O corpo por vir

Programa 

‘O corpo por vir’ aborda o problema do corpo a partir de múltiplas perspectivas, procurando potenciar cruzamentos disciplinares e abordagens críticas. Com a participação de artistas visuais, escritores, performers e coreógrafas e investigadores das humanidades, ciências sociais e naturais, ‘O corpo por vir’ vai criar momentos de reflexão e discussão de entendimentos e vivências do corpo, bem como de pensar o seu porvir.

‘O corpo por vir’ comporta a realização de um ciclo de conferências e uma conversa (online, que realiza no dia 19 de Maio), uma oficina, duas exposições com formatos de apresentação experimentais, uma instalação que joga com as atuais limitações dos encontros coletivos, sebentas para o público juvenil e um caderno de apontamentos que documenta a reflexão em torno do corpo ao longo do projecto.

Historicamente, os artistas têm combatido criticamente as doenças e os preconceitos na sua prática, com vista a alterar dinâmicas institucionalizadas. Num momento em que epidemias, o capitalismo e aquecimento global ameaçam todas as formas de vida, queremos interrogar os modos como as diferenças e as formas de vulnerabilidade dos nossos corpos são capturadas em categorias estruturantes das relações sociais, criando estigmas que moldam percepções normativas. Vamos debruçar-nos também sobre a forma como essa mesma vulnerabilidade implica inevitavelmente a interdependência das nossas existências. Quais são as coreografias de hoje de solidariedade e cuidado? Contágio, utopia, migrações, morte, cura, futuro, toque, feminismo, nudez, negociação, são temas que nos podem ajudar a repensar uma corporalidade nova através de novos sistemas de interacções e espacialidade.

A proposta central de ‘O corpo por vir’ é a conferência/debate em parceria com a Culturgest que se vai realizar online no dia 19 de Maio. Nela participam: Ana Mira (dança/filosofia), Clara Saraiva (antropologia), Gisela Casimiro (literatura / artes visuais), Gonçalo M. Tavares (literatura), João Tavares (psiquiatria), Pedro Machado (astrofísica) e Sílvia Pinto Coelho (dança/ciências da comunicação). Um microsite dedicado a este evento, onde serão disponibilizados vários conteúdos exclusivos a partir do dia 3 de Maio, irá sustentar o debate que encerra este programa de conferências no dia 19 de Maio.

Este programa é atraessado por uma linha pedagógica: uma actividade de mediação desenvolvida pela designer Ana Teresa Ascensão, dirigida ao público mais jovem, que consiste na Sebenta d’O corpo por vir, dividida em três fascículos; e a Oficina Cadavre Exquis dirigida por Gonçalo Alegria que explora as relações da técnica com a criação artística, propondo a construção de um corpo escultórico.

Apresenta-se ainda três objectos artísticos. Sara Morgado Santos concebe a peça Máquina-Olho-Mão, que será exposta em ambiente doméstico, circulando por casas particulares; Marta de Menezes apresenta o Tríptico Immunity, que integra a peça inédita intitulada Tolerance, uma negociação de espaço onde as células da artista e de um cientista, seu marido, poderão conviver in-vitro; e Jonas&Lander apresentam a criação inédita Boa Nova, uma instalação interactiva que se constrói à medida que o público interage com ela, e que reflecte o desejo de distância e intimidade nas sociedades contemporâneas.

‘O corpo por vir’ parte de uma ideia de Marta Rema e tem direcção artística de Andreia Páscoa e Joana Braga.

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Conferências/Debate O corpo por vir 
Culturgest online 
↳ Microsite aqui 
Debate: 19 de Maio, 18:30/20:30

Sebenta d’O corpo por vir: publicação em três fascículos 

Ana Teresa Ascensão 
Local: online 
Data: Setembro

Oficina Cadavre Exquis 
Gonçalo Alegria 
Local: FabLab Lisboa 
Data: Setembro

Máquina-Olho-Mão 
Sara Morgado Santos 
Local: em sua casa 
Data: Setembro a Dezembro

Tríptico Immunity 
Marta de Menezes 
Local: online 
Data: Outubro a Dezembro

Instalação Boa Nova 
Jonas Lopes & Lander Patrick 
Local: a definir 
Data: Setembro

Conferências

Quando o distanciamento social transcende a metáfora, tornando-se uma realidade corporal, somos inevitavelmente forçados a acostumar-nos a novas constelações de corpos e espaços. O corpo permanece uma das questões mais desafiantes da vida contemporânea, numa era de uso recorde de antidepressivos, aconselhamento nutricional e aplicações de saúde e fitness, mas também de posicionamento contra a patologização de identidades transgénero, de condenação de comportamentos baseados na raça e de eclosão da emergência pandémica.

