Era um abril chuvoso. A estiva agitada no cais de Salvador. Não era um bom dia para partir. Alzira estava lá, pronta. Bagagem bem ajeitada em malas de couro e ferro feitas no Taboão. Resistiriam bem àquela rota mítica tantas vezes navegada. Lagos era a meca dos negros da Bahia. Ao menos para aquela intelligentsia que conhece sua história e sua civilização. Ela envaidecida. Tal como outros distintos, conheceria Lagos, Alzira mesma, com todos os seus sentidos. Também ela desfrutaria daquela aura.
O livro "Alzira está morta" será lançado a 14 de abril no Hangar, Lisboa.
Mukanda
14.03.2016 | por Goli Guerreiro
O desafio para ouvir algum protagonista desta rede de músicos brasileiros na cidade chegou por via do projeto “O trabalho da arte e a arte do trabalho – circuitos criativos de formação e integração laboral de artistas imigrantes em Portugal”, coordenado pela Lígia Ferro e Otávio Raposo, do ISCTE-IUL, CIES-IUL, que o Buala está a acompanhar.
Palcos
29.06.2015 | por Marta Lança
Senti que havia interesse em debater o diálogo sul-sul, não só resgatando os momentos históricos de maior troca e contacto (o comércio de escravos e de mercadorias), mas também as possibilidades e expectativas atuais para o olhar contemporâneo. E senti que esse debate deveria acontecer numa cidade que historicamente teve um papel ativo nessa geopolítica do sul negro.
Cara a cara
28.06.2015 | por Maud de la Chapelle
História é um fio inquebrantável, governador, e por isso acho importante falar de rebeliões escravas. E repressão por parte das polícias. Outra rebelião importante a ser lembrada, e que também possui ligações com o Cabula, é a Rebelião Malê, cuja repressão foi uma das maiores já perpetradas pelo governo brasileiro, mas cuja repercussão, hoje sabemos, foi de suma importância para começar a se pensar sobre o fim da escravidão no Brasil. Imagine-se, governador, vivendo naquela época e sendo responsável pela segurança pública da capital baiana onde já vivia, talvez, o maior número de negros da América Latina.
Mukanda
28.02.2015 | por Ana Maria Gonçalves
O samba urbano, nascido na cidade do Rio de Janeiro no início do século XX, constitui uma amálgama de vários tipos de sambas e batuques praticados por africanos em várias regiões do Brasil; e, por isso, foi reprimido e perseguido. Entretanto, quando passou a ser visto como instrumento político, de aglutinação e controlo das massas populares, passou a ser consumido como arte do povo e acabou reconhecido como género musical. Aí, nasce a música popular brasileira, que tem o samba como sua espinha dorsal.
Cara a cara
25.10.2014 | por Marta Lança
Nascido no interior da porção nordeste do Brasil, uma das regiões mais pobres do país, Nelson Triunfo iniciou sua carreira artística como dançarino de soul e funk na década de 1970, época da efervescência do movimento negro pelos direitos civis nos Estados Unidos e de outros acontecimentos culturais e políticos que, exaltavam o orgulho negro na época.
Cara a cara
22.08.2014 | por Gilberto Yoshinaga
Mais de 5 mil activistas do planeta acorreram à selva para discutir com os zapatistas um conjunto de acções internacionais. Sindicalistas, anarquistas, terceiro-mundistas, ecologistas e alguns astronautas viveram durante uma semana nas aldeias de Oventic, La Garrutcha e La Realidad. Foi nesta última que se deu a conferência de imprensa final. Os jornalistas aproveitaram a ocasião para perguntar a Marcos qual era a sua reacção às declarações do então líder do Partido dos Trabalhadores, Lula da Silva, que se manifestava contra os movimentos de guerrilha e achava que a conferência intergaláctica tinha querido concorrer com o Fórum de São Paulo, encontro de partidos de esquerda de todo o mundo que organizava o PT. Marcos olhou com cara de espanto para os jornalistas, "Fórum de São Paulo? Não conheço, julgava que a gente concorria com os Jogos Olímpicos de Atlanta". Nesta altura, como agora, as revoltas não se decretam, fazem-se, e às vezes acontecem. A força dos zapatistas não estava nas suas armas, mas nas suas ideias e nas populações indígenas que são o próprio movimento.
