Documentários sobre música angolana

Mãe Ju (55’), 2007

Em Luanda, a nova Música / Dança inventa-se todos os dias e evolui a um ritmo efervescente. A novidade do fenómeno deve-se à afluência em massa de jovens vindos directamente das aldeias do interior (de tradições tribais) para a gigantesca metrópole (de vocação moderna e urbana). O resultado é uma explosão de tendências musicais radicalmente inovadoras, contemporâneas, urbanas, em rápida mutação. A experimentação é feita diariamente nos “botequins”, pequenos cafés/bares/discotecas dos bairros populares da cidade. Os novos estilos (kuduro, tarrachinha, quadradinha…) nascem ao vivo, improvisados, nas pistas onde os pares competem em formas de dançar cada vez mais estilizadamente erotizantes. O filme incide sobre o dia-a-dia da Mãe Ju, um botequim emblemático deste movimento. Angola quer mudar, e a mudança já começou nos bairros populares.

 

realização Inês Gonçalves e Kiluanje Liberdade imagem Inês Gonçalves montagem Maria Joana som Kiluanje Liberdade correcção de cor Andreia Bertini misturas de som Vasco Pimentel com Paula Albuquerque produçãoNoland Films
 
Inês Gonçalves nasceu em Málaga. Entre 1984 e 1986 frequentou o Photographic Training Centre, em Londres; trabalhou como fotógrafa para o semanário O Independente. Foi Editora de Fotografia da revista Kapa. Expôs em 1992 no Circulo de Bellas Artes de Madrid; em 1994 no Festival Internacional de Fotografia de Moda de Paris; em 1996 nos Encontros de Fotografia de Coimbra, entre outros. Publicou: Fotografias de Moda, texto de Teresa Coelho e Rui Henriques Coimbra, por ocasião da exposição no Edifício Olaio, 1994; Obras do Metro, Metropolitano de Lisboa, 1996; Cabo Verde, texto de João Miguel Fernandes Jorge, edição dos Encontros de Fotografia de Coimbra, 1999; Coimbra, texto de Pedro Paixão, Editora Quarteto, 2000; Goa: História de um Encontro, texto de Catarina Portas, Almedina, 2001; Manto de Ceres, com Albano da Silva Pereira, edição do Centro Cultural Raiano de Idanha-a-Nova, 1997; Imagens Médicas, Fragmentos de uma História, concepção e coordenação de Manuel Valente Alves, textos de vários autores, Porto Editora, 2001; Topografias da Vinha e do Vinho, coordenação de José Maçãs de Carvalho, Assírio & Alvim, 2003; Tráfego, Antologia Crítica da Nova Visualidade Portuguesa, coordenação de Alexandre Melo, Porto 2001. Em 2000 realizou com Kiluanje Liberdade e Vasco Pimentel o documentário Outros Bairros. Em 2006 realizou com Vasco Pimentel o documentário Pátria Incerta.
 
Kiluanje Liberdade, luso-angolano, 32 anos, carrega um daqueles nomes capazes de só por si imporem destinos: um nome, aliás, característico da euforia nacionalista que se vivia à data da independência de Angola, quando todos os sonhos eram ainda possíveis, e, mais do que possíveis, legítimos e necessários. Radicado em Lisboa desde criança licenciou-se em Ciências da Comunicação e da Cultura, vertente de Gestão Cultural, na Universidade Lusófona, e é actualmente mestrando de Estudos Africanos, no ISCTE. Em 1996 realizou o documentário O Rap é uma Arma, que recebeu o Prémio para a Melhor Primeira Obra no Festival Internacional de Cinema Documental da Malaposta-Amascultura. Exibido várias vezes na RTP. Kiluanje trabalhou ainda com Inês Gonçalves e Vasco Pimentel, em 1999, nodocumentário Outros Bairros. Era já a vontade de iluminar e de dar voz, ou melhor, de dar a conhecer a luz e a voz, de grupos sociais colocados na “margem da zona limite”, para utilizar uma bela expressão com que o pintor António Ole baptizou uma das suas mostras individuais. Já em 2005, Kiluanje Liberdade realizou, juntamente com o escritor Ondjaki umdocumentário sobre Luanda com o título Oxalá Cresçam Pitangas.

