"A Spontaneous Tour of Some Monuments of African Architecture" de Ângela Ferreira

A Spontaneous Tour of Some Monuments of African Architecture dá título ao novo trabalho e exposição de Ângela Ferreira, com curadoria de Bruno Leitão, apresentação inédita no Hangar. 

2 de junho 16h às 21h até 24 de julho, quarta a sábado, 15h às 19h

O Hangar – Centro de Investigação Artística, abre no dia 2 de junho, entre as 16h e as 21h, a exposição A Spontaneous Tour of Some Monuments of African Architecture da artista Ângela Ferreira.

A atual instalação resulta da investigação continuada que Ângela Ferreira desenvolve sobre edifícios e estruturas, e o seu processo de criação permitiu-lhe “transitar livremente entre a arquitetura tradicional em África e a arquitetura modernista que resta do tempo colonial, mas que agora se integra na malha urbana das cidades africanas”.  

A Spontaneous Tour of Some Monuments of African Architecture expressa a decisão de “trabalhar de forma intuitiva e cumulativa para construir uma série de experimentações escultóricas que constituem uma proposta de uma visão mais inclusiva de um todo na arquitetura africana. Em direção a uma arquitetura panafricana”.  

A arquitetura tradicional em África é, de acordo com a artista, “uma arquitetura muito antiga e com altos níveis de sofisticação”, bem como “rica em espacialidade e forma, e que se presta (ao contrário do modernismo) a ser analisada de maneira mais multidisciplinar”. Associando, ainda, a forma de construir em África, “pelo seu uso de materiais locais, qualidades climatéricas apropriadas e custos mais modestos”, a práticas de arquitetura sustentável, de âmbito comunitário, ecológico e bioclimático, às quais “devíamos todos ambicionar”. 

O “tour espontâneo” que Ângela Ferreira propõe, fê-la também regressar à casa de Dalaba e a debruçar-se pela primeira vez em detalhes do seu interior – paredes arredondadas, pintadas a azul e cobertas por padrões em baixo relevo, e tetos revestidos por cestaria típica, produzida por artesãos guineenses. Esta casa foi construída na Guiné Conacri pela artista e ativista sul-africana Miriam Makeba, também conhecida como “Mama África”, e já havia inspirado o trabalho Dalaba Sol d’Exil, 2019.

Outro dos pontos de passagem do atual projeto é a obra do casal de arquitetos Carlota Quintanilha e João José Tinoco em Moçambique. O casal destacou-se quer pela “qualidade modernista inovadora” da sua obra, quer pela imagem da residência privada que construíram em Cunene e que Ângela Ferreira encontrou num retrato de arquivo, datado de 1953-1956. A atividade profissional de ambos foi desenvolvida, maioritariamente, para o governo colonial e uma clientela de colonos. Porém, como observa a artista, a partir da análise do retrato, eram arquitetos “suficientemente curiosos e inteligentes para estudar e perceber que estavam rodeados de tradições arquitetónicas muito fortes e interessantes”. Tradições que aplicaram no projeto da sua própria casa.

Ângela Ferreira, atelier Coruchéus, Lisboa, Outubro 2020Ângela Ferreira, atelier Coruchéus, Lisboa, Outubro 2020

A exposição A Spontaneous Tour of Some Monuments of African Architecture estará patente no Hangar até 24 de julho, e pode ser visitada de quarta a sábado, entre as 15h e as 19h. A admissão no espaço encontra-se limitada a 5 pessoas em simultâneo, é obrigatório o uso de máscara facial e o cumprimento das normas da DGS a respeito do distanciamento social.

