HISTÓRIAS DE ROSTOS: Variações Belting

Segundo o historiador de arte alemão Hans Belting (n. 1935), o rosto é «a primeira imagem» e «o ponto de fuga para o qual convergem todas as imagens». Algumas das mais antigas imagens são rostos; através deles, expomo-nos aos outros e estabelecemos as dinâmicas relacionais. A longa e rica história da representação do rosto nas artes revela uma busca incessante: a de surpreender por trás desta superfície mágica e animada «a superfície mais apaixonante da Terra» — o eu humano.

As suas origens entrelaçam-se com a figura rígida e impenetrável da máscara arcaica e as dimensões cultuais e sagradas que a desdobram e animam; a máscara funerária, ancorada na vontade da memória; ou a máscara do teatro antigo, investida de expressividade e de vida. As suas relações com o retrato enraízam-se ora numa vontade de semelhança, verdade e apreensão de uma personalidade ou de uma identidade, ora numa vontade de pôr em movimento e de operar a arte performativa da transmutação.

No entanto, e apesar de todas as tentativas de capturar em imagens a essência do ser humano através do desenho, da estatuária, da fotografia, da pintura e do cinema, o rosto — entre o visível e o invisível, a presença e o retraimento, a fixação e a animação, a revelação e o apagamento — permanece um grande mistério.

Partindo de Faces. Uma história do rosto, de Hans Belting, esta exposição, concebida como um ensaio visual, explora as dimensões antropológicas e artísticas do rosto, combinando uma seleção de obras das coleções Berardo, de outros acervos nacionais e internacionais e de diferentes âmbitos disciplinares. Artes gráficas, registos de arquivos, matérias científicas, formas comunicacionais e obras de arte compõem uma tessitura que busca exprimir — sem pretender esgotar — a «aventura» visual dos rostos.

Do singular ao plural, da «face» humana aos seus distintos «rostos», percorre-se um itinerário cujo ponto de partida é o ritual funerário, considerado por Belting como a origem da imagem. De seguida, caminha-se pela gramática da fisionomia, pela relação entre identificação, policiamento e sujeito, pelo «outro» colonial e pela construção do retrato enquanto género artístico, passando pela massificação mediática que tende a fazer desaparecer a personalidade num inquietante «tornar-se massa». Pelo meio, toma especial relevo o trabalho de Jorge Molder — a quem Hans Belting dedica um capítulo de Faces. Uma história do rosto —, no qual se aborda a questão da autorrepresentação do eu, entre a distância e a intimidade consigo mesmo. O «final» é um eterno retorno à expressão e à proliferação dos rostos: uma impossibilidade de encerrar o assunto, um ponto de fuga vertiginoso onde rosto e rostos resistem perpetuamente, renovando-se e escapando sempre a qualquer apreensão.

Erik & Dennis Oppenheim, Extended Expressions (fotograma / frame), 1971 (Aspen, Colorado). Vídeo, preto e branco, mudo, 12'. Cortesia de Dennis Oppenheim EstateErik & Dennis Oppenheim, Extended Expressions (fotograma / frame), 1971 (Aspen, Colorado). Vídeo, preto e branco, mudo, 12'. Cortesia de Dennis Oppenheim Estate

A exposição divide-se em 9 núcleos: Ritual funerário
Fisiognomia e expressão; Policiamento do rosto; Máscaras mudas; Retrato, um género; Media faces; Jorge Molder Arquivo, memória; Ponto de fuga: Guintche

Obras de: Francisco Tropa, Ângelo de Sousa, Dennis & Erik Oppenheim, Duchenne de Boulogne, José Loureiro, Armando Alves, Ana Mendieta, Rivane Neuenschwander, Daniel Blaufuks, Kader Attia, Soares dos Reis, Eduardo Nery, Constantin Brancuși, José de Almeida Furtado, Fernando Lemos, Santeri Tuori, Almada Negreiros, Lewis Hine, Lúcia Prancha, André Martins, Cindy Sherman, Jorge Molder, Christian Boltanski, Marlene Monteiro Freitas, Hieronymus Cock, João Glama Ströberle, Giambattista della Porta, Charles Le Brun, Johann Kaspar Lavater, Charles Darwin, Oscar Gustave Rejlander, Sigmund Freud, René Descartes, Cesare Lombroso, Jean-Étienne Esquirol, Franz Joseph Gall, Francis Galton, J. H. Santos David, Paul Richer, Erna Lendvai-Dircksen, Thomas Ruff, entre outros.

No quadro desta exposição, proceder-se-á ao lançamento de Faces. Uma história do rosto (Hans Belting, ed. KKYM) e da publicaçãoHistórias de Rostos (ed. Museu Coleção Berardo + KKYM) e desenvolver-se-á um programa de visitas guiadas e encontros-conferências.

Curadoria: João Figueira, Katherine Sirois, Marta Mestre, Vítor Silva / Imagens Migrantes / Ymago. Imagens Migrantes / Ymago é um projeto que visa a difusão de autores que pensam a imagem em termos inovadores, explorando com grande liberdade e pertinência o seu enraizamento e as suas relações com as mais diversas problemáticas, saberes, crenças e práticas (www.proymago.pt).

08 de maio - 15 de setembro de 2019

Museu Berardo

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Vou lá visitar | 30 Abril 2019 | exposição, rostos