O FANTASMA DA LIBERDADE Anozero’24 – Bienal de Coimbra

6 de abril a 30 de junho de 2024 Curadores: Ángel Calvo Ulloa e Marta Mestre 

Estará presente em vários locais de Coimbra, alguns deles Património Mundial da UNESCO, abrangendo oito locais diferentes da cidade, incluindo o Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, Círculo de Artes Plásticas de Coimbra (CAPC – Sede e Sereia), Sala da Cidade (Câmara Municipal de Coimbra), Jardim Botânico, Colégio das Artes e Pátio das Escolas (Universidade de Coimbra), e ainda uma intervenção na estação de comboios Coimbra-B.

O FANTASMA DA LIBERDADE é um título que interpela o momento presente, para além de citar o conhecido filme de Luis Buñuel, realizado em 1974. Referimo-nos muitas vezes ao “fantasma da liberdade” para falar do inalcançável que nos escapa, da promessa que alucina o real sem se concretizar plenamente. Na abertura do filme, onde atua o próprio Buñuel, os personagens clamam ironicamente “Vivam as correntes!”. A liberdade, que na primeira cena é uma liberdade política e social, adquirirá outro significado: a liberdade do artista e do criador, tão ilusória quanto a outra.O jogo entre desejo e realidade, que atravessa a construção da liberdade, encontra-se hoje numa encruzilhada, aponta para direções contraditórias. As desigualdades económicas, a determinação do capital, a emergência climática, e as fracturas sociais baseadas na raça, na religião, no género ou na orientação sexual, expõem a fragilidade da liberdade como expressão do Universal. A bienal O FANTASMA DA LIBERDADE propõe uma reflexão a partir destas diferentes perspectivas. Se o Universal não é mais um ponto de partida, não deixa de ser cada vez mais necessário pensar no universalismo como horizonte de liberdade, entendendo que a perpetuação da vida só pode ser a de todas as vidas, humanas e outras que humanas. Neste sentido, a arte é um campo de encontro, resistência, participação, ruptura e potência imaginativa regeneradora. Explorar o imaginário da liberdade e as estratégias oferecidas pela arte contemporânea para disputá-lo, deslocá-lo e habitá-lo é o propósito desta bienal que decorre em Coimbra. O título tem um sentido ambíguo e aberto. Se, por um lado, induz a ideia de que a liberdade é um fantasma, uma presença inescapável e espectral, por outro, aponta para um processo que se adia, vincando a produção alucinatória de um desejo. Não fica de fora desta equação a celebração do 50º aniversário da Revolução dos Cravos (1974), e cabe aqui a reflexão sobre o seu potencial de imaginação histórica, assim como os seus impasses (o eco fraturado no presente do slogan “A paz, o pão, habitação, saúde, educação”). De igual modo, procura-se também evocar uma outra revolução operada na linguagem: o centenário do “Manifesto Surrealista” (1924). À semelhança de Fantômas, o herói ficcional do romance de Pierre Souvestre et Marcel Allain, que sobrevoava os telhados da cidade de Paris, os fantasmas que se evocam nesta Bienal têm um valor poético, isto é, procuram sequestrar os acontecimentos históricos das suas convenções e leituras cristalizadas, e provocar uma suspensão e movimento, aliás, qualidades próprias dos fantasmas.

