De como se constrói um Europeu

De como se constrói um Europeu Leio com atenção as notícias da chegada de mais e mais emigrantes às “costas da Europa” (qual será a Europa deles? Em que janela a terão desenhado a contraluz?); apercebo-me da sua presença nesta Europa em que vivo, sinto o reforço das leis e a construção dos campos de detenção para os acolher, a sociedade a mudar com a sua presença, a minha presença a mudar com a presença deles, Lisboa a ficar capital Europeia, eu a ficar Europa que não quero ser.

11.11.2010 | por Ana Bigotte Vieira

De como se constrói um imigrante

De como se constrói um imigrante Quando um “sem-papéis” consegue chegar a Ceuta tem de se apresentar na esquadra. Aí é registado como não tendo papéis, cabendo às autoridades locais decidir o que fazer com ele, o que pode variar entre a deportação e o receber um documento provisório, que permite ao indivíduo deslocar-se em território europeu (sem, no entanto, ter documentos que lhe permitam assinar um contrato de trabalho). Muitas vezes, à porta das esquadras, elementos da Guardia Civil impedem-nos de se apresentar às autoridades, entregando-os aos militares marroquinos.

10.11.2010 | por Ana Bigotte Vieira e Hugo Maia

Pela abolição das fronteiras herdadas da colonização -entrevista a Achille Mbembe

Pela abolição das fronteiras herdadas da colonização -entrevista a Achille Mbembe Esta oscilação da geografia, do imaginário e das formas de mobilidade é um fator chave das recomposições em curso. Acompanhar de maneira criativa estas recomposições exige que sejam abolidas fronteiras herdadas da colonização, que sejam abertos grandes espaços de circulação sem os quais não haverá nenhum pólo regional de força económica e de criatividade intelectual, cultural e artística. Nós temos que abrir em África vastos espaços de livre-circulação.

16.10.2010 | por Achille Mbembe

Somos todos ilegais

Somos todos ilegais De Melila à Polónia, de Chipre às Canárias, milhares de pessoas tentam quotidianamente abandonar os seus locais de origem e atingir o continente europeu em busca de melhores condições de vida, deixando para trás os mais variados cenários – guerras, incêndios, secas, inundações, regimes repressivos, desemprego maciço, salários de miséria, fundamentalismos vários – e confrontando-se, em todo o lado, com a mesma estratégia repressiva, as mesmas barreiras e perseguições, o mesmo racismo e a mesma violência.

01.08.2010 | por Ricardo Noronha

Fronteiras, migrações e cidadania

Fronteiras, migrações e cidadania A proliferação de confins, a sua prismática decomposição e recomposição, constitui o outro lado da globalização. E acrescentaram: o sonho de um espaço totalmente fluído e transitável é talvez a última utopia do século XX. A suavidade característica do espaço contemporâneo dissolve-se, porém, mediante um olhar mais próximo. Um dos resultados mais imediatos dos movimentos e das interligações globais, parece ser a proliferação de confins, sistemas de segurança, checkpoints, fronteiras físicas e virtuais. É um fenómeno visível, quer a nível microscópico, nos territórios em que nos movimentamos no dia-a-dia, quer a nível macroscópico, nos fluxos globais: os confins estão, de facto, por todo o lado.

26.07.2010 | por Sandro Mezzadra

Escrever uma contra-geografia

Escrever uma contra-geografia Decidi agir na esfera simbólica, o objectivo não é mudar o mundo mas mudar o discurso em relação ao mundo. Contribuir para a tomada de consciência da nossa própria responsabilidade nos fenómenos globais. No meu trabalho artístico e textual, esforço-me para clarificar a correlação entre as sociedades de alta tecnologia e o surgimento de condições de vida precárias. Um dos meus principais objectivos é dar a conhecer que as causas e as soluções não estão sempre “noutros lados”.

27.06.2010 | por Ursula Biemann

A lusofonia é uma bolha

A lusofonia é uma bolha Que identidades culturais partilham estes países para além da especificidade da língua (que já é muito) e do destino de emigração ser a antiga metrópole? Porque têm de ser tomados em conjunto, como um pacote de países, estas diferentes culturas a quem aconteceu terem sido esquartejadas em países colonizados pelo mesmo poder central? E de que se trata quando se pretende fortalecer a “nossa forma de estar no mundo”? Que olhar é esse nosso olhar? Quem é este nós? À partida um ‘nós’ é feito de coisas muito diversas e, se referido ao português, devia ser o oposto de um motivo de orgulho.

26.05.2010 | por Marta Lança