Césaire, o insular que escrevia em movimento

Césaire, o insular que escrevia em movimento Césaire identificou com lucidez a violência estrutural e a distribuição desigual dos recursos e dos privilégios da cidadania à escala global, aquilo a que hoje chamamos privilégio branco. Achille Mbembe acrescenta que a esse privilégio se devem ainda somar as proezas técnicas e científicas, as criações do espírito, as formas de organização política relativamente disciplinadas e, sempre que necessário, uma crueldade sem medida. Como já advertia Césaire, há uma tendência irracional para o assassinato que acompanha essas formas de dominação. É ainda Mbembe quem convoca a urgência de reler Césaire, pois levá-lo a sério significa reconhecer, no presente, os sinais do regresso ou da reconfiguração do colonialismo: em práticas de guerra, na estigmatização das diferenças, ou nos revisionismos que, sob o pretexto do fracasso dos regimes pós-coloniais, procuram justificar retroativamente aquilo que, como alertava Tocqueville, foi sobretudo um governo grosseiro, venal e arbitrário.

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24.11.2025 | por Marta Lança