A ler
07.01.2014 | por Nuno Ramos de Almeida
"Eu não considero o Brasil tão diferente de Angola culturalmente falando. Aliás, Angola consome actualmente muita cultura do mundo inteiro. Principalmente os mais jovens. Nem a língua chega a ser um entrave à compreensão das tirinhas que faço."
Cara a cara
18.12.2013 | por Luís Henrique e Global Voices (Vozes Globais)
Escrava tanto por sua origem africana num mundo onde imperava a ótica eurocêntrica e escrava das representações envolvidas por traços de inferioridade, virilidade acentuada e valoração negativa de sua diversidade.
Nadando contra a corrente, vozes afro-femininas de libertação, que lutaram tanto contra o preconceito racial como de gênero, sempre existiram e provam a importância da mulher negra na formação da cultura brasileira.
No passado e no presente, a escrita da mulher negra luta por sua emancipação e ocupa seu devido espaço. Da representação, a auto-representação; do corpo escravo, a dona de si.
Vou lá visitar
21.11.2013 | por Juliana Penha
David Harvey teoriza sobre a liberdade da cidade que, segundo ele, é muito mais que um direito de acesso àquilo que já existe: é o direito de mudar a cidade de acordo com o desejo de nossos corações. “A questão do tipo de cidade que desejamos é inseparável da questão do tipo de pessoa que desejamos nos tornar. A liberdade de fazer e refazer a nós mesmos e a nossas cidades dessa maneira é, sustento, um dos mais preciosos de todos os direitos humanos”.
Cidade
29.10.2013 | por autor desconhecido
Argumentamos no livro que os dois termos são impróprios, que a América "Latina" também é indígena, africana e asiática, da mesma maneira que a América supostamente "anglo-saxã" é também indígena, africana e asiática. O projeto de nosso livro é ir além dos estados-nação etnicamente definidos, para uma visão relacional, transnacional das nações como palimpsésticas e múltiplas.
A ler
25.09.2013 | por Emanuelle Santos e Patricia Schor
O Estado, seja no Brasil como no Peru ou em Portugal ou na Alemanha, está impregnado do Capital. Os governos são associações de empresários ou advogados dos grandes negócios com as empresas privadas. Daí a tese de Slavoj Zizek (entrevista ao L’Humanité.fr, 5.8.2013) que faz aqui todo o sentido: o poder do Estado deve ser tomado porque “eu não quero ser apenas alguém que é mobilizado todos os dias para uma manifestação”.
A ler
03.09.2013 | por António Pinto Ribeiro
portanto, a partir deste capítulo de desvinculação colonial tão “desconhecido” quanto contundente, da longa primavera da África (por relação aos acontecimentos políticos recentes no Oriente Médio), e de um novo pensamento ideológico e cultural (o exemplo da “pedagogia da revolução” de Amílcar Cabral, nas palavras de Paulo Freire), que as responsáveis – Ligia Nobre e Cécile Zoonens – pela plataforma exo experimental org., em colaboração com Anne Sobotta, “imaginaram” uma aproximação renovada e necessária. Mas qual a importância contemporânea desta aproximação? O que alimenta esta necessidade hoje, em que o Brasil se assume como uma potência no mundo? O que existe para além da histórica descendência afro, de milhões de brasileiros?
Vou lá visitar
21.08.2013 | por Marta Mestre
ECAScreenings 2: Quais são os traços e vestígios de memória que os cineastas privilegiam geralmente nas narrativas que constroem sobre a realidade sócio-cultural das populações diaspóricas? As imagens fílmicas funcionam como reflexos das memórias diaspóricas ou participam diretamente dos mecanismos de seu resgate e de sua mise-en-scène estratégica no espaço público?
