mas… dizer que Luanda é um inferno, não.

mas… dizer que Luanda é um inferno, não. Que faliu. Que acabou. Não. As cidades, os lugares são também e muito as pessoas. E esta é a cidade onde vivo. Luanda. Onde moro. Não tenho um outro lugar. Só mesmo este aqui. Onde estão crescendo minhas netas mínimas. Pequeninas. Que têm amigos … e que sabem que uns meninos comem e outros nem sempre, é- lhes explicado, e que uns meninos têm brinquedos e outros não. Por isso partilham. Sabem do nome desses amigos. Alguns vivem nas costas das suas mães, meninas, ouvindo os coração batendo no peito, mesmo com chuchas secas. Em tempo integral, pelas ruas e avenidas e becos e caminhos… como a Lemba, que tem os melhores ananases e abacates a nível planetário. Como a Linda, com um sorriso cor de lua… e ginguindos entrançados com mestria e dedos finos… num desalinho por causa das berridas que leva da polícia.

Chamam-se Vitórias. Chamam-se Mimosas. Nossa Marias muitas. Como eu. E quando não se veem… se perguntam. querem-se saber. Onde está? Onde foi? Porque não veio hoje? E há trocas de papos. Carinhos feitos laranjas do Piri. Verdes mas doces. Confidências de menina. E não só. E têm no quintal da bisavó e a tiabisa, família de sangue e vizinhas há mais de meio século as duas… a caminho dos 90, uma frondosa mangueira que dá mel à rua inteira… e arredores promovendo a folia. A gritaria. Os tais de guardas junto! Visitamo-nos na rua descalços. de pano à vu pah! Como antigamente. E ao lado, vizinhos, que a gente “sabe” desde há 3 e 4 gerações. Falamos dos antigos… que nos falam mal porque isto e aquilo. Mas gostamos deles. Estão presentes. Das makas de família também. Dos louros raros. Mas lá acontecem. Vidas duras! Pessoas raras. Pegaram meu Pai ao colo, agonizando… de morte…como se fosse o nosso Pai, com carinho. Família.

E os candongueiros, mal encarados, marginais e transgressores… param na avenida para darem passagem à minha mae com seu cabelinho platina. Protegem-na. Vai ser sempre assim. Sempre foi. Falo ainda de um mar avulso, grátis, quase o ano inteiro… quente e sem tubarão! ahaha através da nossa Kianda. Uma bênção. E a “avila” que vende o peixe, sabe do nome de meus filhos. Pergunta como vão, mesmo com a fraqueza dela evidente. Dá sempre para uma fofoca, básica. No fim… “se”desejamos lá sempre o melhor. nossas esquinas poídas. hoje são “paradas”. parada do “safoda”… escrito a vermelho no muro do cemitério velho! para reflexão, fica a dica! e o polícia quando me pára, para pedir documentos, pergunta se vou bem:) “eu te conheço há muuuito tempo. Te parei porque Queria mesmo so Ver a tua tatuagem!… gostei ya? Podes seguir”, diz-me… calando-me. Afinal, antes de ser autoridade, é um cidadão. Tipo normal, não é mesmo mesmo por mal. aprendemos isso. Faz parte. É mal? Claro que é. Mas que todos os males fossem esse! O seu colega polícia igual na fila da inspecção do carro alheio, disse-me:” estou cansado do zelo”. Eu entendi. Turno de 48 horas, sem uma fezada. Ri muito. E ele também. Na mesma língua. A cumplicidade da rua.

Acrílico sobre tela linho 200x200Acrílico sobre tela linho 200x200

Tem dias que sim. falo de uma capital onde cada cidadão é um “empresário” de si próprio. E faz -se cobrar! O seu serviço pode até ser só dar uma informação, pôr um carimbo! Cara de pau, se detectado … sem alternativa, tasse!, recua. E ri!! Desta vez não pegou! Ahaha. Aqui na Lua, o canuco da rua, quando um amigo jornalista escritor conhecido lhe perguntou o que ele queria, respondeu: “dá- me a tua fotografia!”… a sério? “sim. quero mesmo só a tua fotografia”. nem já uma namorada hoje o faria, contou-me depois, ainda emocionado. Um lugar fazedor de “amigos” sem nome. Só mesmo de coração.

