Não são mulheres nem homens. Não são heterossexuais, bissexuais, nem gays. Rompem identidades a preto e branco e assumem-se em tonalidade maquilhada. São os muxes de Juchitán. Sexualidade cruzada no México tropical.
25.10.2014 | por Pedro Cardoso
O cabelo já era vendido muito antes do capitalismo; a venda de leite humano era já comum na Antiga Roma e, durante a revolução industrial, essa foi mesmo uma fonte de rendimento para muitas mulheres. Mas nem nos primeiros casos se tratava de uma troca de mercadorias no sentido moderno, nem no último se tratava já de um reconhecimento das mulheres como verdadeiras autoproprietárias. A venda de sangue, permitida durante a maior parte do século XX, foi talvez uma das primeiras formas generalizadas em que a autopropriedade abandonou o “colete-de-forças” abstracto da força de trabalho e se estendeu a um elemento físico do próprio corpo, ainda que renovável, permitindo um rendimento suplementar ou de último recurso aos autoproprietários mais vulneráveis.
18.09.2014 | por Bruno Lamas
O 4 de Março na Cova da Moura fez-se dos sons do grupo de percussão Rola Samba - actualmente em tournée pelo país - e da energia dos moradores, que foram adensando as ruas tarde adentro. Um Carnaval sem idades, nem máscaras, nem senhas de entrada. Assim: livre e aberto.
20.03.2014 | por Rute Barbedo
Numa ilha no meio de um lago, onde uma fonte luminosa vinha dar um toque de modernidade, qual metáfora do empreendimento português em África, instalaram-se umas dezenas de guineenses, que viviam o seu quotidiano numa aldeia de palhotas, sob o olhar dos visitantes portugueses. O público da exposição podia assim ocupar, mesmo que temporariamente, o olhar e o lugar do colonizador. Um colonizador que, na segurança oferecida por um parque no centro do Porto, podia já beneficiar dos resultados das "campanhas de pacificação" em África
14.10.2013 | por Filipa Lowndes Vicente
O biológico e o histórico aliam-se em torno de tecnologias modernas de poder que intervêm e invadem a vida. E há uma crescente proliferação de tecnologias políticas: a saúde, as formas de alimentação e de habitação, as condições de vida, o espaço total da existência. É sabido que a existência, a conduta, o corpo, são crescentemente medicalizados.
27.07.2013 | por Buala
A Mindelo Pride, “Iª Semana pela igualdade das pessoas lésbicas, gays, bissexuais e trans”, organizada pela Associação Gay Cabo-verdiana, marca as conquistas e os novos desafios dos homossexuais em África.
20.07.2013 | por Juliana Penha
Cold Star liga as emoções de uma curta com as batidas e letra de uma música. O filme é um apelo para a aceitação da identidade sexual de si próprio e dos outros.
09.07.2013 | por Buala
Caminhar é pois não só uma aptidão profundamente democrática porque equitativamente distribuída, mas uma condição definidora daquilo que somos, um a priori corporal comum. É no seu próprio ritmo e nesse controlo plástico das redondezas que o mundo se desvela para nós, de acordo com a nossa sensibilidade. As percepções pessoais do espaço e do tempo emergem dele ainda unidas, graças a uma corporeidade movente que é o primeiro gesto criativo à nossa disposição.
26.06.2013 | por Tiago Mesquita Carvalho
A desterritorialização compreende-se, historicamente, como parte de um processo mais global de uniformização da experiência, isto é, de territorialização por via do conceito. Por outras palavras, a visibilidade dos corpos, a visibilidade dos enunciados, a visibilidade dos comportamentos, passam a depender de regimes pré-estabelecidos de correspondências entre sujeito e objecto.
11.06.2013 | por Nuno Martinho
Raquel Castro e Mariana Tengner Barros, fascinadas com o que a auto imolação do tunisino Mohamed Boazizi provocara no mundo e sentindo-se absolutamente encravadas num Portugal cada vez mais apertado pela austeridade, imaginam a sua obra e vida a ser pensada a partir do futuro e constroem uma ficção de auto-imolação. Mas corre mal, o fumo não rebenta a tempo, as fotos são pobres e a imagem não se presta a nenhuma leitura particular a não ser a de nos dar a ver um presente algures entre o urbano e o suburbano – sendo aí que reside a sua principal força.
05.06.2013 | por Ana Bigotte Vieira
Em Cabo Verde vive-se, actualmente num contexto que insiste em cristalizar discursos e pertenças heterossexuais, dando protagonismo a corpos masculinos legitimadores daquele projecto patriarcal e machista. Muitos, inquietados com o olhar sentenciador e/ou aprovador, dos outros, rendidos à normatividade social, vivem na clandestinidade dos corpos, fechando-se para dentro de si.
Contudo os quadros normativos muitas vezes acabam por desencadear contestações. Encontramos corpos, Outros, que assumem o desafio de uma participação não passiva. Sujeitos a um corpo sem voz, sujeitos de um corpo voz.
