Desde 2019, a crise económica no Brasil atirou dezenas de milhares de pessoas para uma longa rota de migração em direção à fronteira entre o México e os Estados Unidos. Famílias inteiras juntam-se a centro-americanos, cubanos, haitianos, venezuelanos, africanos ou asiáticos num caminho perigoso. Sem retorno, este caminho, para os que o deserto lhes tira o alento.
Jogos Sem Fronteiras
26.10.2022 | por Pedro Cardoso
A conceção liberal de refugiado tem um efeito prático inegável: segrega. Deixa poucos direitos aos refugiados e nenhuns aos migrantes económicos. A criação destas categorias, baseadas, muitas vezes, em artificialismos, permitem, à partida, escolher as pessoas, aquelas que merecem, ou não, o nosso apoio. Que merecem, ou não, ser salvas. E, ao catalogá-las permanentemente, estamos a desprovê-las de capacidade reivindicativa, a inibir qualquer mobilização coletiva. A despojá-las do direito a ter direitos.
Jogos Sem Fronteiras
09.08.2022 | por Mariana Carneiro
No início da década de 1970, quando Jorge Bodanzky começou a filmar o real nos territórios amazónicos, o Regime Militar brasileiro (1964-1985) promovia um imaginário irreal sobre Amazónia, com o fim de desmatar a floresta, explorar as suas terras, integrá-las num projeto colonizador megalómano. Para chamar os colonos de todo o Brasil, as campanhas da ditadura vendiam a Amazónia como uma “terra sem homens para homens sem terra” ou como “um deserto verde”. Oficialmente, a “Revolução chegava à selva” mas, de facto, o que se implementava era uma sanha destruidora que não se deteve até aos dias de hoje.
Enquanto militares e empresários ampliavam fronteiras colonialistas, Bodanzky abria fronteiras através do cinema, com o registo da degradação social e ambiental em curso.
Afroscreen
12.07.2022 | por Anabela Roque
Em resumo, os moradores de rua localizam-se territorialmente, sobretudo, através do seu
corpo. Por um lado, suportam as mazelas físicas e morais impressas pelas interdições à sua presença, sofrem uma tensão latente que encurva e amarra seus movimentos, comprimem os corpos de maneira a caber nos interstícios e espaços ociosos dos quais se apropriam. Por outro, desviam-se dos obstáculos, moldam técnicas corporais de sobrevivência, demarcam lugares de intimidade, arranjam maneiras de saciar suas necessidades corporais, tornam-se miméticos do espaço acomodando a sua presença à paisagem urbana, criam visibilidades desnorteantes quando necessitam se fazer notar. Essa corporalidade pressupõe resistência à sua eliminação. E se não existe tenacidade possível na manutenção de uma propriedade material, há na forma de preservar sua existência material e simbólica. A subjetividade garantindo o corpo vivo.
Cidade
05.06.2022 | por Simone Frangella
O fim do caminho. Cada vez mais angolanos chegam à fronteira do sul do México, vindos do Equador. Encontram um muro militar que não os deixa continuar. Alguns fintam as autoridades e conseguem chegar aos EUA e Canadá, onde se organizam para começar uma nova vida. Despedimo-nos de Ana e João. Reencontramo-nos com Luzia por quem a conheceu.
Jogos Sem Fronteiras
25.06.2021 | por Pedro Cardoso
A imagem da mulher passa pelo estereótipo profundamente enraizado que remonta à antiguidade. É a ideia de que as mulheres estão imóveis, à espera, no espaço do lar e da reprodução da família. Estão, portanto, ancoradas enquanto os homens navegam. Esta é uma das razões pelas quais a migração das mulheres não foi discutida durante muito tempo. Não parece natural imaginar mulheres em movimento.
Cara a cara
22.03.2021 | por Brahim Nejma e Schmoll Camille
Tem a ver com a história colonial da Europa como um todo: Vejo este fenómeno de migração do Sul global para o Norte global como a fase mais recente da longa história do capitalismo racializado e do colonialismo. Muitas destas pessoas que estão a tentar atravessar vêm de países anteriormente colonizados pela Europa. Sabemos que a longa história de colonização tem um impacto no presente em termos de desigualdade estrutural, pobreza, despossessão e guerra. Ao mesmo tempo, assistimos à incapacidade da Europa em se reconciliar com a sua própria história.
