"Rosinha e outros bichos do Mato", de Marta Pessoa

“ROSINHA E OS OUTROS BICHOS DO MATO”, é um documentário de Marta Pessoa que perscruta a ideia de “racismo suave” e como esta vem beber ao enaltecido colonialismo português. A Rosinha titular é uma nativa guineense que se torna no símbolo da primeira exposição colonial portuguesa apresentada pelo Estado Novo em 1934. Uma viagem ao passado para entender o presente.

O filme estreia já dia 18 (quinta-feira)!

Onde assistir?

Dia 19 de janeiro- Cinema City Alvalade (com Patrícia Ferraz de Matos)

Dia 23 de janeiro- Cinema City Alvalade (com Aurora Almada e Santos)

ROSINHA E OS OUTROS BICHOS DO MATOROSINHA E OS OUTROS BICHOS DO MATO

ROSINHA E OS OUTROS BICHOS DO MATOROSINHA E OS OUTROS BICHOS DO MATO

16.01.2024 | por Nélida Brito | Africa, cinema, colonialismo, exposição colonial do Porto

Lançamento de "Angola Degredo Salvação" de Nuno Milagre

Após a independência do Brasil, Angola ocupou a posição de colónia principal, pivô do sistema colonial português. Perante a falta de autonomia financeira de Portugal no final do século XIX, a imaginação metropolitana previu com nitidez que Angola se encarregaria de gerar os recursos para a salvação das finanças portuguesas. Angola Degredo Salvação investiga e discute a atividade portuguesa por volta de 1900, no seu empreendimento transcontinental de converter recursos de Angola em ganhos materiais para Portugal. Identificam-se representações de Angola que provocavam repulsa ou atração pela colónia, condicionando a agenda, a presença e a intervenção portuguesa. Confronta-se a continuidade do envio de degredados para a colónia com a expectativa de que essa mesma colónia viesse a gerar riqueza para a salvação de Portugal. Analisa-se a discussão sobre a concessão do Caminho de Ferro de Benguela a um britânico, e os riscos e benefícios de financiar o progresso angolano com capital estrangeiro. A averiguação das formas de uso de Angola para benefício da metrópole põe em causa a validade do lema que preconizava o «desenvolvimento material das colónias» como orientação principal da política colonial portuguesa.

24.11.2023 | por martalanca | angola, Angola Degredo Salvação, colonialismo, degredo, Nuno Milagre

Inquietudes – Conversa sobre herança colonial

Sexta-feira, 12 de Maio, 18h30, em Lisboa, no Hangar

Conversa com Paulo Moreira (INSTITUTO), Isabel Stein (InterStruct Collective), Claudia Henriques (Associação Luso-Africana Ponto nos Is) e Nuno Coelho (Univ. Coimbra, CEIS20RAMPA); e jantar convívio aberto ao público.

Desde 2020, um grupo de entidades e coletivos do Porto tem vindo a desenvolver uma série de projetos colaborativos sobre a herança colonial nos seus contextos. Essas iniciativas têm permitido construir uma reflexão ampla sobre os efeitos desses legados na sociedade atual, aos níveis social, político e urbano. Este evento pretende apresentar os processos, resultados e desdobramentos deste trabalho, e cruzar essas experiências com indivíduos e grupos envolvidos nas lutas particulares do contexto lisboeta.

Em plena pandemia, dedicámo-nos a desvendar, pensar e questionar os vestígios – materiais e imateriais – do passado colonial e suas manifestações nas nossas cidades: desde os monumentos e espaço público, até aos valores culturais e históricos. Ouviram-se testemunhos de várias disciplinas, e a partir de diferentes geografias. O ciclo de debates “Pós-Amnésia – Desvendando Manifestações Coloniais”, realizado em 2021, ganhou vida e inspirou novas iniciativas: publicação, programa público, oficina, projetos de criação artística. Alianças e cumplicidades levaram ao projeto “ThisPlace – Stories of displaced people in Chernihiv, Diyarbakır, and Porto”, realizado entre 2021 e 2022, uma reflexão sobre comunidades deslocadas, discriminadas ou marginalizadas em Ucrânia, Turquia e Portugal.

O projeto foi desenvolvido no âmbito do VAHA (VAHA hubs), uma iniciativa da Anadolu Kültür e MitOst e.V. financiada pela Stiftung Mercator e pela European Cultural Foundation.

 

 

12.05.2023 | por mariadias | colonialismo, conversa, cultura, herança, inquietudes

Patrimónios, Artes e Feridas Coloniais

performance-protesto + debate sobre “Patrimónios, Artes e Feridas Coloniais” literalmente em cima dos brasões do Jardim do Império em Belém. Conversa com Paulo Raposo, Marta Lança, Francesca de Luca, Kitty Furtado, Bia Leonel. Performance com André Soares, Izabela Tamaso, Emiliano Dantas, Paulo Raposo e quem se queira juntar… Dia 31 de Março, 15h…

 

30.03.2023 | por martalanca | Belém, colonialismo, Patrimónios

África Lusófona e Memória. Colonialismo, guerras de libertação e comemorações.

The interactive seminar cycle ‘Memory, Culture and Citizenship in Post-Colonial Nations’ is pleased to invite you to its fifth edition. This time, the organisers from CITCOM’s sub-group Legacies of Empires welcome two historians, Miguel Cardina (CES, Universidade de Coimbra), and Víctor Barros (IHC, Universidade Nova de Lisboa) in order to discuss colonialism, liberation wars and commemorations in Lusophone Africa.
Moderated by anthropologist Elsa Peralta (CeComp, FLUL), this session will be held in Portuguese.
Organization: CITCOM, Legacies of Empire and Colonialism in Comparative Perspective, and “Constellations of Memory: a multidirectional study of postcolonial migration and remembering” (PTDC/SOC-ANT/4292/2021)

Location: Room B112.B, FLUL Library
Date: 12 April 2023, 4-6 PM

More infohttps://cecomp.letras.ulisboa.pt/citcom-projectos.php?p=361

23.03.2023 | por martalanca | CITCOM, colonialismo, guerras de libertação, memória

Lançamento de "Memórias em tempo de amnésia", de Álvaro Vasconcelos I 10 de janeiro

“Da brutalidade do colonialismo e do apartheid brotou a minha convicção de que lutar pelos direitos humanos é um dever, e precisamente por isso considero que há uma obrigação ética de recusar a lei do silêncio e de assumir um dever de memória.

