Mães do 27

Uma visão mais alargada dos contornos dos acontecimentos do 27 de Maio, prestando especial atenção aos sentimentos dos que ficaram, em particular as mães. Com isso, não pretendemos de todo ignorar os restantes familiares, mas sim começar por onde a humanidade tem o seu início: no ventre materno.

As consequências destes acontecimentos foram de tal maneira nocivas, que pretendemos dar início a um longo processo de cura, humanizar a tragédia para mitigar a dor e buscar a paz interior.

Contamos nesta exposição colectiva com os nomes de artistas angolanos como Isabel Baptista, Lino Damião, Jorge Sistelo, Zizi Ferreira, Leda Baltazar, Kassessa  Gândara, Nelo Teixeira, Armanda Alves e ainda a estilista de S. Tomé Rosalyn Silva.

O espaço Espelho de Água foi gentilmente cedido por Mário Almeida para a exposição, que irá decorrer de 15 de julho a 29 de agosto.

Convém lembrar que a maior parte destas mães já não se encontra em vida e a urgência consiste em não permitir que as últimas mães partam sem que demonstremos o nosso afecto, admiração e a partilha da sua dor. 

Esta exposição tem a curadoria de Kassessa Gandara e produção de Maura Faial.

 

Em entrevista à Draft World Magazine, Maura Faial, diretora de projeto e membro da associação das vítimas do 27 de maio, M27, explica como surgiu a ideia para este evento, enquadrando a época histórica em que este tema se enquadra, o chamado “golpe de Estado” de 1977, altura em que milhares de angolanos foram torturados e assassinados, sem julgamento. Hoje, muitas das vítimas ou familiares continuam sem conhecer toda a verdade sobre os crimes cometidos na altura. “Em cada três famílias, uma foi tocada por este acontecimento, 44 anos de espera, de dor, de angústia sem poder lamentar, porque sem um corpo, não há enterro. Sem um funeral, não há adeus. Sem um “komba”1 um capítulo não é encerrado. As mães tinham de carregar este peso, com muito menos poder. As mulheres tiveram de continuar a tomar conta de outros filhos, ou dos seus netos.”, sublinha Maura Faial.

A M27 surgiu para: “trazer a debate um tema sensível e controverso e que ainda gera muitos receios” além de “sempre inclinados a pensar na justiça”, querem encontrar: “uma forma alternativa de estar ao lado do povo angolano. Este ano, reunimos solidariedade, bondade e criatividade para estar ao seu lado, também em paz.”, através da arte.

Os membros da associação querem transmitir que é possível debater, o 27 de maio de 1977, de formas diferentes, e com outras leituras.

“As obras de arte não vão ‘morrer’ num caminho que se prevê ser longo, na busca da verdade.”, afirma a diretora do projeto.

Instagram Associação M27.

  • 1. Velório na casa do morto, em que se come, bebe e dança.

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Vou lá visitar | 11 Julho 2021 | 27 de Maio de 1977, angola, arte, associação M27, exposição, História, mães do 27, mpla