 

Margem Atlântica (57’), 2006

Margem Atlântica desenha um roteiro cinematográfico, artístico e musical em Lisboa. Nesta cidade que foi capital do Império e é hoje uma metrópole europeia, autores, actores, músicos inspiram-se nas mestiçagens lusófonas e projectam os seus imaginários para além-mar. Mariza, José Eduardo Agualusa, João Afonso, Amélia Muge, Zézé Hurst, Ângelo Torres, Kalaf Ângelo têm em comum uma ligação pessoal com África, terra das suas origens, famílias, infâncias. Esta dinâmica do filme suscita encontros, entrecruzando olhares e criações, num percurso lisboeta, real e poético, de situações e diálogos, textos e músicas, encenações e imagens. Ouvem-se inflexões negras de antigos fados, sonoridades africanas de melodias portuguesas, e fusões electrónicas afro-lusófonas. As letras das músicas, os textos literários, as sequências teatrais revelam variações da língua e diversidade dos sotaques. Margem Atlântica desenvolve um enredo artístico multifacetado, desenhando os contornos de uma singularidade lusófona aberta sobre o mundo.

guião e realização Ariel de Bigault imagem Leonardo Simões som Olivier Blanc captação das músicas Paulo Abelho montagem Cláudio Martinez e Gaetan Le Martelot misturas Paul Scemama produtores Anne Marie La Toison, HuebrtNiogret e Rui Simões (Real Ficção) produção FMC e Filmoblic (França), Real Ficção (Portugal)

Entre Portugal, Brasil e África, Ariel de Bigault tem percorrido as rotas da lusofonia. Em Lisboa nos anos 80 realizou diversos documentários. O encontro com o Brasil ocorreu com a realização da serie documental Eclats Noirs du Samba (1987); com a participação de artistas excepcionais - Grande Othelo, Martinho da Vila, Gilberto Gil, Zézé Motta, Paulo Moura - e de grandes figuras e grupos da músicapopular, projectou, com alguma audácia, interrogações sobre a criação afro-brasileira. Seguiram-se trabalhos de pesquisa sobre músicas urbanas africanas assim como sobre histórias das músicas de Cabo Verde e Angola (com edição de diversos CD). Ariel de Bigault desenvolveu também muitas acções pela promoção dos músicos portugueses e afro-lusófonos em França e na Europa. Tem trabalhado também em Angola, realizando Canta Angola e A Televisão dos Angolanos e dirigindo Oficinas de documentários. Em Portugal, realizou dois documentários sobre a presença africana: Afro Lisboa(1996) e Margem Atlântica (2006).

 

filmografia
Mulheres em Luta em Portugal, 50’, documentário; Eduardo e Fernando, 45’, documentário (1981); Estão a Ver-nos?, 80’, documentário(1982); Retour au Portugal, 17’, documentário (1985); Éclats Noirs du Samba, 4 x 55’, documentários (1987); Video clip do grupo Finaçon “Si Manera” e “Feia”, 2 x 4’ (1990); Afro Lisboa, 60’, documentário (1996), Prémio António Reis - Melhor Obra Documental nos VIII Encontros Internacionais de Cinema Documental (Lisboa, 1997); Canta Angola, 59’,documentário (2000); Video clip do Tito Paris, 12’ (2002); Margem Atlântica, 58’, documentário (2006).

