerários de viagem. E o que pode haver de mais poético do que as memórias de um tempo em que tudo era assim, brando e promissor, sem pressas nem atropelos, apesar da sede imensa de uma vida inteira pela frente, por beber ainda? Enquanto tudo se espera, tudo pode acontecer…

15.05.2012 | por Ana Vidal

Teoria Geral do Esquecimento - PRÉ-PUBLICAÇÃO Agualusa

Teoria Geral do Esquecimento - PRÉ-PUBLICAÇÃO Agualusa Entre 1997 e 1998 desapareceram nos céus de Angola cinco aviões, com um total de 23 tripulantes, originários da Bielorrússia, Rússia, Moldávia e Ucrânia. A 25 de Maio de 2003, um Boeing 727, propriedade da American Airlines, desencaminhou-se do aeroporto de Luanda, e nunca mais foi visto. O aparelho estava há 14 meses sem voar. Daniel Benchimol colecciona histórias de desaparecimentos em Angola. Todo o tipo de desaparecimentos, embora prefira os aéreos. É sempre mais interessante ser arrebatado pelos céus, como Jesus Cristo ou a sua mãe, do que engolido pela terra. Isto, claro, se não nos estivermos a servir de uma linguagem metafórica. Pessoas ou objectos literalmente engolidos pela terra, como parece ter acontecido com o escritor francês Simon-Pierre Mulamba, são, contudo, casos muitos raros.

08.05.2012 | por José Eduardo Agualusa

Carnaval & Piscina

Carnaval & Piscina E quando não é carnaval é natal, depois vem o ano novo, a pascoa é logo a seguir. Então virão as férias e é uma excitação. Se não forem as tuas serão as férias dos outros. Vamos finalmente comer e beber todo dia, comprar, passear e dormir. Férias são férias, se não for para isso o que vamos fazer? Depois terás que esperar o fim das férias dos outros. Um dos meus cambas diz: “Mandem vir mais uma. Eu enquanto espero, faço poemas”. Isso sim é ganhar tempo, assim como contribuir na vaquinha para o barril e “mandá-lo” abaixo depois do futebol. Só os diabetes e a corrida, não para o calçadão mas para as clínicas de corte de banha, nos permitirão perceber o que perdemos de tempo saúde e dinheiro.

04.04.2012 | por Sílvia Milonga

Os três Cabrais de hoje em Cabo Verde: uma leitura necessária

Os três Cabrais de hoje em Cabo Verde: uma leitura necessária A difusão de Cabral enquanto ícone atrapalha um conhecimento da história ao transformá-lo numa imagem a adorar ou idolatrar, um semi-deus político com poderes extra-humanos. Tal situação contradiz com os dictos de Cabral, que sempre recusou qualquer culto de personalidade ou qualquer associação a qualidades extra-humanas, dizendo-se “um simples africano.”

23.01.2012 | por Abel Djassi Amado

Diccionario básico, y aleatorio, de la dictadura guineana

Diccionario básico, y aleatorio, de la dictadura guineana El escritor y ensayista Juan Tomás Ávila Laurel ofrece una disección certera de la dictadura guineana, abordando desde su aguda mirada los diversos elementos que la conforman y sustentan. Se podría decir, pues, que este libro es la narración reflexionada y también amena, de cómo ha echado sus raíces la dictadura en Guinea Ecuatorial.

13.01.2012 | por Juan Tomás Ávila Laurel

Marcha pelo Fim da Violência contra as Mulheres

Marcha pelo Fim da Violência contra as Mulheres É tão antiga como a Humanidade. Envergonha e diminui. É uma violação dos direitos humanos e liberdades fundamentais. É um crime público. É uma barreira à igualdade de género. Uma em cada quatro mulheres é alvo de violência. O espaço doméstico tem sido o maior palco de violência contra as mulheres. Quem bate nas mulheres fere toda a família. É preciso combater a violência sexista. É urgente mudar as mentalidades e eliminar a violência contra as mulheres. Somos contra a impunidade da violência contra as mulheres.

