Eu mesma - entrevista a Djaimilia Pereira de Almeida

Eu mesma - entrevista a Djaimilia Pereira de Almeida Uma pessoa nas minhas condições não tem propriamente onde regressar, tirando os meus bairros. Pelo contrário, e pensando no tópico da auto-descoberta, parece-me que o mais provável é uma pessoa encontrar-se enquanto faz outra coisa, enquanto procura outra coisa, como alguém que encontra uma tesoura quando estava à procura de um tubo de cola. O que me parece inalcançável é imaginar que posso reclamar o título de descobridora daquilo que encontro por acaso e quando não estava à espera.

Cara a cara

16.09.2015 | por Marta Lança

Adriano Mixinge, um novo moralista?

Adriano Mixinge, um novo moralista? Pertence a uma comunidade cujos membros, "os novos tocadores de batuque", são animados por um desejo de destruir o antigo mundo para o substituir pelo novo - "todo o ato de criação é, em primeiro lugar, um ato de destruição", dizia Picasso - em conformidade com as suas aspirações. O poder ou o homem da rua admite a sua existência; os novos batuqueiros são os pontas-de-lança de uma inédita forma de viver e de pensar.

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30.01.2015 | por Pierrette Chalendar e Gérard Chalendar

Os anjos de Deus são brancos até hoje, entrevista a Paulina Chiziane

Os anjos de Deus são brancos até hoje, entrevista a Paulina Chiziane Uma das mais eminentes figuras da atual literatura moçambicana, ponto de referência incontornável para as lutas feministas desse país e uma mulher que abordou na sua literatura, com uma intensidade inusitada, aspetos especialmente conflituosos do tecido cultural africano. São temas silenciados, tabus, assuntos particularmente dolorosos, pendentes, irresolutos, como a guerra civil moçambicana, os direitos da mulher no sistema poligâmico, a magia negra, o curandeirismo tradicional, o racismo e outras formas de discriminação.

Cara a cara

26.11.2014 | por Doris Wieser

E tu disseste: o que é que isso interessa? conversa com Adolfo Luxúria Canibal

E tu disseste: o que é que isso interessa?  conversa com Adolfo Luxúria Canibal Não há grandes formas de resistência, talvez só no pensamento: uma pessoa estar consciente das manipulações que ocorrem em si e à sua volta. Nada foge à recuperação capitalista, podes criar micro-espaços de respiração saudável mas nunca absolutamente limpa. É impossível criar uma redoma que te proteja das cores e dos cheiros do capitalismo, do devir geral da máquina. A única forma é rebentar com tudo ou deixar que a coisa impluda.

Cara a cara

01.10.2014 | por Marta Lança

Antropologia e literatura: a propósito e por causa de Ruy Duarte de Carvalho

Antropologia e literatura: a propósito e por causa de Ruy Duarte de Carvalho Ruy Duarte de Carvalho descobriu e praticou uma antropologia pós-moderna e pós-colonial sem pagar o preço da etiqueta ou as quotas do partido. Antes de Ana a Manda, tese de doutoramento sobre o contexto muxiluanda, a sua produção literária fora da antropologia no sentido estrito já estava encaminhada e já revelava as possibilidades da multiplicação dos géneros e da sua hibridação – justamente uma característica da pós-colonialidade e uma das receitas agora tão repetidas para a invenção de novas textualidades e autorias.

Ruy Duarte de Carvalho

16.09.2014 | por Miguel Vale de Almeida

A biodiversidade é um conceito abstracto, entrevista a Mia Couto

A biodiversidade é um conceito abstracto, entrevista a Mia Couto Duas horas com Mia Couto numa envolvente conversa que atravessa vários aspectos dos seus interesses e percursos. Como chegou até aqui, as suas geografias afectivas, Moçambique e os duros momentos de violência, a utopia da Independência, a diversidade de povos e seus modos de vida como inspiração para as histórias, o ambiente e o modelo de desenvolvimento a descobrir.

Cara a cara

17.07.2014 | por Marta Lança

Sobre Sonhu Sonhado, Sonho Sonhado, Dreamt Dream, de Carlota de Barros

Sobre Sonhu Sonhado, Sonho Sonhado, Dreamt Dream, de Carlota de Barros No contexto, diferenciado e linguisticamente multifacetado, o crioulo foi e continua a ser o principal signo identitário e, por isso mesmo, ainda que em alguns casos somente em potência, o principal elo de ligação, de identificação e de comunicação entre os caboverdianos de todos os tempos e lugares, situados nas ilhas e nas diásporas, localizados nos lugares do passado, do presente e do futuro do nosso povo disperso pelo mapa-mundo da sua alma migratória e dos pés andarilhos do globo dos seus filhos emigrantes e da sua demanda de sempre de uma vida cada vez melhor.