A memória do colonialismo e dos anos de ditadura em Portugal está a ser construída pelos historiadores e pelos relatos daqueles que viveram na África colonial, mas também pela voz, cada vez mais audível, dos afrodescendentes que, pela ação cívica, desconstroem a narrativa do lusotropicalismo. Todos os testemunhos ajudarão a erguer o memorial das vítimas que o Portugal democrático procurou, tão rapidamente quanto possível, esquecer, numa conjugação, aparentemente paradoxal, de todas as forças políticas que a construíram a nossa democracia no pós-25 de Abril de 1974.

O trabalho de memória é como o trabalho de Sísifo, um constante regresso ao início, um absurdo indispensável à vida em sociedade, para tornar o regresso à barbárie mais difícil.”

Álvaro Vasconcelos 

Apresentação do livro com Margarida Calafate Ribeiro, Álvaro Vasconcelos, Vitor Barros e moderação de Marta Lança. Poemas ditos por Aoni Salvaterra,

na UCCLA, dia 10 de Janeiro às 18h. 

Sinopse:
Estas Memórias em Tempo de Amnésia são publicadas em dois volumes. O livro trata sobretudo do que era proibido lembrar, do que era subversivo memorizar. Os crimes deviam ser esquecidos para todo o sempre. Podia-se ser preso e torturado por ter visto o crime que nenhum registo podia guardar e ficava, apesar de todo o esforço dos fazedores de silêncio, na memória dos homens. Nos contadores de histórias, nos que pela tradição oral preservam as lembranças dos seus antepassados. Mas as dificuldades do presente funcionam como uma droga que apaga a memória e propaga como um vírus a amnésia coletiva, tornando a sociedade mais frágil perante ameaçadas já conhecidas pela humanidade.
Uma Campa em África, o primeiro volume, aborda os caminhos que me levaram, ainda menino, para África. Aí vivi entre 1953 e 1967, primeiro em Moçambique, depois na África do Sul. Pretende ser um testemunho da viagem às trevas que era viver em África no tempo em que o racismo era política de Estado, quer fosse na mentira luso tropical ou no horror do apartheid. É um testemunho em nome do dever de memória, contra a política do esquecimento e o revisionismo histórico sobre o crime contra a humanidade que foi o colonialismo.
Da Beira da minha infância, da cidade branca, resta uma campa; aí jaz a minha avó Amélia Claro, que eu tanto amara no Douro.

08.12.2022 | por martalanca | Álvaro Vasconcelos, Beira, colonialismo, livro, Memórias em tempo de amnésia, Moçambique

Descentrar o Império, Reparar o Futuro

Programa integrado no Ciclo Impérios com curadoria de Liliana Coutinho. Curadoria da sessão: Inês Beleza Barreiros, Patrícia Martins Marcos, Pedro Schacht Pereira e Rui Gomes Coelho

04 NOV 2022 16:00 – 18:00: Descentrar o Império

Em contexto português, as visões mais críticas do colonialismo centraram o seu estudo no último ciclo imperial, no período contemporâneo, também chamado de “império Africano”. Até tempos recentes, esta dinâmica tem sido pautada pelo pouco envolvimento com a história do imperialismo moderno, enclausurando o seu estudo em visões nacionalistas, ancoradas no protagonismo narrativo do espaço e dos agentes da metrópole portuguesa. Ao tomar Portugal como epicentro da história, o contributo de processos e agentes não-metropolitanos tem sido minimizado sistematicamente. No ano em que se assinalam os 200 anos da independência do Brasil, esta mesa-redonda procura densificar a perspetiva histórica a partir de um olhar de longa duração sobre a formação do maior país da América Latina, considerando processos de dimensão transoceânica e trans-hemisférica. Deste modo, é lançado um desafio a paradigmas historiográficos de feição lusotropicalista e que, teimosamente, continuam a sobreviver à implantação da democracia tanto no Brasil, como em Portugal.

Luiz Felipe de Alencastro, Escola de Economia de São Paulo/FGV e Sorbonne Université

Patrícia Martins Marcos, University of California, San Diego

Victor de Barros IHC, Universidade Nova de Lisboa

Moderação: Pedro Schacht Pereira, The Ohio State University

18:30 – 20:30: Reparar o Futuro

A história do império é inevitavelmente a história das reparações. O labor das reparações começou no momento de expropriação e nunca realmente terminou. Não se trata apenas de acautelar os direitos dos descendentes de espoliados e escravizados, trata-se também de interromper a renovação dessa violência inicial e assegurar o direito a um mundo plural e diverso. Nesta mesa pensa-se a questão das reparações históricas, a partir do contexto português, em articulação com os debates que ocorrem noutros contextos, nomeadamente os da memorialização da Escravatura, da restituição de objetos, do desmantelamento de estátuas racistas ou da produção de contra arquivos.

Ana Lucia Araujo, Howard University

Cristina Roldão, Escola Superior de Educação de Setúbal

Rui Gomes Coelho, Durham University

Moderação: Inês Beleza Barreiros, ICNOVA, FCSH-UNL

28.10.2022 | por martalanca | colonialismo, império, memória, Portugal, reparação

Da Resistência ao Colonialismo Português à África Pós-Independente

Este encontro reúne investigadores que trabalham a história do anticolonialismo africano, bem como das independências e da formação do Estado nos contextos moçambicano e angolano, sem esquecer as relações transnacionais que estes processos estabeleceram a uma escala global, da China ao Cuba, passando por Portugal.

Trata-se de um encontro promovido pelo Museu do Aljube, o Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e o Instituto de História Contemporânea (Universidade Nova de Lisboa e Universidade de Évora), reunindo investigadores doutorandos e doutorados destas duas últimas escolas. O encontro é ainda palco para a apresentação e discussão de um trabalho recente dos historiadores Allen Isaacman (University of Minnesota) e Barbara Isaacman, autores de trabalhos de referência no quadro da história de Moçambique.

