Particularmente emocionante é a passagem do depoimento de Justino Pinto de Andrade quando ele presta uma sentida homenagem aos seus companheiros de desterro, sem citar o nome de ninguém, que já depois da independência e na sequência dos acontecimentos do 27 de Maio de 1977 viriam a ser presos, torturados e mortos em condições extremamente violentas pelos seus próprios camaradas da luta anti-colonial.
Afroscreen
09.10.2025 | por Reginaldo Silva
E, se outro mérito não tivesse a sua obra ficcional do autor de Bola Com Feitiço, essa pequena jóia rara em qualquer literatura, esta fulguração criadora da linguagem sustentada pelo húmus mais fecundo da Terra que se abre aos mais interiores horizontes angolenses, com seus perfeitos e felizes casamentos de kimbundu e português na consumação dos seus dizeres efabulatórios e sábios, esta fulguração criadora, dizia, bastaria para colocar num muito especial patamar aquele que escrevia «em jejum absoluto», «de madrugada o que me tem custado maka», muito embora «até agora nunca me considerei escritor», conforme se lê no «Inquérito aos Escritores» levado a cabo pela União dos Escritores Angolanos, adiante reproduzido.
A ler
09.10.2025 | por Zetho Cunha Gonçalves
Gentil vinha da China e tinha percebido que havia uma certa desmobilização por parte de alguns quadros do MPLA. E quando ele lança o “Movimento de Reajustamento”, ele é o homem do Reajustamento, ele mais o Gika, ele queria transformar aquele facto do Movimento de Reajustamento, num estímulo para a participação dos quadros na luta. Mas isso seria feito de forma faseada e cuidada. O Neto, do meu ponto de vista com “todos para o interior”, levaria a… Porque a PIDE sabia de tudo, de todas as rotas de passagens. E nós sabíamos.
Vou lá visitar
02.02.2025 | por Elisa Scaraggi
Mesmo hoje, faço parte da história. Continuo a agir em sociedade, politicamente, tanto como professor universitário, como cidadão, mas eu ajo, ajo. Estou preocupado com o futuro da humanidade, com o ambiente, com as novas questões, com os novos desafios da sociedade. Daí surgirem partidos políticos que já não são aqueles partidos clássicos, tipo o Partido Comunista português. Isso já está ultrapassado. Hoje temos outras forças políticas mais modernas, adequadas ao momento que se vive, à dinâmica da sociedade.
Cara a cara
07.01.2025 | por Elisa Scaraggi
Na verdade, não é a qualquer escritor que acontece, como a Uanhenga Xitu, a criação de um personagem literário que extrapola a própria literatura e o seu criador, como é o caso desse Mestre Tamoda, para tomar vida própria e se entranhar na carne e no quotidiano dos seus leitores como um muito velho e bom Amigo, sempre disponível e presente, sem jamais trair ou melindrar, enfim, um desses Amigos que a Vida tão poucos nos dá.
A ler
04.09.2024 | por Zetho Cunha Gonçalves
E de repente eclodiu o 25 de Abril de 1974, considerado pelo Nhonhô numa entrevista à RTC (Radio-Televisão de Cabo Verde) sobre o seu percurso de vida como “uma autêntica revolução”. E de facto foi a festa infinita que começou com a caça aos informadores e agentes da PIDE/DGS na cidade da Praia, a queima das respectivas viaturas e/ou seu despenhamento no mar a partir do Cruzeiro do Platô, actos nos quais o Nhonhô e os seus amigos estudantes da Assomada residentes na cidade-capital da colónia/província ultramarina portuguesa participaram activamente e continuou com o lançamento de panfletos políticos na vila da Assomada dirigidos aos militares aquartelados no antigo edifício da SAGA e para o qual fui mobilizado pelo Betinho de Nho Bebeto-Alberto Lopes Barbosa, Júnior (sendo essa a primeira acção política, ademais clandestina, de toda a minha vida, depois muito marcada pela intervenção política e cívica, se bem que em larga medida fora do quadro político-partidário), e, logo depois, com a libertação dos presos políticos do Tarrafal, prosseguindo com os frequentes comícios, reuniões, sessões de esclarecimento e manifestações, os saraus culturais e as muitas e acaloradas discussões políticas, nas quais nós, adolescentes, também nos envolvíamos entusiástica e freneticamente.