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07.07.2014 | por José Luís Hopffer Almada

Luanda, retrato literário

Luanda, retrato literário O prédio da Lagoa no centro de Luanda (Largo do Kinaxixi), carcaça deixada por acabar em 1975 e ocupada por refugiados da guerra a partir de 1992, é um musseque (bairro da lata) em altura que acabou por transformar-se involuntariamente em símbolo da capital angolana — 17 andares sem água, nem luz, nem saneamento básico, sem varandas, sem corrimãos —, um prédio carente das mínimas condições de habitabilidade transformado em abrigo para gente deslocada.

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20.06.2014 | por António Rodrigues

Ausência de escritores negros brasileiros na Feira de literatura de Frankfurt

Ausência de escritores negros brasileiros na Feira de literatura de Frankfurt Para além do epistemicídio e do racismo institucional que tal postura desvela, a partir da violação de direitos constitucionais, acrescentamos a perversa relação que há entre as grandes editoras – capital privado –, seus catálogos e o apoio estatal evidenciado na lista da Feira de Frankfurt/2013. Por esses motivos, reafirmamos nossa posição contrária a qualquer ação ou evento que signifique e que resulte na exclusão da literatura negra nos anais culturais nacionais e internacionais.

Mukanda

11.10.2013 | por autor desconhecido

O Mato de Guilhermina de Azeredo: ambivalência colonial no feminino

O Mato de Guilhermina de Azeredo: ambivalência colonial no feminino Pretendemos examinar o papel da mulher portuguesa na construção do Império Colonial Português através da análise da sua última obra, o romance O Mato (1972). Tendo em conta a centralidade e importância de uma das personagens femininas de O Mato - personagem esta que revela ambivalência em relação ao espaço colonial em que se move – é interessante abordar tópicos como o papel da mulher no espaço colonial e a relação entre mulheres brancas e africanos, bem como a alteração do papel tradicional da mulher no contexto colonial. Mais especificamente, o contexto colonial que nos interessa, o mato, pode ser considerado o espaço marginal do Império. Em última instância, queremos ampliar as perspectivas de se olhar o colonialismo português como um colonialismo predominantemente masculino e perceber a forma como a mulher foi instrumento fundamental na construção do projecto colonial.

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30.09.2013 | por Sandra Sousa

Temporizar a escrita, "Manual para incendiários" de L.C. Patraquim

Temporizar a escrita, "Manual para incendiários" de L.C. Patraquim Crónicas da língua e da fala, crónicas da literatura e da leitura, crónicas da violência política, crónicas do rio que transborda, crónicas da viagem, crónicas da crónica e do cronista – todas elas cientes do vínculo precário que criam com o mundo, tematizando essa consciência da temporização que se escoa no interior da escrita, que olha para si própria não como máquina de captar e aprisionar o tempo mas como expressão e produto da temporalidade que tenta apreender.

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05.01.2013 | por Manuel Portela

Logo depois da vírgula de Mattia Denisse

Logo depois da vírgula de Mattia Denisse Onde é que se encontra a literatura? Se atendermos a essa palavra num sentido mágico, etimologicamente, ou seja, a de ter uma qualquer capacidade para fazer alguma coisa, a de encerrar em si mesma um poder transformativo (mas sem a querer reduzir a “funções”), onde a encontrar? Em qualquer texto escrito que respeite as leis genéricas e expectáveis de uma circulação cultural (necessária e obrigatoriamente entrosadas nas de um circuito igualmente económico, político, mediático)? Ou de uma forma mais elitista, conservadora, mas a nosso ver necessária, reservada a certas configurações das suas matérias próprias?