11.11.2011 | por UMAR-União de Mulheres Alternativa e Resposta, Movimento SlutWalk Lisboa e Associação ComuniDária

A Poética da Relação - pré-publicação de Édouard Glissant

A Poética da Relação - pré-publicação de Édouard Glissant A raiz é única, é uma origem que de tudo se apodera e que mata o que está à volta; opõem‑lhe o rizoma, que é uma raiz desmultiplicada, que se estende em rede pela terra ou no ar, sem que nenhuma origem intervenha como predador irremediável. O conceito de rizoma mantém, assim, a noção de enraizamento, mas recusa a ideia de uma raiz totalitária.

29.09.2011 | por Édouard Glissant

A Caixa Econômica Federal, a política do branqueamento e a poupança dos escravos

A Caixa Econômica Federal, a política do branqueamento e a poupança dos escravos “São tanto mais de admirar e até de maravilhar essas qualidades de medida, de tato, de bom gosto, em suma de elegância, na vida e na arte de Machado de Assis, que elas são justamente as mais alheias ao nosso gênio nacional e, muito particularmente, aos mestiços como ele. Mulato, foi de fato um grego da melhor época, pelo seu profundo senso de beleza, pela harmonia de sua vida, pela euritmia da sua obra.”

19.09.2011 | por Ana Maria Gonçalves

A Sul. O Sombreiro - pré-publicação Pepetela

A Sul. O Sombreiro - pré-publicação Pepetela Manuel Cerveira Pereira, o conquistador de Benguela, é um filho de puta. O maior filho de puta que pisou esta miserável terra. Pisou no sentido figurado e no próprio, pisou, esmagou, dilacerou, conspurcou, rasgou, retalhou. O filho de puta admito ser apenas no figurado, pois da mãe dele pouco sei, até dizem ter sido prendada senhora e de bem. Embora quem tal crocodilo deixou crescer no ventre pomba não deveria ser, afirmam os entendidos. Mas mereço eu, desgraçado padre, julgar o ventre de donas bem casadas?

06.09.2011 | por Pepetela

Rio Negro - pré-publicação

Rio Negro - pré-publicação O barco deslizava devagar através da água lisa, quase negra, larga lâmina de chumbo pousada entre a floresta. As margens, muito ao fundo, cobertas pela sombra compacta das árvores, repetiam‑se insones e apáticas, dia após dia. Nenhuma asa sobressaltava o ar. Nenhuma barbatana agitava a imensa extensão líquida. Um dos escritores, um jovem rebelde, muito pálido, sugeriu que talvez o barco recuasse todas as noites pelo mesmo trilho por onde, durante o dia, fingia avançar. Pensando melhor talvez nemsequer avançasse. As margens eram sempre as mesmas. As águas, sempre as mesmas. Apenas o céu se renovava.

31.08.2011 | por José Eduardo Agualusa

Sistas!

Sistas! A dignidade da “minha” Rosa Parks colocava aquela interação em perspectiva: o motorista – máquina repetindo o que estava programada para repetir; ela- gente, despertando em nós, mudos ao seu redor, emoções para as quais não havíamos sido preparados, ejetados tão violentamente do banco de uma peça de museu para dentro de uma História que ainda não tinha acabado de acontecer, que ainda estava ali, real, dolorosa, pulsante e incômoda. Será que alguém de nós poderá, algum dia, ter noção de quantas vezes e com qual intensidade o corpo histórico que observamos, o corpo testemunha pelo qual ficamos hipnotizados, tinha sido dilacerado (“for white people, only”) e grampeado de volta à sua forma aparente e externamente original?

