Nturudo: ao encontro do carnaval da Guiné-Bissau

Carnaval é uma festividade anual presente em várias partes do mundo, com múltiplas formas de representação, resultando numa vasta gama de manifestações, em maior ou menor grau correspondentes às suas raízes, também elas bastante heterógenas. Na Guiné-Bissau o processo de transformação desta manifestação é evidente, mesmo que pouco documentado. O Carnaval tornou- se numa das mais importantes festividades, que junta pessoas do país inteiro e de vários grupos socioculturais e ganhou o seu próprio caracter, mantendo somente algumas ligações com carnavais noutras latitudes geográficas.

Na Europa era a festa do caos, do exagero e da insubordinação. Era um grito do povo descontente, que se manifestava contra a ordem social imposta, que por uns dias suspendia as regras e virava o mundo do avesso. Era, também, uma festa de renascimento e de renovação, tão necessária para o restabelecimento do equilíbrio. Era a altura em que os espíritos dos antepassados marcavam a sua presença na terra. Há diversas versões da sua origem e, mesmo que incluída no ciclo de festividades anuais cristãs, poderia, inicialmente, não ter conexões com as festas religiosas. Uma festa barulhenta e colorida, cheia de mistérios e surpresas escondidas atrás de trajes e máscaras. Estas últimas especialmente relevantes, já que permitem a escolha da forma de identificação, sublinhando a verdadeira ou a ambicionada. A máscara possibilita a expressão anónima de descontentamento ou de desejo.

O Carnaval guineense, apropriado plenamente pela população e cuja principal representação ocorre na capital do país, revela mais o “desejo de” do que o “descontentamento com”, apesar desta última componente também estar presente. Uma festividade complexa e composta por várias camadas performativas, que junta num só lugar toda a gama de manifestações culturais, por um lado, características de diversos grupos étnicos e, por outro, um imaginário concebido por todos, independentemente das referências étnicas, que se expressa através das máscaras criadas pelos grupos especialmente para esta ocasião. Cada ano é escolhido um tema que serve como ponto de partida para a criatividade carnavalesca. A temática levanta importantes questões sociais e culturais, conduzindo – desta forma indirecta – a uma reflexão espontânea, ao longo de todo o período preparativo, sobre as questões ligadas com o tema.

Estes dois factores – os desfiles temáticos e a presença de representações de todo o território da Guiné-Bissau – definem a identidade do evento que, em vez de virar o mundo ao avesso, constrói, simbolicamente, um mundo unido e melhor, expresso em vários momentos dos festejos, especialmente visível durante os desfiles que decorrem nas avenidas da capital. O concurso para o melhor grupo transforma o processo de fabrico de máscaras e adereços num momento de criação, em que a arte ocupa um lugar de destaque.

A produção artesanal de máscaras carnavalescas é um dos mais peculiares e simbólicos saberes populares da tradição urbana guineense. Constitui um espaço de criatividade e inventividade muito rico, ligado às tradições culturais e à crítica social, mantendo um forte elo de afirmação identitária. As máscaras ganham corpo no Nturudu (entrudo), enquanto actor e sujeito de uma complexa expressividade manifestada, também, através de trajes, danças, canções e coreografias únicas, que fazem do carnaval guineense uma das manifestações populares mais singulares.

Como forma de dar visibilidade a este património cultural e iniciar o processo de salvaguarda, memorialização, valorização e promoção destas criações, cerca de 70 máscaras, concebidas e produzidas pelo Agrupamento Cultural Chão de Papel Varela, um dos grupos mais importantes da tradição carnavalesca de Bissau, estarão em exposição ao longo dos próximos meses. Numa primeira

fase, a exposição estará patente em Bissau nos vários centros culturais, depois no interior e, mais tarde, fora do país, apresentando esta manifestação cultural a um vasto público internacional. Este será o primeiro passo para a concretização do Museu da Arte do Entrudo Guineense.

Magdalena Bialoborska | antropóloga & Miguel de Barros | sociólogo

 

Exposição itinerante das máscaras e do entrudo guineense

produção artesanal de máscaras carnavalescas é um dos mais peculiares e simbólicos saberes populares da tradição urbana guineense. Constitui um espaço de criatividade e inventividade muito rico, ligado às tradições culturais e à crítica social, mantendo um forte elo de afirmação identitária. As máscaras ganham corpo no Nturudu (entrudo), enquanto actor e sujeito de uma complexa expressividade manifestada, também, através de trajes, danças, canções e coreografias únicas, que fazem do carnaval guineense uma das manifestações populares mais singulares.

Como forma de dar visibilidade a este património cultural e iniciar o processo de salvaguarda, memorialização, valorização e promoção destas criações, cerca de 70 máscaras, concebidas e produzidas pelo Agrupamento Cultural Chão de Papel Varela, um dos grupos mais importantes da tradição carnavalesca de Bissau, estarão em exposição ao longo dos próximos meses. Numa primeira fase, a exposição estará patente em Bissau nos vários centros culturais, depois no interior e, mais tarde, fora do país, apresentando esta manifestação cultural a um vasto público internacional. Este será o primeiro passo para a concretização do Museu da Arte do Entrudo Guineense.

Roteiro da exposição:
- de 15 de Abril a 15 de maio: CENTRO CULTURAL FRANCO BISSAU GUINEENSE - de 17 de Maio a 19 de Junho: CENTRO CULTURAL PORTUGUÊS
- de 21 de Junho a 20 de Julho: CENTRO CULTURAL DE QUELELÉ

Organização: Corubal e Agrupamento Cultural Chão de Papel-Varela
Curadoria: Miguel de Barros
Assistência Técnica: António Spencer Embaló, Claudina Viegas e Magdalena Bialoborska Fotografia: Vasco Menut
Logística: Regan João Sá

Contacto: corubalgb@gmail.com; +245 96 624 91 39

 

 

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Palcos | 15 Abril 2019 | Canaval, Guiné, máscaras