De que modo a apreensão das diferenças e formas de vulnerabilidade dos corpos em categorias tem vindo a criar estigmas e preconceitos e a estruturar o exercício de relações de poder? Poderá a situação que expõe a fragilidade comum a todos os corpos, vulneráveis ao contágio, activar novas coreografias de solidariedade e políticas de cuidado partilhado?

A conferência/debate (em parceria com a Culturgest) terá lugar online, num microsite dedicado ao projecto no qual estão disponíveis sete vídeos com as reflexões dos convidados e outros conteúdos exclusivos. Ana Mira (dança/filosofia), Clara Saraiva (antropologia), Gisela Casimiro (literatura/artes visuais), Gonçalo M. Tavares (literatura), João Tavares (psiquiatria), Pedro Machado (astrofísica) e Sílvia Pinto Coelho (dança/ciências da comunicação) vão encontrar-se a 19 de Maio numa conversa online, moderada por Marta Rema e com a participação do público, para debater as várias aproximações ao corpo e as tensões que este confronto gera.

1. O traço em gestos mínimos, por Ana Mira

Se o fio do atacador do sapato não for atado nem desatado e permanecer solto, vibra nas mãos, cria sonoridades e segue um trilho, vaguear com Yves — o adolescente no filme “Le Moindre Geste”, de Fernand Deligny, Josée Manenti e Jean-Pierre Daniel (1971-), e Deligny que seguiu o rastro dessa trama no seu texto “O aracniano” (2015). O traço em gestos mínimos procura reflectir sobre as formas de existência que se antevêem naquele entorno entre os seres, os objectos e o meio envolvente.

Ana Mira lecciona na Escola Superior de Teatro e Cinema - Instituto Politécnico de Lisboa e no Ar.Co - Centro de Arte e Comunicação Visual nas áreas do corpo, movimento e dança, e da filosofia e estética. Estudou práticas somáticas e dança contemporânea na Europa e nos Estados Unidos, e completou o seu doutoramento em Filosofia /Estética, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas - Universidade NOVA de Lisboa (2014) sob orientação do filósofo José Gil, como investigadora visitante no Center for Research in Modern European Philosophy - Kingston University e bolseira da Fundação para a Ciência e Tecnologia. Foi investigadora visitante no departamento de Performance Studies da Tisch School of the Arts - New York University como bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian (2007). Colabora com o grupo de investigação Arte, Crítica e Experiência Estética do Culturelab no Instituto de Filosofia da Nova (FCSH-UNL) e com centros artísticos como a Porta33 e o c.e.m. - centro em movimento. Na performance de dança, destaca a sua colaboração com os coreógrafos Pauline de Groot, Russell Dumas e Rosemary Butcher e a sua adaptação do solo “At Once” (SPCP/2009), de Deborah Hay. Tem publicado os seus ensaios de dança e filosofia internacionalmente.

2. Six feet under or celebrations of death?, por Clara Saraiva

O que é o corpo morto enquanto ícone cultural? Uma viagem de reflexão antropológica pelos múltiplos simbolismos e manipulações dos despojos humanos, desde a purificação do corpo nos Estados Unidos ao embrulhamento dos cadáveres na Guiné-Bissau, passando pelos rituais católicos do universo português. As duas imagens, a representação de uma língua humana no processo post-mortem, e um corpo embrulhado em panos, a parecer o boneco Michelin dos pneus, servem de mote para o debate.

Clara Saraiva (PhD 1999) é antropóloga, Investigadora do Centro de Estudos Comparatistas da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde coordena o Grupo de Investigação Cidadania, Cosmopolitanismo Crítico, Modernidade e (Pós) colonialismo. É docente do programa de doutoramento em Antropologia da Universidade de Lisboa. Foi professora convidada na Universidade da Califórnia Berkeley e na Brown University. Foi investigadora do Instituto de Investigação Científica Tropical e do Centro em Rede de Investigação em Antropologia (CRIA), e professora convidada no Departamento de Antropologia da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Nos projectos de pesquisa que dirigiu abordou temas como a religião e o património, transnacionalismo religioso, conceptualizações e rituais de morte, com pesquisa de campo em Portugal, Brasil, Estados Unidos e África. É Presidente da Associação de Antropologia Portuguesa, membro da Direcção do Conselho Mundial de Associações Antropológicas e ex-vice-presidente da Society for International Ethnology and Folklore (SIEF).

