Siríaco e Mister Charles, excerto

Siríaco e Mister Charles, excerto Chamar-te-ei Siríaco, velho, que foi o teu nome próprio de baptismo, bem antes de as trevas e o lume brando dos dias fazerem de ti menino-onça ou negro «pigarço», e de eu poder, aqui e agora, escrever a tua história — a vida extraordinária do homem coberto pelo manto do espanto e do mistério. E nesta noite, de vento e de forte maresia, a pergunta que te assola, nesse canto da taverna, tem a forma de uma espada sobre a tua cabeça: terá sido essa tragédia, que levou Aurélia tão cedo, um castigo por não teres seguido viagem e acompanhado a família real para o Brasil?

A ler

07.12.2023 | por Joaquim Arena

Lisboa Mesma Outra Cidade

Lisboa Mesma Outra Cidade Duramente atingida pela austeridade, radicalmente transformada pelo turismo, subitamente suspensa pela crise sanitária, a cidade de Lisboa sofreu profundas transformações durante a última década. Fruto de políticas que popularizaram a sua imagem enquanto cidade cosmopolita e de lazer, a turistificação e financeirização do espaço público e privado transformaram as formas de ver e viver Lisboa.

Cidade

24.10.2023 | por Catarina Botelho e David-Alexandre Guéniot

Pré-publicação | Afrotopia

Pré-publicação | Afrotopia O Afrotopos é aquele lugar outro de África cuja vinda há que apressar porque realiza as suas potencialidades felizes. Fundar uma utopia não é de todo deixar‑se levar por um doce sonho, antes pensar espaços de realidade produzidos pelo pensamento e pela acção; é localizar os seus signos e as suas origens no tempo presente, com o intuito de os nutrir. A Afrotopia é uma utopia activa que se propõe encontrar na realidade africana os vastos espaços do possível e fecundá‑los.

A ler

28.07.2022 | por Felwine Sarr

“O impossível hoje é possível amanhã”.

“O impossível hoje é possível amanhã”. Este é um livro-homenagem a Paulo Freire que se tornou um educador do mundo pela ampla difusão de suas ideias filosóficas, de seu método pedagógico e de sua ação, primeiro no Brasil, depois no Chile, seguindo para países da América Latina, Estados Unidos, Europa, África, Ásia e Oceania. Em relevo estão momentos-chave da trajetória de Paulo Freire e o itinerário internacionalista de um pensamento cuja recepção por largos anos foi marcada pelo interdito, pela censura, por uma circulação clandestina e pelo exílio.

A ler

21.04.2022 | por Adelaide Gonçalves, Débora Dias e Fernando de la Cuadra

Excertos do Livro “Prisão Política”

Excertos do Livro “Prisão Política” Mabiala ainda estava acordado. Sorrateiramente, começámos a falar, tentando perceber aquela requisição nocturna e tão imprecisa. Preparei-me para o pior. Podendo ser o momento da execução, retirei da Bíblia o papelinho que continha o número de telemóvel da Neusa. Coloquei no bolso da calça. «Se me matarem e atirarem o corpo para alguma mata ou rua, pelo menos alguém encontrará um número para contactar. Se for ao rio, espero que os jacarés não comam o papel e a água não apague totalmente o número», pensava. O meu «compuna» – calão para companheiro de cela – acreditava ser uma transferência para o Hospital-Prisão de São Paulo.

Mukanda

14.03.2022 | por Sedrick de Carvalho

Livro: 'Oil Dorado'

Livro: 'Oil Dorado' Num regime de propriedade dominado por grandes latifúndios e num contexto sociodemográfico de abandono e de envelhecimento da população, as imagens recolhidas são expressivas de uma realidade mais profunda, enraizada na concentração do poder de decisão e no vazio sócio-ambiental criado pelo progressivo desvínculo da paisagem por parte daqueles que possuem um maior sentido de comunidade e de ligação à natureza envolvente.

Jogos Sem Fronteiras

16.11.2021 | por André Paxiuta

Introdução do livro "Funaná, raça, masculinidade"

Introdução do livro "Funaná, raça, masculinidade" O presente livro propõe uma etnografia e história do funaná, uma prática de música e dança que emergiu na ilha de Santiago, Cabo Verde, no período pós-escravatura de final do século XIX, ligada às práticas expressivas de tocadores de gaita (um acordeão diatónico de botões), fero (uma barra de ferro friccionada e percutida com uma faca) e cantores, assim como de audiências participativas. Ao situar esta prática expressiva numa trajetória colonial e pós-colonial o livro procura questionar de que modo a prática cultural e a raça enquanto formação discursiva se entrelaçaram em contextos coloniais, como esse entrelaçamento foi questionado na pós-colonialidade, e que legados desse processo de racialização persistem no presente.

