O silêncio é o estampido de uma selva farta

O silêncio é o estampido de uma selva farta Mas então porque o silêncio, por si só, é assim tão vangloriado e enaltecido, enquanto a voz, por sua vez tão demonizada, ou diabolizada como medíocre e menor? Isto ocorre justamente porque o silêncio quando não é dialético torna-se reacionário. E que este teor falacioso e unitário do silêncio, por ele mesmo, é instrumentalizado de forma equivocada e conveniente, porque o silêncio de alguns é o projeto de projeção da voz de outros.

Mukanda

29.11.2022 | por Manuella Bezerra de Melo

Textos de Viagem. Casablanca, Eid al-Adha 1443 AH

Textos de Viagem. Casablanca, Eid al-Adha 1443 AH Acabamos por sair do souk sem encontrar os vendedores de arte, para umas ruas interiores diferentes do resto da cidade, onde percebo que se trata da antiga Medina, zona destruída pelo “nosso” terramoto de 1755 e reconstruída logo depois. Com os seus prédios baixos, contrasta com a Casablanca das grandes avenidas e prédios imponentes. As ruas labirínticas inspiram a familiaridade agradável dos bairros populares. Seguindo os cursos mais naturais afastamo-nos do mercado e do objetivo.

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27.09.2022 | por Ricardo Falcão

Opressão da mulher e capitalismo

Opressão da mulher e capitalismo Digamos simplesmente que - embora a frase possa parecer lapidar - o seu modelo de análise do domínio masculino, elaborado com base na sociedade cabileña, na qual as relações de parentesco desempenham um papel central na produção e reprodução de todas as relações sociais, não considera as rupturas introduzidas pelo capitalismo em relação às sociedades pré-capitalistas no que diz respeito à situação das mulheres. Em todo o caso, o nosso artigo irá focar esta questão. Não pretendemos dar uma imagem completa do estatuto da mulher e da sua evolução, mas simplesmente apontar certas rupturas decisivas do ponto de vista das lutas de emancipação.

Corpo

18.03.2021 | por Antoine Artous

O empoderamento feminino na construção de cidades sustentáveis

O empoderamento feminino na construção de cidades sustentáveis Em nossa cidade temos mulheres com práticas extremamente importantes, práticas viáveis e sustentáveis. Mas elas sabem disso? Será que estamos fortalecendo em nossa região uma cultura que faça a mulher se apropriar de seu lugar de fala? Será que a mulher da Amazônia se identifica como um ator de transformação social nos mais diversos espaços? Será que nossa cidade, enquanto um ambiente de todos, favorece a autonomia feminina em todos os seus ecossistemas? Se não, o que falta? Essas são provocações individuais e coletivas fundamentais para construirmos territórios que possibilitem a potência de todas as mulheres.

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29.12.2020 | por Natália Carvalho Viana

“A mãe está calada!” O que revelam as experiências de parto das mulheres?

“A mãe está calada!” O que revelam as experiências de parto das mulheres? A violência obstétrica é considerada uma manifestação de violência estrutural de género e, para a entender, é necessário olhar para mecanismos sociais e culturais mais vastos que desvalorizam a mulher, colocando-a numa posição subalterna. A ideia de que o corpo feminino necessita de correção tecnológica para parir é intrinsecamente sexista. Segundo esta perspetiva, o corpo parturiente desafia a ideia de feminilidade normativa, sendo necessário discipliná-lo para que volte a ser bem-comportado e submisso.

Corpo

20.12.2020 | por Catarina Barata

Fronteiras da violência nos corpos das mulheres na República Democrática do Congo

Fronteiras da violência nos corpos das mulheres na República Democrática do Congo O fato das categorias de gênero ocidentais serem apresentadas como inerentes à natureza dos corpos e operam de maneira dicotômica – binariamente opostas masculino/feminino, homem/mulher -, em que o masculino é considerado superior em relação ao feminino e, consequentemente, a categoria definidora, é particularmente exógeno a muitas culturas africanas. Quando as realidades africanas são interpretadas com base em demandas ocidentais, o que consideramos são distorções, disfarces na linguagem e, muitas vezes, uma total falta de compreensão devido à incomensurabilidade das categorias sociais e institucionais.

Corpo

05.11.2020 | por Bas ́Ilele Malomalo

Na Rua do Loreto

Na Rua do Loreto Está nua, a barriga dobra-se sobre o púbis. Eleva os braços, espreguiça-se, como um orangotango fêmea cansado. Deixa-se estar ali, lambendo os braços, levando ao nariz o cheiro dos sovacos, acarinhando um bebé que ninguém vê, dando-lhe de mamar com um desvelo maternal. Dessa vez, não a vi. Contaram-me que abriu as pernas, cheirou-se e sentindo-se, quem sabe, terrivelmente desamparada, começou a chorar de desespero. Alguém chamou a Polícia Municipal.