ÂNGELA FERREIRA Maputo (1958). Concluiu os estudos de Artes Plásticas na África do Sul obtendo o grau de mestre na Michaelis School of Fine Art, University of Cape Town. Atualmente vive e trabalha em Lisboa, leciona na Faculdade de Belas Artes de Lisboa, onde obteve o Doutoramento, em 2016. O trabalho de Ângela Ferreira desenvolve-se em torno do impacto do colonialismo e póscolonialismo na sociedade contemporânea. Estas investigações são guiadas por uma pesquisa profunda e pelo filtrar de ideias que conduzem a formas concisas, depuradas e evocativas. Representou Portugal na 52ª Bienal de Veneza em 2007, onde continuou as suas investigações sobre a forma como o modernismo europeu se adaptou, ou não, às realidades do continente africano traçando a história da ‘Maison Tropicale’ de Jean Prouvé. É ainda a arquitetura que serve de ponto de partida para a o aprofundamento da sua longa pesquisa em torno do apagamento da memória colonial e a recusa da reparação, que encontra a sua mais complexa materialização na obra A Tendency to Forget (2015) focando o trabalho etnográfico do casal Jorge e Margot Dias. Pan African Unity Mural (2018), exibido no Maat em Lisboa e no Bildmuseet, em Umea na Suécia, foi concebido, retrospetiva e introspectivamente, para o “aqui” e o “agora”. Além da sua própria trajetória, outras histórias biográficas são simultaneamente narradas, expostas e escondidas neste trabalho. Em Dalaba: Sol’Exil (2019), um trabalho focado em Miriam Makeba, uma das mais proeminentes figuras contra o apartheid, Ferreira cria várias esculturas baseadas em elementos arquitetónicos da casa de exílio onde Makeba viveu em Conakri, quase como um protótipo da relação entre o modernismo e a arquitetura vernacular Africana. As suas homenagens escultóricas, sonoras e videográficas têm continuamente referenciado a história económica, política e cultural do continente africano ao recuperar a imagem e obra de algumas figuras inesperadas como Bob Dylan, Peter Blum, Carlos Cardoso, Ingrid Jonker, Jimi Hendrix, Jorge Ben Jor, Diego Rivera, Miriam Makeba, Angela Davis ou Forough Farrokhzad. 

Dos seus trabalhos recentes destacam-se: Talk Tower for Forough Farrokhzad (2020); 1 Million Roses for Angela Davis (2020); Power Structures (2020); Dalaba: Sol’Exil (2019); Pan African Unity Mural (2018); Remining (2017); Talk Tower for Diego Rivera (2017); Boca (2016); Wattle and Daub (2016); Hollows Tunnels, Cavities and more… (2016); A Tendency to Forget (2015); Wild Decolonization (2015); Messy Colonialism (2015); Revolutionary Traces (2014); SAAL Brigades (2014); Independance Cha Cha (2014); Entrer dans la mine (2013); Mount Mabu (2013); Stone Free (2012); Political Cameras (from Mozambique séries) (2012); Collapsing Structures/ Talking Buildings (2012); Cape Sonnets (2010/2012); For Mozambique (2008).

O HANGAR é um Centro de Investigação Artística localizado na Graça, em Lisboa, que é gerido de forma independente por artistas e curadores. Desenvolve, desde 2015, um programa único em Portugal com residências artísticas, exposições, programa educativo e de investigação. 

Entre as mais de 20 exposições já apresentadas, destacam-se projetos de artistas como Ângela Ferreira, Carlos Amorales, Filipa César, João Onofre, Kiluanji Kia Henda, Luis Camnitzer, Nástio Mosquito e John Akomfrah

O centro já acolheu mais de meia centena de residências, com artistas oriundos de diferentes geografias e realizadas em parceria com instituições de âmbito internacional, como: Gasworks (2015-19); Instituto Tomie Ohtake (2017-19); Fundação Gulbenkian (2015-17); Tate Modern (2017); e Roça Mundo (São Tomé) e Red Gate Galery (2018-19). 

Em 2018, foi criada a editora HANGAR BOOKS, em simultâneo com a apresentação do seu primeiro título Atlantica: Art Today in Angola. No mesmo ano, a equipa artística do HANGAR organizou na Kadist, em Paris, o programa de exposições e conversas Utopias AfectivasEm 2019, foi lançada a HANGAR MUSIC, uma editora independente que promove a interseção entre a música e as múltiplas formas de expressão artística, e representa os artistas Chullage e Af Diaphra.

Em 2020, o contexto pandémico fez emergir a plataforma HANGAR ONLINE, que permitiu reforça a programação do centro com conversas, vídeos e performances, que contam com a participação de artistas, curadores e pensadores de todo o mundo.

O HANGAR é um projeto XEREM, uma associação cultural sem fins lucrativos, fundada em 2009, e que tem como principais objetivos conceber, desenvolver e difundir projetos culturais, sociais, artísticos e pedagógicos de âmbito transdisciplinar e intercultural. 

Com o apoio da CML e no âmbito do programa Bipzip, a XEREM desenvolveu os projetos de intervenção social Desenhar redes (2014-16), Entre linhas (2018) e Compasso (2017-19), este último de arte e música para jovens afro-descendentes. Em 2017, organizou o projeto Nem tanto a sul nem tanto a norte para o programa de Lisboa Capital Ibero-Americana de Cultura.

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Cidade | 22 Maio 2021 | Ângela Ferreira, arquitetura, arquitetura africana, arquitetura panafricana, cidades africanas, hangar, moçambique, urbanismo