A luz negra, que havia encarnado em tudo com toda intensidade, foi aos poucos escorregando por entre os cantos do labirinto, banhando nosso corpo e se cravando outra vez no profundo. Estivemos ali por muito tempo, cozinhando junto com a terra. Pouco a pouco, à medida que nossos corpos foram recuperando o acesso às pernas, decidimos nos separar e mover pelo labirinto de túneis, a tentar captar as repercussões do nosso ataque, e estudar as implicações do que havíamos feito.
26.11.2018 | por Jota Mombaça
O novo caso, actualmente a ser julgado em tribunal, rejeita a versão dos acontecimentos tal como foi transmitida pelos agentes da polícia, e acusa-os de agressão física, rapto agravado, tratamento desumano, e de incitamento à discriminação, ódio e violência por motivos raciais – bem como de injúria e falsificação de testemunhos e documentação.
25.11.2018 | por Ana Naomi de Sousa
Temos em comum fazermos parte de contextos que asfixiam as nossas liberdades de ser e sentir; sermos violentadas supostamente por causa da roupa que vestimos e ainda termos de ouvir “puta, assanhada, vagabunda”.
10.08.2018 | por Leopoldina Fekayamãle
Tal como muitas de nós — muitas de nós que temos ocupado várias ordens de solidão — procuro cúmplices. E quando digo que procuro cúmplices, quero dizer que procuro corpos falantes e significantes que, empáticos antes de simpáticos e implicados antes de similares, procurem, de forma conjugada entre si, lançar-se ao conjunto material e comunitário do mundo, correr o risco mal-calculado de uma vulnerabilidade imprevisível, e exercer muita, muita pressão sobre o conceito da justa medida.
13.10.2017 | por Salomé Honório
Se o conceito de lugar de fala se converte numa ferramenta de interrupção de vozes hegemônicas, é porque ele está sendo operado em favor da possibilidade de emergências de vozes historicamente interrompidas. Assim, quando os ativismos do lugar de fala desautorizam, eles estão, em última instância, desautorizando a matriz de autoridade que construiu o mundo como evento epistemicida; e estão também desautorizando a ficção segundo a qual partimos todas de uma posição comum de acesso à fala e à escuta.
19.07.2017 | por Jota Mombaça
A escravatura tem acompanhado a história da humanidade desde os primórdios, se aceitarmos como verdade testemunhos da Ilíada de Homero ou a própria Bíblia. A escravatura indígena é inegável. Basta lembrar os relatos do trabalho escravo colonial. A escravatura acompanha-nos há demasiado tempo, foi absorvida pelo nosso código genético imaginário e moral.
20.01.2015 | por Filipa Alvim
Da mesma forma que começamos, vamos terminar insistindo que as questões do corpo, a vida (e a morte) são políticas. Não podemos encarar a vida num sentido neutro, esvaziada de conteúdo existencial. Afirmamos com Debord que “quanto mais a vida do homem se torna no seu produto, tanto mais ele é separado da sua vida”.
Editorial de 'ESTE CORPO QUE ME OCUPA'.
17.12.2014 | por Candela Varas
Não são mulheres nem homens. Não são heterossexuais, bissexuais, nem gays. Rompem identidades a preto e branco e assumem-se em tonalidade maquilhada. São os muxes de Juchitán. Sexualidade cruzada no México tropical.
25.10.2014 | por Pedro Cardoso
O cabelo já era vendido muito antes do capitalismo; a venda de leite humano era já comum na Antiga Roma e, durante a revolução industrial, essa foi mesmo uma fonte de rendimento para muitas mulheres. Mas nem nos primeiros casos se tratava de uma troca de mercadorias no sentido moderno, nem no último se tratava já de um reconhecimento das mulheres como verdadeiras autoproprietárias. A venda de sangue, permitida durante a maior parte do século XX, foi talvez uma das primeiras formas generalizadas em que a autopropriedade abandonou o “colete-de-forças” abstracto da força de trabalho e se estendeu a um elemento físico do próprio corpo, ainda que renovável, permitindo um rendimento suplementar ou de último recurso aos autoproprietários mais vulneráveis.
18.09.2014 | por Bruno Lamas
O 4 de Março na Cova da Moura fez-se dos sons do grupo de percussão Rola Samba - actualmente em tournée pelo país - e da energia dos moradores, que foram adensando as ruas tarde adentro. Um Carnaval sem idades, nem máscaras, nem senhas de entrada. Assim: livre e aberto.