Cidade

08.09.2020 | por Djaimilia Pereira de Almeida

We don't just tell the story we live it

We don't just tell the story we live it Depois de ouvir o leão rugir vezes sem conta, preciso de integrar este animal. Revejo a minha emergência e subsequente início do processo de diagnóstico de disforia de género e tratamento ou transição. O processo está em curso como uma maré que por vezes me deixa tranquilo e noutras se agita, sem de facto pedir muita licença para me solicitar atenção. Eu, apesar de tudo, ainda e cada vez mais lúcido, vou retirando do seu percurso os obstáculos que me impediram de integrar a minha identidade negada.

Corpo

01.06.2019 | por Adin Manuel

A mulher e a prepotência masculina

A mulher e a prepotência masculina A luta continua. A liberdade e a equidade social, desprovidas de opressões egocêntricas, serão as derradeiras vitórias humanitárias. A violência generalizada contra as mulheres é sinal de que, afinal, a liberdade e a segurança só são aceites quando se respeita a prepotência masculina; por outras palavras, na prática, o atual direito humano é lamentavelmente concedido como recompensa aos que consentem com a supremacia.

Corpo

24.04.2019 | por Ricardo Cabral

O obituário

O obituário Ficávamos todos surdos por umas horas! - comentavam internamente. Enquanto a esmagava, o homem enfurecido dizia em sua santa consciência que agia para o bem de todos. São tempos de sufrágio e as prostitutas cantam no meu leito: o meu corpo é um veículo em emergência. A ambulância atrasa novamente. Morreu de quê? Morte matada. Com um sémen presente no gene e dois ventrículos castrados. Fomos parar à Mutamba e lá estava a frase legitimando: "A interrupção voluntária é máscula". Chamamos a ambulância, a menina durante o congestionamento pediu-nos, em agonia: "Chamem o obituário! Eu e o nato não queremos mais respirar...".

Corpo

13.02.2019 | por Indira Grandê

Mulher

Mulher A imagem parece preservar a subjetividade e individualidade das pessoas fotografadas, a mulher e a criança. Mas o texto manuscrito vem perturbar a imagem, transformando esta mulher, num“tipo”,representativode“todas” as mulheres do norte de Angola em relação às quais o “Vitor” faz um comentário racista. Muitas destas imagens foram feitas em contexto de grande desigualdade – étnica, social, sexual. Mas a dignidade humana e o olhar da mulher sem nome, e da filha ou filho que leva ao colo, desafiam as palavras manuscritas que carrega às costas.

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07.02.2019 | por Filipa Lowndes Vicente

Não serei eu mulher? As mulheres negras e o feminismo - PRÉ-PUBLICAÇÃO

Não serei eu mulher? As mulheres negras e o feminismo - PRÉ-PUBLICAÇÃO O meu intenso empenho na crescente consciência feminista levou‑me a confrontar a realidade das diferenças de raça, de classe social e de género. Tal como me tinha revoltado contra as ideias sexistas acerca do lugar de uma mulher, também contestava o lugar e a identidade das mulheres no seio dos círculos de emancipação feminina; não conseguia encontrar lugar para mim no movimento. A minha experiência enquanto jovem e negra não era reconhecida.

Mukanda

17.09.2018 | por bell hooks

mas… dizer que Luanda é um inferno, não.

mas… dizer que Luanda é um inferno, não. Fazemos parte desta coisa incrível que é este lugar. E cativos ficamos. Ninguém sai daqui alheio a assobiar. Bate uma tristeza, uma melancolia, uma saudade antecipada, porque este lugar… mesmo sendo uma madrasta cidade, tantas e tantas vezes, tem um encanto que reside na curva desse lado “Atlântico” que nos fez assim (...) Esse povo bom que lapida a vida sem ferramenta própria, capricha, encara e faz batota a rir.