A ler
10.05.2024 | por José Luís Hopffer Almada
como outros nacionalistas africanos / tais os muito seviciados os muito aliciados / cem presidiários políticos guineenses / como outros emboscados como outros /rebuscados como outros mortificados / patriotas negros mulatos e brancos / dilacerados em diferendos vários / tais os cento e seis prisioneiros / e condenados políticos angolanos
Mukanda
08.05.2024 | por José Luís Hopffer Almada
A História é tanto a erecção das estátuas e dos monumentos como as suas demolições. Presumindo e contundindo, pedir a substituição, a recolocação ou o afundamento duma estátua faz parte do processo histórico.
A ler
14.12.2021 | por Mário Lúcio Sousa
Hoje o Tarrafal é um museu e monumento nacional e, desde 2004, integra a lista indicativa de Património Mundial da UNESCO. Portugal, para além de ter ajudado com a criação e desenvolvimento deste museu, anunciou em 2019 que iria apoiar Cabo Verde com a sua candidatura do Tarrafal à UNESCO. Recentemente, foram levadas a cabo obras de restauro do espaço, por uma empresa portuguesa, e no próximo 5 de Julho, os governos de Cabo Verde e Portugal vão assinar um memorando de entendimento para a candidatura deste espaço à UNESCO.
Mukanda
21.06.2021 | por Sofia Lovegrove
Esta prisão chama-se ‘frigideira’. A luz e o ar entram através de três buracos feitos na pesada porta de ferro e por um pequeno rectângulo, aberto junto ao tecto. Durante o dia, o sol quente dos trópicos aquece as portas e as paredes deste pequeno túmulo. O ar aquece lá dentro. O calor torna-se insuportável. Os presos despem-se, mas o calor não deixa de os torturar. Dos seus corpos cansados cai o suor em bica. Se são muitos, condensam-se no tecto gotas de água, e quando caem, longe de serem um alívio, são uma tortura. (…) De noite, os mosquitos vêm. Da picada do mosquito surge a febre, da febre vem a morte pela biliosa e pela perniciosa. Não são raros os casos de presos levados dali em braços ou amparados.
A ler
30.10.2020 | por Mariana Carneiro
Os presos do Tarrafal expressavam o curso da geografia da nossa luta. Também o papel dos meios urbanos na contestação ao colonialismo, a incorporação dos meios rurais no movimento guerrilheiro, e a minha geração de jovens que recusaram as “benesses” que o sistema colonial parecia oferecer.
Cara a cara
21.05.2020 | por Justino Pinto de Andrade
O autor usou a voz de vários prisioneiros, todos com o mesmo nome – Pedro –, chegados em alturas diferentes de Portugal, da Guiné, de Angola e de Cabo Verde. Descreveu o terror de dentro com uma fluidez que em nada instrumentaliza acontecimentos para provar alguma coisa.
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28.10.2019 | por Ana Bárbara Pedrosa
O império português usou Cabo Verde como país de degredo desde que “achou” as ilhas, e a escolha deste lugar teve a ver com o isolamento, a facilidade de vigilância e a aridez desoladora, que deveria contribuir para o abatimento dos espíritos aprisionados. (...) É impossível, de facto, pormo-nos no lugar de quem aqui esteve dentro. Mas também é impossível não ver o império português, porque é isso que aqui está.
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23.04.2018 | por Alexandra Lucas Coelho
O Tarrafal tem de ser compreendido no sistema de campos que o colonialismo português activou ou reactivou justamente para conter as rebeliões, não pode ser visto individualmente, mas no conjunto de campos e prisões de Angola, Moçambique, Guiné, das antigas colónias mas também das cadeias portuguesas onde estavam presos políticos africanos.
Cara a cara
25.02.2016 | por Marta Lança
A “biografia” de uma obra parece um sucedâneo figurado, anómalo de uma convencional biografia do autor. O que percebemos, porém, ao longo dos quase três anos de organização de um projecto entusiasmante e labiríntico, com a presença fortíssima e discreta de Luandino em cada etapa da sua realização, é que o caso dos Papéis da Prisão coloca sob suspeita muitas categorias da crítica literária ou textual.
A ler
05.01.2016 | por vários
António Valdemar assinala em três dos painéis o papel de Adriano Moreira na manutenção do regime colonial, recordando o seu papel como subsecretário de Estado da Administração Ultramarina, entre 1960 e 1961, passando nesse ano a ministro do Ultramar, onde permaneceu em funções até 1963.
Nesse período, recusadas as propostas de Nehru para uma entrega negociada do que o regime denominava de Estado da Índia, deu-se, em dezembro de 1961, a anexação dos territórios de Goa, Damão e Diu.
Vou lá visitar
05.04.2012 | por António Melo