Artistas / Artists

Mosteiro de Santa Clara-a-Nova

Adam PendletonAline Motta + Ricardo Aleixo HB

Andrea Büttner

Bárbara Fonte

Berio Molina

Carla Filipe

Castiel Vitorino Brasileiro

Daniel Barroca

Davi Pontes & Wallace Ferreira

Diego Bianchi

Filipe Feijão

Ilídio Candja Candja

João Marçal

Luís Cília

Mauro Cerqueira

Patricia Gómez & María Jesús González

Priscila Fernandes

Robert Filliou

Rosemarie Trockel

Sandra Poulson

Susanne S. D. Themlitz

Teresa Lanceta

Yinka Esi Graves

Yonamine + Coleção do Museu da Ciência da Universidade de Coimbra
Círculo Sereia

Pedro G. Romero 
Círculo Sede

Bárbara Fonte

Cildo Meireles

Clara Menéres

Coleção do Museu da Ciência da Universidade de Coimbra

Maria Velho da Costa

Paula Siebra

Paulo Nazareth

Regina Silveira

Túlia Saldanha

Robert Filliou
Sala da Cidade

Teresa Lanceta
Pátio das Escolas

Yonamine
Jardim Botânico

Jeremy Deller
Colégio das Artes

NEG (Nova Escultura Galega)
Estação Ferroviária Coimbra-B

Adriano Correia de Oliveira + Rosalía de Castro

Sobre os curadores

Ángel Calvo Ulloa (Lalín, Pontevedra, 1984) é curador e escritor. Vive e trabalha entre Galiza e Madrid. De entre os seus recentes projetos curatoriais, destacam-se: Habitación. El Archivo F.X., las chekas psicotécnicas de Laurencic y la función del arte, de Pedro G. Romero, exibido no CA2M (Madrid), MNAC (Barcelona) e La Nau (Valência); Autoconstrucción. Piezas sueltas. Juego y experiencia, de Antonio Ballester Moren, apresentado no Artium (Vitoria-Gasteiz); Siron Franco: Pensamento insubordinado (Trabalhos, 1961–2023), exposto no Museu de Arte Contemporânea de Goiás (Brasil); Colosso, no CIAJG (Guimarães); Anidar en el gesto: unas estanterías de Alberto, na Fundación Cerezales Antonio y Cinia (Cerezales del Condado, León). Desde 2011, Ángel Calvo Ulloa também comissariou exposições em instituições como La Casa Encendida (Madrid), Caixaforum (Barcelona), MARCO (Vigo), CCEMx (Cidade do México), Fundación Luis Seoane (A Coruña), Tabacalera (Madrid), Centro Párraga (Murcia) e EACC (Castellón), entre outras. Em 2020, em coautoria com Juan Canela, publicou o livro Desde lo curatorial. Conversaciones, experiencias y afectos, como parte da Colección Paper, de Consonni.

Marta Mestre (Beja, 1980) é curadora e investigadora em arte contemporânea, e tem atuado no Brasil e em Portugal. É formada em História da Arte. Atualmente, é diretora artística do Centro Internacional José de Guimarães — CIAJG, em Guimarães, coordenando Heteróclitos: 1128 objetos, uma pesquisa pós-etnográfica sobre a coleção, e o programa de exposições com Artur Barrio, Fernão Cruz, Priscila Fernandes, Yonamine, Rodrigo Hernández, entre outros. No Brasil, onde viveu durante vários anos, foi curadora no Instituto Inhotim, em Minas Gerais, curadora assistente no Museu de Arte Moderna e curadora convidada na Escola de Arte Parque Lage, ambos no Rio de Janeiro. Escreve frequentemente sobre o trabalho de artistas, é consultora de projetos culturais e integra, atualmente, o comité de aquisições do Centro de Arte Moderna (F. C. Gulbenkian, Lisboa). Como curadora ou cocuradora, Marta Mestre organizou exposições no Instituto Inhotim (Minas Gerais), no MAM–Rio (Rio de Janeiro), no Museu Berardo (Lisboa), nas Galerias Municipais (Lisboa), no Museu Oscar Niemeyer (Curitiba), na Fundação Iberê Camargo (Porto Alegre), no SESC – Pompéia (São Paulo), no S.M.A.K. (Gante), entre outros. Como conferencista leciona em universidades, programas públicos e cursos independentes. É membro do CIMAM — Comité Internacional de Museus e Coleções de Arte Moderna.

Conselho curatorial

Paula Nascimento (Luanda, 1981) é arquiteta e curadora independente. Vive e trabalha em Luanda. É fundadora da Beyond Entropy África, estúdio de investigação que se debruça sobre os campos da arquitetura e do urbanismo, das artes visuais e da geopolítica. Foi responsável pelo premiado 1.o Pavilhão de Angola na 55.a Exposição Internacional de Artes – Bienal de Veneza (2013).