Local: Museu do Aljube — Rua Augusto Rosa, 42 — 1100-091 Lisboa

14h-16h | Da resistência ao poder: investigações em curso

– Matheus Pereira (ICS — ULisboa) | “Eu abaixo assinado enfermeiro no hospital de Magude”: notas sobre “enfermeiros indígenas”, assimilacionismo e estratégias de resistência ao colonialismo português em Moçambique (1917-1961)
– Tomás Diel Melícias (IHC — NOVA FCSH / IN2PAST) | Camaradas de Angola: o maoismo na construção política da UNITA angolana
– Rita Narra Lucas (IHC — NOVA FCSH / IN2PAST) | A revolução portuguesa de 1974 e o espectro terceiro-mundista
– Rebeca Ávila (IHC — NOVA FCSH / IN2PAST) | Brasil e Cuba: entre a libertação africana e a revolução portuguesa
– Rodrigo Domenech de Souza (ICS — ULisboa) | Poder e produção no pós-independência moçambicano
– Edalina Sanches (ICS — ULisboa) | Partidos Únicos e transição para a democracia em África

Moderação de Victor Barros (IHC — NOVA FCSH / IN2PAST)

16h15-18h | Samora Machel, uma nova biografia

Conversa com Allen Isaacman e Barbara Isaacman sobre o seu livro “Samora Machel: a life cut short“.

Moderação de Nuno Domingos (ICS — ULisboa)

Informações aqui.

17.10.2022 | por Alícia Gaspar | colonialismo, colonialismo português, evento, ics-ul, lisboa, museu do aljube, pós-colonialismo

O impulso fotográfico: (Des)arrumar o arquivo colonial

“O impulso fotográfico” alude à expansão da fotografia pelo mundo, e consequentemente à sua apropriação considerada fidedigna e realista.

Prova do Crime, Nkaka Bunga Sessa e Soraya Vasconcelos, 2021. A partir de imagem original da missão de delimitação de fronteira em Lourenço Marques [Maputo], 1890-91. UL-IICT-Col. Foto-MGG 4003Prova do Crime, Nkaka Bunga Sessa e Soraya Vasconcelos, 2021. A partir de imagem original da missão de delimitação de fronteira em Lourenço Marques [Maputo], 1890-91. UL-IICT-Col. Foto-MGG 4003

Quando: 26 de Novembro de 2022 a 31 de Maio de 2023

Onde: Museu Nacional de História Natural e da Ciência

“O impulso fotográfico” alude à expansão da fotografia pelo mundo, e consequentemente à sua apropriação considerada fidedigna e realista.

Nesta exposição, a expansão da fotografia associa-se à expansão científica colonial, e a uma certa vocação colonial da fotografia sob a forma de uma tecnologia usada pela ciência para medir, classificar e arquivar documentos de modo potencialmente infinito, reprodutível e difundido de modo massificado.

Partindo desta obsessão pela medição e classificação, mostra-se os modos como territórios e corpos africanos foram medidos e apropriados durante as missões científicas de geodesia, geografia e antropologia e como se difundiram as narrativas da ciência colonial. Mas também se mostra como resistiram, através de outras histórias (ficcionais ou não), desvendadas e criadas pelo sentido crítico da curadoria participativa de artistas e investigadores(as) e ativistas.

A exposição é o resultado destes encontros, dúvidas e questionamentos da equipa multidisciplinar que se envolveu em diferentes fases do projeto, desde a conservação e restauro à digitalização de fotografias e filmes, desde a investigação teórica à propostas artísticas, até à própria construção museográfica.

Qual o significado destas coleções de fotografias e objetos, no presente, para as diferentes comunidades?  Que marcas deixaram enraizadas na sociedade?

Esta é uma exposição concebida para questionar e ser questionada.

Site PhotoImpulse

Photo ImpulsePhoto Impulse

Photo Impulse visa contribuir para a história e a teoria portuguesas da fotografia e do filme científicos, trazendo para este campo as imagens produzidas em diversas expedições geográficas e antropológicas realizadas às então colónias portuguesas em Africa e na Ásia, entre 1883 e 1975. A maioria dessas missões foram promovidas pelas autoridades portuguesas através da Comissão de Cartografia e das instituições que lhe sucederam, a última das quais o Instituto de Investigação Científica Tropical (IICT). Atualmente, grande parte do material em estudo pertence ao Museu de História Natural e Ciência, parceiro do projeto.

Pretendemos contribuir para a análise das especificidades políticas e comunicativas desses meios visuais, da sua cultura visual e contexto histórico, bem como das relações que as imagens desenvolvem com a produção dos saberes na Geografia e na Antropologia portuguesas.

Produzido principalmente no contexto da política colonial, o material de estudo abrange diferentes regimes políticos: a monarquia tardia (especificamente o período de 1890 a 1910), a Primeira República (1910-1926), a ditadura fascista (1926-1974) e a viragem para democracia (1974-1975).

Foco principal

O ponto de partida do projeto é a ideia de que a fotografia e o filme são formas de apropriação simbólica, uma apropriação que se tornou efetiva tanto no terreno como nos espíritos. São, também, formas de produção do espaço (Henri Lefebvre) e de o habitar (Heidegger).

Tomamos como princípio norteador e ideia inspiradora as relações entre mapas, fotografias e filmes nos seus sentidos mais latos: mapas como “fotografias” do território; fotografias como um tipo de mapa; filmes como histórias espaciais (De Certeau) e os atos de fotografar ou filmar como atividades de mapeamento (Denis Wood).

Consideramos que a fotografia e o filme fixam relações de poder no exato momento de tirar a fotografia ou de fazer o filme. Quer seja de forma consciente ou não, certas relações tendem a ser replicadas ao longo dos muitos usos das imagens. Diante do nosso arquivo colonial, além de procurar entender como as imagens eram utilizadas, pretendemos investigar como podemos descolonizar esse legado visual.

Porquê o nome “Photo Impulse”?