Enquanto durar. E pode muito bem ser pra vida! Aqui dança-se, canta-se faz-se teatro na rua, e faz-se de conta que se é o povo mais feliz do mundo! Avança-se para tudo. Skate surf com a prancha alheia dos avilos gringos. Para se ser feliz…Uma bola… basta! dão-se saltos mortais na areia da praia! normal. Sabe-se do Google (Consta que um computador serve 11 canucos alguém falou!… nos bairros. Será? ). Trazemos a festa dos ancestrais. Daqueles que não a puderam fazer. Só pode! Ahahah. E brincam brincam até mais velhos. Brincam de saltar de ser famoso e herói. Vilão também vale!!! Uma cidade de jovens! Uma energia sonora. Em espiral. estão em toda a parte. Curiosos. Ávidos da novidade. São bweeee! Manifestam-se com músicas com letras compridas… numa língua cheia de verbos imperceptíveis, onde a alegria impera! mesmo quando “malham” no regime. Vaidosos e sempre que der aprumados com seus bonés escritos New York na pála. Excelentes bailarinos. Uns seres dançantes. mestres avulso brinca-se até tarde, quando a noite é já senhora. Na rua, joga-se basket em tabelas de mentira. “NBA!!! é nossa” li no outro dia! Mesmo sem luz! Adivinham cestos homéricos como o Jordan! Somos campeões!!! Xeee ou fomos! Então também pode! … aqui o povo manifesta “na boa” o seu agrado… elogiando, com um sorriso, o alheio. Às vezes, num atrevimento desconcertante. E vem a seguir um outro sorriso. E outro. Propondo a paz, a brincadeira.

…kkkkk As mulheres elogiam garinas também. sim. frequente. E dão dicas para melhorar o “performance”, ahahahaha sem maka. Solta os “longos” querida! Ahahaha os homens podem andar de mão dada na rua. Fapla povo com Fapla povo. Primos como irmãos. Também “tipo normal”. Sair da capital…:) e andar kms e kms pela estrada. nossa! Como a natureza foi tão pródiga por aqui. Falésias lunares… enseadas perfeitas. lugarejos e aldeolas. Em sítios estratégicos…com vistas colossais que atravessam nosso imaginário bom! até ao outro lado. Viajar, nosso vício. :) aldeiasinhas varridas. limpas e aprumadas feitas de uma renda de pau a pique. O bweee de verde com o bweeee de água o tempo todo. As balizas feitas de estaca de mandioqueira… Que pegam!… E viram árvores. Boa terra. O rio kwanza impávido e sereno. Imponente. Magestoso. E sua eterna Muxima. Os riachos e caminhos de postal, as praias em desfile, feitas umas verdadeiras misses!! Universais!!!!… aka!! … e as pessoas!!!!! As pessoas dos “caminhos”, das picadas… sorriem e dão-te o que têm. E têm nada!… ou quase tudo… O tempo e o espaço. Tudo e nada lhes pertence. Como se ensina em filosofias de valor universal. No yoga. O desapego (sorrio). Gostam perguntar. Olhar de ver. Aplaudem para te saudar. Tocam-te. Procuram-te com os olhos. O tempo pertence-lhes. Inteiro. De sol a sol. Curiosos e doces doces. Gente sem estrilho esses os longe da multidão. Crescem como o capim. Na escola da vida da beira de estrada. “Livres”. Ali… Todos se tomam conta. Um dia por dia. E os grilos, o barulho do mato, o silêncio que mora nos caminhos. O deserto Lilaz. Com os poemas à volta. A fogueira, as queimadas, a chuva… os banhos de chuva… no bairro, o “isso” do bairro, a terra vermelha… os miúdos de diampuna (cuequita básica) ahahaha vestindo alegria todo o dia, os olhos feitos umas azeitonas pretas ahaha… gritando e rindo atrás da vida. E os meus amigos raros de bons, nas cidades pequenas de gente grande grande e bravíssima! Bolindo. Fazendo milagres!!! Chegar de viagem. ya…a província ficou longe de novo. Dão-nos o melhor quarto. A melhor cama. Mesmo no avesso da questão. Mandam matar uma galinha! As panelas “areadas”… a família à volta da mesa com o que houver. E mais os outros todos!… malucos bons, músicos poetas doidos, na competência! pintores fotógrafos vadios alquimistas e funcionários públicos, gentios, os bichos do mato, bancários boca azul e militares e os donos de bares e chefes de Chefes que foram colegas de escola, os bwe de mágicos e mentirosos “colocados”, bófias aldrabões coristas identificados, humoristas juramentados, bebuns e “putas” que dizem “boa noite dona” quando passo e gente tantíssima de longe, uns que falam outras línguas e fazem outros pecados, os povos que cruzam a pé Luanda, que vêm de comboio…até ao Bungo em massa!!!!! Muitos muitos feitos uma turba humana! Para trabalhar. A cidade, ai a cidade! As pessoas desta cidade.

