De Palácio a Centro Cultural de Luanda. Nota da CDC Angola

©João Tuna - CDCAngola©João Tuna - CDCAngola

Sendo fundamental para nós, artistas, termos finalmente uma sala de espectáculos condigna, a notícia da reabilitação para devolução à sociedade do maior teatro que a cidade de Luanda alguma vez teve deverá ser, sem quaisquer dúvidas, um motivo de celebração.

Todavia se, por um lado, a designação de “Palácio” há muito caiu em desuso, por nos remeter para um contexto de regimes políticos em decadência que instrumentalizavam as artes mantendo-as cativas da sua grandiosa máquina propagandística ditatorial, por outro, marginaliza, numa total falta de respeito e consideração, os artistas / profissionais da DANÇA.

A Companhia de Dança Contemporânea de Angola (CDC Angola), membro do Conselho Internacional da Dança da UNESCO (CID) vem, assim, manifestar a sua indignação pela designação atribuída ao antigo Cine-Teatro Restauração o qual, após ter sido a sede da Assembleia Nacional surge como “Palácio da Música e Teatro de Luanda”.

O facto deste nome, atribuído há já alguns anos, permanecer num despacho actual, sem ter sido questionado, deixa-nos a todos apreensivos e livres para confirmar que se trata de mais um sintoma de que os assuntos ligados às artes estão, perigosamente, confiados a mãos com preocupantes debilidades neste domínio.

Sabendo-se que a DANÇA, nos seus diversos contextos, géneros e formas, tem contribuído para o surgimento e visibilidade de outras propostas estéticas e de outras linguagens artísticas que incluem e transcendem a música e o teatro, a CDC Angola propõe uma reflexão sobre esta pluralidade de discursos criativos que vão desde a utilização das novas tecnologias digitais aos espectáculos multidisciplinares, que são igualmente excluídos nessa designação antiquada e discriminatória a alterar, urgentemente.

Assim, além de encorajar a que se desista de olhar para a DANÇA como uma actividade recreativa e de lazer, a mais antiga companhia de dança profissional angolana, propõe que o antigo Cine-Teatro Restauração e ex-Assembleia Nacional se chame CENTRO CULTURAL DE LUANDA dignificando, de forma democrática, despretensiosa e integradora, quer a cidade quer todos os profissionais de todos os quadrantes artísticos, sem descriminações.

Acreditando que Angola ainda valoriza os peritos com formação, conhecimento e experiência nas diversas áreas profissionais, esta instituição de dança angolana põe à disposição a idoneidade dos seus conhecimentos técnicos, bem como a sua reconhecida experiência em assuntos relacionados com salas de espectáculo, para acompanhar quer o projecto, quer a reabilitação deste novo espaço cultural, por forma a que não se incorra nos erros graves já cometidos (na sua maioria irreversíveis) relativamente ao Cine-Teatro Nacional e ao Teatro Avenida.

Orçamentar um local de trabalho para os artistas não é despesismo; é uma obrigação e um investimento estruturante para o progresso social que todos desejamos.

Nós, os Humanos, somos parte material e parte espiritual, sendo que esta não se esgota na religião mas se prolonga na ARTE. Portanto, hospitais para médicos e enfermos, escolas para professores e alunos e Teatros para TODOS os artistas e para o público!

Saudações coreográficas!

Gabinete de Divulgação e Imagem da CDC, em Luanda, aos 10 de novembro de 2021

Palco com recursos às novas tecnologias usadas em espectáculos de dançaPalco com recursos às novas tecnologias usadas em espectáculos de dançaCacti - Exemplo de luz e cenografia para dançaCacti - Exemplo de luz e cenografia para dança

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Palcos | 22 Novembro 2021 | arte contemporânea, artistas, centro cultural de Luanda, Companhia de Dança Contemporânea de Angola, cultura, dança, luanda