Photo Impulse é uma referência ao trabalho incontornável da historiadora de arte Svetlana Alpers, que identificou um “impulso cartográfico” na pintura holandesa do século XVII. No nosso contexto, as práticas fotográficas e cinematográficas aqui estudadas visavam a constituição de mapas geográficos mas também de um Atlas Colonial dos territórios e dos povos sob dominação portuguesa. Foram aplicadas metodologias para mensurar terras e corpos. Identificamos assim um “impulso fotográfico” que revela como estes media eram percebidos como instrumentos modernos e fidedignos.

 

Nota: Exposição criada pelo projeto O Impulso Fotográfico: Medindo as Colónias e os Corpos Colonizados, O arquivo fotográfico e fílmico das missões portuguesas de geografia e antropologia”, financiado pela FCT (PTDC/COM-OUT/29608/2017). Este projeto está sedeado no Instituto de Comunicação da Nova, da NOVA Faculdade Ciências Sociais e Humanas, e tem como parceiros o Museu Nacional de História Natural e da Ciência da Universidade de Lisboa e a NOVA.ID. da Faculdade de Ciências e Tecnologia.

12.10.2022 | por Alícia Gaspar | arquivo colonial, arte, colonialismo, exposição, fotografia, impulso fotográfico, pós-colonialismo

Antropocenica 2022

Entre 6 a 7 de Outubro a Fundação Calouste Gulbenkian acolhe a 1ª edição da ANTROPOCENICA, reunindo pensadores, artistas, arquitetos, investigadores e demais especialistas que abordam o Antropoceno, o colonialismo e questões relacionadas à floresta amazónica.

Autoria - Lalo de Almeida, um dos vencedores World Press Photo 2022.Autoria - Lalo de Almeida, um dos vencedores World Press Photo 2022.

A ANTROPOCENICA é uma trienal de Debates que acontece em 2022 em Portugal, em 2023 no Brasil e em 2024 em Cabo Verde.  

Destaca-se a presença de convidados especiais como o foto-repórter Lalo de Almeida (um dos vencedores World Press Photo 2022), o sertanista Sydney Possuelo (ex-presidente da FUNAI, BR) e o cineasta Jorge Bodanzky (pioneiro no cinema sobre a degradação ambiental na Amazónia), três grandes conhecedores da Amazónia e dos problemas ambientais e humanos a ela associados.

Esta primeira edição contempla ainda a Mostra artística “TransAmazónias: Zonas Imaginárias” com a exibição da premiada série fotográfica Distopia Amazónica do foto-repórter Lalo de Almeida, no dia 7, no Teatro Romano em Lisboa. A Mostra divide-se ainda pela cidade de Évora e pelas ruínas romanas de São Cucufate na Vidigueira com a exibição de filmes e a presença de Lalo de Almeida, Sydney Possuelo e Jorge Bodanzky.

Pensada e organizada por Dirk Michael Hennrich (Alemanha/Univ. Lisboa/filósofo), Maria da Conceição Lopes (PT/Univ. Coimbra/arqueóloga) e Silvio Cordeiro (BR/arquiteto e editor) – com apoio conjunto do Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa e do CEAACP da Univ. de Coimbra (entidades financiadas pela FCT) -  a ANTROPOCENICA tem na sua Comissão Científica o pensador indígena Ailton Krenak, a Professora Inocência Mata, a cineasta Filipa César, o filósofo Viriato Soromenho-Marques, o cientista político Odair Barros-Varela, a arqueóloga Anne Rapp Py-Daniel, o sociólogo Boaventura de Sousa Santos, entre outra/os, que constituirão as mesas de debate e o programa.

Os debates na Fundação C. Gulbenkian, a 6 e 7 de Outubro, terão transmissão em streaming no canal Youtube da Antropocenica.

Participação presencial nos debates sujeita a inscrição até 30 de Setembro.

Mais informações.

Autoria - Nicolas Reynard. Sobre uma expedição amazónica de Sydney Possuelo.Autoria - Nicolas Reynard. Sobre uma expedição amazónica de Sydney Possuelo.

27.09.2022 | por Alícia Gaspar | antropocenica 2022, Brasil, cabo verde, colonialismo, floresta amazónica, Portugal, trienal de debates

Now that we found freedom, what are we gonna do with it?

Narrativas sobre a pós-independência e processos de descolonização

Curadoria: Kiluanji Kia Henda & Ana Sophie Salazar

Inauguração: 7 de Abril de 2022, das 18h às 21h

Datas: Exposição patente até 12 de Maio 2022, Quarta a Sábado, das 15h às 19h

Local: R. Damasceno Monteiro, 12 R/C | 1170-112 – Lisboa

Artistas:
Hélio Buite
Clara Ianni
Rui Magalhães
Mussunda N’Zombo
Daniela Ortiz
Mwana Pwo
Yoel Díaz Vázquez
Castiel Vitorino Brasileiro

Esta exposição é o início de um estudo mais amplo que foca nas narrativas dos povos que conquistaram a independência após longos séculos de colonialismo. Ocupando o lugar da conquista, os oprimidos falam desde esse lugar de poder para repensar a própria ideia de poder e as suas possíveis formas de reorganização. A luta pela independência deu azo a várias outras lutas através da sua re-significação pós-independência, um período chamado de liberdade, marcado pela necessidade de desmantelar as heranças coloniais. Os preconceitos deixados pelo patriarcado e o cristianismo impregnam ainda hoje a textura social das ex-colónias europeias, impulsando as gerações mais jovens a fortalecer os movimentos sociais, feministas e transfeministas para combater esse legado. Esses são os movimentos e lutas que perguntam, com pertinência e ímpeto, o que foi feito com a conquista da liberdade. Para este questionamento é vital não só a consciência das conquistas que formam hoje África e as Américas descolonizadas, mas também o sentimento de responsabilidade pelas suas lutas anteriores. Os artistas reunidos questionam colectivamente a gestão da liberdade pós-independência e quais são as lutas de hoje.