20.03.2014 | por Rute Barbedo
Numa ilha no meio de um lago, onde uma fonte luminosa vinha dar um toque de modernidade, qual metáfora do empreendimento português em África, instalaram-se umas dezenas de guineenses, que viviam o seu quotidiano numa aldeia de palhotas, sob o olhar dos visitantes portugueses. O público da exposição podia assim ocupar, mesmo que temporariamente, o olhar e o lugar do colonizador. Um colonizador que, na segurança oferecida por um parque no centro do Porto, podia já beneficiar dos resultados das "campanhas de pacificação" em África
14.10.2013 | por Filipa Lowndes Vicente
O biológico e o histórico aliam-se em torno de tecnologias modernas de poder que intervêm e invadem a vida. E há uma crescente proliferação de tecnologias políticas: a saúde, as formas de alimentação e de habitação, as condições de vida, o espaço total da existência. É sabido que a existência, a conduta, o corpo, são crescentemente medicalizados.
27.07.2013 | por Buala
A Mindelo Pride, “Iª Semana pela igualdade das pessoas lésbicas, gays, bissexuais e trans”, organizada pela Associação Gay Cabo-verdiana, marca as conquistas e os novos desafios dos homossexuais em África.
20.07.2013 | por Juliana Penha
Cold Star liga as emoções de uma curta com as batidas e letra de uma música. O filme é um apelo para a aceitação da identidade sexual de si próprio e dos outros.
09.07.2013 | por Buala
Caminhar é pois não só uma aptidão profundamente democrática porque equitativamente distribuída, mas uma condição definidora daquilo que somos, um a priori corporal comum. É no seu próprio ritmo e nesse controlo plástico das redondezas que o mundo se desvela para nós, de acordo com a nossa sensibilidade. As percepções pessoais do espaço e do tempo emergem dele ainda unidas, graças a uma corporeidade movente que é o primeiro gesto criativo à nossa disposição.
26.06.2013 | por Tiago Mesquita Carvalho
A desterritorialização compreende-se, historicamente, como parte de um processo mais global de uniformização da experiência, isto é, de territorialização por via do conceito. Por outras palavras, a visibilidade dos corpos, a visibilidade dos enunciados, a visibilidade dos comportamentos, passam a depender de regimes pré-estabelecidos de correspondências entre sujeito e objecto.
11.06.2013 | por Nuno Martinho
Raquel Castro e Mariana Tengner Barros, fascinadas com o que a auto imolação do tunisino Mohamed Boazizi provocara no mundo e sentindo-se absolutamente encravadas num Portugal cada vez mais apertado pela austeridade, imaginam a sua obra e vida a ser pensada a partir do futuro e constroem uma ficção de auto-imolação. Mas corre mal, o fumo não rebenta a tempo, as fotos são pobres e a imagem não se presta a nenhuma leitura particular a não ser a de nos dar a ver um presente algures entre o urbano e o suburbano – sendo aí que reside a sua principal força.
05.06.2013 | por Ana Bigotte Vieira
Em Cabo Verde vive-se, actualmente num contexto que insiste em cristalizar discursos e pertenças heterossexuais, dando protagonismo a corpos masculinos legitimadores daquele projecto patriarcal e machista. Muitos, inquietados com o olhar sentenciador e/ou aprovador, dos outros, rendidos à normatividade social, vivem na clandestinidade dos corpos, fechando-se para dentro de si.
Contudo os quadros normativos muitas vezes acabam por desencadear contestações. Encontramos corpos, Outros, que assumem o desafio de uma participação não passiva. Sujeitos a um corpo sem voz, sujeitos de um corpo voz.
30.04.2013 | por Celeste Fortes e Rita Rainho
Anunciamos conjuntamente Imagens e Geografias pela intrínseca articulação entre corpo, representações e espaço, que não são formas separadas, nem formam um ecossistema organicamente organizado. Constroem-se correlativamente. O espaço não representa um mero recepiente neutro da acção física e experiência, é antes passível de condicionar e transformar o corpo, ao mesmo tempo que gera novas representações. Assistimos a uma (mais ou menos activa) constante negociação do corpo, das representações e do espaço.
19.04.2013 | por Buala
On Safari conta as suas peripécias com os animais. Armand Denis era de certa forma um mágico do improviso, pois inventou muitas técnicas de filmagem e tornou-se um ativista pelos direitos dos animais e contra a caça, defendendo um mundo que já estava na altura em vias de extinção.
Considero também que a minha implicação física no filme é importante, para resgatar e confrontar de certa forma a invasão de que falava. Assim, enquanto não obtenho o apoio financeiro necessário à sua realização, tenho-me vestido com um fato de tigre em alguns lugares da cidade, em performances de curta duração: pendurei-me numa árvore em super8, fiz dupla com um homem-estátua para os turistas, passeei de gaivota no jardim zoológico, fui esquiar com um macaco nos Alpes, entre outras coisas.
18.04.2013 | por Rita Brás