30.04.2013 | por Celeste Fortes e Rita Rainho
Anunciamos conjuntamente Imagens e Geografias pela intrínseca articulação entre corpo, representações e espaço, que não são formas separadas, nem formam um ecossistema organicamente organizado. Constroem-se correlativamente. O espaço não representa um mero recepiente neutro da acção física e experiência, é antes passível de condicionar e transformar o corpo, ao mesmo tempo que gera novas representações. Assistimos a uma (mais ou menos activa) constante negociação do corpo, das representações e do espaço.
19.04.2013 | por Buala
On Safari conta as suas peripécias com os animais. Armand Denis era de certa forma um mágico do improviso, pois inventou muitas técnicas de filmagem e tornou-se um ativista pelos direitos dos animais e contra a caça, defendendo um mundo que já estava na altura em vias de extinção.
Considero também que a minha implicação física no filme é importante, para resgatar e confrontar de certa forma a invasão de que falava. Assim, enquanto não obtenho o apoio financeiro necessário à sua realização, tenho-me vestido com um fato de tigre em alguns lugares da cidade, em performances de curta duração: pendurei-me numa árvore em super8, fiz dupla com um homem-estátua para os turistas, passeei de gaivota no jardim zoológico, fui esquiar com um macaco nos Alpes, entre outras coisas.
18.04.2013 | por Rita Brás
A procura do buraco
a procura do branco
a procura do banco
Sentada, branca, lívida, caída no buraco.
De manhã a vida tranquila
de manhã o café preto,
a sensação de ingerir preto numa sensação de manhã,
de cócoras, agachada na casa-de-banho
de manhã ou de pé, lívida, fazendo uma torrada
de manhã ou de perfil, olhando o espelho
18.04.2013 | por Rita Natálio
O meu corpo não está à venda, o meu corpo está vivo. O meu corpo partilha-se, troca-se, empresta-se e até se dá por uma boa causa. O meu corpo está frio. O meu corpo está quente. O meu corpo precisa de martelada, de cair à bruta ou de cair facilmente nas mãos de um monstro. O meu corpo não é meu.
18.04.2013 | por Rita Natálio
O presente artigo lança o desafio de desconstruir as perceções e os discursos poéticos mais expressivos projetados sobre o corpo feminino e a sexualidade nas narrativas poéticas guineenses tomando em consideração quatro dimensões analíticas: a) “repressão e controlo social do corpo feminino”; b) “erotismo singelo”; c) “celebração orgásmica do corpo feminino”; d) “descolonização e desmasculinização do corpo e da sexualidade feminina”.
14.04.2013 | por Miguel de Barros
A forma particular, histórica, como aparece a regulação das posições de gênero em Moçambique, não dissimula, é óbvio, o caráter estrutural das disposições simbólicas que são necessárias para produzir a sujeição/subjetificação de um sujeito dispersivo e heteróclito que chamaríamos “a mulher”. Desse modo, ampla engenharia social e todo o poder das disposições simbólicas, e da violência, foram mobilizados para reconformar/reconhecer a mulher como um sujeito (assujeitado) no interior das estruturas em transformação do Estado em construção.
09.04.2013 | por Osmundo Pinho
Após a independência a exaltação do corpo da mulher, representada através de metáforas terrestres, constitui uma tentativa por parte de muitos poetas moçambicanos de se reapropriarem poética e concretamente da própria terra; como afirma Rita Chaves “esta fusão da mulher com a terra foi um dos postulados da poesia africana empenhada na construção da identidade nacional”
09.04.2013 | por Giulia Spinuzza
Esta identidade encenada enche-se plenamente graças à fricção deste corpo e da sua percepção com a dos outros. Basta fazer emergir um terceiro-espaço em que a identidade subjetiva e subversiva se possa exprimir. Este terceiro-espaço torna-se uma dimensão imaginária da sua arte em que a multiplicidade dos olhares é possível. A arte está aí, na rua, no quotidiano, tudo é "arte" ou for sale como afirma Paulo Nazareth nos seus cartazes. A sua arte - simples e poderosa - é participativa e todos, por sua vez, se podem tornar criadores. Tal como Marcel Duchamp, ele afirma uma ética da resistência face à comercialização excessiva do mundo. Conduz-nos a gestos e ações simples como resgatados de um tempo passado
31.03.2013 | por Joanna Espinosa
A precariedade é necessária para a protecção do estilo de vida ou da vida de outros sujeitos. Portanto não se pode pensar em corpo ser ter em conta as condições que o tornam vulnerável à precariedade, sejam questões relativas ao género, origem, orientação sexual, sexualidade, classe, raça, diferença cultural, doença, incapacidade, aspecto físico ou idade. Pretendemos insistir menos na política identitária ou nas pretensões identitárias (e sua subversão enganadora) e mais na precariedade e suas distribuições da diferença e da exploração nos mapas do poder contemporâneo.
16.01.2013 | por Buala