Os olhos e ouvidos estão postos em futuros inclusivos, onde categorias de representação fluem de forma descentralizada. Enquanto a figura de poder autoritário é desconstruída, celebram-se multiplicidades culturais e sociais e exploram-se noções de liberdade e civismo. A indagação dos processos políticos e históricos da pós-independência permite repensar as relações de colonialidade com o ocidente. Na exposição ressaltam-se pontos de referência desde Angola, aos quais se juntam vozes do continente latino-americano com demandas similares. Através dos trabalhos expostos, um outro legado, paralelo e inverso ao colonial, é trazido para primeiro plano para ser homenageado, assim como continuado. Trata-se da herança de todas as diversas forças de resistência, a vida que sempre encontrou formas de luta.

Concebida pelo artista Kiluanji Kia Henda e HANGAR – Centro de investigação artística, com co-curadoria de Ana Sophie Salazar, a exposição é uma extensão do convite a Kiluanji que lhe concede carta branca para esta tomada do espaço. Participam os artistas emergentes angolanos Hélio Buite, Rui Magalhães e Mwana Pwo, os quais foram nomeados por Kiluanji para uma residência no HANGAR durante o mês de Março, assim como os artistas Clara Ianni, Mussunda N’zombo, Daniela Ortiz, Yoel Díaz Vázquez e Castiel Vitorino Brasileiro.

Mais informação.

17.03.2022 | por Alícia Gaspar | ana sophie salazar, colonialismo, exposição, HANGAR, kiluanji kia henda, pós-colonialismo

«A Afirmação Negra» em Portugal através dos textos de Mário Domingues (1919-1928)

17.01.2022 | por Alícia Gaspar | afirmação negra, colonialismo, mário domingues, negritude, Portugal

Restituição e repartição na identidade pós-conflito – Ngonani mu ta wona: uma viagem no tempo ao palácio das colónias

Ngonani mu ta wona (“venham ver”, em língua chope) é um convite para revisitar a I Exposição Colonial Portuguesa, realizada na cidade do Porto, em 1934.
Trata-se de um evento de exaltação da pretendida grandiosidade do antigo império, ante os olhos curiosos dos cidadãos da então metrópole. Entre outras atracções, a Exposição destacou-se pela exibição pública de pessoas oriundas das antigas colónias, apresentadas em simulacros dos seus meios sociais e culturais “originais”.

A presente exposição apresenta quinze fotografias produzidas e divulgadas no contexto da realização do evento, particularmente, da presença de pessoas trasladadas de diversos pontos do então território colonial de Moçambique. Deste grupo de indivíduos, destacam-se os chopes da zona sul de Moçambique que, com a exibição da sua Timbila, atraíram significativamente a atenção do público.

A estas gentes, somaram-se outras gentes levadas de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Goa, Macau, São Tomé e Príncipe, Timor Leste e, eventualmente outras, numa longa jornada de três meses em que “viram e foram vistos” nas alamedas do Palácio das Colónias, construído exclusivamente para o efeito.

O material aqui apresentado é, em si, um testemunho literalmente ocular do papel desempenhado pela fotografia na construção simbólica que se pretendia em eventos desta natureza: a materialização de um determinado imaginário contido na propaganda do regime político então vigente.

Agradecemos, assim, aos arquivos portugueses – nomeadamente, o Arquivo Nacional da Torre do Tombo, o Arquivo Histórico Municipal do Porto e o Centro Português de Fotografia – pela gentil cedência de parte de um vasto acervo fotográfico que constitui um importante património documental da experiência histórica de Moçambique, dos moçambicanos e da sua cultura.
—–—
Organização: Marílio Wane

Patente até 10 de Dezembro 2021, nas grades exteriores do CCFM e CCMA
Créditos da fotografia: Câmara Municipal do Porto/Arquivo Histórico. Identificador 692698

No âmbito do Ciclo de Debates sobre “Restituição e reparação na identidade pós-conflito”
Mais informações aqui.

Ngonani mu ta wona! Iniciativa Mbenga: artes e reflexões e Oficina de História (Moçambique)

19.11.2021 | por Alícia Gaspar | colonialismo, escravatura, exposição, fotografia, ngonani mu ta wona, pós-colonialismo

'Arrábida Bound' de Miguel Palma e Luís Palma

Miguel Palma + Luís Palma

Curadoria de Miguel von Hafe Pérez

18 novembro 2021


Depois de uma abertura surpreendente em setembro, e que foi considerada um dosacontecimentos mais marcantes da rentré eartística de Lisboa, a .insofar inaugura no próximo dia 18 de Novembro o projeto Arrábida Bound com curadoria de Miguel von Hafe Pérez. Neste segundo momento expositivo serão apresentadas obras de Luís Palma (Porto, 1960) e Miguel Palma (Lisboa,1964).

A partir de uma vivência geracional compartida, a exposição vai dar visibilidade a produções recentes, num caso, inéditas noutro, de dois dos protagonistas nacionais da renovação das linguagens escultóricas e fotográficas nos anos noventa do século passado.

Na verdade, foi a partir da exposição Imagens para os anos 90, que teve lugar em Serralves em 1993, que estes três autores cimentaram uma amizade e um continuado trabalho que se estabeleceu ao arrepio de modas, conjunturas e determinações exteriores.

Arrábida Bound parte de uma coincidência verdadeiramente extraordinária: ambos os artistas desenvolveram nos últimos tempos uma série de trabalhos que de forma mais ou menos literal se associam à ponte da Arrábida, estrutura icónica da cidade do Porto. Construída entre 1957 e 1963, a estrutura revelou-se um desafio assoberbante nos seus princípios de engenharia, bem como um conseguido exemplo de uma elegância formal que viria a eternizar o seu autor, o engenheiro Edgar Cardoso.

O projeto Vinte e cinco palavras ou menos de Luís Palma parte de uma série fotográfica realizada no interior de uma autocaravana estacionada precisamente nas imediações da ponte da Arrábida e que era a habitação de um velho rock ́n’roller. A partir daí o autor faz uma viagem por memórias pessoais, incluindo um conjunto de fotografias dos finais dos anos oitenta, e socioculturais, onde se entre cruzam narrativas da política (nomeadamente do colonialismo e da revolução), da vida da estrada e do universo musical como definidor de atitudes e comportamentos.