 

É Dreda ser Angolano (65’), 2007

Heueh! Tudo começou com o disco “Ngonguenhação” do Conjunto Ngonguenha. Recebemos um CD no correio vindo da Matarroa. Escutámos ele e começámos a ver Luanda, a abanar as ancas com os bitis, a mandar gargalhada com as historinhas e, de vez em quando, levando aquele murro no estômago. Tocou duas vezes seguidas no leitor e hoje em dia já nem toca. Está gasto. Logo no momento sentimos que era dos melhores discos que já tínhamos ouvido e que, mais do que boa música, era um documento que retratava Angola. E Angola precisa de ser retratada e mostrada ao mundo. Descobrimos também que um dos elementos do conjunto era nosso familiar e, foi a partir daí que, assumimos a missão (humildementi, claro) de mostrá-lo ao maior número de pessoas possível. Toda a malta a quem mostrámos o disco gostou muito, mas todos diziam não perceber tudo o que era retratado. Novo desafio: “Vamos ilustrá-lo com um vídeo…” Pedimos uma câmara emprestada e fomos a Luanda filmar tudo o que se conseguisse em 12 cassetes que comprámos em promoção. Filma aqui, filma ali. De repente tínhamos tanto material que pensámos em arriscar um mambo tipodocumentário. Editámos tudinho num portátil, cagámos uma historinha, juntámos um monte de malta amiga e temos uma conspiração. Em 2007 fizemos esse CD que reúne artistas do conjunto, familiares e amigos, tudo artistas que admiramos. Tudo para ter e dar promoção. Teve um monte de dicas boas na imprensa toda da Tuga. Já esgotou aqui. Só tem uns poucos espalhados nas loja.

prémio VIMUS de Melhor Videodocumentário Nacional

argumento Toni, Das Krita King fotografia Sista Clementina som Dj Mupla montagem Pedro Coqueirãoprodução Fazuma

Fazuma
Designação colectiva para “família Fazuma”. Começaram na rádio, com programas musicais. Também têm trabalhado na área da fotografia e de clips musicais. É Dreda ser Angolano é a sua primeira longa-metragem.

 

Kuduro, Fogo no Museke  (50’ ), 2008

Desde a sua independência, nunca Angola tinha assistido a um movimento cultural tão dinâmico e tão polémico como o kuduro. Nenhum outro género musical ultrapassou tão rapidamente as fronteiras e se tornou um fenómeno internacional. Kuduro, Fogo no Museke é o retrato social e cultural de uma nova geração que quer acima de tudo ser a voz de uma nova Angola.

argumento Jorge António fotografia Cláudio Jorge música Dog Murras, SeBem, Tony Amado, Puto Prata, Fofandó, Noite & Dia som Hugo Reis montagem Luís Correia, Nuno Egreja com Dog Murras, Tony Amado, SeBem, Puto Prata, Fofandó, Noite & Dia, Paulo Flores, Ana Clara Guerra Marques, José Luís Mendonça, Jorge Macedo, Matan’yadi Norberto, Gaspar A. Neto, Miguel Neto, Abraão Kumba ”Maradona” produtor Jorge Antónioprodução Lx Filmes

Jorge António nasceu em Lisboa a 8 de Junho de 1966. Frequenta a Escola Superior de Teatro e Cinema (1985-88), especializando-se na área de Produção. Trabalha e colabora em cinema, televisão, publicidade e projectos editoriais em Portugal e no estrangeiro. Em 1991 inicia-se na realização de cinema. Entre 1995 e 1999 vive em Luanda, onde se torna Produtor Executivo da Companhia de Dança Contemporânea, tendo produzido mais de 50 espectáculos em Angola, Portugal, Gabão, Camarões, Congo. Actualmente colabora com a produtora LX Filmes.

filmografia
O Funeral, ficção, Prémio Melhor 1ª obra do Festival Internacional de Cinema do Algarve (1991); O Miradouro da Lua, longa-metragem, ficção, Prémio Realização do Festival Internacional de Gramado, Brasil (1993); Uma Frase Qualquer, documentário (1996); Outras Frases,documentário, Prémio Melhor Documentário para TV do Caminhos do Cinema, Coimbra (2003); A Utopia do Padre Himalaya, documentário(2004); Histórias da Vida na Terra, 7×25’ documentários, RTP (2004); Angola, Histórias da Música Popular, 52’, documentário(2005); Kuduru, Fogo no Museke, 50’, documentário (2008); O Lendário ”Tio Liceu” e os N’gola Ritmos (2010) e A Dança dos Akixi(em preparação).

por vários
Afroscreen | 6 Março 2011 | documentário, música angolana