Acrílico sobre tela linho 120x80Acrílico sobre tela linho 120x80

Vieram todos. Poucos voltaram! Na estrada da Cuca… povo povo a sério! A pé. Logo pela alvorada. As mesas do avesso carregam e mesas depois de pé… são o poiso da conversa. Da panela. Do sustento. Da gargalhada pelo drama do alheio. As praças e pracinhas pejadas de mulheres, nosso garante! Sabem do câmbio. De tudo que tem a haver com a vida. Andar é andar… trabalham todos os dias, reclamando…porque aqui tudo está por fazer mas sem maka mana kkk,vou-te ajudar! Fala bem! “Andavas aonde”?ahahaha um lugar onde as pessoas fazem experiências para ganharem a vida. Uns fazendo acrobacias. Várias. Triplo salto. Sem rede! Outros vendendo gelo, música, bolinhos e trapos, Ahahaha o valer fazer tudo, e o que quer que seja… e o saber que todas “as maneiras de amor valem a pena”! como diz o amado Caetano Veloso, Sarava que aí vai mal irmão!, e todos os enfermeiros incríveis que a troco de nada cumprem, com as suas batas intactas, e tantos mais… e de novo as mulheres, desculpem mas elas sempre porque são milagreiras (diz-se?) e milagrosas. Como os os pores de sol e de lua incríveis. singulares. e o trânsito interminável ouvindo rádio, com suas mentiras óbvias… e o pulso da cidade com Fellini no meio o tempo todo… e seus personagens fazendo o pino e o flic flac para serem também celebridade, enquanto vendem pilhas chuveiros de mão, sheltox, leques chineses e bonecas que falam, livros de direito constitucional e tabuadas… saldo, saldo! Os “empregados” na casa dos chefes, a tempo inteiro com sorriso “incorporado”. Sem comer nem ser convidado. Mas com o sorriso… “incorporado”. Os amores traficados, tantos tantos, belas estórias, filmes! De horror também.

Afinal somos sete mulheres e meia para cada homem! Dizem! ahahaha enfim! Bocas que vêm do tempo colonial… Fazemos parte desta coisa incrível que é este lugar. E cativos ficamos. Ninguém sai daqui alheio a assobiar. Bate uma tristeza, uma melancolia, uma saudade antecipada, porque este lugar… mesmo sendo uma madrasta cidade, tantas e tantas vezes, tem um encanto que reside na curva desse lado “Atlântico” que nos fez assim, com primeiros presidentes Poetas, que nos chamaram de “povo heróico e generoso”. Esse povo bom que lapida a vida sem ferramenta própria, capricha, encara e faz batota a rir, que pergunta pela nossa família e nos dá nomes carinhosos, mãe tia madrinha vizinha… amiga… minha parente!!!! Todos os dias. na tal luta. Aqui fui mãe sozinha. E fui feliz! No meio de bwe de mulheres como eu. O preconceito perdeu! Ganhámos essa guerra!!! Minhas crias vingaram!!! O carinho é vadio… no supermercado, o caixa pergunta-me porque “estou no pensamento”… porque trago a testa franzida. Não sou mais uma. E quando eu viajo, no regresso, o Adão engraxate antigo da Marginal, solícito e excelente profissional, prestável rápido e vivo, atento,… diz-me que teve saudade. E deu-me no Natal a sua caixa de engraxar sapatos que tinha há mais de dez anos …e que eu “bajulava” directo. Linda! de madeira de caixote dos suecos. Perfeita. Com cadeado e tudo. Com as escovas! as pomadas! lá dentro. “Para ser o presente completo minha mana” disse-me apertando com as mãos grossas cheias de calos, as minhas. Aceita! No Natal. Como uma jóia.

E as velhotas bem velhotas, hidratadas e enfeitadas com brinquinhos de ouro e coralinas ao pescoço do tempo colonial, quando pergunto porque varrem a igreja tanto tanto… Me lembram da Fé. Do amor sei lá. E riem. Felizes! De mim. Uma lindas! Com seus panos impecavelmente engomados nos seus sete metros! Sim sete. E no hospital, doentes…fraquinhos e andrajosos… consolaram-me quando chorei com medo da morte com uma amiga “mana” lá dentro. Numa enfermaria pejada de desesperança. “Num chora mana… komé? Assim não vais aguentar”. Ohhh Obrigada ya!? “fuma um cigarro”. Não não fumo mais! Obrigada. Mas fumaria sim. Dois! Aka! Uf!!!!