Miguel Palma ancora os seus trabalhos inéditos na representação explícita da ponte da Arrábida num desdobramento entre a escultura e o desenho. Como sempre, referencia um universo ficcional onde a modernidade se apresenta enquanto paradigma tensivo entre eficácia e derrisão, entre conforto e desastre. Os seus mecanismos são uma espécie de máquinas celibatárias no sentido duchampiano, onde desejo e morte se confundem no lastro de movimentos repetitivos e circulares sem nexo evidente.

Arrábida Bound é, então, uma oportunidade para testemunhar como através da arte contemporânea se podem ativar criticamente conceitos como os de memória, história e sequelas da reflexão (ou falta dela) sobre o nosso passado recente.

18.11.2021 | por Alícia Gaspar | Arrábida bound, colonialismo, fotografia, luís palma, miguel palma, miguel von hace Pérez

Olhares diaspóricos e pós-coloniais sobre Portugal contemporâneo

27 de Outubro | Início às 15h

As conferências fazem parte das actividades realizadas no âmbito do projecto de investigação “Narrativa afroeuropeia no Portugal e na Itália pós-imperiais: a descolonização dos ‘colonialismos inocentes’ em Djaimilia Pereira de Almeida e Igiaba Scego”, desenvolvido por Alice Girotto na Universidade Ca’ Foscari de Veneza (Itália), que visa examinar, através da análise de dois pares de obras das duas escritoras, como a ficção afroeuropeia contribui para a descolonização do imaginário de Portugal e Itália, duas nações que são ao mesmo tempo marginais no campo dos estudos pós-coloniais e cuja auto-representação como antigas metrópoles benevolentes impede uma verdadeira reelaboração do passado colonial.

As três conferências enriquecem este tema com três olhares complementares sobre Portugal contemporâneo. Em particular, Patrícia Martinho Ferreira irá ligar a prosa poética da escritora contemporânea Djaimilia Pereira de Almeida à literatura africana anti-colonial da primeira metade do século XX. Enrique Rodrigues-Moura, por outro lado, centrará a sua atenção na construção da democracia portuguesa entre retornados, comemoração dos descobrimentos e lusofonia. Finalmente, Marta Lança irá oferecer uma perspectiva interessante sobre questões pós-coloniais no contexto artístico contemporâneo, problematizando alguns exemplos nos campos das artes visuais, artes performativas e cinema na última década.

25.10.2021 | por Alícia Gaspar | artes visuais, cinema, colonialismo, conferência, Djaimilia Pereira de Almeida, literatura africana, poscolonialismo

'Limbo', de Victor de Oliveira I TBA

Arquivo pessoal do encenadorArquivo pessoal do encenador18 a 22 setembro (exceto segunda). sábado, terça e quarta 19h30, domingo 17h no Teatro do Bairro Alto.

Limbo: lugar ou condição intermediária esquecida entre dois extremos.

Limbo: lugar imaginário para coisas ou pessoas perdidas, esquecidas ou não desejadas.
Limbo: dança das Caraíbas na qual os bailarinos, de costas dobradas, passam debaixo de uma barra; de origem incerta, diz-se estar ligada à terrível experiência nos porões dos barcos negreiros durante a travessia.

Há demasiado tempo paralisado no limbo em que a História o colocou, Victor de Oliveira cria em palco um mosaico narrativo que, entre outros elementos, percorre a história íntima de um homem mestiço nascido em Moçambique. Entre a autoficção e a ficção social, questiona as razões do negacionismo histórico, as disputas da memória coletiva, as experiências de crescer na indefinição.

Victor de Oliveira nasceu em Maputo, passou a adolescência em Portugal (onde começou a fazer teatro) e foi terminar a sua formação de ator no Conservatório de Paris, cidade onde vive desde então. Nos últimos anos colaborou sobretudo com Stanislas Nordey e Wajdi Mouawad. Encenou (e apresentou em Portugal) Magnificat a partir de Fernando Pessoa, Final do Amor de Pascal Rambert e Incêndios de Wajdi Mouawad.

Conceção, texto e interpretação Victor de Oliveira
Música e operação de som Ailton Matavela (TRKZ)
Desenho e operação de luz Diane Guerin
Desenho e operação de vídeo Eve Liot
Colaboração dramatúrgica Marta Lança
Assistente estagiária Miranda Reker
Participação especial Ana Magaia (Excerto de “Poema de infância distante” de Noémia de Sousa)
Produção executiva En Votre Compagnie (Paris)
Coprodução Teatro do Bairro Alto, Théâtre National de Bretagne

Mais infos.

 

08.09.2021 | por martalanca | colonialismo, mestiçagem, Moçambique, teatro

Encarceramento e sociedade: do período colonial aos seus legados pós-coloniais

Organização: Diana Andringa, Júlia Garraio

Prazo para envio de artigos: 30 de novembro 2021


Os impérios coloniais e o tráfico transatlântico criaram, nas diversas áreas geográficas, um sistema de poder assente na hegemonia branca em todas as esferas da sociedade e na concomitante relegação dos povos indígenas, das populações negras e das minorias não-brancas para lugares sociais marginalizados e subalternizados (Mills, 1997).1

Entre esses lugares destaca-se a prisão. Uma vasta investigação das últimas décadas tem vindo a dar a conhecer não só como os sistemas de encarceramento foram peças basilares na imposição e manutenção do poder dos impérios coloniais e das suas hierarquias étnico-raciais, como também demonstrou como essas experiências históricas são incontornáveis para entendermos as práticas judiciais e prisionais do presente na sua relação com o racismo estrutural. A dimensão étnico-racial do encarceramento contemporâneo tem sido analisada aprofundadamente a partir do contexto norte-americano. Os Estados Unidos da América (EUA), onde durante as últimas décadas se deu um crescimento exponencial de população prisional, maioritariamente constituída por jovens não-brancos (Stemen, 2017),2 é um caso paradigmático de como o “sistema industrial carcerário” do presente mantém uma relação seminal com o passado colonial escravocrata e racista do país (Alexander, 2010).3 Também o Brasil, com uma sobrerrepresentação de jovens não-brancos nas prisões, expõe de modo exemplar como os legados coloniais são essenciais para entendermos as violências e discriminações raciais do presente (Amparo Alves, 2018).4

Nos EUA e nos países da América Latina, onde a independência foi obtida por descendentes dos colonizadores, a discriminação racial prolongou quase “naturalmente” e de forma linear as estruturas sociais da época escravocrata. Por seu lado, na Europa, nomeadamente em Portugal, houve um corte temporal entre o período de visibilidade pública de negros/as traficado/as no contexto da escravatura e o presente. A partir da segunda metade do século XX, as populações originárias dos países colonizados, enquanto imigrantes e seus descendentes, ganham grande visibilidade, não só como corpos alterizados contra os quais se reinventam projetos nativistas racistas, mas igualmente como sujeitos que reclamam plena cidadania no tecido social ao qual pertencem e desafiam os legados coloniais nas narrativas nacionais.