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15.06.2012 | por Pedro Moura

Áfricas e Marginalidade: uma recensão de "Voci dal Margine: la letteratura di ghetto, favela, frontiera"

Áfricas e Marginalidade: uma recensão de "Voci dal Margine: la letteratura di ghetto, favela, frontiera" O cronista a que se chama Gato Preto/ Nascido em Ilhéus, no centro do gueto/ Pele escura, olhos vermelhos, cabelos crespos/ Antepassado africano, descendente negro/ Pane extremamente, salve do gueto/ Todos descendentes do mesmo povo preto. (Altino Gato Preto – Baiha que Gil e Caetano não cantaram)

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08.06.2012 | por Luca Fazzini

Logo Depois Da Vírgula

Logo Depois Da Vírgula Achará aqui o relato de uma série de viagens que iniciei em agosto de 2010. Encontrará, porém, na leitura e nos desenhos de Logo Depois Da Vírgula , outras viagens anteriores e posteriores, não condicionadas por essa atualidade, que irão satelizar e “des-temporalizar” o seu rumo central.

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04.05.2012 | por Mattia Denisse

O horror também tem infância, notas sobre "Bestas de Lugar Nenhum" de Uzodinma Iweala

O horror também tem infância, notas sobre "Bestas de Lugar Nenhum" de Uzodinma Iweala "Bestas de Lugar Nenhum" é o primeiro romance de Uzodinma Iweala. É-nos dado a conhecer o universo dos pensamentos de uma criança, Agu, forçada a combater sem qualquer razão, por interesses de governantes dos quais nunca alcançará o entendimento.

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20.10.2011 | por Marta Lança

O sal da terra

O sal da terra Passadas algumas décadas, a autora Margarida Paredes viria a confirmar mais uma vez o seu inconformismo criativo e político, com a publicação do romance "O Tibete de África". Editado numa década tão profundamente marcada pelo regresso de muitos escritores portugueses às memórias da “sua” África, O Tibete de África é muito diferente, pela multiplicidade de pontos de vista e pistas de leitura que oferece.

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02.08.2011 | por Jessica Falconi

A Mãe

A Mãe A biblioteca da sala era composta por cinco livros: “Eva e a África” (?), “Portugal Amordaçado” (Mário Soares) , “O Barão Trepador” (Italo Calvino), “Lady L” (Romain Gary) e a Bíblia Sagrada. À direita ficavam os três álbuns de família; no lado esquerdo os pisa-papéis de água, com a Ópera de Sidney dentro, e as fotografias da família nas molduras e nos fundos da faiança, mandada gravar em Yokohama, por familiares embarcados, sinal de que haviam tocado um porto japonês (o Japão e o golfo Pérsico como última fronteira para os marinheiros crioulos).

Mukanda

12.04.2011 | por Joaquim Arena

Uma época de filhos de cães

Uma época de filhos de cães Mokhtar sentou-se na esplanada de um café de aspecto sórdido, mas cujo rádio difundia uma melodia da cantora mítica que lhe fazia lembrar Malika, a sua mãe, que não podia ouvir este lamento de um amor perdido sem que os olhos se lhe marejassem de lágrimas. A esta hora matinal, para além de um jovem adormecido sobre um banco, como um destroço rejeitado pela noite, o local proporcionava uma calma, sem dúvida precária, mas por agora propícia à reflexão

Mukanda

04.04.2011 | por Albert Cossery

Sair do paradigma da dívida, a partir da leitura de João Vário

Sair do paradigma da dívida, a partir da leitura de João Vário João Vário (João Manuel Varela, 1937-2007), poeta caboverdiano. Em toda a poesia deste autor encontramos o mesmo imenso obstáculo à decifração – perseverança na opacidade, que se gera pela reflexão que hesita e pela atenção ao que vem, o nascer do mundo, na sua irreconhecível e demasiado próxima escrita. Estamos perante uma afirmação da poesia como enigma desencadeador de enigmas, isto é, como pensamento inspirador de pensamento.

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31.03.2011 | por Silvina Rodrigues Lopes

Encruzilhadas históricas: entrevista à escritora Aida Gomes

Encruzilhadas históricas: entrevista à escritora Aida Gomes Tenho sempre consciente o enorme esforço do que é construir-se um país de novo; nas casas novos tijolos e nas janelas vidros. Pergunto-me sobre as pessoas: basta-lhes também pintar de novo as paredes das casas? Na Holanda quem viveu a guerra ainda traz as marcas consigo; não consegue deitar comida fora porque passou fome, não consegue apagar de si a vulnerabilidade de ter sobrevivido (mesmo o ódio ao inimigo de então subsiste). Não sei até que ponto o facto de ter crescido fora de Angola, país onde questões políticas trouxeram uma guerra longa, terá afectado as minhas escolhas profissionais. Guerra, conflito e política foram os assuntos dominantes do meu trabalho.

Cara a cara

24.03.2011 | por Marta Lança