Reflectir #2 - Fragmentos, Fragilidades, Memórias | Exposição Coletiva no Museu de Arte Africana, Belgrado

Em exibição no Museu de Arte Africana de Belgrado, a partir de 13 de Abril, e fruto de uma colaboração entre esta instituição e a Galeria de Arte THIS IS NOT A WHITE CUBE - constrói-se como exposição através da seleção cuidada de obras de artistas angolanos, representativas daquilo que é, num espectro alargado, a produção artística e a reflexão intelectual de uma geração icónica nascida após a independência de Angola, em 1975, sucedendo à afirmação dos movimentos independentistas, à Guerra Colonial Portuguesa e à deposição do regime ditatorial do Estado Novo, em Portugal.

Com curadoria de Ana Knežević, Emilia Epštajn, Graça Rodrigues e Sónia Ribeiro, a exposição reúne um abrangente panorama desta multifacetada produção, onde se ostentam obras em papel, instalações, performance, pintura, fotografia, têxtil e vídeo de ALIDA RODRIGUES, ANA SILVA, CRISTIANO MANGOVO, FRANCISCO VIDAL, JANUÁRIO JANO, LUÍS DAMIÃO, NELO TEIXEIRA, OSVALDO FERREIRA, PEDRO PIRES e ERY CLAVER, que no seu todo revelam a forte afinidade à estética e materialidade estratificada do “arquivo” cuja quase inexistência – por negligência ou depauperação endémica – se tem revelado crítica em Angola.

Januário Jano, Senhô (Place of Memory)Januário Jano, Senhô (Place of Memory)

As obras integradas foram concebidas entre 2014 e 2022, período ao longo do qual se têm vindo a maturar naquele território os processos de construção de um discurso e de uma experimentação artística promotora de uma reflexão conceptual de fundo sobre as questões que histórica, política e socialmente, de forma mais gravosa, implicam o desenvolvimento sustentado do país tendo em conta a sua História recente.

O projeto foi concebido propositadamente para a ala de exposições temporárias, que o Museu de Arte Africana de Belgrado dedica à arte contemporânea, e para estabelecer diálogo com a sua coleção permanente onde se integram objetos, artefatos e obras de arte que refletem a cultura material da África Ocidental, em que Angola se insere. É a segunda edição do projeto “Reflect,” dedicado à apresentação de obras de artistas de origem africana. Após a primeira edição, que incidiu sobre reflexões de artistas contemporâneos da Namíbia (2020), Reflectir #2 explora agora os fragmentos, fragilidades e memórias de artistas contemporâneos de Angola.

Luís Damião e Mussunda N'zombo, Os Mwatas 4Luís Damião e Mussunda N'zombo, Os Mwatas 4

A coleção do Museu de Arte Africana de Belgrado, foi construída a partir de meados do século XX, no contexto do confronto ideológico Leste-Oeste, de afirmação do “Movimento não alinhado”, por oposição ao colonialismo, ao imperialismo,  ao neocolonialismo e ao fortalecimento das potências coloniais ocidentais e do pensamento de carácter hegemónico.

Apesar deste contexto, a exposição permanente não deixa de refletir, de múltiplas formas, uma representação canonizada da arte ocidental-africana. A sua releitura, à medida do que sucedeu internacionalmente em muitas outras coleções, tem vindo a ser trabalhada institucionalmente, do ponto de vista interpretativo, científico e curatorial, em prol da descolonização do pensamento e da afirmação dos princípios do multiculturalismo e da diversidade cultural.

A integração de obras de arte contemporânea angolana oferece assim ao público uma nova perspetiva sobre questões museológicas ainda não resolvidas, relativas à apresentação da arte africana.

“Reflectir #2 - FRAGMENTOS, FRAGILIDADES, MEMÓRIAS” alimenta este ímpeto, da descolonização do pensamento, e inclui criações maioritariamente inéditas. Configura por isso uma oportunidade excecional para travar conhecimento com um trabalho que, sendo atravessado por uma percetível e singular linha criativa, é, simultaneamente, do ponto de vista intelectual, material e técnico, profusamente diverso e híbrido.

Como um todo, a mostra explora criticamente os mecanismos de criação de cânones no meio artístico ocidental, privilegiando em número, a apresentação de obras que materialmente e tecnicamente se distanciam dos suportes e dos géneros artísticos mais convencionais.

Cristiano Mangovo, Regresso 1Cristiano Mangovo, Regresso 1

Alida Rodrigues, Strange and Beautiful BloomAlida Rodrigues, Strange and Beautiful Bloom

Sobre a Galeria This Is Not a White Cube 

A THIS IS NOT A WHITE CUBE é uma galeria de arte contemporânea internacional com espaços expositivos em Luanda (Angola) e Lisboa (Portugal). Representando e colaborando com artistas internacionais estabelecidos e emergentes, o programa da galeria centra-se em narrativas e debates relevantes, associados ao continente africano e à sua diáspora. Apesar da profunda ligação com África, é a primeira galeria de arte contemporânea africana em Portugal que se foca não só nos círculos lusófonos, mas também na estética emergente das produções culturais e artísticas do Sul Global. A galeria mantém uma presença regular e significativa em importantes feiras internacionais de arte. 