Cara a cara
02.01.2021 | por Alícia Gaspar e Yannis Hamilakis
O que me chocou, no início da pandemia, foi o quanto o debate se focou na desresponsabilização do ser humano. Ali, no sudeste asiático, são sociedades totalitárias e conformistas, usam máscara de qualquer maneira. Esse discurso é de divisão e este paralelo entre a migração se deixar explicar como algo vindo de fora e o vírus como algo apenas biológico e não político. A divisão nasce da ilusão de que na Europa do norte fomos atingidos e, como tal, não só não reconhecemos a causa destes problemas como também caímos nos nossos nacionalismos para resolver este problema, não para o mundo mas para nós.
Jogos Sem Fronteiras
18.11.2020 | por Gisela Casimiro
Nestes filmes de cineastas latino-americanas o tratamento das noções dinâmicas de “território” e de “fronteira” — e do princípio de circulação subjacente — assenta num sistema de mobilidade e de retroação do olhar. Esse sistema põe em xeque a relação dual e hierárquica entre as categorias de observador/observado, sujeito/objecto, humano/não-humano que estrutura o modelo epistémico e representativo dominante.
Afroscreen
04.03.2020 | por Raquel Schefer
E eis que agora, na praia, Teófilo aguarda para que o sibilar do vento erga as ondas. Vê-a agitar as asas com graciosidade. Os seus pulsos tocam-se na fluidez da respiração. As penas negras da cabeça confundem-se com o tutu negro e o ondular de todo o corpo flutua em círculos pelo mar. E, de repente, uma perna tem a liberdade de um braço. A cabeça basculante debate-se. Fátima voa, foge, tem medo, encolhe-se. Mergulha e emerge. É devorada pela água. Emerge. Vai para cima e para baixo, repetidamente. Entre o mar e o céu, o céu e o mar.
Jogos Sem Fronteiras
30.10.2019 | por Yara Monteiro
Atravessar fronteiras físicas e disciplinares é uma vocação de Achille Mbembe. A temática da passagem e do movimento é, aliás, uma chave para a sua compreensão da história e da cultura africanas. A sua perspectiva sobre o passado, o presente e o futuro de África implica ao mesmo tempo traçar uma genealogia da modernidade europeia, das categorias do pensamento que ela construiu, da racionalidade e da historicidade da figura do negro.
Cara a cara
19.12.2018 | por António Guerreiro
Segundo um relatório publicado pelo Alto Comissariado para as Migrações, cerca de metade dos 1520 refugiados que chegaram a Portugal entre 2015 e 2017 abandonaram o país. “A saída de tantos refugiados do país é um dos maiores indicadores de que os refugiados são mal recebidos e de que há discriminação”.
Jogos Sem Fronteiras
06.08.2018 | por Marta Vidal
A construção dos ‘bons’ e ‘maus imigrantes’ pelo centrão partidário, para justificar políticas restritivas da imigração e se desresponsabilizar pela discriminação racial. Os refugiados, umas escassas centenas até 2015, num país que se auto-declara campeão da tolerância. E que os portugueses ‘preferem’ aos imigrantes, como indicava a European Social Survey publicada em 2016. Os escravos comparados a imigrantes. Em incalculáveis momentos solenes, discursos políticos, monumentos e exposições, panfletos e manuais, para mostrar como Portugal colonial foi pioneiro da globalização e da interculturalidade. E o Portugal dos Pequenitos, quando vamos falar do Portugal dos Pequenitos?
A ler
05.04.2017 | por Marta Araújo
“Espera, espera…” é a única resposta que recebem do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), que em 2016 entendeu fechar ainda mais as portas da Europa-fortaleza. Tão fácil e popular é o medo e a paranoia securitária, que veem terroristas em cada semblante vindo de fora, mesmos naqueles que jazem no fundo do mar Mediterrâneo.
