Acho que a nação é menos conversão política de “partilhas primordiais” do que arranjos políticos. Se um sistema conseguir produzir consensos tácitos a longo prazo pode fundar-se uma nação; é claro que a história comum ajuda. No caso de Angola, já existiam muitos elementos comuns que tornariam possíveis consensos suficientes para o país dar certo; faltou audácia política.
27.02.2016 | por Marta Lança
O Tarrafal tem de ser compreendido no sistema de campos que o colonialismo português activou ou reactivou justamente para conter as rebeliões, não pode ser visto individualmente, mas no conjunto de campos e prisões de Angola, Moçambique, Guiné, das antigas colónias mas também das cadeias portuguesas onde estavam presos políticos africanos.
25.02.2016 | por Marta Lança
Fui testemunha de actos de solidariedade de mulheres da elite com as ex-combatentes que vivem em situações de grande aflição, sobretudo as da Frente Leste e as do Campo de Concentração de São Nicolau. Se hoje podemos ouvir estas mulheres no meu livro é porque as veteranas que são dirigentes me abriram as portas. Joana Mucolo Tchimbinde Fronteira, uma das entrevistadas da Frente Leste, foi muito frontal ao dizer: “Nós não abandonámos o MPLA mas o MPLA é que abandonou o povo”. Mas tem havido uma luta comum pelo reconhecimento no âmbito da organização das mulheres.
24.02.2016 | por Marta Lança
A grande marginalização que está a ser feita pela nossa civilização ocidental, a atirar para o lixo milhões de pessoas, está a alimentar o Islão na sua faceta de protesto, de defesa contra uma agressão cada vez mais violenta. Um Islão que era um imenso mosaico de povos, de formas de ser, está a ser empurrado, pelo autismo desta nossa civilização todo-poderosa, para uma agressiva resistência, como única de forma de manter alguma identidade.
17.02.2016 | por Luís Leiria
Do seu conhecimento sobre música popular angolana e caboverdiana resultaram duas Antologias que são discos fundamentais para compreender a História e a cultura de ambos os países. Ainda no interesse de divulgação musical (do samba ao semba passando pelas várias fusões musicais urbanas) realizou documentários.
28.12.2015 | por Marta Lança
A escritora e investigadora fala sobre a relação entre Angola e Cuba durante o período de guerra e no pós-independência, a propósito do seu livro "Identidade Cubana e a Experiência Angolana", um estudo cultural sobre a missão cubana em Angola. Nascida na Guiana, cresceu no Reino Unido e viveu muitos anos nos EUA. Atualmente pesquisa “Angola no Atlântico Africano” e Lisboa no movimento artístico africano de língua portuguesa.
27.11.2015 | por Miguel Gomes
A história da África nos ensina que a noção de Estado é muito recente e que as fronteira atuais foram traçadas pelas potências coloniais, muitas vezes em detrimento das etnias e das populações migrantes. Frequentemente renegadas, marginalizadas ou simplesmente esquecidas, estas identidades não cessam hoje de serem reafirmadas, às vezes até mesmo à custa de sangue. Um trabalho de memória que se apoie sobre estas identidades anteriores me parece necessário. É apenas sob esta condição que poderemos nos reconciliar com nosso passado e projetar um futuro pacífico em comum.
02.11.2015 | por Icaro Ferraz Vidal Junior
As relações entre Angola e Portugal, durante a primeira fase da guerra pós-independência (1975-1992), foram muito marcadas pela postura de Mário Soares, na sua aversão ao poder estabelecido em Angola. Com a abertura da economia angolana à omnipotência do Mercado, as relações amenizaram-se, embora, mesmo no período de contenção, as relações humanas e familiares conseguiram escapar às questões políticas dos dois governos.
05.10.2015 | por Maud de la Chapelle
Uma pessoa nas minhas condições não tem propriamente onde regressar, tirando os meus bairros. Pelo contrário, e pensando no tópico da auto-descoberta, parece-me que o mais provável é uma pessoa encontrar-se enquanto faz outra coisa, enquanto procura outra coisa, como alguém que encontra uma tesoura quando estava à procura de um tubo de cola. O que me parece inalcançável é imaginar que posso reclamar o título de descobridora daquilo que encontro por acaso e quando não estava à espera.
16.09.2015 | por Marta Lança
Senti que havia interesse em debater o diálogo sul-sul, não só resgatando os momentos históricos de maior troca e contacto (o comércio de escravos e de mercadorias), mas também as possibilidades e expectativas atuais para o olhar contemporâneo. E senti que esse debate deveria acontecer numa cidade que historicamente teve um papel ativo nessa geopolítica do sul negro.