O papel do colonialismo nas práticas carcerárias do Portugal contemporâneo corresponde a uma área de estudo que permanece em grande parte por explorar. Portugal é um dos países europeus com mais baixo índice de criminalidade; no entanto, as taxas de reclusão estão atualmente acima da média, revelando uma situação de sobrelotação prisional que chega, nalguns locais, aos 200%. A lei portuguesa não permite fazer uma categorização étnico-racial da população prisional que nos permita visibilizar, através de dados estatísticos, em que medida o sistema judicial e prisional português é permeado por discriminações raciais. A simples observação aponta, no entanto, para uma percentagem de negros e ciganos na população prisional muito superior à sua representação na população em geral.

As particularidades dos vários espaços afetados pelo colonialismo, tanto das metrópoles como dos países colonizados, indicam de facto para o colonialismo e os seus legados como a macroestrutura transversal fundamental para as várias configurações dos atuais sistemas de encarceramento pelo mundo. Veja-se, a título de exemplo, como a insularidade, prática tão comum dos impérios coloniais, se tem vindo a atualizar e reforçar no século XXI em novas tecnologias, autorizadas por novos consensos formados em torno de discursos securitários: da construção de ilhas-prisão para requerentes de asilo e refugiados/as; à criação de espaços-tampão (como a Turquia, pela União Europeia); a espaços de “guerra contra o terrorismo”, como o Campo de Detenção da Baía de Guantánamo (em Cuba) pelos EUA, onde são invocadas situações de exceção para a não-aplicação dos regimes jurídicos desses estados nem a legislação internacional.

O presente número temático da revista e-cadernos CES pretende, através de uma abordagem transnacional interdisciplinar, aprofundar o tema “Encarceramento e Sociedade”, inscrevendo-o nos espaços marcados pelo colonialismo e seus legados e reunindo contributos de diversas áreas, como História, Sociologia, Religiões, Artes e Humanidades, valorizando abordagens interseccionais que cruzem questões de género, pertença étnico-racial, classe social, religião e nacionalidade. 

A e-cadernos CES é uma publicação online, com acesso livre, que se baseia num sistema de avaliação por pares e é editada pelo Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (Portugal). Integra atualmente as seguintes bases de indexação: CAPES, DOAJ, EBSCO, ERIH Plus e Latindex. Para mais informações sobre a publicação consulte: https://journals.openedition.org/eces.

Todos os textos devem ser originais e submetidos na sua versão completa, em língua portuguesa, inglesa, francesa ou castelhana. Podem ter até 60 mil caracteres no máximo (com espaços), incluindo notas e referências bibliográficas. Para a secção final @cetera, podem ser apresentados outros textos (até 35 mil caracteres), entrevistas e debates (até 25 mil caracteres) ou recensões críticas inéditas (máximo 5 mil caracteres).

As normas detalhadas para submissão dos textos estão disponíveis em https://journals.openedition.org/eces/804. As mensagens devem ser enviadas para e-cadernos@ces.uc.pt e indicar explicitamente que se referem ao número temático em questão – “Encarceramento e sociedade”.

Todos os contributos estarão sujeitos a um processo de arbitragem científica (em double-blind peer review).

  • 1. Mills, Charles (1997), The Racial Contract. Ithaca and London: Cornell University Press.
  • 2. Stemen, Don (2017), The Prison Paradox: More Incarceration Will Not Make Us Safer. Retrieved from Loyola eCommons, Criminal Justice & Criminology: Faculty Publications & Other Works.
  • 3. Alexander, Michelle (2010), The New Jim Crow. Mass Incarceration in the Age of Colorblindness. New York: The New Press.
  • 4. Amparo Alves, Jaime (2018), The Anti-Black City. Police Terror and Black Urban Life in Brazil. University of Minnesota Press.

02.09.2021 | por Alícia Gaspar | colonialismo, Discriminação, encarceramento, racismo, repressão

Julho no Padrão dos Descobrimentos

“No Padrão dos Descobrimentos há fotografias para debater impérios e colonialismo”—Vasco Rosa, Observador

A fotografia foi um elemento fundamental da história do moderno colonialismo português. Sem ela, a idealização e o conhecimento sobre os territórios coloniais, seus recursos e populações, teriam sido diferentes. Visões do Império, com curadoria de Joana Pontes e Miguel Bandeira Jerónimo, dá-nos um vislumbre dos contextos de produção e dos usos da fotografia, relacionando-os com alguns dos eventos e processos mais relevantes da história do império colonial português.

25 julho, 11 horas - Visita Conversada com Joana Pontes e Miguel Bandeira Jerónimo

O que aconteceu a Belém depois da Exposição do Mundo Português? 
Este é mote para o próximo passeio Lembrar Belém, dia 18 de julho, às 10h30, uma das muitas atividades propostas pela equipa de Serviço Educativo, entre oficinas para os mais novos, passeios em família e visitas guiadas. Mais informações através do email se@padraodosdescobrimentos.pt

No passado dia 10 de junho, apresentamos em parceria com o Instituto de História Contemporânea da NOVA-FCSH o Prémio Amílcar Cabral, destinado a promover a investigação científica sobre as resistências anticoloniais. O prémio consiste numa bolsa atribuída anualmente a um/a investigador/a recém-doutorado/a numa universidade estrangeira ou nacional. As candidaturas estão a decorrer até ao dia 1 de outubro. 