19.08.2011 | por Ana Maria Gonçalves

A caminho da luta

A caminho da luta É com intensa guerra de repressão em Angola, particularmente no norte, corpos expedicionários a partir de Portugal para Angola, e a PIDE a procurar controlar os africanos que se encontravam a estudar em Portugal, que se dá este acontecimento extraordinário: em Junho de 1961 saem de Portugal cerca de cem jovens das ex-colónias africanas, uma parte significativa deles, em duas acções que os levaram a atravessar o rio Minho, e todo o norte de Espanha, rumo a França, e a uma participação activa na longa guerra de libertação nacional dos seus países, que os conduziu à independência. O resultado foi a incorporação nos movimentos que lutavam pela independência de jovens que viriam a ser presidentes, ministros e intelectuais.

02.08.2011 | por Associação Tchiweka de Documentação

Como escrever sobre África

Como escrever sobre África Use sempre as palavras "África':"escuridão" ou "safari" no título. Os subtítulos podem incluir termos como "Zanzibar", "massai", "zulu","zambezi","Congo, "Nilo,"grande, "céu", "sombra" "tambor" "sol" ou "antigo".

15.07.2011 | por Binyavanga Wainaina

Uganda: a luta da “ida a pé para o trabalho” e as lições do Soweto e da Praça Tahrir

Uganda: a luta da “ida a pé para o trabalho” e as lições do Soweto e da Praça Tahrir A lembrança da Praça Tahrir alimenta as esperanças da oposição e fomenta os receios do governo. Para muitos dos oposicionistas, o Egipto acabou por significar a terra prometida, no sentido proverbial. Para muitos dos governantes, o Egipto representa um desafio fundamental ao poder, que exige que se lhe resista a todo o custo. As coisas chegaram a um ponto em que o mínimo sinal de protesto desencadeia a máxima reacção do governo. A tal ponto que o governo, que há apenas poucas semanas chegou ao poder com uma maioria arrasadora, parece agora carecer não só de flexibilidade mas também de estratégia de saída.

02.07.2011 | por Mahmood Mamdani

A situação colonial: uma abordagem teórica

A situação colonial: uma abordagem teórica Um dos acontecimentos mais marcantes da história recente da humanidade é a expansão da maior parte povos europeus pelo mundo. Trata-se de uma expansão que conduziu à submissão – quando não ao desaparecimento – da quase totalidade dos povos ditos atrasados, arcaicos ou primitivos. A acção colonial, ao longo do século XIX, foi o aspecto mais importante da expansão europeia e aquele que teve maiores consequências. Abalou brutalmente a história dos povos que submeteu; ao estabelecer-se, impôs a esses povos uma situação muito particular. Este facto não pode ser ignorado.

01.07.2011 | por Georges Léon Émile Balandier

"Terceira Metade": As canetas, as armas e os pioneiros...

"Terceira Metade": As canetas, as armas e os pioneiros... Os autores africanos que eu lia, ou pelo menos assim eu os li, iam murmurando verdades suaves: que a literatura se fazia dos lugares, das geografias, das cores e das gentes, mas que os lugares eram, também, coisas internas; que o escritor, africano ou outro, podia falar do seu lugar e partir das suas tradições para se reinventar na sua ficção, mas não esquecendo que no ato sagrado da escrita, as geografias que mais gritam, são as de dentro; as que abordam a sua proveniência, que fazem falar criativamente sobre as verdades do continente com a habilidade de não ferir a dignidade da nossa casa e dos nossos mais-velhos.

28.06.2011 | por Ondjaki

Banho de espuma

Banho de espuma - Pois é, meu filho, devias ter falado comigo antes, eu não me espanto com essas coisas. - comentou o velho, explicando que há diversas formas de sabão: sólido, líquido, em pó… Com as pessoas tambem há diferenças. Existem pessoas cuja atracção é para pessoas do sexo oposto. Outras, a atracção está dirigida para pessoas do mesmo sexo. E isso não é coisa de outro mundo! Mas coloquemos as coisas em pratos limpos. O meu desejo é que tu e o João sejam muito felizes, assim como eu o sou com a tua mãe.

22.06.2011 | por Jekyl Hide