"este artigo pretende partir da própria historicidade e ambiguidade do conceito de diáspora (tal como definido e aplicado ao “mundo negro da América” por Stuart Hall e Paul Gilroy) para examinar, em particular, as estratégias de mise-em-scène da memória diaspórica em quatro filmes documentários brasileiros."
Afroscreen
16.05.2013 | por Mahomed Bamba
Além da sistematização do luso-tropicalismo, Um brasileiro… fornece-nos informação parcelar sobre a viagem de Gilberto Freyre pelos territórios ultramarinos portugueses, elementos para o estudo da recepção do seu pensamento em Portugal e nas colónias portuguesas e para o conhecimento da sua rede de sociabilidades neste país.
A ler
31.03.2013 | por Cláudia Castelo
Analisa-se a relação do Estado Novo português com o luso-tropicalismo no período do colonialismo tardio, com base na leitura crítica de documentos políticos. A visita de Gilberto Freyre a Portugal e às suas colónias, em 1951-1952, marca um ponto de viragem entre a rejeição e à apropriação das máximas lusotropicais para legitimar a soberania portuguesa no ultramar. Depois do início da luta de libertação em Angola, esse processo é ‘radicalizado’: paradoxalmente, o regime português esforça-se por inculcar a norma anti-racista nos portugueses e conformar o comportamento dos funcionários administrativos e dos colonos ao ideário luso-tropicalista.
A ler
05.03.2013 | por Cláudia Castelo
O crescimento da economia do Brasil vem transformando a vida de muitos brasileiros. E também atraindo imigrantes do mundo inteiro, incluindo africanos que falam português. Mas, esperando encontrar uma sociedade aberta e multirracial, ao chegarem ao país esses imigrantes descobrem um lado oculto da sociedade brasileira: o racismo. Esse é o mote do documentário Open Arms, Closed Doors (Braços Abertos, em português), que integra a série de seis documentários autorais Viewfinder Latin America, um programa que tem como objetivo revelar e treinar documentaristas independentes ao redor do mundo e veicular suas produções.
Afroscreen
06.02.2013 | por Juliana Borges e Fernanda Polacow
No país da cobra grande.
Foi porque nunca tivemos gramáticas, nem coleções de velhos vegetais. E nunca soubemos o que era urbano, suburbano, fronteiriço e continental. Preguiçosos no mapa-múndi do Brasil.
Uma consciência participante, uma rítmica religiosa.
Contra todos os importadores de consciência enlatada. A existência palpável da vida. E a mentalidade pré-lógica para o Sr. Lévy-Bruhl estudar.
Queremos a Revolução Caraiba. Maior que a Revolução Francesa. A unificação de todas as revoltas eficazes na direção do homem. Sem n6s a Europa não teria sequer a sua pobre declaração dos direitos do homem.
Mukanda
27.09.2012 | por Oswald de Andrade
Esta visível ausência do elemento afro-negro, alimentada principalmente por posteriores seguidores do Movimento, contribui para que este adquirisse um carácter puramente cosmético na medida em que se legitimou uma suposta mestiçagem em que a presença branca é assegurada pela propriedade da própria reivindicação da mestiçagem, pela ausência textual dos negros apesar da incómoda presença física, pela presença textual dos indígenas mas cujo genocídio físico e epistémico impede a sua presença carnal permitindo uma incorporação despreocupada dos seus elementos culturais nas produções literárias do Movimento, pois não constituem, de facto, um perigo ou uma ameaça à esta elite literária e académica brasileira da época e da actualidade. Esta elite, apesar de «branca», se diz, ou quer ser, mestiça, utilizando o argumento e a linguagem da mestiçagem, ou da valorização do mestiço.
A ler
19.09.2012 | por Odair Bartolomeu Varela
A “maldição da abundância” é uma expressão usada para caracterizar os riscos que correm os países pobres onde se descobrem recursos naturais objeto de cobiça internacional. Volto da visita que acabo de fazer a Moçambique com uma inquietação sobre a "orgia dos recursos naturais" que impacta o país.
A ler
23.08.2012 | por Boaventura de Sousa Santos