13.07.2021 | por Alícia Gaspar | Belém, colonialismo, exposição, Padrão dos Descobrimentos, prémio Amilcar Cabral, visões do império

Fantasmas do Império | 3 Junho nos Cinemas

SESSÕES

Estreia a 3 de junho
Cinema City Alvalade (Lisboa)
Cinema City Alegro Setúbal
Cinema NOS Alma Shopping (Coimbra)

10 de junho – hora a confirmar 
Tavira

23 de junho – 19h00 
Teatro Sá da Bandeira (Santarém) – em parceria com o Cineclube de Santarém

Debates no Cinema City Alvalade no final da sessão das 19h

3 Junho – Ariel de Bigault (realizadora)
4 Junho – Fernando Matos Silva (realizador, montador e produtor; personagem principal de Fantasmas do Império)
7 Junho – António Pinto Ribeiro (Investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra e no projeto Memoirs Filhos do Império)
8 Junho – Margarida Cardoso (cineasta; personagem principal de Fantasmas do Império)
9 Junho – Ariel de Bigault (realizadora)

28.05.2021 | por Alícia Gaspar | cinema, colonialismo, estreia, Fantasmas do Império, filme

Visões do Império

EXPOSIÇÃO TEMPORÁRIA
Visões do Império
Comissários: Miguel Bandeira Jerónimo e Joana Pontes

Padrão dos Descobrimentos
16 de maio - 30 de dezembro de 2021

Comissariada por Miguel Bandeira Jerónimo e Joana Pontes, Visões do Império dá-nos um vislumbre dos contextos de produção e de uso da fotografia, relacionando-os com alguns dos eventos e processos mais relevantes da história do império colonial português.

Textos de Telma Tvon, Catarina Mateus, Cláudia Castelo, Carmen Rosa, José Pedro Monteiro, Myriam Taylor, Nuno Domingos, Afonso Ramos, Mia Couto e Aniceto Afonso guiam-nos, nos oito núcleos que compõem a exposição, por imagens captadas nas antigas colónias, em tempos e momentos muito diversos: da ciência ao trabalho, passando pelos hábitos, usos e costumes culturais, afetos a cada povo, terminando com uma instalação de Romaric Tisserand. 

O que nos conta uma imagem? A fotografia foi um elemento fundamental da história do moderno colonialismo português. Sem ela, a idealização e o conhecimento sobre os territórios coloniais, seus recursos e populações, teriam sido diferentes. As imagens fotográficas foram encenadas e comercializadas, com diferentes propósitos: alimentaram a imaginação da dominação colonial, concorrendo para a sua concretização, ajudaram a moldar uma visão do “outro” como essencialmente diferente, nos seus modos de vida, costumes e mentalidades, mas serviram também para denunciar a iniquidade e a violência da colonização, acalentando aspirações de um futuro mais humano e igualitário – sonhos esses com diferentes matizes e orientações políticas. Os seus usos no passado e os seus legados no presente foram e são vastos, heterogéneos e duradouros.
 
As fotografias expostas são provenientes de várias coleções particulares e de inúmeras instituições, como o Arquivo Nacional Torre do Tombo, a Fundação Mário Soares/Maria Barroso, o Arquivo & Museu da Resistência Timorense, o Arquivo Histórico de São Tomé e Príncipe ou Centro de Documentação e Formação Fotográfica, em Maputo e algumas serão mostradas ao grande público pela primeira vez.
 
A exposição será acompanhada por um programa paralelo que inclui visitas orientadas, um ciclo de cinema e o lançamento do catálogo Visões do Império.

Sobre os comissários da exposição

Joana Pontes é licenciada em Psicologia pela Universidade de Lisboa, fez estudos em Cinema na Escola Superior de Teatro e Cinema, na RTP e na BBC. Em 2003, concluiu o Programa Avançado em Jornalismo Político na Universidade Católica de Lisboa. Em 2018, doutorou-se em História na especialidade de Impérios, Colonialismo e Pós-Colonialismo, pelo ISCTE-IUL, tendo sido bolseira da Fundação da Ciência e Tecnologia. A dissertação, Sinais de Vida, Cartas da Guerra 1961-1974, foi publicada em 2019 pela editora Tinta da China tendo obtido o prémio Fundação Calouste Gulbenkian para a História Moderna e Contemporânea, da Academia Portuguesa da História. Dedica-se à escrita e realização de documentários, leccionando nessa área. Em 2007 recebeu o Grande Prémio da Lusofonia pelo documentário O Escritor Prodigioso, filme sobre a vida de Jorge de Sena, de que é autora e realizadora. Em 2011, recebeu o prémio da Sociedade Portuguesa de Autores pela realização e co-autoria de argumento do filme As Horas do Douro. Em 2018, recebeu o prémio Fernando de Sousa pela realização e co-autoria da série Europa 30. Tem editados em DVD, Portugal, Um Retrato Social, As Horas do Douro e a série O Valor da Liberdade - diálogos sobre as possibilidades do humano.
 
Miguel Bandeira Jerónimo (PhD History, King’s College, Universidade de Londres) é Professor Associado em História na Universidade de Coimbra (Portugal), na Faculdade de Letras, no Departamento de História, Estudos Europeus, Arqueologia e Artes. É ainda investigador do Centro de Estudos Sociais (UC) e Professor e co-coordenador científico do programa de doutoramento em Patrimónios de Influência Portuguesa (III/CES-UC). Os seus interesses de pesquisa centram-se na História global e comparada do imperialismo e do colonialismo (Sécs. XVIII-XX) e na História Internacional e Transnacional. Tem publicado com regularidade, em Portugal e no estrangeiro, em editoras e revistas de referência. Recentemente, publicou, em co-autoria, História(s) do Presente (Tinta-da-China/Público, 2020) e co-editou Internationalism, Imperialism and the Formation of the Contemporary World (Palgrave, 2017) e Os Impérios do Internacional (Almedina, 2020). Coordena o projecto internacional The worlds of (under)development: processes and legacies of the portuguese colonial empire in a comparative perspective (1945-1975), financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia.

06.05.2021 | por Alícia Gaspar | colonialismo, exposição, fotografia, império colonial português, Padrão dos Descobrimentos, visões do império