3. Delivery - O Parto, por Gisela Casimiro

Delivery é o termo em inglês para entrega, mas também para parto. O tempo pandémico é um tempo de emergência, expectativa, espera e esperança. Numa altura em que temos de manter as distâncias mas dependemos mais do que nunca de quem não pode estar em casa, o corpo por vir é também o dos estranhos a quem confiamos a nossa comida e as nossas novas vidas. Uma reflexão com a barriga ao centro.

Gisela Casimiro (Guiné-Bissau, 1984) é uma escritora, artista e activista portuguesa. Publicou Erosão (Urutau, 2018) e fez parte de antologias como Rio das Pérolas (Ipsis Verbis, 2020), Venceremos! Discursos escolhidos de Thomas Sankara (Falas Afrikanas, 2020) e As Penélopes (Bairro dos Livros, 2021). Nos últimos anos assinou crónicas regulares no Hoje Macau, Buala e Contemporânea. Participou ainda em exposições no Armário, Zé dos Bois, Balcony e Museu Nacional de Etnologia. Dirige o departamento de Cultura do INMUNE - Instituto da Mulher Negra em Portugal.

4. Que corpo vem aí? por Gonçalo Tavares

Os vários corpos possíveis depois da epidemia. O corpo-Bunker. O corpo-festa, o corpo-sagrado, o corpo-ecrã, o corpo-presença. A nova presença depois da pandemia. A presença e o brilho. O depois da pandemia será o antes da pandemia ou o depois da pandemia será o depois da pandemia? Não sabemos, mas uma das respostas possíveis é um desapontamento e a outra resposta é bem perigosa. O que virá depois da pandemia? Uma grande desilusão ou um grande perigo.

Gonçalo M. Tavares nasceu em 1970. Desde 2001 publicou livros em diferentes géneros literários, traduzidos em mais de 50 países. É já um dos escritores de língua portuguesa mais traduzidos de sempre. Os seus livros receberam vários prémios em Portugal e no estrangeiro. Com “Jerusalém” recebeu alguns dos mais importantes prémios. Com “Aprender a rezar na Era da Técnica” recebeu o Prix du Meuilleur Livre Étranger 2010 (França), prémio anteriormente atribuído a Robert Musil, Orhan Pamuk, John Updike, Philip Roth, Gabriel García Márquez, Salman Rushdie, Elias Canetti, entre outros. Alguns outros prémios internacionais: Prémio Portugal Telecom 2007 e 2011 (Brasil), Prémio Internazionale Trieste 2008 (Itália), Prémio Belgrado 2009 (Sérvia), Grand Prix Littéraire du Web – Culture 2010 (França), Prix Littéraire Européen 2011 (França). Foi várias vezes finalista do Prix Médicis e Prix Femina. “Uma Viagem à Índia” recebeu, entre outros, o Grande Prémio de Romance e Novela APE 2011. Os seus livros deram origem, em diferentes países, a peças de teatro, dança, peças radiofónicas, curtas-metragens e objectos de artes plásticas, dança, vídeos de arte, ópera, performances, projectos de arquitectura, teses académicas, etc. – bem como a inúmeras traduções. Recebeu o prémio Vergílio Ferreira 2017 pelo conjunto da sua obra.

5. Corpo por Vir por João Tavares

Tem-me interessado, na história da esquizofrenia, a forma como a construção de conhecimento usa muitas vezes metáforas, que ficam nas entrelinhas das práticas, e que transportam através do tempo elementos diferenciados, e por vezes inesperados, desde valores a maneiras de pensar. As relações entre o sangue e a saúde mental são um exemplo disto.

João Tavares é formado em Medicina na Faculdade de Medicina de Lisboa, realizou o internato de especialidade em psiquiatria num dos últimos grandes asilos portugueses — o Hospital Júlio de Matos. Desde então trabalhou em psiquiatria em vários contextos diferentes, da Martinica ao Luxemburgo, e mais recentemente na unidade de alcoologia de Lisboa. Atualmente exerce no Hospital Reynaldo dos Santos - Vila Franca de Xira. Nos últimos anos tem-se dedicado à História da psiquiatria, uma história que vê não como um repositório de curiosas antiguidades, mas, pelo contrário, como a construção viva do presente e do futuro. Na Universidade Nova de Lisboa, em co-tutela com o Institut des Humanités en Médecine de Lausanne, constrói a sua tese de doutoramento sobre este peculiar cruzamento entre o corpo e a mente que é a História da psicofarmacologia recente.