A ler

20.09.2021 | por Rui Cidra

"Pode a subalterna tomar a palavra?" — Prefácio

"Pode a subalterna tomar a palavra?" — Prefácio O conceito de subalterno/subalterna desempenha uma função estratégica na argumentação de Spivak, neste e nou­tros textos. Trata-se de um conceito originado na reflexão de Antonio Gramsci sobre «a questão do Sul» e que, no contexto indiano, foi adoptado pelo Subaltern Studies Group, de ins­piração marxista, a que Spivak esteve associada, mas do qual viria a demarcar-se. Entre outros aspectos desta demarcação, a crítica desconstrutivista à noção de sujeito desempenhou um papel fundamental: o subalterno/a subalterna definem-se, não enquanto classe, no sentido marxista convencional, mas sim pela posição não-hegemónica que ocupam no seio das relações de poder.

A ler

01.03.2021 | por António Sousa Ribeiro e Gayatri Chakravorty Spivak

(Des)controlo em Luanda: urbanismo, polícia e lazer nos musseques do Império

(Des)controlo em Luanda:  urbanismo, polícia e lazer nos musseques do Império O racismo entre as duas comunidades dividia, de cima a baixo, a sociedade luandense, do poder judicial ao comércio que se fazia no interior dos musseques. A retórica usada pelo procurador, ao tentar abanar os alicerces sociopolíticos dessa justiça racial e ao pôr a descoberto a hipocrisia, o subjetivismo e a parcialidade dos juízes, invocava três imagens sobre o mesmo espaço: o recorrente dualismo entre a cidade branca e a cidade negra; um roteiro da modernidade urbanística conspurcada pelo terrorismo e a geografia punitiva do império.

Cidade

04.01.2021 | por Bernardo Pinto da Cruz, Nuno Domingos, Diogo Ramada Curto, Juliana Bosslet, Marcelo Bittencourt e Pedro David Gomes

Livro | Cesária Évora

Livro | Cesária Évora ELA retira com um movimento o maço de tabaco com isqueiro e levanta-se da cadeira com um pesado “oi” e começa a seguir o trilho traçado pela lanterna do Ângelo, consciente de que, mal transgrida o limiar seguro da escuridão, vão acordar todas as luzes que vagueiam pelo palco, vão virar para ela todas as objetivas, vão acender luzinhas de controlo de máquinas de filmar, e, afinal, toda a sala vai vibrar com palmas e gritos.

A ler

13.12.2020 | por Elżbieta Sieradzińska

Prefácio do livro "Sinfonia em Claro-Escuro" de Elsa Fontes

Prefácio do livro "Sinfonia em Claro-Escuro" de Elsa Fontes Embora não seja uma obra concebida para agradar um grande público é, no entanto, uma sucessão de oferendas, sobretudo no que se refere ao amor que tem pela família, à admiração que cultiva por alguns amigos ou sua memória, ao carinho que sente pelas terras por onde andou e que lhe deram um olhar maior sobre o mundo, suas gentes e diferenças. Trata-se de um livro de pormenores e lembranças, de luta e exposição só possíveis de transmitir de forma tão forte e incisiva pela escrita em primeira pessoa.

Mukanda

05.11.2020 | por Dina Salústio

Reparar no olhar: Lisboa anos 90

Reparar no olhar: Lisboa anos 90 A cidade surge, no livro, frequentemente perspectivada a partir das periferias, ou mostrada a partir de espaços intersticiais no que diz respeito à representação, hoje tão claramente tipificada, do centro histórico, (e ali praticamente ausente, tal como as Avenidas Novas). “O que é que pomos no nome Lisboa?”, questionou-se a dada altura na conversa, referindo-se também que a sua paisagem (e aqui inclui-se os ditos espaços verdes), surge em muitas das imagens na condição de espaço desabitado ou circunscrito ao olhar de um único indivíduo.

Cidade

24.01.2020 | por Ana Gandum

O grito da bananeira

O grito da bananeira A acção principal decorre, saltitante entre quatro ilhas de Cabo Verde - Sal, São Vicente, Santo Antão e Santiago, sendo recortada por episódios desenrolados de Norte a Sul de Portugal, e suavemente pontuada por anotações de uma Índia por descobrir, denunciando um desejo iminente de continuação do enredo pela Ásia. Partir para voltar. Este mote, ecoando numa busca por voltar a casa, transformou-se num relato urgente de lições apreendidas, num momento de abertura total à sincronicidade do Universo. Que os Mestres de Esquina que conduziram a autora nesta jornada, possam agora acompanhar o leitor também.