A intervenção da THIS IS NOT A WHITE CUBE estende-se além da fisicalidade do espaço da galeria, através de projetos de exposição que potenciam a expansão do mundo da arte a uma multiplicidade de locais, convidando curadores e artistas em colaborações ocasionais, que proporcionam visões e diálogos enriquecedores.

Fundada em Luanda em 2016, por Sónia Ribeiro, - atual CEO - e, tendo-se rapidamente tornado numa das mais prestigiadas galerias de arte em Angola, o projeto expandiu-se em 2019 para um dos bairros mais emblemáticos de Lisboa, o Chiado. Dada a ligação histórica entre Portugal e África, Lisboa foi considerada o local natural para esta primeira expansão da galeria, sendo também uma importante porta de entrada no mercado europeu. Ambos os espaços de exposição desenvolvem um programa independente, oferecendo a colecionadores e entusiastas uma visão focada da produção artística contemporânea dos continentes africano, sul-americano e da sua diáspora. 

Desde a sua fundação, em 2016, a galeria tem representado, exposto e colaborado com artistas emergentes e estabelecidos. Desde então, a galeria mantém-se fiel a um dos seus principais objetivos – proporcionar aos artistas a oportunidade de partilhar as suas perspectivas únicas através do seu trabalho, assim criando e promovendo discussões em torno de narrativas históricas e contemporâneas relevantes no contexto da globalização. Como tal, dentro de um extenso programa anual que inclui exposições regulares em Lisboa e Luanda, a colaboração em diversos projetos culturais e uma presença consistente em numerosas feiras de arte internacionais, a atenção é dirigida para questões como identidade, memória, património, património cultural e mudança social. Os artistas da galeria constam frequentemente no programa de importantes plataformas internacionais, tais como museus, bienais, e outras exposições significativas no mundo da arte.

Os seus três diretores, Sónia Ribeiro, - presidente e fundadora - Graça Rodrigues, - curadora - e Ngoi Salucombo - diretor executivo da delegação angolana - possuem uma visão empresarial e artística singular, sustentada numa sólida abordagem curatorial e de projetos artísticos com base na colaboração.

Em 2019, a galeria criou “O CUBO”, uma plataforma sem fins lucrativos que procura impulsionar a experimentação e a investigação através do desenvolvimento de um programa de residências artísticas, projetos editoriais, mapeamento de arquivos e o estabelecimento de uma rede de parcerias locais e internacionais. 

A galeria já apresentou numerosas exposições em Angola, África do Sul, França, Itália, Reino Unido e Portugal, mas continua a expandir-se e a desenvolver as suas ligações por todo o mundo.

Francisco Vidal, UTOPIA MACHINE, COTTON FLOWERS (O CHEIRO)Francisco Vidal, UTOPIA MACHINE, COTTON FLOWERS (O CHEIRO)

Sobre o Museu de Arte Africana de Belgrado (Sérvia)

O Museu de Arte Africana é o primeiro e único museu da região inteiramente dedicado às culturas e artes do continente africano. Segundo especialistas na matéria, os objetos do Museu de Belgrado compõem uma coleção representativa da arte africana. A Exposição Permanente é composta maioritariamente por exemplos significativos de arte da África Ocidental, incluindo ainda objetos da coleção dos fundadores do Museu - Veda Zagorac e Dr Zdravko Pečar. Paralelamente à exposição permanente, o Museu realiza as suas pesquisas e apresenta diferentes análises temáticas através das Exposições Temporárias, nas quais procura explorar outras áreas culturais africanas: Etiópia, Magrebe, África Central e do Sul. A possibilidade de os curadores alargarem o seu campo de investigação além das coleções principais está, em parte, diretamente ligada à colaboração que se tem vindo a desenvolver ao longo dos anos com colecionadores e benfeitores locais e internacionais.

Um aspecto importante do trabalho do Museu são as publicações regulares, essencialmente de catálogos de exposições, monografias, textos e artigos de especialistas e profissionais de Estudos Africanos, bem como a revista “AFRIKA: Estudos em Arte e Cultura”. Um outro campo de trabalho do Museu são as exposições visitantes: tanto o acolhimento, como as viagens fora do espaço MAA para novos espaços de exposição, entre “novos” visitantes do museu, apresentam um desafio e uma razão para usar todas as oportunidades possíveis para organizar exposições e programas no país e no estrangeiro. A apresentação do património cultural de África é realizada no Museu não só através de exposições, mas também através de programas populares como o Festival Afro, AFRAM e Mundo Colorido, os quais, através de palestras, exibições de filmes, oficinas de arte e música, noites temáticas e concertos - expõem a riqueza da criatividade africana.

Durante cerca de quarenta anos, esta instituição contribuiu significativamente para a promoção e fomentação das relações culturais, promovendo os princípios do multiculturalismo e da diversidade cultural. Endossar a importância do património cultural e artístico africano e não europeu é, em geral, a base sobre a qual assenta o trabalho do Museu de Arte Africana de Belgrado.

Horário de visitas

Todos os Dias | 10h às 18h


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Vou lá visitar | 13 Abril 2022 | arte africana, belgrado, Estado Novo, exposição, exposição coletiva, guerra colonial portuguesa, museu de arte africana, reflect #2, regime ditatorial, this is not a white cube