Mukanda

13.03.2018 | por Isabel Baptista

O Mato de Guilhermina de Azeredo: ambivalência colonial no feminino

O Mato de Guilhermina de Azeredo: ambivalência colonial no feminino Pretendemos examinar o papel da mulher portuguesa na construção do Império Colonial Português através da análise da sua última obra, o romance O Mato (1972). Tendo em conta a centralidade e importância de uma das personagens femininas de O Mato - personagem esta que revela ambivalência em relação ao espaço colonial em que se move – é interessante abordar tópicos como o papel da mulher no espaço colonial e a relação entre mulheres brancas e africanos, bem como a alteração do papel tradicional da mulher no contexto colonial. Mais especificamente, o contexto colonial que nos interessa, o mato, pode ser considerado o espaço marginal do Império. Em última instância, queremos ampliar as perspectivas de se olhar o colonialismo português como um colonialismo predominantemente masculino e perceber a forma como a mulher foi instrumento fundamental na construção do projecto colonial.

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30.09.2013 | por Sandra Sousa

Perceções sobre a intimidade e o corpo feminino na literatura poética da Guiné-Bissau

Perceções sobre a intimidade e o corpo feminino na literatura poética da Guiné-Bissau O presente artigo lança o desafio de desconstruir as perceções e os discursos poéticos mais expressivos projetados sobre o corpo feminino e a sexualidade nas narrativas poéticas guineenses tomando em consideração quatro dimensões analíticas: a) “repressão e controlo social do corpo feminino”; b) “erotismo singelo”; c) “celebração orgásmica do corpo feminino”; d) “descolonização e desmasculinização do corpo e da sexualidade feminina”.

Corpo

14.04.2013 | por Miguel de Barros

A representação poética da mulher no contexto pós-colonial moçambicano

A representação poética da mulher  no contexto pós-colonial moçambicano Após a independência a exaltação do corpo da mulher, representada através de metáforas terrestres, constitui uma tentativa por parte de muitos poetas moçambicanos de se reapropriarem poética e concretamente da própria terra; como afirma Rita Chaves “esta fusão da mulher com a terra foi um dos postulados da poesia africana empenhada na construção da identidade nacional”

Corpo

09.04.2013 | por Giulia Spinuzza

Na senda da luta pela paz e igualdade. O contributo das mulheres guineenses

Na senda da luta pela paz e igualdade. O contributo das mulheres guineenses A condição das Mulheres guineenses num contexto mais abrangente que é o das lutas levadas a cabo pelas mulheres dentro e fora do continente africano, em busca da própria emancipação e da construção de sociedades mais justas e dignas. Este discurso terá necessariamente que partir da celebração do Dia Internacional da Mulher organizada pelas Nações Unidas em 1977, apenas dois anos após a proclamação do Ano Internacional das Mulheres e três anos após a proclamação da independência da Guiné-Bissau.

Mukanda

08.03.2013 | por Patrícia Godinho Gomes

O que significa ser documentarista africana num meio cinematográfico amplamente dominado por homens?

O que significa ser documentarista africana num meio cinematográfico amplamente dominado por homens? As mulheres documentaristas, na maioria, têm-se revelado engajadas. Existem inúmeros obstáculos para os documentaristas africanos, que se prendem com o desenvolvimento dos países africanos, entre outros, a fraca industrialização, a má governação, a alta taxa de desemprego, a falta de infra-estruturas, a persistente pobreza. A crise financeira mundial dos últimos anos apenas agudizou a situação destes cineastas que vivem, actualmente, muitos problemas para trabalhar.

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10.07.2012 | por Soxna Amar

Thugs no feminino: um breve olhar sobre o fenómeno

Thugs no feminino: um breve olhar sobre o fenómeno Claramente que o fenómeno da existência de grupos femininos em actividades delituosas não é novo em Cabo Verde, nem a existência de brigas entre “konbossas” (onde o troféu é o homem). No entanto, a adesão de jovens do sexo feminino em actividades grupais de hooliganismo pode ser considerada uma novidade. A moda pode não ter pegado no rap, mas pegou na manifestação thug da violência. De facto, deparo-me hoje na Praia com alguns grupos thugs femininos, em que as principais actividades são o “kasu bodi” e o hooliganismo.

Cidade

28.12.2011 | por Redy Wilson Lima

Marcha pelo Fim da Violência contra as Mulheres

Marcha pelo Fim da Violência contra as Mulheres É tão antiga como a Humanidade. Envergonha e diminui. É uma violação dos direitos humanos e liberdades fundamentais. É um crime público. É uma barreira à igualdade de género. Uma em cada quatro mulheres é alvo de violência. O espaço doméstico tem sido o maior palco de violência contra as mulheres. Quem bate nas mulheres fere toda a família. É preciso combater a violência sexista. É urgente mudar as mentalidades e eliminar a violência contra as mulheres. Somos contra a impunidade da violência contra as mulheres.

Mukanda

11.11.2011 | por UMAR-União de Mulheres Alternativa e Resposta, Movimento SlutWalk Lisboa e Associação ComuniDária