A ler

12.02.2019 | por Ana Pracaschandra

Duplo vê

Duplo vê Duplo vê é, ao mesmo tempo, o nome em extensão da letra W (inspirado no título de George Perec, W ou les souvenirs d’enfance) e também o “duplo ver” de um Deus vesgo. Duplo vê poderia ter um subtítulo: ensaio sobre o estrabismo de Deus.

Mukanda

17.02.2017 | por Mattia Denisse

"Alzira está morta" - PRÉ-PUBLICAÇÃO

"Alzira está morta" - PRÉ-PUBLICAÇÃO Era um abril chuvoso. A estiva agitada no cais de Salvador. Não era um bom dia para partir. Alzira estava lá, pronta. Bagagem bem ajeitada em malas de couro e ferro feitas no Taboão. Resistiriam bem àquela rota mítica tantas vezes navegada. Lagos era a meca dos negros da Bahia. Ao menos para aquela intelligentsia que conhece sua história e sua civilização. Ela envaidecida. Tal como outros distintos, conheceria Lagos, Alzira mesma, com todos os seus sentidos. Também ela desfrutaria daquela aura. O livro "Alzira está morta" será lançado a 14 de abril no Hangar, Lisboa.

Mukanda

14.03.2016 | por Goli Guerreiro

PRÉ-PUBLICAÇÃO "Cartas de Amílcar Cabral a Maria Helena: a outra face do homem"

 PRÉ-PUBLICAÇÃO "Cartas de Amílcar Cabral a Maria Helena: a outra face do homem" Cartas que Amílcar Cabral escreveu a Maria Helena Vilhena Rodrigues, no período de 1946 a 1960, marcando a relação amorosa e as tensões e conflitos histórico-existenciais da relação do casal no contexto de um Portugal, na altura, fascista e colonial, no qual imperava o racismo e a segregação. O livro também faz um apanhado sobre o afrontamento anticolonial em torno da geração de africanos então presentes em Lisboa e da famosa Casa dos Estudantes do Império, onde germinariam os grandes líderes africanos da segunda metade do século XX. A obra traz novos paradigmas de diálogos interculturais e inter-raciais, com elementos matriciais de uma interpelação humanista susceptíveis de provocar interesse em face dos atuais acontecimentos mundiais.

Mukanda

09.03.2016 | por vários

Mulheres de armas, entrevista a Margarida Paredes

Mulheres de armas, entrevista a Margarida Paredes Fui testemunha de actos de solidariedade de mulheres da elite com as ex-combatentes que vivem em situações de grande aflição, sobretudo as da Frente Leste e as do Campo de Concentração de São Nicolau. Se hoje podemos ouvir estas mulheres no meu livro é porque as veteranas que são dirigentes me abriram as portas. Joana Mucolo Tchimbinde Fronteira, uma das entrevistadas da Frente Leste, foi muito frontal ao dizer: “Nós não abandonámos o MPLA mas o MPLA é que abandonou o povo”. Mas tem havido uma luta comum pelo reconhecimento no âmbito da organização das mulheres.

Cara a cara

24.02.2016 | por Marta Lança

CORPO em revista, novo projecto BUALA

CORPO em revista, novo projecto BUALA Pensar sobre o corpo é uma necessidade estratégica, uma vontade de questionar os processos normativos de exclusão, naturalização e produção, pôr em movimento novas formas de estar no mundo, novos afectos, abrir o horizonte do pensamento sobre o corpo. A ideia é insistir menos na política identitária ou nas pretensões identitárias (e sua subversão enganadora) e mais na precariedade e nas suas distribuições da diferença e da exploração nos mapas do poder contemporâneo.

A ler

06.11.2012 | por Buala

A poesia é para comer - Iguarias para o corpo e para o espírito

A poesia é para comer - Iguarias para o corpo e para o espírito Há muito tempo que versos e petiscos se cozinhavam na minha mente, em lume brando, como convém a uma receita que se quer apurada, insinuando no meu espírito aromas irresistíveis de cozinha de infância. Nasci numa família em que a gastronomia foi sempre – ao longo de gerações – um culto e um prazer, com honras de biblioteca e pesando, até, na escolha de itinerários de viagem. E o que pode haver de mais poético do que as memórias de um tempo em que tudo era assim, brando e promissor, sem pressas nem atropelos, apesar da sede imensa de uma vida inteira pela frente, por beber ainda? Enquanto tudo se espera, tudo pode acontecer…

Mukanda

15.05.2012 | por Ana Vidal