Granda povo. xiii!!! E porque quando pari minha filha menina, longe de luanda, lááá em Viana, uma das bébés a quem eu dei de mamar (como a mais cinco, em tempos duros… anos 80 com guerra como parceira), essa mesma bébé visitou-me… anos e anos anos depois. Sim, estava fora do país e quando a mãe a foi buscar ao aeroporto, perguntou o que ela queria fazer. Respondeu: “quero ver a senhora que me deu de mamar”. e veio. E levantou-me! pegou-me ao colo. Forte! Sou atleta! disse em inglês! Vivo na Namibia. Linda! Grande. Como eu ahahaha no meu tamanho mínimo mas feita uma gigante naquele momento. Sou sua mãe de leite caramba!!!! uhuu e chorona como eu também, muito sério, denso! Com seu “cheiro” ainda! E com a sua bela mãe, de botas e camuflado militar. Agora já engenheira de comunicações, cursada na Rússia. Oh pele de galinha! Luanda é mulher. É. Luanda eu lhe conheço os cantos. Os encantos e desencantos. Os passos. Adivinho-lhe as poças na chuva. Os cruzamento fatídicos. Com as operações stop! E os bairros bwe e recantos e becos. Várias baías. E tenho amigos que moram na mesma rua desde sempre. Desde minha infância, em bairros que permanecem com o mesmo belo nome como o “bairro azul”. E eu no meio, sexagenária… um privilégio tê-los e sabê-los até hoje! Passo frente às minhas escolas de infância e adolescência. Ainda são meu caminho com frequência… cheias de boas memórias saindo pelas janelas. um privilégio supremo. Acho. Gosto. E aperiferia. Luanda longe, grande grande. Sem placas a avisar onde se vai parar. Novos caminhos. Vias rápidas. Vidas rápidas!  E a Ilha, a Ilha até à Chicala com o bom carapau, informal e do bom feijão macio em quintais de tias gordas e simpáticas, que nos abraçam no colo apertado. (Pode-se almoçar 4, 5 da tarde!) Elas transpiradas. Da grelha! “Fofa!! Tás linda”! Mentirinhas doces … ahahaha com uma “cuca” a estalar na mão! e a unha pintada de vermelho sangue. E um perfume doce. Depois, os amigos amigos… Não nos vemos mas somos família. De verdade. Surgem na hora do aperto. do nada! Tive essa confirmação faz pouco tempo. E consolam-nos. Ficam connosco. De caxexe, lembram solidariedade em mambus sérios da família. E contam vantagens e mentiras só pa gente rir. Aqui todos sabem de “política” sem saber! E de tudo aliás. Fundamentam seus apartes. A crise. A crise. a tristeza mora calada. Uns e outros. Outros ninguém. Gostamos comunicar. com um micro a frente… oh enrolamos o discurso. sem dizer nada. ficamos famosos ahahah mas no futebol é que se ganha porque estamos sempre a perder ahaha! Incrementando a estiga. A brincadeira sempre pronta.

O gostar do belo e daquilo que faz abrilhantar… pode ser um chapéu de lã quentíssimo com flores ou uma bota de cano alto em pleno verão. normal. Um saiote de renda! alva. debaixo do pano. Mesmo sendo pobre. Muito pobre. Sai nos fardos. e nos fardos sai lá tudo! pancos parros calinas botoes como nao a preço da chuva! vestidos de noite com strasses multicor. fatos de gala…? a malta põe! a festa! Fellini! ahahahaAh! A chuva que nem sempre é amiga, mas é sempre um prenuncio de paródia geral! Tomar banho de chuva depura! Um ritual. Grandes e pequenos a celebram quando chega. É bestial!!! diria meu pai. :) de caxexe comer banana assada com ginguba torrada e croeira no fogareiro, ali mesmo, frente à oponente avenida Marginal. ( juro)… cedinho demanhã… enquanto se lê o jornal esticado no chão com 4 pedras… no artigo que mais chama a tenção. O nacional. com direito a muxoxo. Publicamente. No passeio.