Como curadora independente, tem trabalhado em projetos interdisciplinares, explorando temáticas ligadas às cidades pós-coloniais e leituras contemporâneas para temas históricos. É curadora de várias exposições em Angola, África do Sul, Portugal, Itália, e participou na Experimenta Design, Trienal de Milão, Bienal de Bamako e na 6.a Bienal de Lubumbashi. Atualmente, é presidente do Comité Artístico da Nesr Art Foundation e membro do Conselho Consultivo do Hangar – Centro de Investigação Artística. Foi curadora da plataforma ARE YOU FOR REAL, entre 2019 e 2022, e integrou a equipa curatorial da 7.a e 8.a edições da Bienal de Lubumbashi. Desde 2019, é curadora do África Focus na Arco Lisboa João Fernandes (Bragança, 1964) é diretor artístico no Instituto Moreira Salles desde 2019. Ao longo de seis anos, foi subdiretor de Conservação, Investigação e Difusão do Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia. Entre 1996 e 2002, trabalhou como curador no Museu de Serralves, e, posteriormente, entre 2003 e 2012, exerceu o cargo de diretor do museu. Foi comissário para a representação portuguesa na 1.a Bienal de Joanesburgo (1995), na 24.a Bienal de Arte de São Paulo (2003) e, juntamente com Vicente Todolí, na 50.a Bienal de Veneza (2003).

João Fernandes realizou a sua formação académica na Universidade do Porto, na licenciatura de Línguas e Literaturas Modernas. Na mesma cidade, iniciou o seu percurso no meio artístico e organizou as Jornadas de Arte Contemporânea do Porto, entre 1992 e 1996.

Paula Ferreira (São Paulo, 1993) é escritora e investigadora independente. Atualmente, vive em Lisboa. Tem formação em Fotografia, pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, e em Estética, pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

Em 2022, fundou o projeto transdisciplinar «Aos Cuidados», cujo objetivo se centra na criação de espaços para o debate de questões relacionadas com o direito e acesso às redes de cuidado — através de publicações impressas, exposições, ciclos de cinema e outras iniciativas culturais. Atua no projeto enquanto editora e curadora. Em 2023, foi curadora da exposição Bandeira Branca, na galeria Irmã Feia, em Almada. Tem contribuído regularmente como escritora para a revista Contemporânea.

Sobre o Anozero - Bienal de Coimbra

O Anozero – Bienal de Coimbra tem sido reconhecido como a mais importante bienal de arte contemporânea em Portugal, registando uma média de 90 000 visitantes em cada edição. Criada inicialmente para promover uma reflexão sobre a classificação da Universidade de Coimbra, Alta e Sofia como Património Mundial da UNESCO, em 2013, a Bienal propõe um confronto entre a arte contemporânea e o património cultural, explorando riscos e as múltiplas possibilidades. Anozero é, assim, um programa de ação para a cidade que questiona sistematicamente o território em que se insere para contribuir para a construção de uma época cultural ativa e transformadora. Os artistas, as práticas curatoriais e sociais do Sul Global foram trazidos para este debate pela bienal, amplificados pelo Programa Convergente, proposto por estruturas da cidade, e pelo Programa Educativo, promovido pelo Anozero. O nome Anozero foi escolhido para representar a ideia da possibilidade de renovar ― de dois em dois anos ― um novo ciclo de reflexão, necessariamente atualizado e dinâmico.

A Universidade de Coimbra

A Universidade de Coimbra é uma das mais antigas da Europa, fundada em 1290. Durante quase 500 anos, foi a única universidade de língua portuguesa no mundo (incluindo o Brasil e os países africanos de língua portuguesa). Como tal, teve uma enorme influência sobre um vasto território, influência essa reconhecida pela UNESCO ao classificá-la como Património Mundial.

Mosteiro de Santa Clara-a-Nova

Situado numa colina na margem esquerda do rio Mondego, este enorme edifício foi concluído no século XVII para albergar a ordem feminina dos franciscanos ― as clarissas ― e para guardar os restos mortais da rainha D. Isabel, mulher de D. Dinis de Portugal, fundador da Universidade de Coimbra. Após a extinção das ordens religiosas em Portugal, no século XIX, foi entregue ao Estado português, tendo sido utilizado durante um século como quartel militar.

Imagem: Interior do Mosteiro de Santa Clara-a-Nova em Coimbra, Portugal, um dos locais da Bienal de Coimbra Anozero’24.
Crédito: © Jorge das Neves Cortesia de Anozero - Bienal de Coimbra

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Vou lá visitar | 5 Abril 2024 | Anozero’24, Bienal de Coimbra