28.06.2015 | por Maud de la Chapelle
A riqueza desta, agora premiada, trajetória de vida ganha forma em uma produção extremamente original e plasticamente epifânica, mas também em um método de ensino elaborado ao longo dos anos de docência, e cujas orientações podem ser resumidas como segue: busque inspiração na sua história pessoal; olhe o ambiente ao seu entorno em busca de materiais; viaje e traga todas essas experiências para seu trabalho...
27.04.2015 | por Icaro Ferraz Vidal Junior
As figuras revolucionárias femininas, como por exemplo a Josina Machel, são representadas como santinhas, sem corpo. Para mim a Yvone Kane é, de certa forma, aquilo do que deveria ter sido representado da Josina Machel. Há um lado muito púdico dos revolucionários, como se as mulheres fossem perfeitas. Nem nos livros de história vamos saber quem verdadeiramente eram.
05.03.2015 | por Marta Lança
Pelo meu relógio são horas de perder todas as vergonhas, as timidezes, são horas de tomar o tempo do mundo e de pôr em prática uma espécie de filosofia de pontapé na porta.
19.02.2015 | por Maria Ampá
Angola é uma fabricação colonial, e que hoje convém que exista, pois vivemos num mundo em que somos regidos pela ideia de Estado-nação, soberano e controlando as suas fronteiras. Fora desse registo, estamos a falar de um território imenso onde coabitam várias culturas e grupos étnicos. Essa diversidade por certo daria origem a várias escolas de belas artes, com conceitos distintos de uma beleza rara e única. Essa diversidade e a interacção cultural vai além do conceito de nação. Ela também é parte da contaminação permanente de culturas estrangeiras, própria de um mundo globalizado.
08.02.2015 | por Miguel Gomes
No 25 de Abril, em 1974, não se discutiu a relação com as antigas colónias. A filosofia oficial permaneceu a do mito do lusotropicalismo*. Em Portugal, a palavra racismo é um tabu.
02.02.2015 | por Maud de la Chapelle
Uma das mais eminentes figuras da atual literatura moçambicana, ponto de referência incontornável para as lutas feministas desse país e uma mulher que abordou na sua literatura, com uma intensidade inusitada, aspetos especialmente conflituosos do tecido cultural africano. São temas silenciados, tabus, assuntos particularmente dolorosos, pendentes, irresolutos, como a guerra civil moçambicana, os direitos da mulher no sistema poligâmico, a magia negra, o curandeirismo tradicional, o racismo e outras formas de discriminação.
26.11.2014 | por Doris Wieser
O samba urbano, nascido na cidade do Rio de Janeiro no início do século XX, constitui uma amálgama de vários tipos de sambas e batuques praticados por africanos em várias regiões do Brasil; e, por isso, foi reprimido e perseguido. Entretanto, quando passou a ser visto como instrumento político, de aglutinação e controlo das massas populares, passou a ser consumido como arte do povo e acabou reconhecido como género musical. Aí, nasce a música popular brasileira, que tem o samba como sua espinha dorsal.
25.10.2014 | por Marta Lança
Não há grandes formas de resistência, talvez só no pensamento: uma pessoa estar consciente das manipulações que ocorrem em si e à sua volta. Nada foge à recuperação capitalista, podes criar micro-espaços de respiração saudável mas nunca absolutamente limpa. É impossível criar uma redoma que te proteja das cores e dos cheiros do capitalismo, do devir geral da máquina. A única forma é rebentar com tudo ou deixar que a coisa impluda.
01.10.2014 | por Marta Lança
A sociedade moçambicana é muito espartilhada, mas já não racialmente, mas sim do ponto de vista económico. Hoje, a cidade de Maputo tem zonas fortemente habitadas por expatriados de várias nacionalidades, não só portugueses, que vivem aí por terem poder aquisitivo, porque representam multinacionais, embaixadas. Temos uma cidade da elite: a Polana e Sommerschield, o bairro central, um bocado da Coop; a classe média em Malhangalene; a classe média baixa em Alto Maé; depois os subúrbios tradicionais: Chamanculo, Mafalala, um verdadeiro caldeirão cultural; depois novos subúrbios que surgiram à volta da Grande Maputo, como Matola, Belo Horizonte, Zimpeto, etc. Há uma classe média florescente, dinâmica, forte, quase totalmente pós-independência, de jovens de trinta e poucos anos.
19.09.2014 | por Doris Wieser
Além de uma escrita jornalística apelativa e abrangente, que nos deixa aceder ao mundo denso de cada personagem e de cada figura retratada, o livro permite-nos acompanhar o processo de pesquisa e o posicionamento da autora, com as suas hesitações, entusiasmos e dificuldades, e chegar ao entendimento de algumas causas e consequências do massacre. Assunto tão delicado, não foi certamente fácil compor, 37 anos depois, com memórias tão divergentes e traumáticas, esta narrativa.
19.09.2014 | por Marta Lança