6. A pulsão pelo infinito por Pedro Machado

Como se desdobra a consciência quando o corpo é alvo de sucessivas extensões e prolongamentos? Como vamos procurar outras formas de vida no Cosmos se estamos tão conectados com arquétipos antropocêntricos, se estamos tão treinados a reconhecer padrões pré-existentes na nossa matriz cultural?

Se por um lado, a nossa vertente racional pode aceder a um manancial cada vez mais rico de informação, o que torna seguramente exponencial o nosso modo singular e dedutivo de processar a informação, por outro lado, a interacção entre vários nodos de processamento funciona como um acelerador/amplificador do nosso processo cognitivo. Esse modo indutivo complementar como se fora uma inteligência mais ampla, de grupo, uma inteligência de alguma forma social, como é bem patente nos grupos de investigação científica, nas tertúlias literárias… Ou até na programação com recurso a redes neuronais, são maneiras de entrar em modos de consciência aumentada. Podemos multiplicar-nos “por dentro” usando as diversas formas de sentir corpóreas e as diversas abordagens do nosso intelecto como um acelerador indutivo, algo muitas vezes denominado como inteligência emocional. Mas também nos podemos multiplicar de uma forma exterior, sendo cada um de nós, por inteiro, um elo de um modelo grupal/social de analisar problemas e aumentar a nossa compreensão do Universo. Os perigos de se pensar sozinho, fechado na concha do eu… A solipsia…, as largas escalas de tempo em solidão podem vir a ser necessárias, mas podem ter uma componente nefasta para a exploração humana da vastidão do Cosmos… Nós precisamos do outro para podermos vir a ser mais nós próprios.

Pedro Machado tem actividade principal focada nas ciências planetárias, mais concretamente no estudo da dinâmica atmosférica dos planetas do Sistema Solar. Pedro Mota Machado é natural de Ponta Delgada (Açores) onde efectuou os seus estudos secundários. Depois de se formar em física teórica na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, completou um mestrado em Astronomia e Astrofísica na mesma universidade. Em 2013 obteve o grau de doutor, em regime de associação entre o Observatório de Paris (França) e da Universidade de Lisboa, com uma tese sobre a caracterização da dinâmica da atmosfera de Vénus. Actualmente, continua a sua pesquisa sobre a dinâmica da atmosfera de Vénus, utilizando técnicas de velocimetria Doppler e métodos de seguimento de nuvens (Cloud Tracking). Os métodos Doppler desenvolvidos e aperfeiçoados no âmbito da sua investigação estão neste momento a ser adaptados para o estudo de outros corpos do Sistema Solar: Marte, Júpiter, Saturno e Titã. A utilização e adaptação da espectroscopia de alta resolução a diversas gamas de comprimento de onda e com recurso a diversos instrumentos de grande potência observacional é um trabalho em curso. O estudo da composição atmosférica e dos seus componentes minoritários é também um dos objectivos essenciais do trabalho actual. Colabora com a missão espacial japonesa Akatsuki, fez parte da missão espacial Venus Express da Agência Espacial Europeia (ESA), e é o actual representante em Portugal do consórcio europeu relativo à missão espacial ARIEL da ESA, esta missão tem como principal objectivo a caracterização das atmosferas de exoplanetas. O seu trabalho tem sido apresentado em várias conferências internacionais e publicado em diversas revistas da especialidade de Astronomia e Astrofísica. Actualmente trabalha no Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA), afecto à Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa onde também é professor do departamento de Física.

7. Dançar-Pensar: para um pensamento incorporado, ou sobre a marioneta. Corpses Don’t Dance. People do! por Sílvia Pinto Coelho

A palavra corpo tem uma complexidade que não consigo resolver. Quando dizemos «o nosso corpo» referimo-nos a um fractal de «nós»? Para imaginar «o corpo» há que desincorporar, fazer um exercício de espelhamento, de reflexão. Colocar uma imagem de corpo à nossa frente, fora de um eu integrado, e dirigirmo-nos a ele — este «meu» corpo…

Sílvia Pinto Coelho é coreógrafa e investigadora integrada no ICNOVA - FCSH (CEEC-FCT), onde trabalha no seu projecto pós-doutoral sobre Atenção e Pensamento Coreográfico. Dirige a revista online INTERACT com Luís Mendonça. É doutorada e mestre em Ciências da Comunicação, licenciada em Antropologia e bacharel em Dança. Frequenta o c.e.m. desde 1994, faz o CIDC do Forum Dança (Lisboa 1997-99) e frequenta a Tanzfabrik (Berlim 2002-05). Desde 1996 que coreografa e participa em processos de pesquisa, de pedagogia e em filmes com colaboradores de várias áreas artísticas, tendo apresentado peças suas em Berlim, Madrid, Lisboa e Porto.