Jogos Sem Fronteiras
30.01.2017 | por Filipe Nunes
recusamos legitimar qualquer política de confinamento das pessoas que impeça o exercício do direito fundamental a procurar algures um presente e um futuro melhor. Recusamos compactuar com a instrumentalização do medo e da emoção assente num racismo culturalista dirigido a imigrantes/refugiados que são classificados como «perigosos» com base em critérios de diferença racial ou religiosa. Recusamos a falsificação histórica que representa a Europa como marcada por uma identidade homogénea e todas as narrativas artificiais que inventam e propagam valores exclusivos. Recusamos assistir passivamente a discursos que reforçam a necessidade de medidas securitárias, levando à legitimação de instrumentos desumanos e violentos como as rusgas de imigrantes, os centros de expulsão e as deportações.
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10.10.2015 | por vários
O programa de 2015 convida a uma rota por “Todas as Fronteiras” – geográficas, geopolíticas, entre quem filma e quem é filmado, o visível e o invisível, o centro e a periferia, o público e o privado, o som e a imagem – e conta com a presença dos realizadores Adirley Queirós, Catarina Mourão, Eloy Domínguez Séren, Eric Baudelaire, Eyal Sivan, Filipa César, Joana Pimenta, Nelson Carlo de los Santos Arias e Salomé Lamas.
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13.09.2015 | por vários
Em sentido lato, uma fronteira é uma linha imaginária que delimita o território (terrestre, fluvial, marítimo e aéreo) de um determinado Estado, separando-o de territórios adjacentes. Dentro de cada um dos limites criados vigora um ordenamento político e jurídico, específico e autónomo, diferente daquele possível de encontrar “do outro lado”. Esta percepção vigorou até aos finais do século XX, quando o fim da “Guerra Fria”, o incremento do processo de Globalização, a crescente cooperação económica internacional e o desenvolvimento de instituições supranacionais trouxeram novas abordagens sobre o tema. As fronteiras foram então condenadas por vários teóricos a um “quase desaparecimento”, devido ao fluxo cada vez maior de pessoas, bens e serviços entre vários países, e mesmo continentes, e que contribuiu para cimentar o princípio de que as fronteiras não são linhas fixas ou barreiras
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14.11.2014 | por Marta Patrício
Entendemos a fronteira não como um sulco mas como um programa “cujo funcionamento investe e percorre todo o conjunto das relações sociais”, como uma polícia especializada em separar quem é de quem não é, como uma operação que está permanentemente a ser reactualizada no espaço, nas disciplinas, nos saberes e nos nossos próprios actos, como uma linha que nos atravessa a todos e de que é importante falar.
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30.12.2013 | por Ana Bigotte Vieira
«Somos favoráveis a negociações e a que se encontre uma solução definitiva neste conflito entre o Mali e o Azawad», declarou em 16 de Novembro Bilal Ag Achérif, porta-voz dos rebeldes em Uagadugu (Burquina Faso), onde foi organizada uma mediação internacional. Por seu turno, as Nações Unidas discutem a possibilidade de uma intervenção militar. A divisão do Mali ilustra a fragilidade das fronteiras africanas, patente desde o fim da Guerra Fria.
Jogos Sem Fronteiras
08.01.2013 | por Anne-Cécile Robert
O complexo da De Beers é apenas uma coordenada ilusória; à parte do mundo lunda-tchokwe que ali se edificou, entre as paredes que falam em inglês, hesitam em falar português e onde o tchokwé ficou soterrado, longe dos lençóis luzentes de pedras preciosas.
A fronteira com o Congo oferece apenas a alusão à famosa vida das fronteiras, dos contrabandos, dos kilapes, da iminência da sobrevivência, dos idiomas que se fusionam em dialetos de notas musicais quase intocáveis, dos filhos feitos à sombra do camião de carga que espera voltar à estrada e das incontáveis gasosas.
Vou lá visitar
20.12.2012 | por Sílvia Norte