Zezé Gamboa homenageado em Dakhla

O cinema angolano e o realizador Zezé Gamboa foram homenageados no Festival Internacional de Cinema de Dakhla, que decorreu de 2 a 8 de junhom na cidade marroquina. Zézé Gamboa foi reconhecido na cerimónia do Festival pela “força visionária por detrás da câmara, um talento criativo que transcende fronteiras e remodela paisagens cinematográficas. Com as suas narrativas inspiradoras e filmes visualmente impressionantes, teve um impacto significativo sobre o mundo do cinema, nomeadamente no domínio do cinema africano”.


 

Zezé Gamboa, qual a importância do reconhecimento do impacto positivo do seu trabalho cinematográfico para o cinema africano no contexto do Festival de Dakhla?

Para mim é sempre muito importante ver que o meu trabalho tem reconhecimento internacional, pela qualidade e energia que ponho nos meus filmes. Fazer cinema é muito difícil, e duro como profissão. São muitas horas de trabalho, para toda gente, artistas e técnicos. Por um lado há o prestigio, por outro mostra-me que estou no bom caminho em relação as escolhas dos meus projectos.

Que estratégias se pode pôr em prática para haver mais circulação de filmes africanos dentro do continente africano, nomeadamente entre norte de África e África subsaariana, para além dos festivais?

Acho que a melhor estratégia será fazer co-produções sul-sul, ou seja, os Institutos de Cinema dos países do Magreb e dos países da África Subsariana aproximarem-se do ponto de vista cinematográfica co-produzirem os seus filmes em co-produção. Para tal, é preciso que haja vontade política, dos vários países.

Fiz está experiência  no meu filme o Grande Kilapy com o CCM (Centro de Cinema de Marrocos), que só não funcionou como eu tinha projectado por incompetência do produtor.

Como foi recebido o cinema angolano e os seu trabalho neste festival? Houve troca de ideias a partir deles?

A  participação angolana no festival foi boa, pelos ecos que tive a partir da conferência de imprensa a qual fui convidado! Infelizmente os cineastas angolanos que foram convidados para o festival, não foram a Dakhla por razões que desconheço, enviaram somente os seus filmes.

Ainda sobre o Festival

Sob o lema “Dakhla é a porta de entrada para África”, a 11ª edição do Festival Internacional de Cinema de Dakhla, organizada pela Associação de Animação Cultural e Artística das Províncias do Sul, contou com a participação de dezasseis países africanos: Camarões, Maurícias, Angola, Burkina Faso, Gana, Uganda, República Centro-Africana, Ruanda, Comores, Benin, Congo, Senegal, Somália, Tunísia, Egipto, Mauritânia e o anfitrião, Marrocos. O Festival caracterizou-se pela abertura ao contexto à sua volta, através da organização das atividades em diversos espaços alargando a base do público, e permitindo que vários grupos sociais e pessoas de todas as idades acompanhassem e assistissem às várias sessões e atividades. Juntamente com Zezé Gamboa, foram ainda homenageadas as actrizes marroquina Asmaa Khamlichi e a egípcia Rania Farid Chawky. 

Os filmes da competição foram projetados no centro de convenções de Dakhla. Dez longas-metragens concorreram ao grande prémio, ao prémio do júri e aos prémios de melhor ator e melhor atriz. O júri deste concurso foi presidido pela escritora Freida Ekotto, chefe do departamento de Estudos Africanos da Universidade de Michigan, acompanhada por Maka Koto, cineasta e ex-ministro da Cultura de Quebec, a atriz marroquina Sana Alaoui, Dana Sheldelmayer, produtora e figurinista americana, Sylvestre Amoussou, diretor beninense. A competição de curtas-metragens conta com dez filmes.

Houve ainda espaço para conhecer os criadores e técnicos do cinema. Receberam a montadora tunisiana Nadia Touijer que fala sobre a montagem de documentários, a produtora marroquina Kaoutar Tazrouti que compartilhou a sua experiência sobre os meios de financiamento e comercialização do documentário. Os jovens interessados ​​em cinema e artistas tiveram oportunidade de conhecer Abdelouahed Mjahed, que partilhou a sua experiência de autoprodução. Moulay Ahmed Alaoui apresentou os últimos desenvolvimentos relacionados com direitos de autor  e direitos conexos. O festival organizou ainda, em coordenação com artistas e criadores das províncias do sul, uma homenagem especial a Dalal Mhamedi Alaoui, diretor do Escritório Marroquino de Direitos Autorais.

por Marta Lança
Afroscreen | 14 Junho 2023 | Festival Internacional de Cinema de Dakhla, zezé gamboa