Memória, cinema e reparação: entrevista a Dulce Fernandes sobre Contos do Esquecimento

Memória, cinema e reparação: entrevista a Dulce Fernandes sobre Contos do Esquecimento Há uma intenção clara de trabalhar a memória como gesto reparador - um resgate, uma reconstrução, uma reaproximação. Uma preocupação em lembrar os mortos que não tiveram direito a um ritual de enterramento, em assinalar os lugares onde foram descartados, em recuperar os números concretos do tráfico transatlântico, e em mostrar como os espaços que hoje habitamos continuam a ser atravessados por esse passado. Trazer tudo isso para o presente, para a contemplação do agora, é para mim, enquanto cineasta, um gesto de reparação. Mas há, também, uma dimensão ainda mais específica: o filme lida com a memória de 158 pessoas cujos restos mortais foram encontrados naquele local. E nesse sentido, a reparação é concreta, dirigida a essas vidas que foram apagadas.

Cara a cara

25.11.2025 | por Marta Lança

Contos do Esquecimento (ou das listas da nossa vergonha)

Contos do Esquecimento (ou das listas da nossa vergonha) Estes nomes fazem parte de uma lista cuja mesma lógica serviu no parlamento à leitura de uma outra com nomes de várias crianças de uma escola pública, expondo-as ao ódio e à violência. Trata-se de um documento, talvez uma listagem de desembarque de um navio negreiro, que Dulce Fernandes incluiu no seu mais recente filme, Contos do Esquecimento (2023, 63’) – uma arqueologia que escava o papel de Portugal no tráfico transatlântico e dos seus legados no presente, em sala no City Alvalade. Por outras palavras: a lista de hoje só é possível porque ontem houve listas como esta com que inicio este texto.

Afroscreen

19.07.2025 | por Inês Beleza Barreiros