 

Sebenta d’O corpo por vir: publicação em três fascículos por Ana Teresa Ascensão 
Local: online 
Data: Setembro

A partir das ideias e materiais da conferência/debate, a designer Ana Teresa Ascensão vai desenvolver uma actividade de mediação dirigida a crianças e jovens, que tomará a forma de uma publicação, desdobrada em três fascículos.

Oficina Cadavre Exquis por Gonçalo Alegria 

Local: FabLab Lisboa 
Data: Setembro

Nesta oficina, concebida e orientada por Gonçalo Alegria, pretende-se explorar as relações entre a criação artística e a técnica. A partir de narrativas, conceitos e imagens como o Golem e o Homunculus — representações do Outro, construídas de forma a criar uma reprodução de vida — propõe-se a construção colaborativa de uma peça escultórica animada como pretexto para explorar conhecimentos e metodologias, desde a utilização de microcontroladores, sensores e actuadores até à utilização de materiais mais convencionais como objectos encontrados, madeiras e ferragens. A oficina é destinada a artistas e a interessados de outras disciplinas, nomeadamente as humanidades e/ou as engenharias, numa lógica de colaboração e cruzamento disciplinar. Os participantes serão seleccionados mediante candidatura prévia.

Máquina-Olho-Mão por Sara Morgado Santos 

Local: em sua casa 
Data: Setembro a Dezembro

A artista visual Sara Morgado Santos apresenta uma criação inédita intitulada Máquina-Olho-Mão, um conjunto de três peças concebidas para serem expostas e usadas em ambiente doméstico. Estas peças, reminiscências do pré-cinema, incluem um dispositivo de projecção, um taumatrópio e um flipbook. Durante três meses este conjunto de peças será temporariamente entregue aos participantes interessados mediante inscrição, e cada um pode montar a exposição com a disposição que quiser em qualquer espaço do seu ambiente doméstico. A artista propõe, assim, ensaiar novas formas de mostrar e experimentar o objecto de arte, procurando outras condições de partilha e, ao mesmo tempo, contribuir para uma readequação da dinâmica produção-exibição-distribuição, na esteira das experiências de “desmaterialização” e “descorporalização” do objecto artístico. Ao “emprestar” estes objectos de arte para exposições temporárias em casas particulares, pretende também colocar o objecto de arte em tensão com o ambiente doméstico.

Tríptico Immunity poMarta de Menezes 

Local: online 
Data: Outubro a Dezembro

Marta de Menezes apresenta uma série de trabalhos realizados com Luís Graça, imunologista e seu marido, nos quais exploram os limites da individualidade no seio de uma sociedade cada vez mais dependente da biotecnologia. O díptico I’am: Immortality’anti-marta, composto pelas obras Immortality for two e Anti-Marta, representa a relação entre uma artista e um cientista, assim como a fronteira entre arte e ciência e os limites da nossa identidade. Nestas duas obras, que envolveram a imortalização de células de ambos e o transplante de enxertos de pele, o resultado foi a tensão entre a ligação e a individualidade, a rejeição e a identificação. Com Tolerance, a artista desafia-se a encontrar um espaço de negociação onde as células do marido e as suas poderão conviver in-vitro.

Instalação Boa Nova por Jonas Lopes & Lander Patrick 

Local: a definir 
Data: Setembro

Jonas&Lander apresentam a criação inédita Boa Nova, um dispositivo arquitectónico interativo que se constrói à medida que o público interage com ele. Os visitantes desta instalação são encorajados a comer um iogurte e, com esse recipiente, agora vazio, criarem um “telefone” com os copos conectados por um fio. Vendo o momento de comer com alguém como um acto íntimo, essa intimidade é ampliada para um formato comunicativo. A essa comunicação feita à distância, com ferramentas arcaicas, são-lhe atribuídas directrizes e rotas de conversação tais como “dar uma boa nova” ou “revelar um segredo íntimo” à pessoa que está do outro lado da linha. A instalação ganha volume à medida que os resíduos das várias comunicações se acumulam no espaço, como uma espécie de carcaças de histórias e de revelações feitas. Boa Nova reflecte este desejo paradoxal de distância e intimidade que assola as sociedades contemporâneas por meio de uma retracção tecnológica, abrindo uma linha de fuga em relação à hegemonia da presença digital nas nossas vidas.

A partir de amanhã, os vídeos estarão disponíveis no microsite da Culturgest

por vários
Vou lá visitar | 10 Maio 2021 | ciclo de conferências, contágio, corpo, cura, feminismo, migrações, morte, nudez, relações sociais, utopia