É dessa banda que eu falo. É aqui que eu vivo. E trabalho. E ganho meu pão. E a praia onde vou, faço- o há mais de 50 anos. mais! Consigo ir atrás da estória nesta cidade muitas gerações. Com nomes e episódios de guerra e bwe de paz. e tenho aqui grande parte de Minha família. Gente boa muita boa e incrível lá dentro! Uns extraordinários! em varias áreas e níveis! desde os tempos Ahahaha seres comuns. Ninguém ficou rico. Nossa riqueza maior. E porque muito muito muito mais. E porque os cheiros, os sabores, os sons, as cores, a malícia, a beleza em saldo, o calor, o cacimbo que não é inverno, e o mar de novo, o tamanho do céu, a noite no mato… tudo isso é a grandeza do nosso cordão umbilical. E primal. A saudade de tudo e de todos sempre! As “sentadas” intermináveis. Que fazem casamentos e os desfazem. ahahah Somos líricos a tempo inteiro. entre o amor e o ódio. Levando. Fazemos parte dum sítio incrível que é este lugar. A “mania” de ver o que passa despercebido. A persistência de acreditar que ainda vale a pena. A sensibilidade de gente simples sem truques ao lado dos que tem bweee de manias. E só. Com suas malas Prada. Sem serem falsas. Iguais por dentro. E todos juntos na hora do boda! Na mesma buala! Ahaha porque não?

A ingenuidade, mesmo depois da guerra. O mistério da resistência. Cada um cada um. Um dia por dia. Com um sorriso sempre. E tanta força. Desde os mais antigos que são família, e que bazaram, aos que passam aqui de raspão que são mais que muitos, em desfiles intermináveis, desde gregos a troianos, príncipes e plebeus do mundo, há anos e anos, uns pela guerra outros pela paz, milhares e milhares e milhares, com seus kits!!!! suas estórias de longe que a gente nunca saberá, hoje memórias… todos levam Luanda. Em mochilas feitas de conquistas e derrotas. Com o zíper fechado e “tenso” porque muitas escapam para fora. Para ficarem. Aqui pertencem. Ou não. Não se sai igual quando se vive por aqui. Um micro mundo que nos transforma… para começarmos a olhar para a vida de outra forma. Aqui conhecemos os nossos limites. E aqui aprendemos o verbo “esquindivar” cuja tradução… poderia ser contornar…? Com jeito. :) Fazemos promessas de mentira. Perdoamos o tempo todo. bah! e depois, o mundo lá fora, de novo tipo “normal” kkkk tratará de formatar a cabeça para tentar entender. o coração pa perdoar. Difícil. é por isso que as pessoas que saem e que se vão daqui muitos alguns correm mundo à procura, muitos sem saber… de um lugar assim. que seja parecido. sei lá, não sei bem… o que é, e muitas… desconseguem. Um verbo novo que veio para ficar. Aqui aprendemos a escolher. isto serve. isto não serve. Isto serve. Isto não serve! Como as estórias que nos permitem estes álbuns comuns. Por momentos somos todos um. Por momentos. Luanda com as suas bwe de makas, suas vestes, batotadas. brilhantes. mas sem bainha. Sensual. Proibida. Com os seus “segredos” mal guardados.

Isabel BaptistaIsabel Baptista

Os amores desvairados. Filhos alheios. A noite. Sem qualidade. Mas de noite. Amantes desmascarados. Com as pessoas que a fazem assim… hoje já somos seis milhões num lugar que era de nem um. Misturámo-nos. Adoptámo-nos. Adaptámo-nos. Aprendemo-nos nos primeiros esboços de um lugar que não mais será o mesmo. Pequenas coisas. Cochitas. Para nosso tamanho todo! Pessoas anónimas, caladas as armas da dita guerra… Não temos bombas. Já tivemos lá a nossa parte. As fardas vestem-se porque é Fashion. Kkk Ironia do destino. Ei! harmonia!!!!! temos que fazer por caber. Por isso eu falo. não consigo ficar indiferente e calada perante todo este amor inteiro e tão “ bandeiroso” que é Luanda. Mesmo assim. É como com as pessoas longe de serem bonitas ou perfeitas, mas que nós amamos. Se calhar porque sonham. Por isso eu pinto, nado, por isso escrevo e rego e tou perto. tempos sérios. de discussão. de definição. opinião. E confesso. É amor. Não é paixão. é meu legado. Por isso acho que posso. E que devo falar. São meus jeitos desajeitados do verbo amar. Para durar. e por perdoar. Um dia por dia.

por Isabel Baptista
Mukanda | 13 Março 2018 | cidade, luanda, memória, mulher, pulsar, vida